Uma plateia lotada, um discurso em português e uma novidade. No quarto ano consecutivo em que subiu a um dos palcos da Web Summit, foi a primeira vez que Cristina Ferreira não esteve sozinha. “Quando pensei no que poderia ser esta nova vinda à Web Summit, achei que estava na hora de fazer de forma diferente e ter alguém que me pudesse entrevistar, mas alguém que não me conhecesse de lado nenhum”. O escolhido foi o brasileiro Bruno Rocha, mais conhecido pelo nome do site de entretenimento que criou, Hugo Gloss, que conta com mais de 21 milhões de seguidores no Instagram.

“Habituadíssimo a entrevistar pessoas famosas”, Hugo Gloss começou por perguntar à apresentadora e diretora de entretenimento e ficção da TVI, que classificou como detentora de “uma das maiores marcas de Portugal, talvez da Europa” como teve início o processo de criação da marca ‘Cristina Ferreira’. “Foi por acaso, sem eu ter pensado muito”, explicou a também acionista da Media Capital.

“Foi olhar para as oportunidades que foram surgindo. Fui pela minha intuição, pela observação. O digital trouxe-me um mundo que eu não conseguiria observar de outra forma”. Os exemplos de pessoas no estrangeiro que tinham “alguma visibilidade pública” inspiraram Cristina Ferreira a criar a sua marca, que hoje conta com uma revista, uma marca de sapatos e uma loja de roupa. “Não gosto de começar nada que não tenha depois crescimento”, diz. E garante que “está de olho” em tudo o que é seu. “Estou presente em todos os meus projetos, só assim é que se consegue”.

Numa conferência cujo tema central era a criação de uma “marca de confiança”, Cristina Ferreira vincou que um dos princípios que segue é “esquecer a opinião dos outros, porque senão não segues em frente”. Sublinhando que o estatuto de figura pública traz “responsabilidade em relação ao outro”, e que nesse sentido “aquilo que dizes não pode ser feito de forma leviana”, a apresentadora confessou que “baliza” o que vai dizendo publicando, sobretudo nos últimos anos.

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“São anos mais complicados. Acho que existe uma espécie de censura atual um bocado camuflada, que ainda não percebemos bem, que tem que ver com a falta de capacidade de darmos opinião com medo dos cancelamentos”. Ainda assim, garante que não tem medo de dizer o que pensa. “É a personalidade que marca a diferença. Se te tornas igual aos outros só porque dizes o que os outros esperam de ti, não é assim que vais chegar a algum lado”.

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Questionada por Hugo Gloss sobre o momento mais crítico da carreira, Cristina Ferreira não hesitou na resposta: a ida da TVI para a SIC, por causa da reação do público. “Já tinha muitos anos de televisão. Habituei-me a ter um constante carinho do público. Como as pessoas não entenderam a minha passagem de uma estação para a outra, foi um período que senti com alguma agressividade”.

Lembrou que nessa altura, alguns seguidores que até então lhe tinham enviado “20 mensagens a dizer ‘gosto da Cristina’, na mensagem seguinte diziam ‘eu odeio-te’, ‘tu és isto, és aquilo'”. “De repente tentas perceber o que fizeste mal para que essas pessoas olhem para ti de forma diferente, quando eu para mim tinha feito apenas uma escolha de carreira e de vida que senti que era melhor para mim”.

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A apresentadora revela que essa altura foi “de introspeção”. Ao mesmo tempo que tinha de estar “na luta”, também tinha de “perceber de que forma podia reconquistar as pessoas que tinha perdido”. A mudança para a SIC, que durou dois anos, já que em 2020 regressou à TVI, foi uma fase “de profundo crescimento”, mas a apresentadora diz que nunca pensou em desistir.

Nem considera que a troca de Queluz por Carnaxide tenha sido um erro. “Nada. Foi feito de coração, com profunda convicção. Não me arrependo nada, e houve um processo que me foi instaurado à conta de tudo isso. Serviu para eu perceber que quando fazes as tuas escolhas, qualquer obstáculo só serve para que cresças mais. Zero arrependimento, zero erros neste percurso”.

No palco da Web Summit dedicado à criatividade, Cristina Ferreira revelou ainda que está a preparar um projeto para o início de 2025, que “já leva quase um ano de construção” e que “tem que ver com a mensagem que fui passando sempre, que é que somos capazes, e falo das mulheres”. Sem adiantar detalhes, disse apenas que o projeto está “associado a empoderamento feminino” e usa “o que é a minha vida pessoal hoje em dia e a descoberta do que eu quero a nível de uma vida cada vez mais saudável e de saúde mental”. “Vai ser uma surpresa para toda a gente”, rematou.

Desafiada no final por Hugo Gloss a deixar um conselho “para quem gostaria de ser como” a apresentadora, Cristina Ferreira acedeu: “Não sonhes em ser como eu, sonha seres tu, na tua essência”.