Chegou a Portugal apenas no final de agosto, nos últimos dias da janela de transferências de verão, mas rapidamente deixou a sua marca e conquistou o coração dos adeptos do FC Porto. Desde então apontou 12 golos nos 13 jogos que realizou e saltou para as primeiras páginas dos jornais. O impacto imediato que teve nos azuis e branco levou-o a ser cogitado pela seleção espanhol e, no duplo confronto de novembro da Liga das Nações, Luis de la Fuente convocou mesmo o avançado.

O sonho chegou na melhor altura possível: Samu convocado pela primeira vez para a seleção de Espanha

Desde que assumiu o comando técnico da agora campeã da Europa, o selecionador não olhou ao estatuto ou à idade dos jogadores na hora de fechar a convocatória. Pelo contrário. De la Fuente não tem medo de apostar naqueles que têm qualidade e, no caso de Samu , pediu várias informações e relatórios sobre o jogador que o FC Porto contratou ao Atl. Madrid. “Estamos muito satisfeitos por ele ter passado por nós e por nos ter ajudado a qualificar para a fase final do Europeu [sub-21] como melhor marcador [da equipa]. Luis perguntou-nos sobre ele, mas acima de tudo sobre como ele é e a sua convivência”, partilhou Santi Denia, selecionador de sub-21, citado pelo ABC.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em entrevista ao El Mundo, o avançado de 1,93 metros assumiu que está a “viver um sonho”, mas realçou que só está onde está devido a “muito sacrifício”. “Acho que trabalhei muito para aqui chegar, sempre com vontade de melhorar e de ser melhor a cada dia. Não me esqueço de todos os que me ajudaram”, começou por explicar, antes de falar da história da sua vida, que tem a mãe como peça basilar. Natural da Nigéria, Edith Aghehowa rumou a Espanha quando estava grávida de Samu para que o filho pudesse nascer naquele país. Atravessou Melilla numa odisseia em que temia perder o bebé, mas lá acabou por chegar a Sevilha, onde cuidou do futebolista e da irmã Preciosa, que tem 16 anos.

“Lembro-me de ela a trabalhar. Ela trabalhou em muitas coisas, no que aparecia, porque não tinha emprego permanente. Foi uma altura muito difícil e a minha mãe trabalhava em tudo o que podia para nos dar um prato de comida todos os dias. Tenho muito orgulho na minha mãe, que sempre lutou para que eu e a minha irmã chegássemos longe. Não estávamos numa boa situação, mas ela deu-nos sempre tudo o que podia e agora tento retribuir. Por mais que eu ganhe, por mais que eu devolva, nunca será suficiente. Graças a Deus fiz com que a minha mãe parasse de trabalhar. Ela sofreu muito por mim, merece uma vida tranquila”, partilhou Samu, explicando que prefere ser tratado pelo apelido da mãe — Aghehowa — ao invés do sobrenome do pai — Omorodion.

Ainda assim, a infância de Samu e da irmã não foi passada apenas com a mãe. Como esta precisava de ajuda para conciliar o trabalho com a educação dos filhos, recorreu aos vizinhos Antonio e Juani. “Eram os meus padrinhos. Antonio era como um pai. Morreu há uns anos. Quando a minha mãe teve que trabalhar, deixou-nos com eles, que eram os nossos vizinhos de baixo. Foram eles que nos ajudaram a criar e a educar. Antonio foi quem me inscreveu no meu primeiro clube, o Inter 4, uma equipa de futsal de Sevilha. Serei eternamente grato a eles”, afirmou o jogador portista.

“Sou muito humilde e grato. Nunca me esqueço das pessoas que me ajudaram nos momentos difíceis. Sou um rapaz que tem muita clareza no que quer e não me deixo influenciar pelas pessoas. Ninguém me influenciou para pior. Vi as coisas más que aconteceram na minha vida e afastei-me. Sempre tive um ambiente muito saudável. Muito humilde, mas muito saudável. Sempre tive na cabeça que o futebol seria a minha vida. Quando estava na equipa satélite do Granada [o Nervión], ainda nas camadas jovens, conversei com a minha mãe, porque estava com dificuldade em treinar de manhã e estudar à tarde”, disse Samu, dizendo por fim que acabou por abandonar os estudos, mas pretende retomá-los em breve.