O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pediu esta sexta-feira união aos 22 países do espaço ibero-americano, em vez de egoísmos, numa cimeira em Cuenca, Equador, marcada por um recorde de ausências.
“E hoje? Hoje o que fazer? Perder o ganho de 30 anos? Deixar que os egoísmos, os conflitos bilaterais, os desencontros de cada momento matem os encontros de sempre, as conquistas de hoje e o potencial da amanhã?”, questionou o chefe de Estado português, num discurso na sessão plenária da 29.ª Cimeira Ibero-Americana.
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que “num mundo global que procura novos equilíbrios, a Ibero-América, que dialoga com todos, que é plataforma com todos” não pode “renunciar a ter um papel”.
“Solidários somos fortes, egoístas somos fracos, diferentes somos fortes, divididos somos fracos. 900 milhões juntos somos fortes”, afirmou.
Segundo o chefe de Estado, em 1991, “a Ibero-América percebeu que tinha de unir-se para ser mais forte, depois das ditaduras militares dos anos 60, 70 e 80 e das ditaduras da Ibéria paralelas às ditaduras da América Latina”, e fez um “caminho difícil, mas com sucesso”.
“Agora é preciso que façamos o caminho mais rico ainda do que o dos últimos 30 anos. Nos últimos 30 anos caminhámos da vontade política para a realidade popular, para a realidade social. Agora temos de caminhar mais longe na realidade social e, ao mesmo tempo, caminhar da realidade social para a vontade política”, considerou.
Dirigindo-se aos representantes dos 22 países desta comunidade, acrescentou: “Nós, políticos, temos de perceber que estamos a começar um novo ciclo em que estarmos ausentes é perdermos sempre. É perdermos uma oportunidade que pode ser irreversível. Ninguém esperará por nós, ninguém nos ouvirá se atuarmos isolados”.
Marcelo Rebelo de Sousa, que falou em português na maior parte da sua intervenção, de dez minutos, reforçou depois esta mensagem em castelhano, manifestando-se confiante de que o projeto ibero-americano prevalecerá num “novo ciclo” que agora começa, com a próxima cimeira em Espanha, daqui a dois anos, no horizonte.
“Queremos fazer esse caminho? Sim, queremos. Queremos não perder o que temos feito anos e anos? Sim, queremos. Queremos ter uma voz una, na diversidade, mas una e solidária? Sim, queremos”, declarou.
“Queremos não sacrificar uma visão global de desenvolvimento sustentável, de justiça social, paz para nós e para vós, à glória efémera de uma ilusão passageira e inconsequente? Sim, queremos, acredito. Ninguém renuncia ao longo prazo em homenagem ao fogo-fátuo do curto prazo”, concluiu.
Na 29.ª Cimeira Ibero-Americana, que tem como tema “Inovação, inclusão e sustentabilidade”, estão apenas os chefes de Estado de Portugal, de Espanha, Felipe VI, e do Equador, país anfitrião, Daniel Noboa, e o chefe do Governo de Andorra, Xavier Espot Zamora.
Há uma inédita predominância europeia, perante as ausências dos presidentes de todo os restantes 18 países-membros latino-americanos.
Portugal está também representado nesta cimeira pela ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
Compõem a comunidade ibero-americana três países europeus, Portugal, Espanha e Andorra, e 19 latino-americanos: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela, México, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Cuba e República Dominicana.
A primeira cimeira desta comunidade realizou-se em 1991, em Guadalajara, México. Os encontros foram anuais até 2014, quando passaram a ser de dois em dois anos.
Em regra, Portugal tem estado representado conjuntamente pelos chefes de Estado e do Governo. Foi assim nas cimeiras de Cartagena das Índias, Colômbia, em 2016, de Andorra em 2021, e de Santo Domingo, República Dominicana, em 2023.
Em 2018, na cimeira de Antiga, Guatemala, só esteve o Presidente da República.