Foi no início de outubro, há pouco mais de um mês, que começou o último capítulo. Através de um vídeo publicado nas redes sociais, Rafael Nadal anunciou que o corpo tinha finalmente vencido a vontade e que iria terminar a carreira na Taça Davis e no encerramento da atual temporada. Agora, pouco mais de um mês depois, chegou o último capítulo.

A competição que reúne os melhores tenistas do mundo através das respetivas seleções, num formato praticamente exclusivo, arranca esta terça-feira: a equipa de Espanha defronta a equipa dos Países Baixos e dá o pontapé de saída no torneio que vai decorrer até à final de domingo em Málaga, no Palacio de Deportes José María Martín Carpena. A seleção espanhola tem como capitão David Ferrer e inclui, para além de Rafa Nadal, Carlos Alcaraz, Roberto Bautista Agut, Marcel Granollers e Pedro Martínez, sendo que este último substituiu o lesionado Pablo Carreño Busta.

O papel de Rafa Nadal na equipa, porém, ainda está por decifrar. O tenista de 38 anos chegou a Málaga na passada quinta-feira e já foi visto a treinar — com um adversário, o australiano Alex de Minaur –, mas ainda não confirmou nem negou que vai disputar uma das partidas de singulares, já que também existem jogos de pares e todos são à melhor de três sets. Certo é que, nas entrevistas que já deu na antecâmara da Taça Davis, o espanhol garantiu que está mais concentrado em conquistar o troféu do que propriamente na ideia de que vai terminar a carreira nos próximos dias.

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“Estou a viver tudo com normalidade. Creio que sou uma pessoa bastante sensível, mas acho que tenho sido capaz de relativizar as coisas. A vida segue e todos os tenistas passam por este processo de retirada. Sou mais um que vai fazer uma mudança na vida, vou desfrutar do desporto de outra forma. Não acabo a carreira farto de ténis, como aconteceu com outras pessoas. Se pudesse, continuava a jogar. Mas já não consigo ter o nível de treino que me compense, a nível individual. Há um ano disse que não queria retirar-me numa sala de imprensa e fui operado, disse que era normal retirar-me em 2024. Era o que tinha de fazer e sei que fiz tudo o que tinha de fazer”, explicou Nadal na conferência de imprensa de antevisão da competição.

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Se é certo que Itália é a atual campeã em título, com Jannik Sinner e companhia a vencerem a Austrália na final do ano passado, também é óbvio que Rafa Nadal quer despedir-se da carreira, dos courts e das raquetes com a conquista da Taça Davis. Até porque foi na competição que viveu a primeira grande alegria como profissional: em 2004, em Sevilha, quando fez parte da equipa de Espanha que derrotou os Estados Unidos e levantou o troféu, na primeira de cinco vezes em que acabaria por ganhar a mesma final.

“Se estou em competição é porque consigo controlar as emoções. Não estou aqui para me retirar, estou aqui para ajudar a equipa a ganhar. É a minha última semana, numa competição de equipa, e o mais importante é ajudar a equipa. As emoções chegam no fim. Antes e depois, estarei concentrado no que tenho de fazer. Sinto-me bem, já pensava nisto há muito tempo. Dei-me uma oportunidade e decidi com tempo. Estou a aproveitar a semana, não coloco muita atenção no resto. Estou muito emocionado, mas muito feliz por estar aqui”, acrescentou o tenista, que ao longo de toda a carreira conquistou 22 Grand Slam e que jogou pela última vez nos Jogos Olímpicos, onde caiu contra Novak Djokovic na segunda ronda de singulares e ao lado de Carlos Alcaraz nos quartos de final de pares.

Ao lado de Rafa Nadal, naturalmente, estará Carlos Alcaraz. O jovem tenista acabou de falhar a final do ATP Finals, sendo que nem sequer conseguiu chegar às meias-finais, e aterrou em Málaga no passado sábado com o objetivo de conquistar o último troféu da temporada depois de ter festejado em Roland Garros e Wimbledon. Pelo meio, contudo, não esquece o lado sentimental de toda a semana.

“Este é provavelmente o torneio mais especial que vou disputar em toda a minha carreira, pelas circunstâncias, e porque a Taça Davis foi sempre um torneio que me encantaria ganhar algum dia”, explicou Alcaraz, que é cronicamente interpretado como o herdeiro de Nadal, nos últimos dias. Sem surpresas, os bilhetes para a eliminatória desta terça-feira entre Espanha e Países Baixos estão esgotados, sendo que as unidades hoteleiras de Málaga registam uma ocupação perto dos 90% (em época baixa) e a cidade espera multiplicar por dez o investimento de dez milhões de euros na organização do evento.