Parecia ser uma barreira impossível de superar. Primeiro foi a Geração de Ouro, depois alguns dos expoentes máximos dessa geração com alguns dos mais promissores jovens que estavam a aparecer, a seguir a figura de um Cristiano Ronaldo mais maduro no Last Dance do Bola de Ouro Luís Figo em 2006. Portugal poderia ser reconhecido em todos os cantos do mundo como uma das seleções que melhor jogava futebol mas que, em paralelo, parecia talhada a não conseguir ganhar qualquer título nos seniores. Em 2016, talvez numa época em que fosse menos provável (também pela fase de grupos que fez), esse enguiço foi quebrado no Europeu. Três anos depois, numa prova pensada pelo português Tiago Caeiro e que teve a primeira fase final no nosso país, chegou também o triunfo na estreia da Liga das Nações. Portugal “aprendera” a ganhar.

13 anos depois, essa é apenas uma parte do legado de Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol que está a cumprir as últimas semanas como líder do terceiro e derradeiro mandato. Houve mais, muito mais. O futsal, que nunca ganhara uma grande competição, venceu dois Europeus, um Mundial e uma Finalíssima de forma consecutiva. O futebol de praia também se sagrou duas vezes campeão mundial. O feminino deu um enorme salto, não só em termos competitivos no plano nacional como na participação em grandes provas internacionais como dois Europeus e um Mundial. Num plano mais institucional, todos os Relatórios e Contas terminaram com saldo positivo e a realidade da própria FPF mudou de forma radical com a criação da Cidade do Futebol ou do Canal 11. Agora, a hora da despedida aproxima-se.

Na última viagem que fez com a Seleção A, Fernando Gomes fez uma retrospetiva de todo o trajeto como líder da Federação. “Não se pode dizer que seja uma despedida, obviamente que vamos continuar a acompanhar a Seleção, vamos continuar a ser fãs incondicionais da Seleção e por isso é uma despedida meramente da presidência da Federação após três mandatos e creio que ao fim de 13 anos e daquilo que fizemos a nível de promoção do futebol português e de Portugal só podemos estar realizados com o que temos vindo a fazer. Hoje é o último jogo que a Seleção A disputa mas sem deixar de referir algo que temos ainda para conquistar que é a qualificação da nossa Seleção feminina, que vai jogar um playoff para estar se possível num torneio Campeonato da Europa consecutivo além de outras equipas como a Seleção feminina de futsal, que tenta o apuramento para o Mundial. Temos coisas para concluir”, disse à SportTV+.

“Neste caso já estamos apurados para os quartos da Liga das Nações, sendo o segundo apuramento seguido sem termos necessidade de estar a fazer cálculos e sem necessidade de ir ao playoff. Foi um orgulho enorme termos estado à frente do futebol português nos últimos 13 anos e termos feito num plano visível e palpável aquilo que é a evolução do futebol português”, prosseguiu o líder federativo.

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“Se me lembro ainda do primeiro jogo? Recordo-me perfeitamente, foi no dia 28 de fevereiro de 2012, na inauguração do estádio de Varsóvia num Polónia-Portugal que ficou 0-0. Se perspetivava depois de 13 anos ter tantas alegrias como presidente da Federação e com a Seleção, tinha algumas dúvidas que isso fosse possível. Tínhamos tido gerações fantásticas como a chamada Geração de Ouro, que esteve muito próxima, depois em 2004 jogámos a final do Europeu em casa e perdemos com a Grécia, antes tivemos as meias-finais do Europeu de 2000, depois meias no Mundial de 2006. Havia o sentimento de que estávamos muito próximo e quando iniciámos este trajeto ambicionávamos que um dia poderíamos lá chegar. Felizmente em 2016, em França, tivemos a grande felicidade de o Eder marcar aquele golo e termos pela primeira vez o título de campeão europeu”, recordou Fernando Gomes, que preferiu não falar sobre o seu “legado”.

“Cumpre às outras pessoas fazerem uma avaliação daquilo que nós fizemos. Se olharmos de forma objetiva para uma Federação desportiva que tem como objetivos conquistar títulos desportivos, não há dúvidas que ao longo de 13 anos tivemos um conjunto de conquistas extremamente importantes: um Campeonato da Europa Sub-17, um Europeu Sub-16, duas vezes campeões da Europa de futsal, uma vez campeões mundiais de futsal, duas vezes campeões mundiais de futebol de praia e naturalmente o Europeu de 2016 e a Liga das Nações de 2019, que são títulos que nunca mais vamos esquecer. Nessa perspetiva pode considerar-se um legado imenso do que fizemos. Temos uma pequena mágoa, gostava muito de ter conquistado o título Sub-21, estivemos em duas finais muito próximos em 2015 e 2021. Foi pena porque tem feito um trabalho fantástico em termos de promoção de jogadores”, salientou o presidente da FPF.

Sem querer falar sobre o futuro (“Tenho um longo trajeto ligado ao desporto, fui praticante durante 17 anos, como dirigente desportivo já tenho 32, mas é tempo de outras pessoas poderem ocupar os nossos cargos e com ideias novas poderem, eventualmente, fazer melhor do que nós”, salientou), Fernando Gomes falou também daquilo que faltou neste percurso. “Acima de tudo, o que nos faltou foi o título no Mundial. Em 2022 tivemos todos muita esperança que pudesse acontecer, depois da vitória estrondosa com a Suíça, que foi fantástica. Ficamos ansiosos e positivos se poderia acontecer, infelizmente não aconteceu. Mas é a pequena mancha, digamos assim, que nos acompanha desde o início desta campanha. Mas saímos satisfeitos, honrados e orgulhosos pelo que fizemos nestes 13 anos”, assumiu o número 1 da Federação de Futebol.