Os motores autárquicos aquecem e os ânimos também. À direita, os partidos começam a fazer contas para tentar repetir a coligação que levou Carlos Moedas à presidência da Câmara de Lisboa, possivelmente somando os liberais a essa equação. E o CDS, parceiro original do PSD, já deixa avisos: o peso do partido “não é negociável” nem representa um mero “custo de oportunidade” para os sociais democratas.

Foi no final de um rápido Conselho Nacional dos democratas-cristãos, no qual se votou o regulamento autárquico do partido por unanimidade, que Nuno Melo deixou o recado. Aos jornalistas, o presidente do partido (e ministro da Defesa) disparou, depois de ser evitar responder de forma direta sobre se a coligação original deve ser replicada como era ou se deve abrir-se espaço para acolher a Iniciativa Liberal: “Não acho desejável nenhuma estratégia em que o CDS possa ser o custo de oportunidade” — isto é, o valor que se perde quando se escolhe entre duas alternativas, presumivelmente entre dois parceiros possíveis.

“O CDS vale por si” e foi “fundamental para se conseguirem vitórias”, nomeadamente na capital, avisou Melo. Daí que deixe o alerta: “O peso do CDS não é negociável, pelo que avaliará em cada caso” o projeto autárquico em causa. Dito de outra forma: “O CDS não vale por comparação com nenhum outro, nem é negociável em função de qualquer outro, e é bom que todos tenham isso muito claro”. E ainda de outra: quando o CDS “ajuda ao bom governo”, “deve ser tido em conta e isso não é prescindível em razão do que seja, nomeadamente por outro partido”.

A garantia seguinte de Melo para o processo autárquico tem eco no partido: o presidente garantiu que o partido “não receia ir a votos em nenhuma circunstância”, os dirigentes que estiveram na reunião asseguram que não querem estar eternamente à espera do PSD para tomar decisões. No fear, resume um deles ao Observador. Sendo certo que, apesar do balanço positivo que Melo fez questão de fazer sobre as conquistas eleitorais do CDS — e a recuperação de um partido que tinha desaparecido do Parlamento — desde que é presidente, em Lisboa a distribuição de lugares pode, desta vez, ser mais exigente e deixar o partido numa posição mais difícil.

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Em Lisboa, há ainda outro dilema: o que fazer com a indicação dos nomes numa eventual coligação, uma vez que o atual vice-presidente da autarquia, Filipe Anacoreta Correia, não tem a melhor relação com a atual direção (tinha sido indicado pela anterior, liderada por Francisco Rodrigues dos Santos), mas sim com Carlos Moedas. Aos jornalistas, Melo não deu garantias de que Anacoreta Correia volte a ser o nome indicado pelo partido, frisando que estes processos “nascem da base para o topo” do partido e que só depois chegarão à Comissão Executiva do CDS. Mas entre fontes presentes na reunião vai-se assegurando que o atual vice estaria longe de ser a primeira escolha da atual direção.

Garantindo que não tem medo, mas atento aos planos em aberto do PSD, o CDS vai avisando que, pela sua parte, gostava de ter os processos autárquicos fechados o mais rápido possível. Para já, a fasquia definida por Melo passa por “manter a representatividade ou melhorar”, num momento em que o partido lidera seis autarquias sozinho e 42 em coligação. “Mais um autarca que seja” será uma vitória. E a regra será ter candidaturas próprias e, quando “fizer sentido”, ao lado do PSD — “sabendo que vale por si e pelo que possa fazer com outros”.

O regulamento que os democratas-cristãos aprovaram na noite desta terça-feira prevê que as candidaturas autárquicas sejam propostas primeiro pelas comissões concelhias, passando depois pela ratificação das distritais. Nas capitais de distrito e concelhos com mais de 90 mil eleitores, as candidaturas serão aprovadas pela Comissão Executiva, “por proposta do presidente do partido, após audição das respetivas estruturas locais” — no caso de Lisboa e do Porto, a Comissão Política Nacional é ouvida ainda antes disto.

Já as coligações, prevê o documento, só devem ser feitas “em circunstâncias políticas determinadas, tendo em atenção o interesse local e estratégico do partido”. E deve ser assegurado que o partido fica com assentos elegíveis. Lisboa poderá ser um teste importante à capacidade de negociação da direita.

Lutas por lugares, irritações e desconfianças mútuas podem fazer ruir grande aliança de Moedas