Passou mais de um ano desde que o futebol feminino espanhol sofreu uma autêntica revolução. Espanha conquistou o Campeonato do Mundo, Luis Rubiales saiu pela porta pequena da liderança da Real Federação Espanhola de Futebol depois do beijo não consentido a Jenni Hermoso e o selecionador Jorge Vilda, já muito contestado por si só, acabou por seguir o mesmo caminho. Mais de um ano depois, porém, as feridas parecem não estar totalmente saradas.

Jorge Vilda foi substituído por Montse Tomé, que já era adjunta do agora antigo selecionador — uma decisão que causou estranheza, já que se antecipava um corte definitivo com o passado e o organismo que regula o futebol espanhol acabou por optar por uma espécie de evolução na continuidade. Espanha qualificou-se para o Euro 2025, falhou a final dos Jogos Olímpicos e até a medalha de bronze e a Netflix lançou o documentário “#SeAcabó”, que relata os bastidores da polémica com Rubiales e Hermoso e também a antecâmara do problema, com a revolta de 15 jogadoras contra Jorge Vilda ainda antes do Mundial.

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Depois da destituição de Luis Rubiales, que entretanto foi acusado de agressão sexual e coação pelo Ministério Público espanhol e ainda aguarda julgamento, Montse Tomé teve de volta algumas das jogadoras que ainda ficaram fora da convocatória do Mundial por opção própria — casos de Patri Guijarro, Laia Aleixandri ou Lucía García, sendo que Aitana Bonmatí, Mariona Caldentey e Ona Batlle, apesar de terem feito parte do grupo inicial de 15 jogadoras que recusaram ser convocadas, acabaram por mudar de ideias a tempo da competição que acabariam por conquistar. Uma, porém, nunca voltou. E continua sem voltar.

Mapi León, central do Barcelona, é a bandeira que resta na revolta da seleção espanhola. Parte integrante do grupo que ficou conhecido como “Las 15”, manteve a decisão e não foi ao Mundial, acabando por ser convocada por Montse Tomé na primeira lista da nova selecionadora depois da competição e da saída de Jorge Vilda. Chegou a reunir com as colegas e com a Federação, na famosa “Cumbre de Oliva”, mas abandonou a concentração, voltou a renunciar e declarou indisponibilidade a partir de então.

“A Mapi continua a afirmar que não quer representar a seleção e respeitamos a sua decisão”, disse Montse Tomé esta terça-feira, dia em que anunciou a última convocatória do ano, para os encontros particulares contra Coreia do Sul e França. A selecionadora espanhola fez uma autêntica revolução na lista, chamando nomes menos habituais como Clàudia Pina ou Berta Pujadas, e deixou de fora Misa Rodríguez e Jenni Hermoso. Mais do que isso, deixou de fora Irene Paredes, capitã e terceira jogadora com mais internacionalizações — uma decisão que está a abrir a porta a um novo ponto de discórdia.

Aos 33 anos, Irene Paredes continua a ser habitualmente titular no Barcelona e foi muito utilizada nos Jogos Olímpicos, algo que não chegou para ser convocada. E Verónica Boquete tornou-se a principal defensora do legado da internacional espanhola: a atual jogadora da Fiorentina, antiga capitã de Espanha que ficou de fora da convocatória de Jorge Vilda para o Euro 2017 alegadamente devido às ondas que levantava no balneário, recorreu às redes sociais para vincar um “déjà vu”.

“Estou a reviver a mesma situação e o mesmo ‘modus operandi’ que tiveram comigo depois do Mundial 2015. É lamentável, vergonhoso e uma falta de respeito a forma como estão a tratar uma jogadora como a Irene Paredes. Parte-me o coração ver o que estão a fazer com ela. Claro que a selecionadora pode prescindir de uma jogadora por motivos desportivos ou pessoais, mas a saída da capitã e da líder de uma seleção deve fazer-se de uma maneira mais clara, humana e profissional”, disse Verónica Boquete, que atualmente tem 37 anos, ao jornal Marca.

Na conferência de imprensa em que anunciou a convocatória, Montse Tomé foi questionada precisamente sobre as ausências de Misa Rodríguez, Jenni Hermoso e Irene Paredes — e não quis abordar o assunto como uma espécie de fim de ciclo. “Não gosto de falar das jogadoras que não estão convocadas, por respeito às que estão. Valorizamos o rendimento desportivo, o talento, a gestão. Acreditamos que temos de ser uma equipa. Estar na lista é um presente e vir à seleção é um prémio”, começou por dizer.

“Não quero pôr a etiqueta de uma mudança de ciclo. Não fechamos a porta a nenhuma jogadora. As que estão têm de continuar a trabalhar para continuarem a estar. Estamos a seguir a linha de construção de uma equipa que vai representar-nos no Europeu, mas antes temos a Liga das Nações e um jogo em Wembley que é o sonho de todas. Neste momento, temos estas 24 jogadoras. Não quero focar-me no que transpareço, só no que quero. E quero construir esta equipa e valorizá-la”, terminou.

Uma reunião até às 5h da manhã, um acordo com 21 jogadoras, as duas dissidentes: Mapi León e Patricia Guijarro mantêm renúncia a Espanha