As imagens marcaram a atualidade desta terça-feira: a conta-gotas, as jogadoras da seleção feminina de Espanha foram aparecendo em aeroportos, tanto em Espanha como em Inglaterra, prontas para voar rumo à concentração da equipa. Era a prova de que, apesar de contrariadas, iriam responder à convocatória. Mas os semblantes carregados também eram a prova de que, apesar de responderem à convocatória, estavam contrariadas.

As jogadoras espanholas juntaram-se no hotel Nova Beach de Oliva, uma localidade perto de Valencia, e foram recebidas por Víctor Francos, o presidente do Conselho Superior dos Desportos [CSD] que assumiu o papel de autêntico mediador entre a equipa e a Real Federação Espanhola de Futebol [RFEF]. A reunião entre as atletas e Francos começou ainda antes das 23h desta terça-feira, quando as 23 convocadas chegaram a Oliva, e só terminou já perto das 5h da madrugada. 

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Aos jornalistas, à porta do hotel, Víctor Francos explicou que a negociação tinha sido difícil e complexa — mas tinha chegado a bom porto. “Tenho de ser sincero: as jogadoras estão num momento complicado e creio que é uma boa notícia dizer que a seleção feminina vai disputar os próximos dois jogos com garantias e vitórias”, começou por dizer, antecipando desde logo que as atletas aceitaram jogar contra a Suécia e a Suíça, em dois encontros a contar para a Liga das Nações.

“A primeira coisa que lhes transmitimos foi que quem não quisesse permanecer na concentração, por qualquer razão, não iria encontrar um processo disciplinar nem na RFEF nem no CSD”, acrescentou Víctor Francos, garantindo que a reunião decorreu em “tom amável” e que todas as partes puderam “falar com absoluta liberdade”. As jogadoras chegaram a uma série de acordos redigidos e assinados pela RFEF e o CSD, que serão divulgados em conjunto através da criação de uma comissão mista de três partes.

O presidente do CSD sublinhou que as jogadoras mostraram a sua “preocupação face à necessidade de fazer mudanças profundas” e que a RFEF se “comprometeu a fazê-las de forma imediata”, ainda que não tenha detalhado as alterações em causa. Pelo meio, porém, Víctor Francos teve de revelar a notícia que está a fazer manchetes em Espanha esta quarta-feira: das 23 jogadoras convocadas por Montse Tomé, só 21 aceitaram viajar para Gotemburgo para defrontar a Suécia, sendo que duas mantiveram a renúncia e abandonaram a concentração.

As identidades das duas jogadoras foram mantidas em sigilo durante as primeiras horas da manhã, mas o segredo não durou muito. Mapi León e Patricia Guijarro, duas das 12 espanholas que renunciaram há um ano em rota de colisão com Jorge Vilda e que nem sequer estiveram no Campeonato do Mundo, mantiveram a decisão e já regressaram à Catalunha para integrar os trabalhos do Barcelona.

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“A situação é diferente para mim e para a Patri e isso é uma realidade. Esta não é a melhor maneira para voltar. Não estamos em condições de dizer ‘agora voltas e…’. Não pode ser. Isto é um processo. Mas estamos contentes, porque estão a acontecer algumas mudanças, estamos a chegar a bom porto. Pouco a pouco, as mudanças estão a aparecer e estamos a apoiar totalmente as nossas companheiras, tal como temos feito do lado de fora durante este tempo todo. Mas pessoal e mentalmente não estamos bem para estar aqui”, atirou Mapi León, que desde há um ano é uma das principais caras do desagrado da seleção feminina em relação à RFEF.

Víctor Francos, que explicou que as duas jogadoras “solicitaram a possibilidade de abandonar a concentração por razões de falta de ânimo e mal-estar pessoal”, garantiu que não serão alvo de sanções. Já Rafael del Amo, o presidente do Comité Nacional de Futebol Feminino da RFEF, indicou que a continuidade da selecionadora Montse Tomé não foi debatida e que a treinadora, que até aqui era adjunta de Jorge Vilda, vai continuar em funções.