Os países presentes na conferência da ONU sobre o clima (COP29) tentam esta quinta-feira forçar um acordo nos bastidores, depois de, na quarta-feira, o projeto de acordo ter sido descrito como uma caricatura e um insulto.
O projeto de texto, publicado esta quinta-feira de manhã pela presidência da conferência da ONU, que decorre no Azerbaijão, revela divisões e não satisfaz ninguém.
O texto provisório, de 10 páginas, tenta resumir as posições sobre a nova meta de ajuda financeira que a conferência deverá definir.
O texto indica apenas “X” no lugar dos valores, embora estes estejam expressos em biliões. Sem dar um número preciso, é pedido que “X” biliões de dólares por ano sejam fornecidos pelos dinheiros públicos dos países ricos atualmente obrigados a contribuir, principalmente a Europa, os Estados Unidos e o Japão, e por fundos privados associados durante o período 2025-2035.
Isto é muito mais do que os 100 mil milhões que os países ricos se comprometeram a fornecer durante o período 2020-2025.
Uma opção considerada irrealista para os países ricos, especialmente em tempos de aperto orçamental. Até porque esta opção não prevê que a lista de contribuintes seja alargada, por exemplo, a países como China, Singapura ou Qatar.
A segunda opção resume o ponto de vista dos países ricos: o objetivo financeiro seria “um aumento do financiamento global para a ação climática” para “X” biliões de dólares por ano “até 2035”, sem especificar a participação dos países desenvolvidos.
A iniciativa cabe agora à presidência da conferência, que terá de encontrar o equilíbrio certo para apresentar aos quase 200 países da COP um texto aceitável, e que permita a todos regressar a casa “com igual nível de descontentamento”, como disse, à AFP, o negociador-chefe do Azerbaijão, Yalchin Rafiev.
“É claramente inaceitável no estado atual das coisas”, reagiu já o Comissário Europeu Wopke Hoekstra.
Os europeus exigem mais compromissos para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, face aos países produtores de petróleo.
No final da reunião de coordenação dos ministros da União Europeia, na manhã desta quinta-feira, o ministro irlandês, Eamon Ryan, disse à AFP que as negociações estão a progredir.
A UE está no centro das negociações na Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP29), como o maior contribuinte mundial para o financiamento climático, e graças às linhas de comunicação que mantém com a China e os países vulneráveis, especialmente os pequenos Estados insulares.
“O texto caricatura as posições dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. A presidência deve propor uma terceira opção para reconciliá-los”, disse Joe Thwaites, da ONG NRDC.
Esta terceira opção secreta foi colocada em cima da mesa pelo australiano Chris Bowen e pela egípcia Yasmine Fouad, os dois ministros responsáveis por aproximar as posições do Norte e do Sul, mas ainda não foi revelada aos países, confirmaram à AFP duas fontes próximas às negociações.
A ausência de números para os países ricos “é um insulto aos milhões de pessoas que estão na frente das alterações climáticas”, reagiu Jasper Inventor, chefe da delegação do Greenpeace Internacional em Baku.
O queniano Ali Mohamed, que representa os países africanos, insiste nesta falta de valores: “Precisamos que os países desenvolvidos se comprometam urgentemente com este ponto”.
Mas na COP não é expectável que sejam reveladas as verdadeiras linhas vermelhas até o último dia.
Os países desenvolvidos fornecem esta quinta-feira cerca de cem mil milhões de dólares em ajuda financeira aos países em desenvolvimento para que possam adaptar-se às alterações climáticas e investir em energia com baixo teor de carbono.
A COP29 deve definir um novo objetivo de ajuda até 2030 ou 2035.
A conferência deverá terminar na noite de sexta-feira, mas os delegados já temem um adiamento até sábado.