“Quando Chega o Outono”

Um envenenamento quase fatal com cogumelos lança a história da nova realização de François Ozon passado no Outono, na Borgonha, envolvendo uma idosa reformada, Michelle (a magnífica veterana e octogenária Hélène Vincent), a sua filha divorciada e com um filho pequeno, Valérie (Ludivine Sagnier), zangada com a mãe e reticente em pôr o rapaz em casa da avó nas férias, aparentemente por causa dos cogumelos que a lançaram para o hospital e que aquela não comeu, e a melhor amiga de Michelle, Marie-Claude (Josiane Balasko), cujo filho, Pierre (Vincent Perrin) acaba de sair da cadeia. As sombras dos filmes policiais de Claude Chabrol e sobretudo dos livros do mesmo género de Georges Simenon pairam sobre Quando Chega o Outono, que fica no entanto por ser um quase-policial. Isto porque Ozon está mais interessado no passado das personagens e na forma como ele pesa sobre o presente das mesmas e sobre as suas relações, e no claro-escuro moral das suas histórias individuais, do que em enredos de crimes. Um filme todo ele elíptico, esquivo e melancolicamente outonal.

“Energia Nuclear Já”

Fiel à sua reputação de realizador que gosta de filmar a contracorrente, de fugir aos discursos dominantes, de  temas controversos e delicados, e de figuras públicas execradas por uns e admiradas por outros, de Edward Snowden a Vladimir Putin e Lula da Silva, Oliver Stone assina agora um documentário pró-energia nuclear. Tendo tido acesso sem precedentes a vários sectores da energia nuclear um pouco por todo o mundo, como na Rússia, em França ou nos EUA, Stone mostra aqui, de forma clara e muito eloquente, que a energia nuclear é a alternativa para gerar eletricidade mais segura, barata, limpa e prática, quer ao petróleo e ao carvão, quer às energias solar e eólica tão agora na moda e ecologicamente corretas, bem como ao gás natural. O realizador recorda ao mesmo tempo as várias campanhas de demonização cerrada do nuclear feitas nas últimas décadas, várias delas com capa “verde” mas na verdade pagas pelos interesses do petróleo e do carvão, e desfaz a desinformação e os mitos em redor dos desastres nas centrais de Chernobyl e Fukushima.

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“Bowling Saturno”

Um inspetor da polícia herda um bowling do pai que morreu, e entrega a gestão da casa ao meio-irmão, que mal conhecia, um sujeito instável e que até aí trabalhava como segurança e vivia precariamente. Ao mesmo tempo, começam a aparecer vários cadáveres de mulheres assassinadas. Realizado pela francesa Patricia Mazuy, da qual se estreou em Portugal apenas um filme, Saint-Cyr (2000) e que foi homenageada no LEFFEST com uma retrospetiva, Bowling Saturno apresenta uma bastante descuidada intriga policial com pretensões “psicológicas”, que serve de cabide a um primário discurso anti-violência visando especialmente os homens, já que quase todas as personagens masculinas do filme, principais ou secundárias, se caracterizam pela uso da mesma, seja contra os animais (o grupo de caçadores amigos do pai dos dois protagonistas), seja contra as mulheres. A fita também não é nada ajudada pela realização apática de Mazuy e pelas interpretações mediocremente bisonhas dos atores que fazem o polícia e o seu meio-irmão, Arieh Worthalter e Achille Regianni. Para esquecer e depressa.

“O Herege”

Em O Herege, escrito e realizado por Scott Beck e Bryan Woods (autores de Um Lugar Silencioso), e passado no Colorado, duas jovens missionárias mórmones, a Irmã Barnes (Sophie Thatcher) e a mais ingénua Irmã Paxton (Chloe East), vão bater à porta da casa isolada do Sr. Reed (Hugh Grant), que havia mostrado interesse em discutir com elas a doutrina da sua igreja. O dia é invernoso, está a chegar ao fim e começa a chover com violência, mas as raparigas informam o dono da casa que as regras que seguem postulam só podem entrar se houver outra mulher presente. O Sr. Reed diz que não há qualquer problema porque a mulher está na cozinha a fazer uma tarte, e elas instalam-se na sala. Começa então um vivo debate sobre teologia, história das religiões e fé e descrença, que se vai transformar num pesadelo para as duas raparigas, que percebem que não há nenhuma mulher na cozinha e que estão presas naquela vivenda soturna. O Herege foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.