Numa operação que permaneceu em segredo durante mais de dois meses, 629 cidadãos brasileiros, incluindo 109 crianças, foram deportadas do Reino Unido, no decorrer da maior operação orquestrada pelo Ministério da Administração Interna britânico, de deportação via voos charter. “Pensa-se que nunca tinham sido retiradas crianças nestes voos”, explica o The Guardian, que avança a noticia.
Nesta investigação, a publicação concluiu que o processo de expatriação foi dividido em três voos, com o primeiro a levar 205 pessoas, no início de agosto, um segundo com 206, no fim do mesmo mês, e ainda 218 no terceiro e último, no final de setembro. “Todas as crianças deportadas faziam parte de agregados familiares e muitas delas teriam sido instaladas em escolas no país e é provável que tenham passado a maior parte, se não a totalidade, das suas vidas no Reino Unido“, refere o jornal.
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As deportações foram classificadas como voluntárias e, de acordo com a legislação britânica, o ministério paga, como incentivo, um valor que pode atingir os 3.600 euros por cidadão, incluindo bebés e crianças. Este montante é atribuído sob a forma de cartões pré-pagos, ativados apenas quando os migrantes regressam ao seu país de origem. O governo do Reino Unido não revelou os motivos que levaram à deportação de todos estes brasileiros, mas o The Guardian escreve que provavelmente estavam incluídas “pessoas que tinham ultrapassado o período de validade dos seus vistos“.
Organizações que se focam nos direitos de cidadãos latino-americanos expressaram as suas preocupações em torno desta operação em larga escala, que aconteceu em total secretismo. “Estamos preocupados com o aumento acentuado dos regressos voluntários de brasileiros no último ano. Sendo a maior comunidade latino-americana no Reino Unido, os brasileiros enfrentam barreiras significativas no acesso a informação de alta qualidade e a aconselhamento jurídico acreditado, particularmente na sua própria língua”, afirma a organização “Coligação de Latino-americanos no Reino Unido”.
Adicionalmente, esta associação explica que um grande número de brasileiros chegou ao país antes da mudança de legislação relativa à migração que surgiu com o Brexit, em 2020, deixando “centenas em risco de verem os seus direitos negados devido a informações incorretas e a requisitos de elegibilidade rigorosos”.