A Associação Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento (MUTIM) vai publicar em junho um manual anti-assédio no meio do cinema do audiovisual. O guia de boas-práticas conta já com o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual.
Em setembro, já tinha sido noticiado a criação do manual, mas a associação decidiu antecipar a publicação na sequência das denúncias de assédio na cultura — primeiro no jazz e depois no teatro. “Pensámos em apresentar este manual no Fórum Mutim, que estava planeado para novembro de 2025, mas perante os casos que foram surgindo no mundo do jazz e da música achámos que fazia sentido, [perante a] discussão pública e o debate muito mais alargado sobre o tema a outras áreas da cultura, antecipar a apresentação do manual”, avança ao Observador a investigadora Mariana Liz, da direção da MUTIM.
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“É um manual que vem primeiro explicar o que é assédio, o que pode constituir assédio, abuso, o que é crime, o que não é, mas que tem também uma série de recomendações sobre como agir em situações em que as pessoas se vejam ou se sintam vítimas deste tipo de práticas”, continua a responsável, que acredita que o guia “pode ajudar a que se criem condições de trabalho mais justas para toda a gente”.
Dirigido a produtoras, mas também a trabalhadores, o instrumento não é uma novidade no panorama internacional. “Guias anti-assédio para o setor do cinema e do audiovisual existem noutros países”, nota Liz, lembrando que a Mutim se inspira no trabalho feito por associações congéneres. “Espanha continua a ser o nosso referente principal”, assume.
A associação acaba de receber o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual, com uma verba de cinco mil euros, o que constitui cerca de metade do orçamentado para a elaboração do documento, que deverá existir numa versão física e digital. A Câmara Municipal de Lisboa vai apoiar com a impressão gráfica.
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“Gostaríamos que o ICA ajudasse na divulgação de boas práticas numa produção saudável”, espera a direção da Mutim, que conta com o apoio da Associação de Produtores Independentes de Televisão (APIT) nesta iniciativa.
Em 2023, a associação promoveu um estudo sobre a condição das mulheres no cinema e no audiovisual em Portugal, financiado por várias entidades, incluindo o ICA ou a Netflix, que comprovou que as mulheres ganham menos que os homens, progridem mais devagar nas carreiras e que há casos de discriminação de género, assédio e racismo.