A Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP) e o Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais (SNBP) apelaram, esta quarta-feira, ao Governo que retome as negociações e pediram maior união “mais ordeira” aos trabalhadores.

Na terça-feira, o Governo alegou razões de segurança devido à manifestação de três centenas de sapadores junto à sede do executivo, em Lisboa, para suspender as negociações sobre aumentos e revisões da carreira, que não são feitas desde 2002.

Petardos, fumo vermelho e palavras de ordem. Tensão em protesto dos Bombeiros Sapadores leva à suspensão das negociações com o Governo

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Esta quarta-feira, Fernando Curto, presidente da ANBP, veio “pedir ao Governo e ao secretário de Estado que reate as negociações o mais rapidamente com os sindicatos”, que “são instituições credíveis e representam os trabalhadores”.

Pouco antes de uma reunião da ANBP e do SNBP, para avaliar a situação, Fernando Curto também pediu aos “bombeiros profissionais, nomeadamente os sapadores, que se unam, mas de maneira mais ordeira e mais organizada”.

“Para que possamos manter aquilo que é a nossa postura, o nosso trabalho em relação à defesa dos bombeiros de todo o país”, explicou.

Por seu turno, Sérgio Carvalho, líder do SNBP, admitiu que existiram excessos “próprios de uma multidão”, mas responsabilizou o executivo pela tensão, porque não está disponível para negociar.

“Quem suspendeu as negociações foi o Governo, não foram os sindicatos”, afirmou Sérgio Carvalho.

Se o Governo não valorizar os sindicatos na sua negociação, a contestação vai crescer e “vão continuar a acontecer estes movimentos”, não apenas nos bombeiros.

“É transversal a toda a sociedade portuguesa e mundial”, disse, numa referência a grupos inorgânicos que podem ultrapassar as estruturas tradicionais representativas.

Para Fernando Curto, o “Governo não pode desvalorizar os bombeiros profissionais, neste caso os sapadores, em detrimento das forças de segurança”, que já chegaram a acordo com o Governo para aumentos nos subsídios de risco.

Na reunião da manhã desta quarta-feira da ANBP e do SNBP, estão delegados de todo o país e o objetivo é avaliar o impasse negocial e discutir quais as medidas que irão ser tomadas.

Sem abertura do Governo bombeiros profissionais prometem novas ações

O presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais (SNBP) afirmou esta quarta-feira que as futuras formas de luta dos sapadores, caso o Governo não retome as negociações, serão decididas pela plataforma sindical, mas irão respeitar a lei.

Falando aos jornalistas antes de uma reunião com delegados sindicais e dirigentes da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP), Sérgio Carvalho acusou o Governo de não querer discutir com os sindicatos e de estar a empurrar a classe para as mãos de movimentos inorgânicos.

Recordando o que se passou na terça-feira, com uma grande manifestação de sapadores que recorreu a petardos para fazer pressão à margem da reunião, Sérgio Carvalho admitiu que são “dinâmicas das multidões” e “movimentos que os sindicatos entendem e apelam a alguma tranquilidade”.

Mas para que exista essa tranquilidade, é necessária abertura do Governo, o que não tem sucedido, acusou, recordando que a tutela, no passado “aumentou em mais de dez anos a idade das reformas” e cortou salários, “sempre à revelia dos sindicatos”.

No caderno atual de negociações, aprovado pelos sindicatos, está prevista a discussão da tabela salarial, as aposentações, horários de trabalho, reforço de efetivos e sistema de avaliação, explicou Sérgio Carvalho.

Contudo, em cada nova ronda negocial, o “governo quer discutir coisas novas” para “não negociar o caderno” previsto.

Na revisão salarial, os sindicatos querem que a tutela mantenha as sete categorias de bombeiro sapador, mas atualizadas para o nível 14, o que iria permitir um aumento do atual salário-base de 1.075 euros para 1.280 euros.

Este aumento iria “corrigir os 22 anos de falta de aumentos salariais”, explicou Sérgio Carvalho, que pedem o reconhecimento dos “complementos remuneratórios que foram concedidos a outras forças de segurança”.

Os baixos salários estão a prejudicar a renovação dos quadros nos concursos, acusa: “Não estamos a ter jovens a concorrer a bombeiro. Ninguém quer receber 1.075 euros e arriscar a vida”.

Caso o Governo insista em não negociar, Sérgio Carvalho admitiu novas formas de luta, sublinhando no entanto que os bombeiros são “pessoas de bem que nunca falharão no socorro ao país e à população”.

“Vamos avançar com todos os protestos que os bombeiros entendam avançar dentro da normalidade, da legalidade e do que é possível pela constituição portuguesa”, disse, acrescentando: “Nós salvamos vidas e em momento algum um bombeiro vai deixar de salvar uma vida por razões sindicais, religiosas, políticas ou outra”.

Contudo, a decisão será sempre dos profissionais: “Não será o nosso sindicato a decidir pelos bombeiros”.