O Presidente da União das Comores declarou esta segunda-feira uma semana de luto nacional após a passagem do ciclone Chido no sudeste africano, que afetou centenas de pessoas, nomeadamente em Moçambique, principalmente em Cabo Delgado.

Segundo o Presidente, Assoumani Azali, foi “decretado luto nacional durante uma semana em todo o país”, num período que começa esta segunda-feira e vai até domingo, 22 de dezembro, “após a passagem do ciclone Chido, que causou várias vítimas e enormes prejuízos materiais no arquipélago das Comores, principalmente em Mayotte”, que pertence a França.

Mayotte, um departamento francês desde 2011, foi devastada no sábado por rajadas de vento superiores a 220 quilómetros por hora que prejudicaram principalmente bairros de lata, que desmoronaram.

No sábado, em Kawéni, num bairro de Mamoudzou, em Mayotte, foi “tudo foi varrido, tudo foi arrasado”, disse Mounira, uma residente do maior bairro de lata de França, citada pela agência France Presse.

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Duas ilhas das Comores, Anjouan — a mais próxima de Mayotte — e Mohéli, também foram afetadas, mas de forma muito menos severa. As mesquitas foram inundadas, os “kwasa” (barcos) arrastados pelas ondas e as casas danificadas, informou o comandante Abderemane Mahmoud, da Segurança Civil comoriana.

O ciclone Chido é o ciclone mais intenso a atingir Mayotte nos últimos 90 anos, mas também atingiu Moçambique, onde, até ao momento a província mais afetada foi a de Cabo Delgado, a norte, com três mortos e 37 feridos.

“Até o momento a província de Cabo Delgado é a que teve maior impacto a nível do ciclone tropical intenso Chido. Nós estamos ainda numa avaliação preliminar. Há zonas, mesmo aqui na província de Nampula, que ainda são de difícil acesso“, declarou a presidente do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), Luísa Meque.

Temos informação que o ciclone enfraqueceu. Já estamos praticamente numa tempestade tropical de nível dois, o que quer dizer que temos a esperança de que o impacto será menor em relação ao que tivemos aqui no distrito de Memba”, acrescentou Luísa Meque.

O ciclone tropical intenso Chido, de escala 3 (1 a 5), atingiu a zona costeira do norte de Moçambique na noite de sábado para domingo, segundo o Centro Nacional Operativo de Emergência (CNOE).

O mesmo serviço indicou que o ciclone enfraqueceu para tempestade tropical severa, mas continuava, domingo, a fustigar aquelas duas províncias do norte, com “chuvas muito fortes acima de 250 mm [milímetros]/24 horas, acompanhada de trovoadas e ventos com rajadas muito fortes”.

Cerca de 200 mil clientes ficaram sem eletricidade em Nampula e Cabo Delgado devido aos efeitos da passagem do ciclone Chido, divulgou, no domingo, a Eletricidade de Moçambique (EDM), e pelo menos três voos com destino à região norte foram, no mesmo dia, cancelados pela companhia aérea Linhas Aéreas de Moçambique (LAM).

Cerca de 650 mil crianças estão em risco face aos impactos do ciclone Chido no norte de Moçambique, alertou esta segunda-feira a Organização Não-Governamental (ONG) Save The Children, avançando que decorrem ações de ajuda.

Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.

O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.