Os Estados Unidos da América apoiaram uma força militar síria e incentivaram-na a juntar-se à ofensiva rebelde que no dia 8 de dezembro derrubou o regime de Bashar al-Assad. A informação é avançada por um comandante do grupo, o Revolutionary Commando Army (RCA). É pela primeira vez público que Washington sabia da ofensiva rebelde contra o regime sírio antes de ela ter ocorrido.

“Disseram-nos apenas: ‘Está tudo prestes a mudar. Este é o vosso momento. Ou Assad cai ou caem vocês’. Contudo, não disseram quando nem onde, apenas disseram para estarmos prontos”, conta o capitão Bashar al-Mashdani, um comandante do RCA, ao Telegraph. A mensagem das forças norte-americanas foi avançada a este grupo rebelde no início de novembro, quase três semanas antes do início da ofensiva, liderada pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS).

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O RCA é um grupo financiado e armado pelos EUA, com o objetivo de conter o avanço das forças do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS, na sigla inglesa). No início de outubro, o capitão Mashadani fazia parte da brigada Abu Kathab, constituída apenas por 150 homens. Esta foi criada pelas Forças Especiais dos EUA e treinada pelas forças homólogas do Reino Unido, até 2016, para combater o ISIS.

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Nesse mês, antes de informarem os rebeldes sobre a iminência de uma ofensiva, os EUA terão agregado à RCA várias pequenas unidades militares independentes. Esta força passou de contar com 800 homens para 3.000. Mesmo com a multiplicação de efetivos, os EUA continuaram a fornecer aos membros do RCA armamento e um salário de 400 dólares americanos — quase doze vezes a remuneração dos soldados do governo sírio.

No fim de novembro, quando o HTS avançou para Damasco, o RCA começou uma incursão a partir da base aérea de Al Tanf, controlada pelas forças armadas norte-americanas, localizada perto da fronteira com o Iraque. Os comandantes das forças armadas dos EUA em Al Tanf terão incentivado estas incursões no terreno para prevenir que o ISIS pudesse retomar algum do território que controlaram, durante a guerra civil. De momento, as forças da RCA controlam um quinto do território do país.

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Segundo Bashar al-Mashdani, as forças do RCA e HTS cooperaram durante a ofensiva rebelde, que acabou por destronar Assad, no passado dia 8 de dezembro. Os contactos do RCA com o principal grupo da ofensiva rebelde síria terão sido estabelecidos pelas forças norte-americanas estacionadas na base aérea de Al Tanf.