O primeiro-ministro francês, François Bayrou, afirmou, esta quinta-feira, que a “luta” de Gisèle Pelicot, contra a violência sexual, diz respeito a todos e deve ser continuada, após a condenação dos 51 arguidos.
A “luta” desta mulher de 72 anos “impõe-se a todos e deve ser continuada”, disse Bayrou na rede social X, referindo ter “imenso respeito por Gisèle Pelicot, que demonstrou ao longo de todo este processo uma coragem e uma exemplaridade inabaláveis”.
Immense respect à l’égard de Gisèle Pelicot, qui a montré tout au long de ce procès un courage et une exemplarité sans faille. Elle est devenue la figure des violences faites aux femmes. Son combat nous oblige tous et doit être poursuivi.
— François Bayrou (@bayrou) December 19, 2024
A principal vítima do julgamento que terminou, esta quinta-feira, no Tribunal de Avignon (sul), tornou-se um ícone da luta contra a violência sexual, por ter sido violada e drogada com ansiolíticos durante uma década pelo seu marido, Dominique Pelicot.
Dominique, de 72 anos, condenado, esta quinta-feira, a 20 anos de prisão, pena máxima em França, também recrutou na internet dezenas de desconhecidos, com idades compreendidas entre os 27 e os 74 anos, para violar a mulher com a qual foi casado durante cerca de 50 anos.
As provas dos crimes foram encontradas pela polícia no computador de Dominique, em 2020, em mais de 20.000 vídeos e fotografias, que levaram os investigadores a contar 72 violadores, apenas conseguindo identificar 50, todos condenados, esta quinta-feira, a penas entre 3 a 18 anos de prisão.
Dominique foi detido por filmar por baixo das saias de mulheres num supermercado.
À saída do tribunal, Gisèle recordou as “vítimas não reconhecidas” da violência sexual, “cujas histórias permanecem muitas vezes na sombra” e “todas as outras famílias afetadas por esta tragédia”.
“Quero que saibam que partilhamos a mesma luta”, afirmou Gisèle Pelicot, referindo que agora tem “confiança” num “futuro em que todos, mulheres e homens, podem viver em harmonia, com respeito e compreensão mútuos”.
A classe política saudou unanimemente Gisèle Pelicot, que decidiu tornar o julgamento público desde o início, a 2 de setembro, e assistir às sessões com o rosto descoberto “para que a vergonha mude de lado”.
A presidente da Assembleia Nacional francesa, Yaël Braun Pivet, agradeceu a Gisèle pela “sua coragem”, referindo que através dela “as vozes de tantas vítimas estão hoje a ser ouvidas, a vergonha está a mudar de lado, o tabu está a ser quebrado”.
“Gisèle Pelicot ficará na história como a encarnação do fim da vergonha para as vítimas e do fim da impunidade para os violadores”, afirmou Mathilde Panot, presidente do grupo França Insubmissa (LFI, esquerda radical).
O antigo primeiro-ministro Gabriel Attal referiu que “todo o país ficou ao lado de Gisèle Pelicot”.
“Obrigada Gisèle pela sua coragem. Este julgamento histórico quebrou tabus na sociedade e marcou um ponto de viragem na luta contra a cultura da violação”, disse a líder do partido Ecologistas, Marine Tondelier, na rede social X.
La justice a reconnu coupables tous les accusés et infligé la peine maximale à Dominique Pélicot.
Merci Gisèle pour votre courage. Ce procès historique a brisé les tabous dans la société et marque un tournant dans la lutte contre la culture du viol.
La honte changera de camp. https://t.co/GFlKccsbVk
— Marine Tondelier (@marinetondelier) December 19, 2024
Também personalidades internacionais se expressaram sobre o julgamento, como o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, que saudaram a “dignidade” e a “coragem” de Gisèle.