O coordenador nacional do Sindicato para Todos os Profissionais da Educação (Stop), André Pestana, anunciou este sábado a intenção de se candidatar a Presidente da República em janeiro de 2026, assumindo uma candidatura independente e “a favor dos trabalhadores“.
Horas depois, em entrevista à SIC, Pestana explicou que o seu objetivo é ser “a voz dos que não têm voz”, ou seja, dos trabalhadores de vários setores — “não meramente dos profissionais da educação” que representava enquanto sindicalista — contra a “ganância” de setores como a banca e os seus “lucros recorde”.
“A população quer guerra à precariedade e aos baixos salários”, argumentou. E a “guerra” que fez também no setor da Educação, liderando uma série de greves polémicas, pode servir-lhe de ajuda, acredita: “O impacto da luta pela educação, que acho que foi sem precedentes, mostra que se pode fazer algo diferente, por fora dos sindicatos do sistema”.
Os slogans de campanha estão decididos: “É preciso abrir a pestana” (porque há muita “injustiça” em Portugal, acrescentou) e “um dos teus a Presidente”. Quanto à dúvida sobre se terá notoriedade suficiente para um desafio deste calibre, desvalorizou.
“Também me colocavam a questão da projeção antes de avançarmos para a luta em 2022 (…) Tem-se visibilidade quando se faz um bom trabalho”, respondeu, antes de comparar o seu caso ao do antigo Presidente da República Jorge Sampaio: “Sampaio também se destacou antes [de ser Presidente]. É um percurso normal”. A possível falta de projeção não o assusta, garantiu: “De indecisos não reza a História”.
Decidido que está sobre fazer campanha “por e para os trabalhadores”, e de forma “independente”, Pestana assumiu que precisará da ajuda deles para fazer a campanha acontecer, pedindo-lhes uma participação “financeira”. E garantiu que não está nos seus planos desistir a meio da campanha: “Quem me conhece sabe que não é normal em mim desistir“.
Na mesma entrevista à SIC, o pré-candidato (terá de recolher 7500 assinaturas) anunciado ainda deixou críticas aos mandatos de Marcelo Rebelo de Sousa, criticando o atual Presidente da República por ter “deixado passar” episódios que foram, no seu entender, de “violação do direito à greve”. “Não tem uma palavra sobre a escola pública, o direito à greve. O problema [nas declarações de Marcelo Rebelo de Sousa] não é a quantidade, é a qualidade”.
Pestana candidata-se em resposta a “desafio de 50 ativistas”
O sindicalista decidiu lançar a sua candidatura numa carruagem de comboio transformada em bar, em Oeiras, Lisboa. E explicou: “Dentro, simbolicamente, de uma carruagem, ao lado do oceano que liga todos os continentes do nosso planeta pretendo iniciar esta viagem de aceitar ser candidato às eleições presidenciais de 2026”.
De acordo com o manifesto distribuído antes da apresentação, André Pestana está a responder a um desafio que lhe foi lançado por “50 ativistas sociais”, sem concretizar quem são.
“No que eu puder, tentarei ser a vossa voz, tentarei ser uma referência para todos os trabalhadores portugueses que continuam a dar o seu melhor e que mesmo assim não têm dignidade. Há dinheiro em Portugal para que todos possamos viver em dignidade, ter direito a habitação digna, a um trabalho digno, sem expulsar e sem dizer que a culpa é dos outros, como a extrema-direita tenta fazer e incutir esses valores em Portugal, que nós não queremos”, sustentou o coordenador do Stop, destacando ainda o combate às alterações climáticas e contra a pobreza.
O professor disse que quer “ouvir e construir” com base “em discussões, sessões, para ser a voz dos sem voz” e que, apesar de ser uma candidatura independente, conta com o apoio de “muitos ativistas do Stop que se identificam com a candidatura, mas a título pessoal”.
“A candidatura não tem apoio formal de nenhum sindicato, de nenhum partido, de nenhuma estrutura, há apoio individual das pessoas que individualmente acham que esta candidatura poderá ser uma pedrada no charco, como o Stop foi a nível sindical”, indicou.
O sindicalista deixou também críticas ao almirante Gouveia e Melo, que tem sido apontado como um possível candidato a Belém, indicando que a sua candidatura constitui “uma alternativa”.
“Ao contrário de alguns candidatos que dizem que temos de estar preparados para morrer onde a NATO disser que temos de morrer, acho que a maioria da população portuguesa não quer que os nossos filhos, netos, sobrinhos morram para fazer as guerras dos interesses de outros”, afirmou.
André Pestana, 47 anos, é professor e doutorado em biologia. Natural de Coimbra, foi dirigente do partido Movimento Alternativa Socialista (MAS) e é coordenador nacional do Stop, sindicato que fundou em 2018.
As candidaturas presidenciais são apresentadas ao Tribunal Constitucional (TC) até 30 dias antes da data da eleição, e têm de ser subscritas por um mínimo de 7.500 e um máximo de 15.000 cidadãos eleitores. Só depois de validadas pelo TC as candidaturas são oficiais.