A primeira parte teve poucas ou nenhumas oportunidades, a segunda trouxe mais tentativas mas um Andrew gigante na baliza a impedir todas as hipóteses de golo. Se nos primeiros anos de Ruben Amorim toda a força do Sporting estava construída de trás para a frente, o amadurecimento do projeto coletivo dos leões trouxe um conjunto que podia sofrer mais ou menos mas ficava mais próximo dos triunfos com os muitos golos que marcava. Agora, houve um total eclipse. Mais uma vez. E se o ataque em branco frente ao Santa Clara não teve efeitos “práticos”, agora a realidade é diferente e o conjunto de Alvalade vive o que ainda não vivera.

A falar tanto de três pontos para “desculpabilizar” já perderam oito por culpa própria (a crónica do Gil Vicente-Sporting)

Sendo verdade que o Sporting chegou a Barcelos com dois triunfos consecutivos com Boavista e Santa Clara, a realidade olhando apenas para o Campeonato é diferente. Não deixou de ser diferente. E, em quatro jogos depois da épica reviravolta em Braga que marcou a despedida de Amorim, os leões ganharam apenas quatro pontos em 12 possíveis, entre o triunfo com os axadrezados, o empate com o Gil Vicente e as derrotas com Santa Clara e Moreirense. Em termos práticos, e apesar dos deslizes dos adversários diretos, os verde e brancos perderam a liderança isolada que agora partilham com o FC Porto e podem ver o Benfica passar o Natal na liderança em caso de vitória com o Estoril e na antecâmara do dérbi em Alvalade (dia 29).

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Olhando apenas para o rendimento fora de casa, o Sporting voltou a ter uma série de três encontros seguidos sem ganhar como não acontecia há um ano. Mais: era preciso juntar 84 partidas para registar dois jogos sem golos, algo que agora aconteceu… apenas em seis. Contas feitas, segundo o Playmakerstats, João Pereira é um dos técnicos com menor percentagem de vitórias apenas acima de Franky Vercauteren, Fernando Argila e Giuseppe Materazzi. No entanto, e recuando até à última época, os leões têm os mesmo pontos (37), levam mais 11 golos e menos seis sofridos. Problema? Perderam oito pontos nas últimas quatro jornadas.

“Ao contrário dos jogos passados, não tivemos uma entrada muito forte. Custou-nos criar oportunidades na primeira parte, tivemos duas, as do Viktor mais claras. Tivemos muita bola, muito passe, controlo absoluto outra vez mas não criámos. Na segunda parte ajustámos a pressão porque estávamos a correr muito sem ganhar a bola e a partir daí o Gil Vicente não conseguiu jogar. Criámos mais oportunidades pelo Trincão, pelo Harder, pelo Geny [Catamo]… Está a faltar o último detalhe, seja passe, remate… Na minha opinião fizemos um jogo muito bom defensivamente, acho que o Gil fez um remate à baliza mas temos de fazer golos e não estamos a fazer”, começou por comentar João Pereira na conferência de imprensa depois do encontro.

“O que se passa é que voltámos a controlar o jogo, como temos controlado todos, e se marcamos um golo o jogo muda completamente. Hoje marcámos e, mais uma vez, foi anulado. Eu olho e continuamos a melhorar, principalmente a nível defensivo. Mas temos de conseguir criar mais, não estamos a definir da melhor forma. Temos que treinar. Não há muito tempo mas eu não estou aqui para arranjar desculpas. Culpas? Não são de ninguém mas o responsável sou eu. Benfica? Não interfere nada. É mais um jogo em que vamos entrar para ganhar, é o objetivo em todos os jogos. Tivemos um mau início da minha parte, porque os jogadores já vinham com 11 vitórias seguidas. Queremos a terceira vitória, fizemos outra vez o suficiente para ganhar. Temos de ser mais fortes e criar mais, a responsabilidade é nossa”, comentou o treinador leonino.

“Como se muda a situação? Com o tempo, com treino… Agora vamos ter um período para descansar e acho que vai fazer bem aos jogadores, passarem tempo com a família e desligarem um bocado. Viveram muita coisa neste último mês e meio. Foram uns guerreiros porque tentaram reagir, tentam ganhar todos os jogos e dão a vida. Não nos podemos esquecer que tivemos um jogo há quatro dias onde tínhamos de ganhar obrigatoriamente. 120 minutos, muitos jogadores a jogar outra vez… Chega a um momento e sente-se que a frescura já não é a mesma. Mas é assim que temos de lutar, encarar o futuro. De certeza que vamos melhorar”, assegurou João Pereira, antes de comentar o polémico lance de penálti anulado que podia resultar em golo e também a contestação dos adeptos entre insultos, assobios e lenços brancos.

“Entendo a contestação, já o disse antes. Os adeptos apoiaram durante o jogo todo, chegou ao final e estão livres para se pronunciarem como quiserem. Eles fazem o seu trabalho, nós não conseguimos retribuir com uma vitória e depois temos de ser homens e ter personalidade para assumir o momento. Conversa com o árbitro? Não quero falar de arbitragem mas há um lance que dá um golo nosso e, de um golo nosso, nem falta é, não sei. Era um golo limpo… Marcou-se penálti, anulou-se um golo e é o que é. Siga…”, concluiu.

Já depois da conferência de imprensa, e depois dos insultos, assobios e lenços brancos nas bancadas para o treinador, a contestação a João Pereira subiu de tom na saída do Estádio Cidade de Barcelos, com vários adeptos a esperarem junto do autocarro da equipa com gritos de “João Pereira, pede a demissão” entre outros cânticos. O jornal Record dá conta que nesse momento foi arremessada uma máquina de iQOS na altura em que o treinador saiu dos balneários, tendo ficado perto do autocarro antes de ser recolhida do chão.

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