O primeiro-ministro diz que já viu “muitas imagens” como a dos imigrantes com as mãos encostadas à parede no Martim Moniz, como por exemplo com jovens na noite. Ainda assim, em entrevista ao Diário de Notícias, Luís Montenegro confessa pela primeira vez o desconforto: “Sou muito honesto, também não gostei de ver. No sentido visual, não gostei de ver. É uma situação anómala, que não é o dia a dia.”

Luís Montenegro mantém-se ao lado das autoridades, ao considerar que do ponto de vista operacional a PSP “não tinha alternativa”. Na mesma entresvista diz ainda que “não falou com ninguém” nem antes nem depois da operação, recusando qualquer interferência na atuação policial. O primeiro-ministro tenta também afastar-se do posicionamento do Chega ao garantir: “Nunca fiz uma associação entre imigração e insegurança. E acho que ela não existe.”

O primeiro-ministro voltou, porém, a dizer que “a segurança é fundamental para que haja liberdade” e que o Executivo não ser insensível aos dados revelados pelos sucessivos Relatórios Anuais de Segurança Interna. Além disso, Montenegro volta a falar naquilo que “são as perceções que todos temos, uma dimensão subjetiva que é o sentimento de insegurança.” Revela ainda que o Governo não tem dados concretos sobre 2024.

Sobre imigração, Luís Montenegro diz que se deve olhar para os imigrantes que procuram o país como “novos portugueses”. Além de Portugal precisar de “milhares de trabalhadores” para a Construção Civil, Montenegro quis dizer de “forma descomplexada” que muitos dos imigrantes devem poder ficar cá como aconteceu com os portugueses quando emigraram. Mas deixa um aviso: “Temos de dar condições, mas as pessoas têm de querer, têm de se aculturar, têm de se integrar na sociedade de forma permanente.”

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Desafiar Centeno, ignorar o almirante

O primeiro-ministro também continuou com a picardia com o governador do Banco de Portugal e potencial candidato presidencial que tem contestado as previsões macroecómicas do Governo. Montenegro diz que “anota” a observação de que Portugal pode voltar a ter défice, mas diz que ela é “absolutamente em contramão contra todas as outras opiniões.” E acrescenta: “Não só do governo, do governo, de instituições nacionais e internacionais.” Diz até ser “insólito” Centeno prever défice de 0,1%, explicando que isso se resolveria em “dois tempos” sem grande esforço de engenharia financeira.

Sobre potenciais candidatos presidenciais, Montenegro limita-se a rir quando lhe falam em almirante. E nunca se refere diretamente ao antigo chefe do Estado-maior da Armada. Afasta, sim, novamente a hipótese de apoiar um candidato que não seja militante: “Temos todas as condições para o fazer dentro do nosso quadro de militantes, não sendo esta uma eleição partidária, mas partir daí para poder apresentar um candidato que seja suficientemente mobilizador do país, conhecedor do país e uma garantia de que seja uma mais-valia no exercício da função, na dinâmica do nosso sistema político.”