“Encontro com Pol Pot”

O realizador cambodjano Rithy Panh, sobrevivente do genocídio dos Khmers Vermelhos nos anos 70, e em que morreu parte da sua família, continua aqui a missão de manter viva a memória dessa matança colectiva comunista na Ásia e das sua vítimas, em nome da construção de um “homem novo” e de uma “sociedade sem classes”. Baseando-se em personagens e factos reais, Pahn filma a visita ao Cambodja, em 1978, de três jornalistas franceses, um dos quais antigo colega de Pol Pot na universidade em Paris e apoiante do regime. À medida que a visita decorre, o trio vai-se apercebendo que lhes estão a vender propaganda, e descobre a verdadeira e monstruosa natureza da revolução dos Khmers Vermelhos, e o fanatismo assassino que os move. Usando também imagens documentais e miniaturas de barro como em A Imagem que Falta (2013), Encontro com Pol Pot é, na intenção, no gesto cinematográfico e no discurso, mais um filme à altura de todos os anteriores que Panh (que também interpreta o ditador) fez sobre o tema.

“Chá Preto”

Depois do impressionante Timbuktu (2014), o mauritano Abderrahmane Sissako muda de registo em Chá Preto, para contar a história de Joice, uma jovem da Costa do Marfim que abandona o noivo no dia do casamento e se vai instalar em Guangzhou, na China, conhecida como a “Cidade do Chocolate” por causa da sua grande comunidade africana, começando a trabalhar na loja de chá de Cai, um habitante local, que lhe começa a ensinar tudo o que sabe sobre a bebida e a sua arte ancestral. Seja na sua descrição escassamente envolvente do encontro de culturas muito diversas representadas pelas duas personagens principais, e da relação que nasce entre eles, seja na apresentação “positiva” e muito pouco realista do convívio entre a população chinesa da cidade em que a história decorre e os imigrantes africanos lá instalados, Chá Preto é um filme completamente falhado, para além de postiço e maçudo.

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Nosferatu”

Robert Eggers propõe em Nosferatu uma nova versão do imorredoiro filme mudo homónimo de 1922 realizado por Murnau (que quase desapareceu por ser uma adaptação não autorizada do Drácula de Bram Stoker, tendo a viúva do escritor conseguido, na justiça, a destruição de todas as cópias, embora tenham escapado algumas), que teve um misto de remake e nova versão daquele livro (com um final polemicamente pessimista) rodado por Werner Herzog, em 1979 (há ainda vários spin-offs menores e variáveis na quantidade de sangue vertido). Por um lado, Eggers mantém-se fiel a muitas das premissas, atmosferas, peripécias e elementos cinematográficos da fita de Murnau, bem como da de Herzog, inovando na figura do vampiro, o conde Orlok, na carecterização de Ellen, a heroína, e na relação que se estabelece entre ambos. Nosferatu foi escolhido como filme da semana pelo Observador.