O escritor e professor universitário Helder Macedo, 89 anos e “uma consciência livre”, é o distinguido com o Prémio Vasco Graça Moura-Cidadania Cultural, deste ano, anunciou esta sexta-feira a Estoril Sol, promotora do galardão.
Sobre o distinguido nesta 10.ª edição do prémio, com o valor pecuniário de 20.000 euros, o júri referiu que, “vivendo em Moçambique, desde a sua juventude, [Helder Macedo] afirmou-se como uma consciência livre, considerando a liberdade como abrangendo a criação literária e artística, mas também o reconhecimento do direito dos povos à autodeterminação e independência”.
O distinguido do Prémio é conhecido no dia em que o escritor, ensaísta e político Vasco Graça Moura completaria 89 anos.
Para o júri, ao qual presidiu o sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras Guilherme d’Oliveira Martins, Helder Macedo é “um ilustre poeta, romancista, ensaísta, crítico e professor que tem um percurso exemplar no campo da cidadania cultural“.
Helder Macedo, “exilado em Londres a partir de 1960, foi colaborador da BBC e lecionou no King’s College onde ensinou Língua e Cultura Portuguesas, afirmando-se como prestigiado investigador”, afirma o júri em ata, acrescentando que, “após a Revolução de 25 de Abril [de 1974] exerceu em Portugal importantes funções na área cultural, tendo prosseguido, a par da criação literária e ensaística, uma ação persistente na cultura e educação em prol da cultura portuguesa no mundo”.
Em comunicado, a Estoril Sol lembra que Helder Macedo, “jovem de convicções antifascistas, foi perseguido pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado)”, tendo-se exilado em Londres onde se licenciou em Literatura e História. Docente no King’s College, aí realizou os seus estudos de doutoramento, tendo sido titular da cátedra Camões e professor emérito.
Helder Malta Macedo nasceu em 30 de novembro de 1935, em Krugersdorp, na África do Sul. Passou a infância em Moçambique, onde seu pai era governador provincial da Zambézia, e regressou a Lisboa com 12 anos, tendo, posteriormente, frequentado a Faculdade de Direito.
Os seus primeiros registos na ficção literária, um romance e alguns contos, foram censurados, vindo a editar o seu primeiro livro de poemas com 21 anos, “Vesperal” (1957), ao qual se seguiu outro título de poesia, “Das Fronteiras” (1962).
De 1991 a 1998, Helder Macedo publicou os romances “Partes de África” e “Pedro e Paula”, coorganizou “Folhas de Poesia” e colaborou em várias publicações, como “Graal”, “Hidra I” e a “Colóquio/Letras”.
No domínio do ensaio, “distinguiu-se com estudos de crítica literária que apresentavam perspetivas inovadoras sobre a conexão do texto literário com o horizonte mental e cultural em que foi produzido”, e na vertente da poesia, publicou “Vícios e Virtudes” (2000), “Viagem de Inverno” (1994) e “Viagem de Inverno e Outros Poemas”, esta uma coletânea da sua poesia, com a chancela da Editora Record, do Brasil. Outra coletânea da sua poesia foi publicada em 2011, pela Editorial Presença, “Poemas Novos e Velhos”.
Entre 1975 e 1980, viveu em Portugal, onde exerceu, durante um curto período, funções públicas e políticas, tendo sido, de 1979 a 1980, secretário de Estado da Cultura, do Governo liderado por Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004).
O seu mais recente título, na área de ensaio, foi publicado em 2017, “Camões e outros contemporâneos”. Na área de romance, o mais recente, publicado em 2013, recuperou para título um soneto de Camões, “Tão Longo Amor Tão Curta a Vida”.
O romance “Sem Nome” (2005) valeu-lhe um Prémio P.E.N. Clube 2006. Anteriormente já tinha recebido o Prémio P.E.N. Clube de ensaio, em 1998, por “Viagens do Olhar: Retrospeção, Visão e Profecia no Renascimento Português”, que escreveu com Fernando Gil (1937-2006), obra que lhe valeu também, nesse mesmo ano, o Prémio da Associação de Críticos Literários.
Por outro ensaio, “Do Significado Oculto da Menina e Moça” (1977), recebeu o Prémio da Academia das Ciências de Lisboa, da qual é membro efetivo.
Como professor visitante deu aulas em várias universidades, entre elas a Federal do Rio de Janeiro, a de Harvard, nos Estados Unidos, a de Santiago de Compostela, em Espanha, e a École de Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, sendo “honorary research fellow” na Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Ao longo da sua carreira foi condecorado por três vezes pelo Estado português: em junho passado, com a Grã-Cruz da Ordem de Camões, em 2018, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante e, em 1993, com a comenda da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Helder Macedo “nunca abdicou da sua condição de português livre”, sublinha a Estoril Sol.
O Prémio Vasco Graça Moura “visa distinguir um escritor, ensaísta, poeta, jornalista, tradutor ou produtor cultural que ao longo da carreira – ou através de uma intervenção inovadora e de excecional importância -, haja contribuído para dignificar e projetar no espaço público o setor a que pertença“, segundo o regulamento.
No ano passado, o prémio foi atribuído ao historiador José Pacheco Pereira.
José Pacheco Pereira vence Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural
Além de Guilherme d’Oliveira Martins, que presidiu, o júri foi constituído por Maria Carlos Gil Loureiro, da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e Bibliotecas, José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, Manuel Frias Martins, presidente da Associação Portuguesa de Críticos Literários e, a convite da Estoril Sol, o escritor Liberto Cruz, o jornalista José Carlos de Vasconcelos, a diretora da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, Ciência e Cultura, Ana Paula Laborinho, e o jornalista Dinis de Abreu.
A cerimónia da entrega do Prémio será anunciada oportunamente, afirma a Estoril Sol.