A Inteligência Artificial Generativa e a economia digital estão a impulsionar a procura de novos locais para data centres em Portugal. O país já conta com cerca de 30 infraestruturas, com destaque para o data centre da Altice na Covilhã, uma instalação de 75.500 m² que aloja 50 mil servidores e é reconhecida como Tier 3 pelo Uptime Institute.

A expansão da IA tem gerado uma procura intensiva por projetos de grande escala, entre 300 MW e 500 MW. Lisboa e Porto concentram dois terços dos data centres no país, mas Portugal apresenta condições favoráveis para novas instalações, como energia sustentável e acessível.

Portugal é um dos líderes na produção de energia renovável, com dois terços da eletricidade proveniente de fontes como hídrica, eólica e solar. O país ainda estuda fontes alternativas, como a força das marés, mantendo preços competitivos no mercado.

A par da energia e do acesso, a atração de Portugal está também nas redes de conexão através de fibra ótica, pois alguns dos cabos submarinos de maior importância para o mundo ocidental passam por Portugal, nomeadamente por Carcavelos e Sesimbra, duas localidades da Grande Lisboa.

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Novos investimentos e projetos em curso

E porque a IA está a exigir mais data centres? A base do AI é colecionar e armanezar data, o que consequentemente aumenta o crescimento da procura em termos de processamento e capacidade de armazenamento. O que obriga a maior eficiência energética, ao consumo a partir de fontes renováveis, e ainda a melhores sistemas de refrigeração.

Dados da JLL revelam que os operadores dominantes em Portugal, a nível de data centres, são a Altice e a Claranet com 15% de market share cada um deles; enquanto a NOS e a REN Telecom dispõem, cada um deles, de 12% do mercado. Estão a operar com quotas mais pequenas a AR Telecom, a PTISP, a FCT-FCCN, a Equinix e a ONI Telecom, entre outros.

Lisboa e Porto concentram 67% do mercado de data centres e estão em pipeline, e alguns em construção, data centres relevantes ao nível mundial. Um desses casos, e que está em construção, é o data centre da Start Campus, em Sines, com capacidade para 495 MW de potência, alimentado a energia 100% “verde” e que se tornará no maior complexo para IT em termos de escala, o chamado “hyperscale data centre”.

A Atlas Edge está a construir um data centre em Carnaxide, Lisboa, e que numa primeira fase terá uma capacidade instalada de 20 MW de potência para fornecer capacidade em termos de IT e tem a particularidade de usar apenas energia de fontes renováveis e não fará desperdício de água.

A Merlin Properties assegurou a licença para a construção de uma infraestrutura em Vila Franca de Xira, perto de Lisboa, um complexo com 24 MW de potência inicial, mas com capacidade para expandir até aos 100 MW de potência. O país tem ainda outros projetos em andamento e que beneficiam de condições e instalação a nível de licenças, taxas e cedências de espaço, e em oportunidades de reconversão e unidades pequenas para híper escalas com centros a debitarem capacidades entre os 150 MW e os 200 MW de potência.

Em termos de produção internacional Portugal posicionou-se como mercado emergente, mas a JLL acredita que o país passe ao nível de mercado secundário depois de ser alvo da atenção dos investidores e dos developers, e apresente projetos de híper escala entre os 100 MW e os 600 MW.

A capacidade de conetividade é critica para uma oferta atraente para investimento e Portugal tem todas as características para ser um dos mercados selecionados. De destacar que os cabos submarinos transportam cerca de 95% do tráfego de internet e assumem a função de autoestradas da informação digital. Ora, Portugal faz a ancoragem de importantes cabos submarinos intercontinentais, e que estão essencialmente localizados em Carcavelos e Sesimbra, próximo de Lisboa. Uma das mais importantes ligações aconteceu no primeiro trimestre de 2024 com o cabo “2Africa”, lançado em Carcavelos, com um comprimento de 45 mil km e que faz a conexão da Europa a 33 países localizados em África e Ásia.

Conectividade para o mundo

A proximidade do cabo submarino com a infraestruturas de dados é critica para melhorar a velocidade de transmissão, realça o estudo da JLL sobre o tema. E em Sines, onde está a ser construída a maior infraestrutura portuguesa em data centres, foi lançado recentemente o cabo “EllaLink” que faz a ligação entre Portugal e o Brasil.

Portugal tem capacidade para se posicionar como um hub a nível de conetividade internacional, considera a JLL, e que adianta que os data centres são classificados em níveis de tiers e que se baseiam nas respostas das infraestruturas a nível da fiabilidade, da redundância e da disponibilidade sem interrupções.

O Uptime Institute classifica os centros de dados com quatro níveis, do tier 1 ao tier 4, sendo que a análise começa no nível de disponibilidade de rede sem quebras (o uptime), depois pela melhor proteção perante disrupções, subindo o nível de tier para quem tem potências mais sofisticados e melhores soluções de refrigeração, e termina nos sistemas com as melhores redundâncias em termos de transmissão e de armazenamento. Há vários tipos de data centres, caso do Managed DC que é propriedade e gerida por uma terceira entidade que arrenda serviços para necessidades de computação e/ou de armazenamento. O sistrema Enterprise DC é detido e operado por organizações individuais para suporte da própria infraestrutura de IT e necessidade de armazenamento e do trabalho digital. O Hyperscale DC é um centro com grande capacidade e que se destina a companhias de necessidades massivas de IT, a par dos projetos de big data e servem para entidades com grande volume de acesso, caso dos social media ou das entidades de pesquisa e informação.  Existe ainda o tipo Colocation DC que fornece espaço para armazenamento de equipamento de IT de terceiros e/ou entidades que fazem partilha de recursos. O Cloud-based DC é outro modelo que serve providers que distribuem espaço a terceiros; e o Edge DC permite o acesso de computação e armazenamento a utilizadores finais.

Como potencial grande hub internacional, Portugal é suportado por um elevado nível de geração de energia renovável, com 61% de eletricidade consumida em 2023 com aquela origem. O vento é o principal fornecedor e energia e representa 25% do sistema, seguido da hidroelétrica a valer 23%, a fotovoltaica a representar 7% do total de energia verde e, por último, a biomassa que tem um peso de 6%. Desde 2016 que o país é exportador de energia, o que o coloca como uma região atrativa para soluções com energia sustentável, sendo que a energia “verde” é a melhor das soluções para as necessidades dos datas centres. O país tinha, em 2023, mais de 9400 km de linhas de transmissão de energia e um sistema produtor instalado de 21.362 MW.

Como pontos fortes a nível da instalação de grandes data centres, Portugal é a porta de ligação entre a Europa com África, o norte e o sul da América; tem capacidade para expansão de datas centres, um setor IT forte e engenharia e elevada competência. As instalações que existem estão protegidas de inundações e tremores de terra, enquanto clima é propício ao desenvolvimento da atividade com zonas de costa frias e com humidade, e uma costa oceânica com capacidade de refrigeração dos sistemas. Tem ainda como pontos fortes uma disseminação de conetividade através de fibra ótica e que permite grande velocidade na transmissão de dados, a par de uma cobertura de 5G em zonas de elevada densidade populacional. O país tem ainda recursos de espaços físicos competitivos e uma robusta capacidade para a produção e energia verde que permitirá a cobertura a 100% das necessidades dos data centres, reduzindo os custos pela opção da sustentabilidade no abastecimento elétrico. Portugal está no bom caminho perante as projeções da Comissão Europeia de que as necessidades energéticas irão aumentar 60% até 2030, sendo que existem limitações a ter em conta, caso da regulação a nível de custos de contextos e licenciamentos municipais que podem ser demorados. Existem ainda dificuldades a nível das exigências fiscais, conclui o estudo da JLL.

Este artigo foi publicado no âmbito do projeto Rota Imobiliária, em parceria com a JLL: https://observador.pt/seccao/rota-imobiliaria/