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Com Gyökeres, a única desconfiança é quantos são (a crónica do Sporting-FC Porto)

Mora ainda saiu da lâmpada mas o génio da meia-final foi o do costume: Gyökeres andou perdido, lesionou-se num remate mas apareceu no momento da verdade para segurar um Sporting em reconstrução (1-0).

Gyökeres marcou o único golo da meia-final entre Sporting e FC Porto, naquele que foi o quinto golo em seis jogos frente aos dragões
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Gyökeres marcou o único golo da meia-final entre Sporting e FC Porto, naquele que foi o quinto golo em seis jogos frente aos dragões

Gyökeres marcou o único golo da meia-final entre Sporting e FC Porto, naquele que foi o quinto golo em seis jogos frente aos dragões

Terceiro clássico da temporada, um novo clássico na mesma temporada. Poderia a meia-final da Taça da Liga ser como a final da Supertaça no início de agosto? Não. Porque aí as equipas estavam ainda a ganhar forma (o FC Porto não tinha Samu, Vítor Bruno fazia o primeiro encontro oficial, etc.), porque uma reviravolta de 4-3 após três golos de desvantagem acontece uma vez, porque também não haveria prolongamento. Poderia a meia-final da Taça da Liga ser como a partida do Campeonato no final de agosto? Não. Porque aí começava a carburar a melhor versão Sporting de Ruben Amorim, porque figuras que entretanto cresceram como Samu ou Rodrigo Mora não estavam ainda integradas, porque jogar em casa ou fora é diferente do que pisar um terreno neutro. Agora, a história era outra. Mas era uma história com uma palavra em comum entre as visões dos dois treinadores, Rui Borges e Vítor Bruno: desconfiança. Era nesse ponto que tudo entroncava.

Sporting-FC Porto. Rui Borges lança Fresneda e Maxi Araújo, Vítor Bruno aposta em Cláudio Ramos e Nico (0-0, 1′)

No caso do Sporting, o objetivo era combater a desconfiança. Depois de uma estreia a ganhar o dérbi frente ao Benfica, o novo treinador dos leões pagou em Guimarães a fatura de seis semanas erráticas após a saída de Ruben Amorim para Inglaterra e cometeu o pecado capital de desperdiçar dois golos de vantagem num dos campos mais complicados da Liga permitindo a reviravolta antes do empate em meros 15 minutos. O que falhou? Faltou atitude, faltou concentração, faltou entreajuda. Tudo certo. Mas faltou sobretudo força física, quase como se a formação verde e branca se tivesse transformado num carro que só tem combustível para 65 minutos e depois vai gripando o motor, e estabilidade anímica para perceber o momento de jogo e não cair na espiral de descontrolo emocional que custou três golos num quarto de hora. Era isso também que Rui Borges queria “combater” em Leiria, por forma a ultrapassar esse último “jogo de loucos” no Minho.

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“Eles estão confiantes, já disse isso antes. Esqueçam, a equipa não está desconfiada, isso não pode existir. Estamos nas competições todas e vamos tentar ganhá-las. Neste clube a exigência é essa, temos isso bem ciente. Não precisamos de confiança, precisamos é de comportamentos novos. Não temos tido tempo para treinar mas os jogadores têm sido fantásticos. A equipa deu uma resposta muito boa até tendo em conta as ideias do novo treinador. Estou feliz com o que têm feito e conseguido. Sinto que se estão a agarrar ao que queremos e pedimos, isso foi bem claro nos dois jogos. Vai levar tempo. Vamos errar, eu assumo esses erros. Fico triste é se não se agarrarem e não tentarem fazer as coisas. Tempo? Vai faltar sempre tempo. Sou um treinador que acredita muito na repetição e não temos tempo para repetir as coisas em treino. O tempo será sempre relativo. Temos tentado corrigir uma ou outra coisa. Gosto de perguntar se faz sentido para eles, de perceber o seu conforto, caso contrário não conseguirei tirar partido deles”, comentara na antecâmara.

Do lado do FC Porto, o objetivo era promover a “desconfiança”. Depois de momentos altos e baixos ao longo da temporada, os dragões conseguiram estabilizar, encontrar soluções na equipa inicial que passaram outras valias ao coletivo e chegar a uma situação que, vencendo o encontro que ficou em atraso na Madeira com o Nacional, valerá a liderança isolada do Campeonato. No entanto, o discurso de Vítor Bruno nem por isso deixava de ser cauteloso, mantendo os jogadores com os pés na terra recordando não só o período com três derrotas consecutivas que chegou mesmo a colocar o técnico no centro da contestação mas também os momentos anteriores em que a a equipa parecia estar a subir de rendimento e escorregou pelo caminho.

“Queremos muito ganhar esta competição. É um objetivo da época, surge num bom momento. Gosto muito que a equipa seja desconfiada, que não embarque em demasia no que tem vindo a conseguir recentemente. Fizemos a nossa base de análise ao Sporting olhando para o Benfica, para o V. Guimarães e até mesmo para o nosso jogo em Guimarães quando o Rui Borges estava no Vitória. Há muitas semelhanças, várias configurações que se mantêm, desenhos idênticos, talvez posicionamentos ligeiramente diferentes numa estrutura muito similar. Procurámos antecipar diferentes cenários mas não houve grande diferença de comportamentos. Não me parece que o Sporting venha mais fragilizado por ter empatado em Guimarães. É um clássico, algo que eleva o jogo para um patamar de intensidade e de lado emocional patente”, frisara.

No final, a vontade de evitar qualquer tipo de desconfiança ganhou à tentativa de criar sempre desconfiança. Ainda houve um período na primeira parte em que o FC Porto foi melhor quando o génio Mora conseguiu sair da lâmpada mas esses dez minutos foram uma exceção entre a regra de um Sporting melhor e mais completo que se começou a instalar a partir da meia hora de jogo. O que fez depois a diferença? Gyökeres. Andou com ar perdido a ver passes e passes a fio na profundidade que não lhe colocavam a bola como queria, esboçou durante alguns minutos um esgar de dor depois de colocar mal a perna num remate, festejou o único golo da partida naquele que foi o 31.º remate certeiro da época pelo Sporting (ou 40, contando com a seleção), continuou a fazer sprints, saiu meio a cambalear. O sueco é um fenómeno que pouco ou nada tem a ver com a realidade nacional. Com ele, a única desconfiança é mesmo quantos são.

Ficha de jogo

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Sporting-FC Porto, 1-0

Meia-final de Taça da Liga

Estádio Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria

Árbitro: António Nobre (AF Leiria)

Sporting: Franco Israel; Iván Fresneda (Eduardo Quaresma, 89′), St. Juste, Diomande, Matheus Reis (Geovany Quenda, 14′); Geny Catamo, Hjulmand, Morita (João Simões, 69′), Maxi Araújo; Francisco Trincão (Conrad Harder, 89′) e Gyökeres

Suplentes não utilizados: Kovacevic, Debast, Gonçalo Inácio, Ricardo Esgaio e Alexandre Brito

Treinador: Rui Borges

FC Porto: Cláudio Ramos; Martim Fernandes (João Mário, 74′), Otávio, Nehuén Pérez, Galeno; Eustáquio (Deniz Gül, 83′), Nico González; André Franco (Fábio Vieira, 61′), Pepê (Zaidu, 61′), Rodrigo Mora (Iván Jaime, 74′) e Samu Aghehowa

Suplentes não utilizados: Diogo Costa, Zé Pedro, Alan Varela e Danny Namaso

Treinador: Vítor Bruno

Golo: Gyökeres (56′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Morita (63′), Fábio Vieira (67′), João Simões (73′), Eustáquio (73′), Hjulmand (77′) e Nico González (90+4′)

O início da partida teve pontos de contacto com aquilo que aconteceu em Guimarães (mas sem balizas), com o Sporting a tentar gizar logo a abrir algumas situações de saída rápida com Geny Catamo e na profundidade com Gyökeres que, não passando depois a oportunidade, tiveram o condão de deixar os defesas e os médios portistas a olharem uns para os outros no sentido de perceber como travar esse tipo de movimentos. Essas correções surtiram efeito e os dez minutos foram dobrados com total equilíbrio entre períodos de posse mais divididos e sem qualquer remate até à primeira incidência do jogo que acabou por ser… uma lesão: Matheus Reis fez um pique numa transição defensiva, ficou agarrado à perna apontando para um problema muscular e Geovany Quenda foi a jogo ainda antes do quarto de hora, recuando Maxi Araújo para lateral. Cláudio Ramos, que foi a única novidade nas opções iniciais de Vítor Bruno como é habitual nas taças, e Franco Israel, a fazer o jogo 50 pelos leões, eram pouco mais do que espectadores numa final sem balizas.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Sporting-FC Porto em vídeo]

Era preciso génio para abrir o jogo e Rodrigo Mora voltou a dizer presente: após receber um passe lateral de Martim Fernandes descaído sobre a direita, o avançado de 17 anos fez uma roleta sobre St. Juste, colocou ao lado Nico González na carreira de tiro mas o disparo saiu um pouco ao lado da baliza de Israel (19′). Era um momento em que o FC Porto estava melhor, não só por encontrar mais soluções em posse mas sobretudo por conseguir bloquear da melhor forma a casa de construção do Sporting pelo meio com Mora na sombra de Hjulmand e Nico González a ficar com Morita. Era isso que fazia com que existisse um excesso de tentativas na profundidade sem sucesso do Sporting, incapaz de jogar em ataque organizado perante a teia montada pelos azuis e brancos. Por seu turno, os dragões continuavam a acercar-se com mais perigo da área contrária, com Rodrigo Mora a surgir com espaço descaído sobre a direita para rematar ao lado (29′).

Ainda houve esboços de movimentos capazes de desencaixar da estrutura portista sem bola, com Quenda e Geny a jogarem por dentro dando a largura aos laterais, mas o Sporting mantinha aquele que estava a ser o período menos conseguido em termos ofensivos desde que Rui Borges assumiu o comando, com o FC Porto a perder a bitola no último terço que conseguiu durante um período de 10/15 minutos tendo Pepê como o mais desinspirado de todos com inúmeros passes errados. O intervalo aproximava-se mas haveria ainda tempo para uma outra versão dos leões do meio-campo para a frente, com Gyökeres a ter mais uma jogada a passar três adversários da esquerda para o meio antes do remate que passou muito perto do poste (41′) e uma defesa apertada de Cláudio Ramos para canto após uma tentativa de Geovany Quenda que bateu num adversário (45+2′). O Sporting ia por cima para intervalo, entre protestos pelo último lance da primeira parte em que Francisco Trincão tentou fazer um passe na área e a bola bateu no braço de Eustáquio após o corte.

O segundo tempo começou sem alterações nos jogadores e também nas dinâmicas com que terminara a primeira parte, com o Sporting a assumir mais o domínio da partida frente a um FC Porto que continuava em período de amnésia na construção ofensiva. Vítor Bruno percebia que tinha de mexer e estava a preparar duas entradas já na equipa com Zaidu e Fábio Vieira no banco equipados para rumarem à divisória do meio-campo quando surgiu o primeiro golo do encontro numa jogada que espelhava o crescimento atacante dos verde e brancos: combinação entre Geny Catamo e Morita no corredor central com passes curtos como tinha acontecido em Guimarães, assistência de Quenda por dentro para Gyökeres entre os centrais e desvio do sueco a fazer a bola passar por cima de Cláudio Ramos (56′). Só depois a dupla entrou em campo.

Ainda houve um lance em que o FC Porto se aproximou com perigo da baliza do Sporting mas a falta sobre Galeno descaída sobre a esquerda acabou por dar em livre que ficou na muralha leonina. Em desvantagem, a ter de ficar mais exposto por subir linhas, o encontro ganhava características diferentes dentro dos pontos de contacto com o que se passara, tendo um conjunto azul e branco (laranja esta noite em Leiria) com mais posse e uma formação verde branca apostada a jogar com Gyökeres na profundidade em busca das transições que por pouco não deram outro golo num remate de Trincão por cima após passe de Quenda (71′). Só mesmo a dez minutos do final houve um verdadeiro sinal de perigo do FC Porto, num remate forte mas por cima de Samu após um erro de Maxi Araújo (81′) e uma tentativa de muito longe de Otávio para Franco Israel (90′). De forma bem mais tranquila do que se pensava, os leões souberam guardar a vantagem mínima.

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