Coube a Donald Trump incluir a temática da anatomia pessoal num debate político. O candidato à nomeação republicana — a propósito da corrida à Casa Branca — quis aproveitar o tempo de antena para responder a uma acusação do rival Marco Rubio, que num discurso recente referiu-se às “mãos pequenas” de Trump. Foi precisamente num debate transmitido esta quinta-feira que o magnata contrariou o mito que relaciona o tamanho das mãos com o tamanho do pénis:

[Marco Rubio] atacou as minhas mãos. Nunca ninguém atacou as minhas mãos, nunca ouvi tal coisa. Olhem para estas mãos, são mãos pequenas? E referiu-se às minhas mãos dizendo que se as mãos são pequenas, outra coisa também deve ser pequena. Garanto-vos que não há qualquer problema, garanto-vos.”

Caso viva debaixo de uma rocha, sublinhemos: pés, mãos e narizes pequenos não se traduzem em pénis pequenos — a mesma lógica aplica-se considerando pés, mãos e narizes… grandes. E não, o facto de um homem ter muitos pelos espalhados pelo corpo também não implica uma relação direta com o tamanho do seu órgão sexual, mesmo que tal esteja associado a doses consideráveis de testosterona. Preto no branco, pouco (ou nada) importa o tamanho das mãos de Donald Trump (e de tudo o resto, acrescente-se).

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“Em termos gerais, as pessoas pensam que ter determinadas proporções do corpo maiores do que o normal implica que a outra parte também seja grande”, admite o sexólogo Fernando Mesquita ao Observador, recordando ainda o mito que atesta que os homens negros são mais avantajados (embora alguns estudos o sugiram, isso não implica que seja uma regra geral). Mas que não haja dúvidas: Mesquita explica que as extremidades do corpo — as tão comentadas mãos incluídas — são influenciadas pela hormona do crescimento, enquanto o tamanho do pénis está associado à genética.

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Sandra Vilarinho, psicóloga clínica e terapeuta sexual, também entra na conversa, defendendo que os mitos são uma forma que as pessoas encontraram para tentar explicar determinados fenómenos sexuais. E isto apenas acontece devido à falta de informação no que à sexualidade diz respeito.

Os portugueses conhecem muito pouco sobre a sexualidade, vejo-o em consultas, sobretudo com jovens. Confesso que, às vezes, fico muito admirada com o que oiço.”

Os homens medem-se… aos palmos?

Ter um pénis pequeno não é necessariamente um problema, garante Sandra Vilarinho. O argumento de defesa tem que ver com fisiologia pura: a irrigação do pénis é mais fácil nos órgãos sexuais masculinos de menores dimensões, o que faz com que a ereção se prolongue durante mais tempo. “Se um homem se convencer disso, tal pode traduzir-se numa maior confiança sexual. E a confiança é mesmo o ponto chave no desempenho sexual”, esclarece a também membro da direção da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica.

Há sensivelmente um ano, o Observador dava conta de uma revisão sistemática de 20 estudos sobre o tamanho do pénis que vinha, então, dar uma novidade tanto aos homens como à comunidade científica: afinal, o tamanho médio não era 15 centímetros, mas sim 13: 13,2 centímetros em comprimento quando ereto e 9,16 quando flácido. A revisão científica que teve por base 17 estudos sobre o tema (além de 15 mil pénis de todo o mundo) apresentou números mais realistas que, segundo os autores do estudo, podem ajudar a “tranquilizar a grande maioria dos homens de que o tamanho do seu pénis está dentro da faixa normal”.

De facto, tranquilização é precisa. É que se as mulheres rivalizam em termos de imagem estética — considerando cabelos, maquilhagem e roupa –, os homens fazem-no em relação ao tamanho do pénis. Não é propriamente difícil de perceber porquê: se por um lado o pénis consiste num órgão sexual exposto, o que permite a sua comparação em determinados ambientes sociais (como os balneários de um ginásio), por outro, o seu tamanho é continuamente associado à virilidade e masculinidade.

“É como se a capacidade de um homem ser homem se medisse pelo pénis”, atira o sexólogo Fernando Mesquita, não sem antes argumentar que não é propriamente o tamanho do pénis que mais seduz a ala feminina. “As mulheres valorizam mais a largura do que o tamanho, já os homens valorizam o tamanho por uma questão de masculinidade”, acrescenta.

A mulher tende a valorizar o facto de o homem estar atento e disponível, o facto de olhar para o seu corpo como um todo, o ser envolvente e viril (entenda-se carismático). É tão fácil seduzir uma mulher… não sei porque é que os homens se preocupam tanto com o pénis“, questiona Sandra Vilarinho.

Mesquita põe ainda a tónica na questão dos filmes pornográficos que, em alguns casos, acabam por servir de formação sexual a muitos homens. Escusado será dizer que estes são representações irrealistas da sexualidade: não só porque os atores são escolhidos consoante a sua anatomia — e não propriamente pelo jeito inato para a representação –, mas também porque os ângulos utilizados nas filmagens são estrategicamente estudados de modo a fazer parecer maior o que provavelmente não o é.

Mas se o tamanho é eternamente discutido entre homens, a função do pénis também. “Alguns homens chegam a acreditar que têm de estar eretos durante uma hora”, diz Sandra Vilarinho. Entrando na questão do tempo associado ao desempenho sexual, a terapeuta faz um esclarecimento: “Há grandes variações, mas mais do que um minuto e menos do que 30 minutos será o mais usual.” Os valores apresentados são propositadamente vagos porque, ao contrário do que acontece num balneário masculino, Vilarinho quer evitar comparações. Já bastam discussões sobre tamanho.