Os chineses da Minsheng pareciam bem encaminhados para vencer o concurso pelo Novo Banco mas a incapacidade de prestar as garantias financeiras na operação causou, nas palavras do comentador Luís Marques Mendes, uma “reviravolta“. O processo que levou, em agosto de 2015, ao adiamento da venda do Novo Banco aconselha muita cautela, porque se trata de uma negociação opaca, mas surgem, agora, como candidatos mais prováveis, os norte-americanos do Lone Star.

Tal como quando, em 2015, falharam as negociações com os chineses da Anbang, o Banco de Portugal passou para o segundo candidato mais bem posicionado. Segundo Marques Mendes, essa segunda melhor proposta é a dos norte-americanos da Lone Star — segundo a imprensa, o consórcio Apollo/Centerbridge tem a proposta menos atrativa. A confirmar-se a saída dos chineses da corrida, poderá ter-se gerado na negociação uma situação de pássaros na mão e pássaros a voar: é que perante o arrastar das conversas com a Minsheng, o Lone Star avisou publicamente, ao Jornal de Negócios, que a sua proposta expirava nesta primeira semana de 2017.

A proposta da Lone Star, apresentada no início de novembro, visa a compra de 100% do Novo Banco (os chineses têm uma componente de dispersão em bolsa) por 750 milhões de euros, mas o plano admite a injeção de mais 750 milhões na instituição, ainda segundo o Jornal de Negócios. A mesma publicação adiantava, também, que o fundo admite criar uma entidade paralela, um “side bank”, para parquear ativos problemáticos. A administração do Novo Banco, desde o tempo de Eduardo Stock da Cunha, já tem vindo a apresentar uma versão pro forma dos resultados, separando a atividade rentável do banco e o que considera ser o legado de ativos não-rentáveis.

O Lone Star, nos termos da sua oferta, disponibiliza-se para gerir o risco e, adianta o Negócios, trabalhar com o Estado na eventual recuperação do capital. Esta é uma matéria que é preciso negociar com a Direção-Geral da Concorrência Europeia (DGComp). Mas é a proposta que o Banco de Portugal tem em cima da mesa.

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Um fundo muito atento a Portugal

Não é a primeira vez que o Lone Star faz investimentos em Portugal. Em agosto de 2015 o fundo comprou quatro centros comerciais Dolce Vita — o Dolce Vita Porto, localizado junto ao Estádio do Dragão, o Dolce Vita Douro, em Vila Real, o Dolce Vita Coimbra, e o Dolce Vita Monumental, na zona do Saldanha em Lisboa. A compra aconteceu no seguimento da insolvência das empresas imobiliárias do grupo espanhol Chamartín Imobiliária. Na altura, os ativos foram colocados à venda por pouco mais de 40 milhões de euros cada um. A Lone Star era, também, o maior credor hipotecário das empresas da Chamartín Imobiliaria. O Dolce Vita Tejo, também da Chamartín, foi parar às mãos dos britânicos do Eurofund.

Passado alguns meses, contudo, foi noticiado que três desses centros comerciais — Porto, Douro e Coimbra — foram vendidos aos alemães do Deutsche Bank. A operação terá valido, segundo o Expresso, 200 milhões de euros. Por opção estratégica, escreveu-se na altura, ficou de fora nesta operação o Dolce Vita Monumental.

Na altura da venda dos centros comerciais, o Lone Star, através da consultora CBRE Portugal, manifestou intenção de continuar a investir em Portugal. Alguns meses antes, no início do ano, em abril, a Lone Star tinha comprado ao Catalunya Banc, entidade proprietária da Lusort, os ativos imobiliários e a concessão da marina de Vilamoura. “E o objetivo é continuar a investir em Portugal e em grandes negócios, com dimensão e em vários sectores. A prioridade é que tenha escala”, afirmou Francisco Horta e Costa, diretor-geral da CBRE Portugal, ao Expresso.

Nessa altura, o fundo estava à procura de terrenos em Lisboa para construir de raiz edifícios residenciais e de escritórios.

O Lone Star Funds é um private equity, ou seja, é um fundo não cotado em bolsa que investe os seus recursos em empresas onde identifica potencial de valorização. Em junho de 2015, o fundo geria ativos no valor total de 59 mil milhões de dólares, sobretudo nos EUA e no Canadá mas em vários países. As principais áreas de investimento são o imobiliário e outros ativos considerados distressed, ou seja, numa situação de indefinição que pode gerar oportunidades de valorização. Será o caso, na visão do Lone Star, o caso do Novo Banco. Tipicamente, depois do investimento, os fundos de private equity tendem a forçar reestruturações operacionais com o objetivo de rentabilizar o investimento, o que muitas vezes passa pela divisão dos ativos.

A gestora foi fundada em 1995 virou-se, em 2013, para o mercado europeu, confiante de que o pior da crise da dívida europeia já teria passado, incluindo no setor financeiro. Já antes da crise, em 2008, o Lone Star tinha comprado o banco alemão IKB, uma instituição pequena e outrora conservadora que acabou por ser um dos primeiros bancos europeus a cair de joelhos devido ao contágio da crise do subprime nos EUA.