Quem acreditaria que, em dia de eleições a Sul, um Soares e um Silva conseguiriam fazer uma coligação tão boa no poder a Norte? Nuno Espírito Santo acreditou. E ganhou essa aposta: a dupla apontou quatro dos sete golos com que o FC Porto goleou esta noite o Nacional, subindo de forma provisória ao topo da Primeira Liga.
Ainda assim, houve mais razões para justificar o oitavo triunfo consecutivo na prova, um recorde alcançado com uma exibição de gala. Do setor recuado aos médios ofensivos, passando pelos laterais que defendem e atacam como se fossem dois num só. A melhor exibição da temporada arrasou um conjunto insular que cada vez mais se afunda na tabela classificativa e não apresenta argumentos para inverter a má situação no campeonato.
A coligação (André) Silva-Soares
Nuno arriscou a utilização de dois avançados de início, ao contrário do que tinha acontecido no Bessa, e conseguiu tirar vantagem disso. E não falamos propriamente dos golos onde a dupla teve interferência mas sim na forma como obrigou os insulares a optar por uma de duas soluções más – ou ia tentando arriscar o 2×2 no centro ou motivava o recuo de uma unidade do meio-campo do Nacional para tentar garantir superioridade. Jokanovic nunca conseguiu corrigir esta nuance tática e afundou-se de vez no início da segunda parte.
Ficha de jogo
↓ Mostrar
↑ Esconder
FC Porto-Nacional, 7-0
24.ª jornada da Primeira Liga
Estádio do Dragão, no Porto
Árbitro: Bruno Paixão (Setúbal)
FC Porto: Casillas; Maxi Pereira, Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo (Diogo Jota, 66’), André André (João Carlos Teixeira, 75’), Óliver, Brahimi (Otávio, 72’); André Silva e Soares
Treinador: Nuno Espírito Santo
Suplentes não utilizados: José Sá, Boly, Rúben Neves e Depoitre
Nacional: Adriano; Nuno Campos, César, Tobias Figueiredo, Nuno Sequeira; Washington, Filipe Gonçalves, Zizo; Zequinha (Salvador Agra, 59’), Aristeguieta (Hamzaoui, 71’) e Willyan (Dejan Mezga, 59’)
Treinador: Jokanovic
Suplentes não utilizados: São Bento, Vítor Gonçalves, Cádiz e Ricardo Gomes
Golos: Óliver (31’), Brahimi (45’), André Silva (51’ e 89’), Soares (55’ e 71’) e Layun (63’)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Tobias Figueiredo (35’ e 62’) e Hamzaoui (81’); cartão vermelho por acumulação a Tobias Figueirdo (62’)
A aposta de André André e Óliver no jogo entre linhas
Havia dúvidas em relação ao meio-campo do FC Porto, que tem alternado entre muitos elementos nos últimos encontros. Herrera, por lesão, estava de fora. Apostava-se no lançamento de Diogo Jota. Fazia sentido. Mas a verdade é que os dois rodas baixas do “miolo”, sempre protegidos pelo melhor guarda-costas da Primeira Liga (Danilo), souberam jogar nos espaços entre linhas entre defesa e meio-campo do Nacional, marcando (no caso do espanhol, a abrir o marcador) e dando a marcar (no 3-0 parcial de André Silva).
O (des)controlo emocional de uma equipa
Mesmo quando o Nacional não tinha feito sequer um remate à baliza – Iker Casillas não tocou sequer na bola nos primeiros 15 minutos de jogo –, o FC Porto nunca perdeu a paciência na construção de jogo. Até que a bola entrou, duas vezes nos últimos minutos da primeira parte. A partir daí, os dragões entraram na sua zona de conforto, enquanto os insulares manifestaram ainda mais estar com os nervos à flor da pele: Zequinha reagiu mal à substituição e Tobias Figueiredo, que já tinha visto um amarelo sem necessidade, acabou expulso.
Os laterais que são quase extremos
Sem Maxi Pereira, castigado, Nuno apostou em Layun e Alex Telles nos corredores laterais. Mais do que defesas, são ambos alas. E quando os alas arriscam no jogo interior, acabam por fazer os corredores de um lado ao outro. Duas locomotivas que, aproveitando a falta de opositor, foram à frente desequilibrar com cruzamentos perigosos (assim nasceu o primeiro golo de Óliver) e, no caso do mexicano, ainda houve margem para deixar também a marca na partida com um golo de livre direto.
Uma defesa de betão
O Nacional não seria propriamente o melhor teste para a defesa azul e branca, mas a verdade é que, mesmo depois da instabilidade vivida no início da temporada, o FC Porto conseguiu criar um bloco coeso, dos avançados aos centrais, que limita a capacidade dos adversários criarem perigo junto de Casillas. E com mais um jogo em branco, a equipa portista tem uma média inferior a 0,5 golos sofridos por jogo.
Soares, um fenómeno tipo Hulk
Com o bis alcançado frente ao Nacional, Soares aumentou para seis os jogos consecutivos a marcar, algo que mais nenhum jogador tinha conseguido até agora na Primeira Liga (Bas Dost e Marega já tinham conseguido apontar golos em cinco partidas seguidas). Contando apenas com os encontros como dragão, a estatística é 100% conseguida: marcou a Sporting (dois), V. Guimarães, Tondela, Boavista e Nacional (dois). E como quem não quer a coisa, ocupa a terceira posição entre os melhores marcadores da prova com 14 golos, a um de André Silva e a quatro de Bas Dost.
6
Soares já tinha marcado no último jogo pelo V. Guimarães, em Braga, e leva cinco encontros a faturar no FC Porto para a Primeira Liga (Sporting, V. Guimarães, Tondela, Boavista e Nacional). Assim, o brasileiro tornou-se o primeiro a marcar em seis partidas seguidas do campeonato, superando Bas Dost e Marega (cinco)
Um jogo só acaba aos 90 minutos
Apesar de ter o encontro completamente fechado aos 55 minutos, quando Soares fez o primeiro golito da ordem no jogo, os comandados de Nuno Espírito Santo nunca desaceleraram e, mesmo com 7-0, podiam ter aumentado os números daquela que foi a maior goleada da Primeira Liga até ao momento. Também é nesse profissionalismo que se fazem os campeões e o FC Porto, em jejum há três anos, mostra argumentos para lutar pelo título até ao fim.