Faltam 10 dias para o Mundial 2014. A bola começa a rolar a 12 de junho e, até lá, o Observador conta-lhe duas histórias por dia – uma portuguesa e uma vinda de outras seleções. Afinal, são 19 edições de campeonato do mundo e muita coisa já aconteceu.
A 27 de abril, o Atlético de Diego Simeone ganhava (0-1) em Valência, a quatro jornadas do final da liga espanhola, e enchia os pneus para a última parte da viagem rumo ao título de campeão. No dia anterior, contudo, a família Simeone já tivera uma alegria – Giovanni, filho mais velho do treinador, ficava a saber que, aos 18 anos, ia estar no Mundial. A mais de um mês da data limite (hoje) para comunicar os convocados finais à FIFA, ele e mais outros 15 adolescentes argentinos já estavam garantidos.
Estes 16 jovens não são os convocados da Argentina para o campeonato do mundo. Talvez em 2018 o sejam. Os 23 chamados, os graúdos, por enquanto, ainda pertencem a outra família – a dos craques. Como Messi, Higuaín, Kun [Agüero] ou Di María. Jogadores que, no início de maio, a versão júnior de Simeone “ainda nem acreditava” que ia conhecer, como confessou ao diário Marca.
Para já, a função de Giovanni é ser sparring. O nome serve de batismo para os jovens que, a cada Mundial, são escolhidos pelo selecionador sub-20 do país para acompanhar a seleção principal. A sua função? Participarem nos treinos e, em suma, imitarem a forma de jogar dos três adversários que a Argentina terá de enfrentar na fase de grupos.
Os 16 sparrings para 2014: Augusto Batalla, Tomás Martínez, Emanuel Mammama e Giovanni Simeone (River Plate), José Devecchi (San Lorenzo), Ricardo Moreira, Fabricio Bustos (Independiente), Tiago Casasola e Iván Leszuck (Boca Juniores), Enrique Sánchez (Vélez), Rodrigo Contreras (Gimnasia La Plata) y Joaquín Ibáñez (Lanús), Mariano Bareiro (Racing), Federico Rugani (Renato Cesarini), Alejandro Melo (Nueva Chicago) e Alan Difonti (Argentinos Juniors).
Neste caso, terão de se mascarar de bósnios com fome de baliza (foram o 4.º melhor ataque da fase de qualificação europeia), de uns iranianos comandados por Carlos Queiroz e de uns nigerianos com vingança na cabeça (em 2010, no Mundial da África do Sul, perderam 1-0 com a Argentina). E, sobretudo, terão que aprender. “O meu pai disse-me que, em 2002, Javier Mascherano foi um dos sparrings e não foi lá só para ajudar, mas também para aprender por dentro o que é o mundo da seleção e a vida de um Mundial”, recordou Giovanni.
A verdade é que aprendeu mesmo. Em 2006 e 2010, lá estava Mascherano nos 23 que a seleção argentina levou aos últimos dois Mundiais. Não foi o único. Carlos Tévez, avançado da Juventus, era outro dos sparrings em 2002 e também conseguiu ser um dos convocados a sério para os dois Mundiais seguintes. “Ainda me lembro das patadas que lhe mandavam. Mas ele não parava”, chegou a dizer Marcelo Bielsa, seleccionador argentino em 2002, sobre Tévez, ao Clarín.
Mascherano e Tévez são casos de sucesso. E depois há outros – os que demoram ou nunca chegam a sair da casca de sparrings para criarem raízes na seleção principal. Em Portugal, cada grande até acolheu um exemplo recente. Valentín Viola, no Sporting, Luis Fariña, no Benfica e Juan Iturbe, no Porto.
Em 2010, os três estavam entre os 15 miúdos que durante semanas acompanharam a seleção argentina na África do Sul. Hoje, os dois primeiros estão emprestados (ao Racing Avellaneda, da Argentina, e ao Bayinas, dos Emirados Árabes Unidos), enquanto o terceiro já foi vendido aos italianos do Hellas Verona. Para já, nenhum deles conseguiu vestir a camisola albiceleste. A principal, a que interessa.
Também ninguém passou dos 23 anos e, por isso, têm pelo menos dois Mundiais (em 2018, na Rússia, e em 2022, no Qatar) para testarem uma teoria – a que diz que ser sparring é meio caminho andado para um dia chegar à equipa principal.
Em Portugal, a seleção nacional não seguiu o exemplo argentino. Por enquanto. A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) explicou ao Observador que, entre 21 de maio e 2 de junho, “não foi preciso” recorrer a jogares jovens para complementar os treinos da equipa. Se tivesse sido necessário, talvez alguns nomes que, no domingo, garantiram o 3.º lugar no Torneio de Toulon (sub-20) pudessem estar a fazer companhia à seleção nacional. Fica para 2018.