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A máscara de André Pinto que não escondeu o aparelho de João Félix (a crónica do Sporting-Benfica)

Este artigo tem mais de 5 anos

Os técnicos preparam como, quando, porquê e o que fazer, com e sem bola; depois os jogadores interpretam, melhor e pior. André Pinto e João Félix corporizam isso, no triunfo do Benfica no dérbi (4-2).

André Pinto e João Félix, dois extremos em termos de exibições mais e menos conseguidas com vantagem para o mais novo
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André Pinto e João Félix, dois extremos em termos de exibições mais e menos conseguidas com vantagem para o mais novo

AFP/Getty Images

André Pinto e João Félix, dois extremos em termos de exibições mais e menos conseguidas com vantagem para o mais novo

AFP/Getty Images

Dérbi que é dérbi sente-se. Ouve-se. Fala-se. Fala-se e muito, com dezenas de horas de antena na televisão, centenas de páginas de jornais e milhares de interações nas redes sociais, essa nova ferramenta que há 111 anos, quando começou mesmo essa história do dérbi, nem Francisco Stromp nem Cosme Damião. E fala-se muito sobre aquilo que há 111 anos não se falava: a tática com que se entra em campo, a ideia de jogo da equipa, o modelo com que aborda o adversário. Tanto que às vezes não se fala daqueles que farão sempre a diferença em última instância em qualquer partida, em qualquer vitória ou em qualquer título – os jogadores.

Benfica goleia Sporting em Alvalade num jogo com muito VAR (2-4)

“Em cada jogo temos de provar que estamos lá. O que disse aos jogadores, em jeito de brincadeira, é que quando chegamos a algum sítio e batemos à porta, do outro lado perguntam ‘quem é?’ e não ‘quem foste?’. Esse é o nosso caminho. Temos de treinar diariamente para chegarmos ao jogo seguinte e dizer ‘Quem é? Estou aqui’, presente, organizado e competente para vencer’. A reconquista dos adeptos é diária, a jogar bem, com qualidade, a vencer”, tinha referido Bruno Lage. O Benfica disse ‘Quem é’ mal chegou a Alvalade; o Sporting nem ‘Quem foste’ chegou a dizer. Porque, é um facto, o técnico encarnado ganhou em todos os capítulos ao homólogo verde e branco. Aliás, goleou – uma “goleada escondida” como o 4-2 no final do jogo. Mas, mais do que a forma como as equipas se apresentaram, foi o que cada jogador conseguiu ou não fazer que desequilibrou.

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André Pinto, até mais do que Coates, teve uma noite de pesadelo. É certo que jogou em esforço, ainda condicionado depois de ter sido operado à fratura do nariz sofrida na final da Taça da Liga, mas a sua máscara simboliza aquilo que os leões não conseguiram esconder e o cansaço não justifica: frente a um conjunto mais agressivo nas zonas de pressão altas, os erros foram-se sucedendo em catadupa. Mas como ele houve Bruno Gaspar, Jefferson, Gudelj, Nani, tantos outros. Demasiadas exibições para esquecer que colocaram em causa qualquer estratégia que estivesse delineada. Em contrapartida, o aparelho que reluz no sorriso de João Félix é uma imagem de marca do novo Benfica, onde todos os elementos sabem bem o que fazer, como fazer e quando fazer. De Jardel-Rúben Dias a Seferovic, de Grimaldo a Pizzi, de Gabriel ao miúdo de 19 anos. E foi essa qualidade individual que potenciou o coletivo, num dérbi que mudou ainda outro paradigma – a formação das águias é que conseguiu fazer a diferença.

Ficha de jogo

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Sporting-Benfica, 2-4

20.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Artur Soares Dias

Sporting: Renan Ribeiro; Bruno Gaspar, Coates, André Pinto (Luiz Phellye, 90′), Jefferson; Gudelj, Wendel, Bruno Fernandes; Raphinha (Jovane Cabral, 86′), Nani (Diaby, 46′) e Bas Dost

Suplentes não utilizados: Salin, Tiago Ilori, Petrovic e Borja

Treinador: Marcel Keizer

Benfica: Vlachodimos; André Almeida, Rúben Dias, Jardel, Grimaldo; Samaris, Gabriel; Pizzi (Salvio, 90+4′), Rafa (Svilar, 88′); João Félix (Cervi, 76′) e Seferovic

Suplentes não utilizados: Ferro, Krovinovic, Gedson Fernandes e Jota

Treinador: Bruno Lage

Golos: Seferovic (11′), João Félix (36′), Bruno Fernandes (43′), Rúben Dias (46′), Pizzi (73′, g.p.) e Bas Dost (89′, g.p.)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Jefferson (23′), Bruno Fernandes (28′), Pizzi (28′), Gudelj (60′), Gabriel (61′), Renan Ribeiro (72′) e Raphinha (83′); cartão vermelho direto a Vlachodimos (85′)

O encontro começou com uma recuperação do Sporting logo à entrada da área do Benfica, descaído sobre a esquerda, daquelas que não contam para a estatística, não resultam em nada mas quando rebobinamos o filme atrás percebemos que, no limite, com menos fintas, fintinhas e fintarolas, até podia ter dado golo. No lance seguinte, a pressão dos encarnados na saída de bola dos leões colocou seis unidades dentro do meio-campo verde e branco, obrigando Renan a jogar longo na frente. Estava apresentado o cartão de visita das duas equipas com uma nuance que seria fundamental nos minutos seguintes: a forma de colocar em prática essa teoria que tinha sido preparada para o encontro. Aí, o conjunto de Bruno Lage seria bem melhor.

Logo aos quatro minutos, numa jogada que inicialmente até parecia inofensiva, Grimaldo ligou a mota, foi passando todos os cruzamentos e interceções que iam aparecendo, chegou a um beco sem saída chamada área mas o cruzamento acabou por não ter o desvio de nenhum dos três companheiros que entretanto surgiram na zona de finalização. Pouco depois, o primeiro golo. Mais uma vez numa jogada onde os processos simples do Benfica foram demasiado complexos para uma defesa do Sporting que andou sempre às aranhas: Grimaldo conseguiu ainda centrar na esquerda em balão, Coates demorou uma eternidade a reagir, André Pinto ficou a ver onde caía a bola e Seferovic encostou de cabeça, facilmente, para o 1-0 (11′).

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Depois de já ter marcado ao FC Porto, o suíço voltava a deixar marca em jogos grandes, naquele que foi curiosamente o primeiro golo de cabeça em Alvalade em dérbis desde Fredy Montero em 2013. O Benfica só tinha um remate feito com 100% de eficácia, enquanto o Sporting chegava ao primeiro quarto de hora com três tentativas, mas esse golo materializava uma diferença enorme entre o querer e o poder que se foi acentuando ao longo da partida: Bruno Fernandes, de livre, ainda ameaçou a baliza do grego Vlachodimos mas foi a dupla Félix-Seferovic a puxar para si os holofotes sempre que a bola entrava no último terço. Entre as ameaças, houve uma bola mal concluída, um golo anulado pelo VAR e uma defesa de Renan a evitar o segundo.

Se o meio-campo é a balança mais ou menos visível que decide jogos, as individualidades corporizam essa diferença. Não era por Bruno Fernandes que o Sporting estava tão mal em campo mas porque a seu lado estava um Gudelj a arriscar de forma teimosa onde não podia, um Wendel que quando tocava na bola ia para o chão e um Nani parado no tempo entre movimentos interiores e largura de jogo. No outro lado, foi também por Gabriel (cinco ações defensivas nos 20 minutos iniciais, entre vários lançamentos longos conseguidos) que o Benfica estava tão bem mas porque a seu lado estava um Pizzi que interpreta na perfeição os espaços entre linhas, um Samaris que aprendeu a destruir de outra forma e um Rafa como sempre supersónico.

Parecia inevitável cruzar as palavras Benfica e golo na mesma frase, tamanhas eram as facilidades dos encarnados em chegar com perigo à área contrária ou em transições, ou com a exploração da profundidade, ou através do jogo mais apoiado a solicitar ainda os laterais em missão ofensiva. E foi o mais novo em campo, aquele que já tinha sido fundamental no primeiro dérbi na Luz, a sentenciar o 2-0, com Seferovic a ver a diagonal de João Félix que só teve de receber, encarar Renan e desviar (36′). Dava para tudo e por pouco não deu para mais um golo do miúdo, com o remate a sair demasiado à figura do guarda-redes brasileiro. O enredo da primeira parte estava escrito mas teria ainda um último capítulo contra a corrente de uma narrativa de sentido único: aproveitando uma perda de bola de Samaris, Nani lançou Bruno Fernandes e o médio reduziu para 2-1 (43′).

Na segunda parte, Keizer mexeu logo a abrir. Tirou Nani, lançou Diaby, procurou mais qualquer coisa que nunca se percebeu ao certo o que era. E não se percebeu porque o maliano continua a ser um planeta isolado entre o sistema que gere a equipa verde e branca mas também, ou sobretudo, porque Rúben Dias, a ganhar de novo nas costas de um André Pinto a fazer o pior jogo desde que chegou ao Sporting, aproveitou um livre lateral batido por Pizzi para aumentar para 3-1 logo aos 47′.

Foi esse momento que decidiu um encontro que desde o primeiro minuto parecia inclinado para o lado dos encarnados. Jardel, uns minutos depois, ficou perto de marcar também na sequência de uma bola parada. Bastava o Benfica passar do meio-campo para haver perigo perante uma equipa leonina partida, desinspirada, à espera que surgisse um milagre capaz de abrir de novo o resultado. Quase surgiu, quando Raphinha acertou no poste após um livre direto, mas entretanto já tinha havido mais um golo anulado aos visitantes (Seferovic estava adiantado) e um par de oportunidades sem a melhor finalização. Não foi aí, foi de grande penalidade: Renan carregou João Félix na área, Pizzi cobrou o castigo máximo, o brasileiro ainda pareceu ter a bola controlada mas entrou mesmo para um 4-1 que começou a esvaziar as bancadas de Alvalade entre assobios e lenços brancos (75′).

O Benfica ainda teve uma bola no poste, o Sporting viu um golo de Diaby anulado, surgiu ainda o 4-2 de grande penalidade por Bas Dost num lance que levou à expulsão de Vlachodimos e o resultado acabou por não refletir o domínio dos encarnados no dérbi, um dérbi que será recordado a médio prazo. A curto, isso, ver-se-á na próxima quarta-feira na Luz para a Taça de Portugal. Mas aquilo que seria apenas uma primeira mão de uma meia-final terá um significado bem maior do que esse.

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