Um Campeonato do Mundo é o ponto alto da carreira de um jogador de futebol. Pelo menos era, no século XX. Os grandes nomes do futebol tornavam-se eternos quando brilhavam nessa competição. Exemplos? Eusébio em 1966, Kempes em 1978, Rossi em 1982, Maradona em 1986… Teríamos muito pano para mangas. Estar num Mundial não era para todos.

Existem aqueles que falham por não serem bons o suficiente aos olhos do selecionador. Há outros que perdem a competição por lesão, como acontecerá este ano com Radamel Falcao e outros tantos. Por último, e lamentavelmente, existem aqueles que fizeram batota, que falharam porque acusaram positivo num controlo anti-doping. Todos os casos de doping são condenáveis e merecem censura. Todos menos um.

“Éramos uns seis jogadores para o controlo. Eu era o sexto e a minha análise apareceu como o número quatro…”, começou por dizer António Veloso, num tom enigmático, ao Observador. Estaríamos a falar de troca de análises? Alguém o terá prejudicado deliberadamente em favor de outrem ou terá sido obra do acaso? “Por acaso não foi de certeza!”, disse sem hesitar.

“Eu sabia que ia dar negativo… Aquelas análises não eram minhas de certeza. Quiseram que eu não fosse para ir outro”, assegurou. Mas quem queriam levar? “Tenho as minhas suspeitas mas não vou dizer sem ter certezas…”, explicou.

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“Eu falei na altura com o Benfica e fui a Madrid com o médico para fazermos os exames com o organismo que fazia as análises para o Mundial. A seleção ia com 20 ou 30 dias de antecedência para o México. Daria tempo, mas não quiseram que eu fosse”, disse, sem especificar quem quis tal coisa. Terá sido um esquema? “Eu acho que foi!”, respondeu. O substituto de Veloso na convocatória foi Bandeirinha, um defesa da Académica que se mudaria nesse verão para o Estádio das Antas, o clube onde havia sido formado.

O capitão do Benfica queria repetir a presença num grande torneio internacional. O lateral já havia jogado o Euro-84, onde apenas atuara 11 minutos na primeira jornada da fase de grupos contra a Alemanha Ocidental (0-0) de Schumacher,  Rummenigge e Rudi Völler — Portugal chegaria às meias-finais do torneio, onde perderia com a França de Platini (2-3). “Recordo esse episódio do doping com muita mágoa. Ser acusado de algo que não fizemos é a pior coisa que nos pode acontecer. Foi uma pena, já tinha ido ao Europeu e agora só faltava o Campeonato do Mundo”, lamentou o lateral direito que até então tinha vencido três Ligas Portuguesas, quatro Taças de Portugal e duas Supertaças.

A SURPRESA DE ANTÓNIO OLIVEIRA

Lembra-se do caso de Daniel Kenedy? O canhoto deixou meio mundo de boca aberta com a sua primeira época no Marítimo em 2001/02. Cinco golos e arrancadas incríveis marcaram aquele ano no Funchal. António Oliveira viu nele uma autêntica locomotiva que podia surpreender no Campeonato do Mundo da Coreia do Sul e Japão. No entanto, o jogador que nasceu em Bissau seria apanhado nas malhas do doping quando a seleção já trabalhava em Macau: acusou furosemida, uma substância presente em medicamentos diuréticos.

“É um dia triste para mim, não esperava que acontecesse, mas infelizmente aconteceu. O que queria deixar bem claro é que nunca houve o propósito, da minha parte, de tomar algo. O que aconteceu foi que tomei um comprimido para emagrecer. Já tinha entrado de férias e esse comprimido tinha uma substância que acusava no controlo”, explicou Kenedy.

O canhoto seria substituído por Hugo Viana. O internacional português terminou a carreira na equipa grega Peramaikos em 2012.

NANI: LESÃO OU DOPING?

O extremo do Manchester United falhou o Mundial 2010 por lesão. O timing e alguns rumores levaram a teorias da conspiração. Teria sido apanhado por doping? No dia 11 de junho, Amândio de Carvalho, o então vice-presidente da FPF, não deixava margem para duvidas. “O Nani estava de facto lesionado. Vai ficar aqui o tempo que quiser. Temos muito gosto em tê-lo cá porque ele alegra os companheiros. Mas se quiser partir também pode, como fez o Quim em 2008”, disse.

“O Nani lesionou-se no treino, caiu mal e lesionou-se”, garantiu, afirmando depois que não havia “intenção de esconder nada” e que apenas “havia a esperança de ele recuperar”. “Os jogadores fizeram um exame no antigo CNAD [Conselho Nacional Antidopagem]. Fizeram análises e estava tudo okay. Aqui a FIFA também já fez a sua incursão. Esse boato ainda não me tinha chegado aos ouvidos”, explicou.