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Gonçalo Ramos não se vai esquecer do jogo para esquecer (a crónica do Desp. Aves-Benfica)

Este artigo tem mais de 3 anos

Gonçalo Ramos não mais vai esquecer jogo com Desp. Aves, assim como Desp. Aves não mais vai esquecer este jogo. Benfica goleou e bem (4-0) mas o que se pode fazer para que o resto não seja esquecido?

Rafa inaugurou o marcador logo aos quatro minutos a passe de Pizzi, que se tornou o jogador da Liga com mais assistências de bola corrida (além de melhor marcador)
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Rafa inaugurou o marcador logo aos quatro minutos a passe de Pizzi, que se tornou o jogador da Liga com mais assistências de bola corrida (além de melhor marcador)

Miguel Pereira

Rafa inaugurou o marcador logo aos quatro minutos a passe de Pizzi, que se tornou o jogador da Liga com mais assistências de bola corrida (além de melhor marcador)

Miguel Pereira

Raphael Aflalo, 24 anos, nascido em São Paulo mas com nacionalidade portuguesa. Fez parte da formação numa das mais conceituadas escolas dos clubes paulistas, o Corinthians, que lhe deu o primeiro contrato de profissional da carreira, mudou-se em 2017 para o Mirandela por ter fechado a janela de oportunidade para assinar pelo Desp. Aves, para onde rumaria no ano seguinte. Pelo meio teve um problema pessoal grave, num acidente de viação onde atropelou um jovem que continua a ser julgado em termos judiciais com o jogador a prestar os esclarecimentos que forem necessários por videoconferência. Na Vila das Aves, fez parte da equipa que ganhou a Liga Revelação na última temporada, estreou-se pelo conjunto principal em 2019/20 com boas atuações. Esta segunda-feira, não apareceu no treino. Ninguém sabia porquê. A explicação, essa, apareceu pouco depois nas redes sociais.

Benfica goleia Desp. Aves por 4-0 com bis do estreante Gonçalo Ramos

“Gostaria de agradecer ao CD Aves pelo tempo que estive vestindo essa camisa, foi o clube que me abriu as portas aqui na Europa e na Primeira Liga, e agradeço também à torcida, que sempre apoiou o time nas competições onde entrámos em campo. Aqui conquistei a Liga Revelação e Taça Revelação na temporada passada e fui eleito o melhor guarda-redes da competição. Infelizmente, tive que tomar a decisão de rescindir o meu contrato porque estou há três meses sem receber salário. Não é a primeira vez que essa situação acontece, como alguns já sabem, a minha esposa está grávida e não tive outra opção. Tomámos essa decisão porque não compactuamos com a atitude dessa direção. A minha torcida pelo clube será eterna”, escreveu na sua página no Instagram.

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A novela Desp. Aves (parte II): jogadores chegam de carro, a pé e de táxi, juiz e GNR chamados e a Taça que desapareceu

Podíamos falar de Bernardeau, de Jonathan Buatu, de Aaron Tshibola, de Estrela, de Pedro Delgado, de Kevin Yamga. Até de Mohammadi, a grande revelação da equipa depois de chegar do Irão como uma incógnita e de muito rapidamente se ter adaptado e ser a grande mais valia, que na véspera do jogo com o Benfica falhou o treino sem que se percebesse se tinha rescindido, se queria rescindir ou se estava à espera que o convidassem para a rescisão. O facto de não haver nada em jogo em termos desportivos além dos três pontos e de os encarnados saberem que não estavam na luta pelo título mas também já tinham o segundo lugar garantido contribuiu para isso mas nunca um encontro a envolver um “grande” teve tanto o clube contrário como protagonista como esta noite na Vila das Aves, onde os já despromovidos avenses chegaram aos 44 jogadores utilizados numa só temporada em virtude das recentes rescisões em catadupa devido a ordenados em atraso. Só isso conta parte da história.

Ficha de jogo

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Desp. Aves-Benfica, 0-4

33.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Clube Desportivo das Aves, na Vila das Aves

Árbitro: António Nobre (AF Leiria)

Desp. Aves: Sheytanov; Jaílson (Varela, 66′), Bruno Morais, Diakhite, Ricardo Mangas, Afonso Figueiredo (Touré, 66′); Rúben Oliveira, Reko, Zidane Banjaqui (Bruninho, 80′); Pedro Soares (Varela, 80′) e Marius (Cláudio Tavares, 66′)

Suplentes não utilizados: Szymonek e Bruninho

Treinador: Nuno Manta Santos

Benfica: Svilar; André Almeida, Rúben Dias, Jardel, Nuno Tavares; Florentino Luís, Gabriel (Samaris, 85′); Pizzi (Gonçalo Ramos, 85′), Rafa (Jota, 78′), Chiquinho (Seferovic, 66′) e Vinícius (Dyego Sousa, 66′)

Suplentes não utilizados: Zlobin, Tomás Tavares, Ferro e Zivkovic

Treinador: Nelson Veríssimo

Golos: Rafa (4′), Pizzi (52′, g.p.) e Gonçalo Ramos (87′ e 90+3′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Bruno Morais (50′)

Pizzi teve uma noite inspirada onde voltou a ser dos melhores, Florentino Luís também justificou o regresso ao onze, houve uma ou outra exibição um pouco acima da média frente a um conjunto do Desp. Aves que é uma manta de retalhos no atual contexto mas que se mostrou uma verdadeira equipa ao longo dos 90 minutos. Porque só nas últimas 72 horas, após os salários acumulados em atraso e das rescisões de alguns companheiros, tiveram de viver com a proibição de irem treinar porque a apólice do seguro caducou, com a necessidade de terem de ir para o pavilhão fazerem os obrigatórios testes para a Covid-19, com a rábula de serem obrigados a chegar de carro, de táxi ou a pé ao estádio porque as chaves do autocarro desapareceram ou com o conhecimento da notícia que um juiz e a GNR foram chamados ao estádio porque duas salas para a organização do jogo estavam fechadas.

O Benfica marcou no início da primeira parte, aumentou no início do segundo tempo e terminou da melhor forma com oito minutos para a história de Gonçalo Ramos, um miúdo da formação que é um dos talentos em quem mais os responsáveis apostam no futuro até por ocupar uma posição rara no futebol português. No entanto, a partida acabou, a goleada surgiu de forma natural (4-0) mas valeu mais o primeiro minuto do que o resultado.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Desp. Aves-Benfica em vídeo]

Olhando para o túnel de acesso aos balneários, os jogadores do Desp. Aves iam falando uns com os outros, de forma descontraída, como se durante 90 minutos não tivessem de pensar no drama que têm vivido nos últimos 90 dias, altura em que se percebeu que não teriam hipóteses de ficar na Primeira Liga e que o que nascera torto nunca se ia mesmo endireitar. Houve depois cumprimentos solidários entre jogadores, uma atenção especial por parte dos elementos técnicos do Benfica com o treinador Nuno Manta Santos e um apito inicial com a imagem que vai percorrer a Europa: quem estava no banco colocou-se de pé e abraçou-se, os titulares ficaram parados no mesmo local do campo e durante um minuto não houve futebol para ninguém, com os jogadores do Benfica a trocar a bola entre si respeitando esse momento e batendo palmas quando o adversário assumiu esse papel. Depois, na primeira jogada ofensiva, chegou o primeiro golo: grande passe de Pizzi, que se tornou o jogador da Primeira Liga com mais assistências de bola corrida, receção orientada de Rafa e golo isolado logo aos quatro minutos.

O Desp. Aves ainda tentou reagir, mesmo perante boas oportunidades que o Benfica ainda conseguiu criar, e Svilar (que voltou a ser titular na Liga mais de um ano e meio depois) teve uma defesa apertada para canto a remate de Banjaqui. Apesar de tudo, a desvantagem mínima dava alguma esperança aos visitados, mesmo sabendo que com o passar dos minutos a parte física poderia ser determinante para ficar ainda mais atrás do adversário. No entanto, uma grande penalidade de Bruno Morais após o intervalo, cortando com o braço um remate de Pizzi, acabou por dar ao internacional português a possibilidade de aumentar para 2-0 (52′). Mais uma aproximação com perigo do Desp. Aves, mais oportunidades falhadas pelo Benfica (sobretudo uma de Pizzi, quando os encarnados tinham já alargado o ataque com Seferovic e Dyego Sousa, à frente da baliza e sem oposição), um jogo mais lento.

A história do encontro parecia escrita mas ainda havia um intérprete que entrou com vontade de escrever o início de uma longa história: Gonçalo Ramos, jovem avançado do Benfica formado no clube e que teve a oportunidade de fazer os primeiros minutos pelos seniores, marcou o 3-0 na primeira vez que tocou na bola pouco mais de um minuto depois de entrar em campo para o lugar de Pizzi (87′) e levou o resultado para uma goleada por 4-0 no terceiro minuto de descontos, não falhando isolado na área após uma grande arrancada de Jota com assistência de Dyego Sousa. O miúdo não mais vai esquecer o jogo contra o Desp. Aves, assim como o Desp. Aves não mais vai esquecer este jogo. Falta saber se as entidades deixarão que alguém se esqueça do que se está a passar.

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