A Fidelidade tem em curso um programa de reestruturação que prevê a dispensa de 500 colaboradores até 2018. O plano incide sobre a saída negociada de funcionários que estão mais próximos da idade normal de reforma. O programa aprovado em 2013 previa a dispensa de 300 colaboradores até 2015, mas, no ano passado, a maior seguradora do mercado decidiu “ajustá-lo, assumindo que poderá vir a dispensar, entre os anos de 2015 e 2018, cerca de 500 colaboradores”, lê-se no último relatório e contas da Fidelidade.
Fonte oficial da seguradora adianta ao Observador que o número de saídas negociadas indicado é uma estimativa. A nova meta de redução de colaboradores é justificada com o “alargamento do prazo previsto no relatório e contas de 2013, em que se considerou o horizonte temporal de 2014 e 2015, envolvendo portanto, um menor número de colaboradores”. Esta estimativa corresponde ainda ao número de saídas efetivamente realizado durante os anos de 2013 e 2014 (em média de 115 por ano). Até maio deste ano, já saíram 55 funcionários através deste programa.
O alargarmento temporal do plano de reestruturação foi decidido no mesmo ano em que foi concretizada a venda da Fidelidade aos chineses da Fosun pela Caixa Geral de Depósitos, que ainda mantém uma participação de 15%. Mas fonte oficial da seguradora sublinha que este programa “não decorre de qualquer alteração acionista”, acrescentando que “constava do business plan da Fidelidade apresentado a todos os potenciais compradores no processo de privatização”.
O programa de reestruturação até 2018 irá oferecer as mesmas condições fixadas em 2013 para a saída de colaboradores mais perto da idade da reforma, nos casos em que seja “reconhecida a sua dispensabilidade para o grupo”. A seguradora reforçou a provisão para financiar este programa que passou de 31,8 milhões de euros para 52,2 milhões de euros.
A Fidelidade refere ainda que tem vindo “progressivamente a optimizar a sua estrutura de recursos humanos”, recorrendo sempre à negociação com foco nas pré-reformas e reformas antecipadas. Explica que se trata de “um processo natural que decorre da transformação dos processos de negócio” que visa “fazer face à crescente competitividade do mercado segurador e garantir a sustentabilidade da empresa no longo prazo”.
Na última década, realça, o grupo reduziu o seu efetivo em cerca de 1600 pessoas, passando de cerca de 4900 em 2001 para 3300 em 2014.
Em sentido contrário, está a evoluir o emprego na subsidiária para a área da saúde onde a “anunciada expansão do Hospital da Luz, em Lisboa, assegurará a criação de cerca de 800 empregos”.
No ano passado, o Grupo Fidelidade tinha 3220 colaboradores, com uma idade média de 45,9 anos. A empresa controla cerca de 28% do mercado segurador em Portugal e apresentou lucros de 178 milhões de euros em 2014, mais 39% que no ano anterior, e um ativo líquido de 14 mil milhões de euros.
Seguros mudam de mãos
A Fidelidade foi a primeira seguradora portuguesa a mudar de mãos, tendo a sua venda sido iniciada em 2013, para cumprir o plano de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, acordado com a troika. No ano passado, a Tranquilidade foi comprada pelo fundo americano Apollo, na sequência do colapso do Grupo Espírito Santo. Ainda em 2014, o BCP alienou a participação de 49% que detinha nas seguradoras Medis e Ocidental do ramo não Vida à Ageas (antiga Fortis).
Este ano está em marcha a alienação da seguradora Açoreana do Banif, que é uma das condições do plano de reestruturação do banco com a Comissão Europeia. Segundo o Jornal de Negócios, também o grupo francês Axa colocou no mercado a sua operação em Portugal.
Os seguros serviram ainda de porta de entrada a dois grupos financeiros internacionais que estão na corrida ao Novo Banco. A Fosun, que controla a Fidelidade, e a Apollo, que é a dona da Tranquilidade.
Fidelidade comprou mil milhões em dívida da acionista
O grupo chinês Fosun tem vindo a tirar partido do balanço da Fidelidade para apoiar a sua estratégia de expansão por aquisições. Em 2014 a seguradora portuguesa comprou a Espírito Santo Saúde em bolsa, que agora é a Luz Saúde. Já este ano, a Fidelidade participou na OPA sobre o Club Med.
Os recursos financeiros da seguradora portuguesa também serviram para financiar a acionista chinesa. Em 2014, a Fidelidade comprou mil milhões de euros em títulos de dívida de longo prazo, com vencimento em 2022, emitidos por uma sociedade veículo da Fosun, para refinanciar a dívida do grupo privado chinês. A Fosun tem em curso um aumento de capital para obter fundos para prosseguir com a sua política expansionista. Para além do Novo Banco, o grupo está a negociar a compra da principal holding financeira israelita, a Phoenix.