Rui Rio diz-se escandalizado com a promiscuidade existente entre os negócios e a política a propósito do caso BES e mostra-se incrédulo com o facto de a justiça ainda não ter mostrado preocupação sobre essa matéria. No programa da Terça à Noite, da Rádio Renascença, o ex-presidente da Câmara do Porto abriu ainda a porta à candidatura à liderança do PSD, ou até à Presidência da República, caso haja “um movimento grande nesse sentido”. Se “as pessoas quiserem”, não vai fugir. O problema maior, diz, é a falta de confiança da sociedade perante a política e o sistema político que funciona com máquinas partidárias viciadas.

Em entrevista à Rádio Renascença, Rui Rio teceu duras críticas ao facto de a justiça ainda nada ter dito sobre o caso do Grupo Espírito Santo, o que, na sua opinião, é um sinal de “descrédito” face ao sistema.

“Acha normal que, com tudo o que se passa no Banco Espírito Santo, não haja um sinal da justiça de que está preocupada? Não estou a dizer para constituir alguém arguido, mas que haja um mínimo de preocupação com tantos milhões e tantos milhões” de euros envolvidos, diz o dirigente social-democrata, que pega no exemplo de uma pessoa que rouba um iogurte e é sujeita a um “vexame” para ilustrar o facto de um caso destas dimensões – que envolve “7 ou 8 mil milhões de euros” – estar a sair ileso das considerações do sistema judicial.

Para Rui Rio, “se nada for feito”, o caso BES torna-se “exemplar do descrédito e há-de ser um encontrão enorme na credibilidade de tudo isto e na desmoralização das pessoas face ao sistema”. Se, pelo contrário, for aberta uma investigação, “há naturalmente a presunção de inocência para toda a gente”. Mas o importante, defende, é investigar.

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Na opinião do ex-autarca, a promiscuidade entre a política e os negócios, de que o caso BES é exemplo, reflecte a falta de “convicções” e de “qualidade” dos políticos. “Quando temos mais qualidade naquilo que estamos a fazer temos mais convicções, quando temos menos qualidade temos mais oportunismo e menos convicções”, diz. O que acontece, diz, é que “muitas vezes quem chega ao poder sucumbe facilmente perante os poderes fáticos instalados porque não tem a força das convicções” – “esta é que é a questão”.

Para Rio, uma pessoa que tem poder político “tem acima de tudo de ter um perfil de rectidão e ter convicções. Depois tem de ser inabalável nas suas convicções”.

Se o país quiser muito, não foge ao PSD ou à Presidência

Na mesma entrevista ao programa Terça à Noite, Rui Rio deixou a porta aberta a uma possível candidatura à liderança do PSD ou até à Presidência da República. “Se as coisas no país evoluírem de uma tal forma que um dia seja absolutamente claro qde ue há um número de pessoas que confia muito em mim e que, por um conjunto de circunstâncias quer que eu vá, se eu sentir que isso é realmente um movimento grande, é evidente que dificilmente uma pessoa pode defraudar as pessoa se fugir”, disse.

O importante, segundo Rio, é que haja um consenso maior ao nível do próprio “regime político”, e não apenas do “sistema político”. Ou seja, defende uma “reforma profunda nas regras base do próprio regime”, que na sua opinião está desacreditado, através da “introdução de alterações na forma de funcionar”. Só assim se conseguiria um “contrato de confiança”, não entre os políticos e as pessoas, mas entre a “política e a sociedade”.

O ex-autarca teceu ainda críticas às máquinas partidárias, que afastam as “pessoas de maior valor”, por não estarem disponíveis para certas coisas como “pagar quotas a militantes ou ir buscar militantes de camioneta para irem votar”.

Eleições antecipadas

Sobre a atual situação política, defendeu ainda que as eleições legislativas, previstas para outubro de 2015, deviam ser antecipadas – “para abril, por exemplo” – para não ficarem tão perto das presidenciais, marcadas para janeiro de 2016. Esta é a sua opinião, apesar de admitir que outros possam considerar que é preferível a turbulência política acontecer toda logo de uma vez.