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Tomás e o brio de uma equipa que não quer desistir apesar dos sinais em contrário (a crónica do Benfica-Moreirense)

Este artigo tem mais de 6 meses

Teve um passe "proibido", fez uma entorse das que doem só de ver, quis ficar em campo, marcou: Tomás Araújo deu o exemplo para Gouveia e Kökçü fazerem da crise uma oportunidade entre poupanças (3-0).

Tomás Araújo sofreu uma entorse que o deixou em vias de sair, ficou em campo e ainda se estreou a marcar pelos seniores do Benfica antes de sair ao intervalo
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Tomás Araújo sofreu uma entorse que o deixou em vias de sair, ficou em campo e ainda se estreou a marcar pelos seniores do Benfica antes de sair ao intervalo

PATRICIA DE MELO MOREIRA

Tomás Araújo sofreu uma entorse que o deixou em vias de sair, ficou em campo e ainda se estreou a marcar pelos seniores do Benfica antes de sair ao intervalo

PATRICIA DE MELO MOREIRA

A justificação foi a proximidade de compromissos tendo em conta os encontros com o Marselha a contar para os quartos da Liga Europa, o atual momento também ajudou a avançar para um “modelo” que já antes tinha sido. Ao contrário do que tem sido regra, não só no Benfica mas em todos os outros clubes da Primeira Liga, Roger Schmidt acabou por não fazer a antevisão ao jogo frente ao Moreirense, no Estádio da Luz. Não falou das hipóteses que os encarnados teriam no Campeonato depois do triunfo do Sporting em Barcelos que se seguiu ao dérbi, não falou da fase que a equipa atravessa, não falou das ausências de Otamendi e Aursnes por castigo, não falou da hipótese de rodar alguns jogadores tendo em conta o jogo de quinta-feira em França, não falou de um adversário que tirou dois pontos na primeira volta. Não falou mas tudo isso eram questões a ter em conta. Isso e a forma como terminou a última partida no Estádio da Luz com o Marselha.

Benfica vence Moreirense em jogo de poupanças e reduz distâncias para o líder Sporting

“Assobios? Não sei, fico sempre surpreendido com isso, mas parece que faz parte do Benfica. Sei que não é a primeira vez, também recebo algumas impressões do meu treinador adjunto e do Luisão, eles conhecem melhor o clube e também o que passou no passado. Se ganhas um jogo nos quartos da Liga Europa e no final há este tipo de situações, é normal que fiques um pouco surpreendido porque não consegues compreender. Mas faz parte do Benfica…”, soltou Roger Schmidt em tom de desabafo após a vitória dos encarnados frente ao Marselha que terminou com muitos assobios que já tinham ouvido no momento das substituições feitas nos derradeiros minutos. A última imagem foi mesmo aquela que ficou e nem mesmo os 60 minutos iniciais em que os encarnados foram muito superiores aos franceses serviram para as “pazes”.

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Há muito que o Benfica vive uma fase que pouco ou nada tem a ver com aquilo que se passou na derradeira temporada e o duplo insucesso com o Sporting, na Taça e no Campeonato, mais não foi do que a “exposição” desse momento mais conturbado sobretudo na relação entre adeptos e treinador. Os equívocos de mercado na substituição de Gonçalo Ramos e a falta de uma opção natural para a vaga de Grimaldo não passaram ao lado de nada nem de ninguém mas é sobre Schmidt que têm caído as frustrações de uma época aquém do que era esperado depois das conquistas do Campeonato e da Supertaça – algo que, neste fase, nem o trajeto na Liga Europa consegue atenuar. Pelas escolhas para o onze, pelas abordagens aos encontros, sobretudo pelo facto de fazer 40% das substituições nos minutos finais. O técnico alemão até pode ter razão em alguns dos argumentos com que depois explica essas mexidas mas depois a perceção no exterior é outra.

Era contra isso que o Benfica (e Schmidt) jogava este domingo contra o Moreirense. Apesar de as contas no Campeonato estarem bem mais complicadas, um deslize do Sporting em Famalicão antes dos encontros com o V. Guimarães e o FC Porto poderia pelo menos reabrir um pouco essa réstia de esperança. Apesar da última meia hora menos conseguida com o Marselha, uma vitória ou um empate eram mais do que possíveis no sul de França e valeriam a passagem às meias-finais da Liga Europa muito provavelmente com a Atalanta, que surpreendeu o Liverpool em Anfield. No entanto, e para que tudo isso se mantivesse intacto, a receção na Luz ao Moreirense assumia um especial peso numa fase em que o conjunto minhoto somava apenas uma vitória nos derradeiros cinco encontros no Campeonato entre as mexidas obrigatórias na equipa inicial.

Aursnes, que foi expulso em Alvalade, e Otamendi, que viu o nono cartão amarelo no dérbi, eram ausências certas para o encontro com os cónegos, havendo ainda a forte possibilidade de haver mais mexidas em todos os setores por gestão física e tentativa de trabalhar outras soluções para o que falta da época. Confirmou-se. À exceção de João Neves, Bah e David Neres, todos os titulares com o Marselha ficaram no banco ou na bancada, em mais um sinal entre uma maior descrença no título e o foco total na carreira europeia. E a primeira parte, apesar da vantagem por 2-0, mostrou que a equipa já atravessou dias melhores. Foi aqui que apareceu Tomás Araújo, que apesar de ter saído ao intervalo mostrou aquilo que é inalienável num clube como o Benfica: mesmo com um erro que deixou Samuel Soares desconfortável e limitado fisicamente depois de uma entorse no tornozelo, o central formado no Seixal recusou sair, manteve-se em campo em esforço, continuou a ir a todas as bolas e ainda marcou o primeiro golo pelos seniores. O seu brio foi “o” exemplo num encontro em que Tiago Gouveia e Kökçü foram os principais dínamos ofensivos do Benfica ao longo do jogo.

Ficha de jogo

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Benfica-Moreirense, 3-0

29.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Hélder Carvalho (AF Santarém)

Benfica: Samuel Soares; Bah, Tomás Araújo (António Silva, 46′), Morato, Álvaro Carreras; João Neves (Florentino Luís, 46′), João Mário; David Neres (Rollheiser, 46′), Kökçü (Tengstedt, 85′), Tiago Gouveia (Diogo Spencer, 89′) e Arthur Cabral

Suplentes não utilizados: Trubin, Ángel Di María, Rafa e Marcos Leonardo

Treinador: Roger Schmidt

Moreirense: Kewin Silva; Fabiano, Ponck, Maracás, Frimpong; Lawrence Ofori (Rúben Ismael, 85′), Gonçalo Franco (Castro, 74′); Camacho (Matheus Aiás, 74′), Alanzinho, Kodisang (Antonisse, 74′) e Mingotti (Nlavo, 56′)

Suplentes não utilizados: Mika, Pedro Amador, Marcelo e Dinis Pinto

Treinador: Rui Borges

Golos: Kökçü (18′), Tomás Araújo (45+1′) e Rollheiser (78′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Álvaro Carreras (61′), Rollheiser (87′) e Rúben Ismael (90+4′)

Os 15 minutos iniciais acabaram por ser um retrato do ambiente que se sentia numa Luz com muito menos público do que é normal. Uma equipa apática, com poucas ideias, sem rasgo, com grandes dificuldades em termos ofensivos e em ataque organizado contra um Moreirense que não tinha também grande capacidade nas saídas em transição. Assim, o tempo foi passando com poucos ou nenhuns motivos de interesse a não ser uma tentativa de remate (que ficou por aí, uma mera tentativa) de Tiago Gouveia depois de uma diagonal da esquerda para o meio com um tiro muito por cima da baliza de Kewin Silva. Até mesmo os lances que ainda causaram algum burburinho entre os adeptos surgiam mais de excesso de confiança ou distrações da equipa visitante do que propriamente do mérito e capacidade dos encarnados, a jogarem muitas vezes a passo.

Ainda assim, o golo lá chegou. João Mário teve muito mérito no início da jogada ao intercetar de carrinho uma bola a Ofori mas a diferença foi a velocidade acima colocada pelas unidades mais avançadas da equipa encarnada, que rapidamente chegaram a uma situação de 4×3 conduzida por Tiago Gouveia que assistiu Kökçü para o remate em zona frontal que fez o 1-0 apesar do toque de Kewin Silva sem conseguir desviar a bola da baliza (18′). O turco, que pouco depois arriscou de novo a meia distância para defesa fácil do guarda-redes, não festejou o golo e os motivos para festejar não eram muitos, tendo em conta que os minutos que se seguiram ficaram sobretudo marcados pelos sustos que iam vivendo na área dos encarnados com passes “a queimar” que deixavam Samuel Soares em apuros. Apesar da vantagem, havia pouco Benfica.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Benfica-Moreirense em vídeo]

O cenário podia ter ficado pior para os encarnados. Quando Tiago Araújo recebia assistência fora do campo e João Neves tinha recuado para o lado de Morato, Alanzinho ganhou o espaço entre linhas, rematou em jeito ao poste e, na recarga isolado, adiantou em demasia a bola para Samuel Soares conseguir fazer a “mancha” (34′). Num encontro praticamente sem balizas, o Moreirense deixava um sério aviso na primeira vez que teve um remate e mostrava as dificuldades que o Benfica ia sentindo para controlar o jogo com bola. Num jogo abaixo dos últimos a vários níveis, sobrava apenas o brio e qualidade individual dos jogadores, como se viu num lance em que Arthur Cabral recebeu de fora da área, enquadrou-se para o remate de longe e viu Kewin desviar ainda de raspão para a trave (38′). Estava dado o mote para a melhor fase dos encarnados, que viram Carreras ficar perto de um grande golo antes do 2-0 por Tomás Araújo, que se estreou a marcar nos seniores na sequência de um canto num lance que teve ainda duas bolas nos ferros (45+1′).

Sem jogar muito, o Benfica foi pragmático no aproveitamento dos erros contrários e nos momentos em que estava por cima do encontro mas nem por isso desaparecera aquele sentimento de jogo de final de temporada como se não houvesse muito mais a fazer no Campeonato (que pode ainda haver). E para adensar mais essa perspetiva, Roger Schmidt fez mais três alterações na equipa ao intervalo com as saídas de Tomás Araújo, João Neves e David Neres para as entradas de António Silva, Florentino Luís e Rollheiser. Com as atenções centradas em Marselha, os encarnados quase pareciam dispostos a assinar o final do jogo nesse momento de vantagem de dois golos a pensar na segunda mão dos quartos da Liga Europa de quinta-feira. Eram os jogadores em campo que tinham a “obrigação” de dar vida ao encontro e “animar” as bancadas.

Kökçü, num livre desviado na barreira e depois num remate de bico para defesa de Kewin Silva (59′), e Tiago Gouveia, num lance individual de fora para dentro com tiro em arco de pé esquerdo que passou perto do alvo (63′), deram o mote para uma exibição que em termos gerais teve mais qualidade do que na primeira parte. Foi mais mexida, teve mais velocidade, encontrou outra capacidade de pressão, beneficiou de maior alegria. Quando o jogo parava, por lesões ou substituições, esse ímpeto acabava por esfumar-se e voltar à estaca zero mas existia essa vontade de deixar uma imagem final diferente daquela que ficou da partida com o Marselha e foi isso que promoveu a jogada do 3-0, com Tiago Gouveia a ver bem a diagonal da direita para o meio de Rollheiser e o argentino a parar no peito antes de rematar de pé esquerdo para o primeiro golo na Luz (78′). Até ao final, nota ainda para a estreia de Diogo Spencer, lateral da formação dos encarnados.

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