Os moradores das Avenidas Novas e da zona de Entrecampos, em Lisboa, queixam-se de não terem sido ouvidos relativamente à intenção da autarquia de fazer obras profundas no chamado “eixo central da cidade”, nomeadamente em Picoas, no Saldanha e nas avenidas Fontes Pereira de Melo e da República. Os habitantes dizem ter sido apanhados de surpresa e exigem um debate público mais alargado, no que são apoiados pelo vereador do CDS, João Gonçalves Pereira.

Segundo a proposta aprovada no início de setembro, a face de Picoas e da Praça Duque de Saldanha deverá ser radicalmente alterada com a eliminação de faixas de rodagem e de lugares de estacionamento que serão ocupados por passeios mais largos, árvores, ciclovias e esplanadas. Também na Fontes Pereira de Melo e na Av. da República (até ao cruzamento com a Elias Garcia) estão previstas intervenções que preocupam as pessoas que ali vivem.

“”Desconhecendo os efeitos, as causas e as consequências desta intenção, e cientes de todos os riscos e prejuízos desta intervenção, os moradores e comerciantes das zonas afetadas exigem a suspensão do processo até que possam ser ouvidos e dar o seu contributo”, lê-se num comunicado escrito pelas associações de moradores das Avenidas Novas e da Praça de Entrecampos depois de uma reunião que tiveram na segunda-feira à noite.

Em dezembro de 2014, a câmara promoveu uma sessão de esclarecimento sobre estas intervenções no Mercado 31 de Janeiro. Nesse debate esteve presente Fernando Medina, à data vice-presidente da autarquia, os presidentes das juntas da zona e o arquiteto municipal responsável pelo programa Uma Praça Em Cada Bairro, em que estas obras se inserem.

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O vereador do CDS na câmara de Lisboa esteve presente na reunião das associações de segunda-feira e diz partilhar da ” enorme preocupação” das pessoas, especialmente no que diz respeito à “questão do estacionamento”. João Gonçalves Pereira afirma que o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, lhe garantiu que se perderiam 140 lugares de parqueamento com as obras, mas queixa-se de que as perguntas que dirigiu à câmara sobre o tema no início do mês ainda não tenham tido resposta.

“Estamos a falar de uma obra que não afeta só as freguesias de Avenidas Novas e de Arroios”, salienta o centrista, que lembra que a zona em causa fica “no coração da cidade de Lisboa, onde milhares de pessoas circulam, milhares de pessoas trabalham e milhares de pessoas vivem.” Por isso, defende que não se pode decidir sobre o assunto de ânimo leve:

“”Toda a população de Lisboa se devia interessar por isto. Isto deveria obrigar a um amplo debate”, explica João Gonçalves Pereira ao Observador, sugerindo que “propostas e projetos que vêm de trás” — como a ideia de Santana Lopes de criar um túnel no Saldanha — sejam também considerados para a discussão.

Não haver debate nenhum, afirma, é que não pode ser. “Isto é uma democracia, não é uma tirania. O dr. Fernando Medina não é o dono da cidade”, atira, acusando o presidente da câmara de apenas querer cumprir “um mero calendário eleitoral”, para “chegar a 2017 com obra feita”. Numa entrevista ao Expresso aquando a discussão destas obras em reunião de câmara, Medina garantiu que “a generalidade dos projetos avança e ficará concluída dentro deste mandato”. O vereador centrista está, porém, empenhado em impedi-lo. “O CDS utilizará todos os meios políticos e democráticos que estiverem ao seu alcance para travar este processo”, afiançou.

O tema deverá ser um dos pontos quentes da reunião pública da Câmara Municipal de Lisboa esta quarta-feira. Já as associações de moradores marcaram uma nova reunião, desta vez com a presença de Manuel Salgado, para a próxima terça-feira, 6 de outubro.