Foi fundador e agora chegou a presidente executivo da Twitter. Jack Dorsey foi confirmado esta segunda-feira como líder da empresa que gere a rede social. Dorsey já desempenhava as funções desde julho interinamente, mas agora vai ocupar o cargo, ainda que em “part-time”, uma vez que se manterá como presidente executivo (CEO) da Square Inc, empresa de sistema de pagamentos online.

Mas porque é a administração da Twitter aceita um presidente a tempo parcial? Dorsey tem dois trunfos. Foi um dos inventores do serviço de media social e os seus pares acreditam que cresceu como líder e gestor. O regresso do “filho pródigo” que criou o tweet de 140 carateres revelou-se demasiado irresistível para a administração da empresa que enfrenta vários problemas, ou numa visão mais otimista, desafios. E o maior desafio de todos é definir, ou melhor redefinir o Twitter.

É um serviço adorado pelos seguidores que apreciam, antes mais, o formato de “breaking news” (notícias curtas e rápidas). O tweet faz as delícias de jornalistas e dos viciados em saber primeiro que os outros, mas não se tem revelado tão popular quanto o concorrente Facebook. A Twitter tem sentido dificuldades em fidelizar os utilizadores e a cotação em bolsa está a derrapar. O grande trabalho é mudar o mínimo para conseguir juntar o melhor dos dois mundos: manter agarrados os fiéis, ao mesmo tempo que simplificar e tornar o serviço mais atraente para os que acabam de chegar.

Uma das “concessões” já introduzida foi o fim da ditadura dos 140 caracteres, mas apenas para as mensagens privadas. Mas há muitos que defendem que é preciso ir mais longe.

Twitter cresce, mas os outros crescem muito mais

Mas o Twitter não está a crescer? Está, mas a um ritmo muito mais lento do que o tempo que demora a enviar um tweet. No segundo trimestre do ano, o número de utilizadores ativos cresceu “apenas” dois milhões para um universo de 304 milhões de clientes. Muito pouco quando comparamos com os 1,5 mil milhões de utilizadores do Facebook, que tem algumas aplicações individuais com mais aderentes que o Twitter, ou com os 900 milhões de clientes do WhatsApp e mais de 400 milhões do Instagram. E há milhões de pessoas que deixaram de usar o serviço ou entram muito esporadicamente.

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Os mercados já perceberam as fragilidades em atrair receitas, ou seja monetizar o negócio. Este ano, as ações já caíram mais de 26% e estão na linha de água do preço da oferta inicial em bolsa. A aposta no gestor de 38 anos é por isso muito alta. Conseguirá Dorsey criar uma nova visão que alargue as fronteiras do serviço e levá-la a bom porto? Um dos pontos a seu favor é a circunstância de ser fundador. “Um fundador tem a autoridade moral para fazer mudanças que podem ser muito assustadoras”, defende Mike McCue, presidente da Flipboard e antigo diretor da Twitter, citado pela Bloomberg.

Dorsey assumiu o cargo a título interino depois da saída de Dick Costolo, que abandonou a liderança da Twitter em junho deste ano, na sequência dos resultados pouco satisfatórios. A administração queria um novo presidente a tempo inteiro e chegou a ponderar outros candidatos como o antigo gestor da Cisco System, Padmasree Warrior, e o presidente da CBS Interactive, Jim Lanzone, de acordo com informação recolhida pela Bloombberg.

A escolha acabou por recair sobre a primeira pessoa a enviar um tweet. Mas Dorsey não pode focar-se apenas no Twitter. Apesar de a sua segunda empresa ficar a um passeio de distância (os dois escritórios são em S. Francisco), a Squar está a preparar uma oferta em bolsa de ações até ao final do ano. E um CEO em part-time não será o argumento mais atraente para os investidores.