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Em casa, o foco dos pais deve ser na parte emocional do processo de aprendizagem

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Em casa, o foco dos pais deve ser na parte emocional do processo de aprendizagem

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10 sugestões para ajudar o seu filho a recuperar da perda de aprendizagens no confinamento

A primeira regra para os pais é que não tentem ser professores, mas há muitas formas de ajudar as crianças a passar pela pandemia com menos efeitos negativos nas aprendizagens.

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Esqueça a tabuada. Esqueça a dinastia Afonsina. Esqueça a conjugação do verbo “sein” em alemão. Se o seu filho estiver a ficar para trás nas aprendizagens, de pouco serve pô-lo a repetir “8 vezes 8 são 64”, “D. Sancho I foi o segundo rei de Portugal”, ou “ich bin da, du bist da” até ao infinito. Os pais devem ser pais e os professores devem ser professores. Este é o mais importante conselho de vários especialistas ouvidos pelo Observador, que, com 10 sugestões práticas, tentam responder à pergunta que atormenta muitos encarregados de educação em tempo de ensino à distância por causa do confinamento: “Como posso ajudar o meu filho a não ficar para trás?”

Evitar vestir a pele de professor não é sinónimo de nada fazer pelas crianças, mas é sinónimo de evitar confundir papéis que acabam por complicar a relação de pais e filhos.

“Não cabe aos pais substituir a escola nas aprendizagens. Essa extensão excessiva da escola para o contexto familiar — quando, por exemplo, os trabalhos de casa são demasiados — acaba a roubar o essencial: ter tempo de qualidade com os filhos”, defende a investigadora Célia Oliveira. Em contrapartida, lembra que não faltam estudos que mostram que “uma das coisas que mais contribui para o sucesso académico é o interesse dos pais nas escolas”. O importante é encontrar o equilíbrio. Dar apoio, sim. Dar aulas, não.

Rodrigo Queiroz e Melo tem uma crença sólida de que, quando olharmos para trás, o custo da pandemia e do ensino à distância nas aprendizagens não será assim tão elevado. A matéria que ficar por saber será aprendida mais tarde e, por isso, sugere que o foco dos pais seja posto na melhoria de competências — a argumentação, o pensamento crítico, a criatividade, a autoregulação, entre outras — que irão ajudar os alunos a apanhar o comboio, mesmo que fiquem temporariamente para trás. “Numa investigação futura desta época que vivemos, não estou convencido que seja muito grave o que os alunos não aprenderam das dinastias e dos teoremas. Aprenderão mais à frente. O que é preocupante é o que podem perder em competências e, aí, já posso ajudar enquanto pai”, argumenta o professor de Ciências da Educação da Universidade Católica.

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“Não há um livro de receitas, não pode haver, quando se fala de ajudar as crianças. Todas são diferentes, até irmãos. E as dinâmicas familiares também. Temos pais que não sabem ler e temos pais doutorados em Educação e para quem os conselhos não podem ser os mesmos”, acrescenta Júlia Serpa Pimentel, da Associação Pais em Rede, lembrando que há muita coisa que aprendemos antes sequer de se ir à escola e que se aprende muito a brincar.

Célia Oliveira acrescenta que mais do que uma lista do que devem ou não devem fazer, os pais devem procurar aquilo que melhor se enquadra à sua família. “Quando dizemos que os pais devem fazer algo, esta frase tem logo algo de culpabilizante, de injusto, como se tivessem de ser exímios a tudo, e há, da parte dos pais, uma propensão para a culpabilização. É importante saber que há um conjunto de coisas que ajudam, mas que todos falhamos nelas e não há mal algum nisso.”

Se é importante ajudar as crianças, também é importante saber deixá-las fazer nada. “No meio destes horários é preciso ter tempo para brincar, tempo para fazer nada, tempo apenas para o ócio”, sustenta a psicóloga Sofia Ramalho.

“O apoio afetivo e emocional é muito mais importante e prioritário do que o apoio às aprendizagens. O gosto pelo estudo, a disponibilidade e a motivação para aprender fazem parte da dimensão emocional, não da cognitiva. Se não houver esta predisposição, a criança simplesmente não aprende.”
Sofia Ramalho, vice-presidente da Ordem dos Psicólogos

1)Bem-estar psicológico. A criança que está bem aprende bem

Fugir ao papel do professor e focar-se nas competências (e já iremos às sugestões práticas) é só o primeiro passo. “A principal missão de qualquer educador, pai, mãe, seja quem for, é assegurar o bem-estar físico e psicológico das crianças para que elas possam estar disponíveis para a aprendizagem”, defende Sofia Ramalho, vice-presidente da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia da Educação.

Ou seja, se a criança não se sentir bem, não vai conseguir avançar nos estudos, por muitos apoios pedagógicos que tenha à sua disposição. É por isso que em qualquer momento, ainda mais durante uma pandemia, esta deve ser a prioridade dos pais.

“O apoio afetivo e emocional é muito mais importante e prioritário do que o apoio às aprendizagens. O gosto pelo estudo, a disponibilidade e a motivação para aprender fazem parte da dimensão emocional, não da cognitiva. Se não houver esta predisposição, a criança simplesmente não aprende”, diz Sofia Ramalho, que lembra que os pais são os pilares do bem-estar psicológico dos jovens.

“Não obstante, o apoio à aprendizagem é importante — não na dimensão de substituir professores, mas antes de os pais poderem funcionar como orientadores, como reguladores de como se estão a sentir os jovens e de como organizam as suas aprendizagem”, esclarece a psicóloga, lembrando que quanto mais pequenas são as crianças mais importante é ajudá-las a auto-regularem as suas aprendizagens.

Há ainda outra questão, lembra a investigadora Célia Oliveira. “A tarefa de estar com atenção numa aula é um esforço cognitivo muito pesado. Se os níveis de mal-estar da criança são elevados, torna-se mais difícil estar com atenção porque há uma grande distratibilidade interna”, explica. Ou seja, a criança entra em sobrecarga cognitiva e a aprendizagem não vai acontecer. “Se o meu pensamento estiver ocupado com preocupação, que é uma tarefa cognitiva exigente, não vou conseguir fazer outra tarefa igualmente exigente como ter atenção à aula”, esclarece Célia Oliveira.

A mother and daughter performing artwork during home schooling.

A principal função do educador é garantir o bem estar físico e emocional da criança. Sem isso, a aprendizagem, presencial ou à distância, está em risco

Corbis via Getty Images

2) Rotina. Hora certa de ir para a cama ajuda a aprender melhor

Ter uma hora certa para acordar, para as refeições e para ir deitar-se tem mais peso sobre a capacidade de aprender do que qualquer pai possa imaginar. “Parece um cliché, mas não é. As rotinas proporcionam estrutura às crianças e dão-lhe uma competência de vida que é a auto-regulação”, defende a investigadora Célia Oliveira, da Iniciativa Educação, projeto da família Soares dos Santos, liderado por Nuno Crato, e que pretende combater problemas como o abandono escolar.

“A auto-regulação é uma competência adquirida através da educação, no sentido lato. É uma influência que os cuidadores têm nas crianças, porque ninguém é auto-regulado espontaneamente”, explica a investigadora que trabalha na área da Aprendizagem, Atenção e Memória Humana. “Quando há negligência da criança — e a negligência é a total ausência de estruturação —, as crianças ficam entregues a si próprias e esta competência não se desenvolve da mesma forma”, explica.

Mas a auto-regulação ajuda a aprender melhor? “Sem dúvida. Há estudos que mostram uma forte associação de auto-regulação com o sucesso académico, profissional e até com a conduta legal. A auto-regulação ajuda-nos a focar, a ter um comportamento orientado para o objetivo, a tomar melhores decisões, a não procurar a recompensa imediata”, esclarece.

3) Ler é sempre o melhor remédio

A primeira sugestão de Queiroz e Melo, válida para qualquer idade, é a leitura. “Ler é o início e é o fim, ler é a pedra filosofal de tudo isto”, diz o mestre em Ciências da Educação. “Um miúdo que passe o dia a ler — e até bandas desenhadas são melhores do que nada — já tem uma vantagem”, defende.

É na escolha dos livros que os pais podem ter um papel importante, ajudando na oferta disponível em casa. “Os antigos livros do Sandokan, por exemplo, são ótimos livros de geografia”, sustenta. Ou seja, não é preciso pôr as crianças a ler manuais de Estudo do Meio, História ou Geografia para que interiorizem conteúdos destas disciplinas.

“Não é preciso, no fim, fazer um resumo. Basta uma conversa, à hora de jantar, sobre as páginas que leram. Este ato de conversar, de refletir sobre o que foi lido, está a levar à consolidação da aprendizagem”, diz o professor, lembrando que o simples ato de ler desenvolve a capacidade de raciocínio — umas das competências já referidas, essenciais para que a aprendizagem aconteça. Ao fazerem perguntas sobre o livro, os pais estão a fazer com que a criança ponha em causa o que leu. Olham para o que foi lido por outro prisma e treinam também a memória.

Júlia Serpa Pimentel deixa um alerta: a leitura não pode ser uma obrigação, já que, nesse caso, os jovens não vão gostar. “A atividade de leitura é sempre importantíssima, desde as crianças mais pequenas, quando os pais começam a ler-lhes histórias”, diz, frisando que nem todas as famílias são iguais e que nem todas as crianças têm pais que lhes leiam histórias ou estantes com livros em casa.

“Numa investigação futura desta época que vivemos, não estou convencido que seja muito grave o que os alunos não aprenderam das dinastias e dos teoremas. Aprenderão mais à frente. O que é preocupante é o que podem perder em competências e, aí, já posso ajudar enquanto pai.”
Rodrigo Queiroz e Melo, membro do Conselho Nacional de Educação

“A leitura deve começar por ser uma atividade conjunta, até que a própria criança queira ler sozinha. Se vir os pais a ler, vai gostar de ler. Não pode nunca ser uma obrigação”, sublinha. As oportunidades de leitura, lembra, estão em todo o lado, até quando é preciso ler as regras de um jogo de tabuleiro ou uma lista de compras.

“Podemos entusiasmar uma criança para a leitura partilhada. Por exemplo, uma criança que lê mal não vai querer ler sozinha. Se lhe der um texto de dez linhas, dirá logo que não consegue. Nestes casos, pode ler ela uma frase, outra a mãe. Ou o adulto ler o texto todo e haver algumas palavras sublinhadas que são para a criança ler”, exemplifica a professora do ISPA, doutorada em Psicologia do Desenvolvimento e da Educação. “Isto dá à criança a sensação de sucesso e auto-eficácia. Temos de criar formas de a criança aprender pelo sucesso: se for a ler só palavras de duas sílabas, seja.”

Esta é uma grande diferença cultural dos portugueses em relação aos anglo-saxónicos, defende Júlia Serpa Pimentel, que é também presidente da associação Pais em Rede. “Tendemos a corrigir o que está mal feito e raramente elogiamos o que está bem. Os anglo-saxônicos tem outra perspetiva, embora, claro, o elogio tenha de ser proporcional àquilo que a criança conseguiu fazer. Não é preciso esperar pelo sucesso total para poder valorizar a criança, podemos valorizar o seu esforço e dizer ‘boa tentativa’.”

E uma criança motivada para a aprendizagem, é uma criança que aprende mais e melhor.

4) Conversar sobre um livro é melhor do que fazer um resumo

Todas as oportunidades de conversa entre pais e filhos podem ser também oportunidades de aprendizagem. Rodrigo Queiroz e Melo, que defende que o mais importante é ajudar as crianças a desenvolver as competências do que garantir que leem os manuais escolares, dá vários exemplos.

“Se lhes pedirmos para ir ver uma exposição online da Gulbenkian e a seguir fazer um resumo, é quase garantido que vão odiar”, diz o professor da Católica. Mas há truques que os pais podem usar para pôr os miúdos a exercitar o cérebro. Numa altura em que muitas crianças passam mais tempo à frente de ecrãs, isso pode ser aproveitado.

“Podemos pedir-lhes que nos expliquem a lógica do jogo da PlayStation que andam a jogar. Se lhes pedirmos que nos expliquem o mapa da cidade onde andam a fazer corridas de carros, isso permite treinar competências espaciais. Se perguntarmos por que motivo o carro precisa de pneus maiores, podemos acabar a falar do atrito. Ao explicar o jogo, estão a exercitar o cérebro, estão a olhar para ele usando lógica e raciocínio”, argumenta Queiroz e Melo.

Neste tipo de diálogo, que pode ser sobre o jogo mais básico do mundo, o mais importante é que os pais não aceitem uma resposta qualquer. “Não podemos aceitar hipóteses explicativas que não façam sentido. Temos de entrar no universo deles, fazer uma conversa e aproveitar para pô-los a argumentar.”

Outro exemplo é conversar sobre youtubers. “Mesmo que eu não goste daquele youtuber e diga que ele é horrível, há sempre ‘porquês” para explorar. Mas tu gostas dele porquê? Quais são os argumentos para dizeres isso? Como é que achas que se sente a pessoa que está a ser gozada nessa situação?”, explica o conselheiro de Educação.

A 9 year old child gets digital school lessons at home with

Até uma conversa sobre um youtuber pode ajudar o jovem a desenvolver o pensamento crítico

SOPA Images/LightRocket via Gett

5) Conversa pode ser substituída pelo faz-de-conta com os mais novos

Se o tipo de conversa anterior pode funcionar com crianças a partir de uma certa idade, Rodrigo Queiroz e Melo propõe que se use o jogo simbólico com os mais pequenos — o chamado faz-de-conta — “a propósito de tudo”.

“Se a criança de três anos atira com tudo ao chão, podemos aproveitar para dizer: ‘Coitado do copo. O que achas que ele sentiu?’ Isto vai ajudá-los a expressarem-se e, nós, pais, podemos usar esses momentos também para partilhar o que sentimos sobre o confinamento, por exemplo”, diz o conselheiro de Educação.

6) Ouvir a criança, detetar problemas, ajudar a encontrar soluções

“Nós, adultos, fazemos muitas assunções e nem sempre temos um conhecimento assim tão grande de como as crianças se sentem. Para saber o que se passa, precisamos de ouvir a criança”, defende Célia Oliveira. Pôr um jovem a desabafar nem sempre é tarefa fácil, mas ajuda se os pais se mostrarem disponíveis para ouvir quando a criança precisa, defende a investigadora.

Sofia Ramalho concorda. “Os pais têm de se mostrar presentes, para que as crianças sintam que eles estão ali, que podem falar com eles. Saber que podem contar com os pais traz uma segurança enorme às crianças”, defende a vice-presidente da Ordem dos Psicólogos.

Mas ouvir a criança pode ajudar a recuperar nas aprendizagens? Para além de outros benefícios emocionais, os pais podem saber, de facto, o que preocupa o filho e em que matérias ele sente ter mais dificuldades na escola. A partir daqui, podem ajudar a definir prioridades de estudo, por exemplo.

Sofia Ramalho deixa um aviso: os adultos têm tendência a desvalorizar ou a olhar com condescendência para os problemas das crianças e isso deve ser evitado. “Se eu digo que vai ficar tudo bem, isso não é coerente com o que elas estão a sentir. Os pais devem ser capazes de validar os sentimentos negativos e dar atenção àquilo que as crianças estão a sentir, sem desvalorizar esses sentimentos.”

Na prática, isso passa por dizer, por exemplo, que é natural que a criança se sinta irritada face à pandemia, que é normal estar com dificuldade em retomar os conteúdos da escola ou estar zangado por o pai estar desempregado. Ser direto a abordar esses temas dá conforto emocional à criança, a catarse acontece e torna-se possível, em conjunto com o adulto, identificar soluções. “Se não houver verbalização, não se sabe o que está a passar.”

Célia Oliveira lembra que estas conversas têm também um efeito apaziguador. “O apoio emocional é das mais importantes funções da família, e para isso é preciso ouvir a criança”, diz. Antes, os pais têm de cuidar da sua própria dimensão emocional, da mesma forma que num avião, em caso de acidente, o adulto deve pôr a sua máscara de oxigénio antes de ajudar a criança. “Os pais têm de encontrar meios para o autocuidado, encontrar fontes de satisfação, para poderem ajudar os filhos.”

Estas conversas têm ainda mais uma função — a de transmitir expectativas positivas sobre a escola e desmontar algumas ideias erradas que possam existir. “Nos mais crescidos, na adolescência, muitas vezes surgem crenças e expectativas negativas que influenciam o sucesso e que os pais podem ajudar a desconstruir. Por exemplo, o sentido de auto-eficácia, que significa o quão competente eu penso que sou naquela tarefa. Se um jovem considera que não é competente, desinveste e evita essa matéria ou disciplina”, defende Célia Oliveira.

O papel dos pais é ajudar a identificar essas crenças erradas e avaliar possibilidades de resolução. “A ajuda que podem dar é a modificar esse fatalismo e a perceber as reais dificuldades e como se pode recuperar delas”, explica. Nessa fase, é fundamental o diálogo dos encarregados de educação com a escola para encontrar o apoio certo para o aluno, dentro dos recursos do estabelecimento de ensino: “Entram os professores e saem os pais. Mas para chegarmos aqui é preciso que os pais não se isolem.”

7) Desenhar, dançar e fazer teatros

Quando as conversas anteriores não funcionam, podem ser substituídas por outros meios de expressão.

“Qualquer forma de expressão, seja artística como o desenho, a expressão motora, como a dança, seja a expressão dramática, como o teatro, pode ser muito útil e importante para exteriorizar emoções e fazer um pouco a catarse das tensões emocionais acumuladas”, explica Sofia Ramalho.

Children Maintain Social Distancing at Earlham Primary School

Qualquer forma de expressão artística é importante. Desenhar, por exemplo, estimula a atividade do cérebro e a criatividade

Getty Images

8) Brincar com os números, as letras e abusar dos jogos de tabuleiro

A psicóloga Sofia Ramalho lembra que “há tarefas lúdicas que substituem algumas competências adquiridas pela via formal” da aprendizagem e a que os pais podem recorrer. Um jogo de xadrez, por exemplo, desenvolve habilidades como a memória, a concentração, a perceção espacial ou a tomada de decisões.

“Jogar à forca, ou ao Scrabble, estimula competências na área da linguagem. A batalha naval estimula competências de numeracia. Há vários jogos que estimulam as crianças de uma forma informal e que até podem aproximar mais os filhos dos pais”, acrescenta a psicóloga.

Também na cozinha se pode encontrar exemplos. “Quando estamos a cozinhar, a seguir uma receita, estamos a trabalhar a leitura”, diz Júlia Serpa Pimentel. Ao seguirmos as indicações, ao pesar ingredientes ou ao dobrar uma receita de bolachas, há treino matemático envolvido. “Até fazer a lista dos alimentos que temos em casa, ver quantos latas temos de qualquer coisa, fazer a lista de quantas é preciso comprar… Tudo isto ajuda a desenvolver competências, sem que as crianças se apercebam de que o estão a fazer.”

9) Ajudar a organizar o tempo e o espaço de estudo

Para muitos jovens, durante o confinamento, a gestão do tempo é o mais complicado e ficam perdidos sem saber por onde começar quando têm cinco ou seis trabalhos para entregar. Aqui, a ajuda dos pais pode ser fundamental.

“Trata-se de um verdadeiro apoio à aprendizagem: ajudar as crianças a organizar o seu espaço para estudar, as tarefas que tem de fazer, a organizar prioridades. Os alunos estão a receber muitos trabalhos por via de plataformas, às vezes várias, e são obrigados a conjugar tudo isto”, diz Sofia Ramalho.

As crianças podem ficar assoberbadas e os pais podem ajudá-las a estabelecer prioridades e objetivos. A conversa — como já foi apontado antes — é fundamental para identificar onde é que a criança pensa que vai ter mais dificuldade e, a partir daí, criar uma estratégia. “Deve-se começar o estudo por aquelas matérias em que o jovem perceciona que vai ter mais dificuldades, porque no início do estudo é quando tem mais foco.”

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Ajudar a criança a gerir o tempo e a definir prioridades é uma das principais ajudas que os pais podem dar durante um confinamento

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10) Estimular a autonomia

A vida em tempo de pandemia levou a que muitos estudantes tivessem de desenvolver maior autonomia. E estimular essa competência é importante.

“Por exemplo, podemos dizer à criança que, primeiro, faz tudo sozinha e só no fim é que vem mostrar para ter apoio. Por outro lado, os pais podem não ter a solução para alguns problemas. Também é importante estimular as crianças para que exponham as suas dúvidas ao professor”, defende Sofia Ramalho, explicando que não se devem habituar a receber a informação de forma passiva.

Estimular a autonomia também pode ser sinónimo de entregar trabalhos de casa que não estão perfeitos. “Há pais que pensam que os TPC têm de ser entregues impecáveis, com tudo bem feito. Se assim for, como é que o professor, quando corrigir, vai saber onde é que o aluno teve dificuldades?”, conclui a psicóloga. E só sabendo isso os professores podem fazer a sua parte e garantir que as aprendizagens não saem prejudicadas.

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