A Operação Lava Jato iniciou-se em março de 2014 para investigar um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras. Desde então, já foram instauradas 27 fases que averiguam um círculo de troca de favores entre a empresa, detentores de cargos públicos, partidos e construtoras. E sem data para terminar.
A divulgação dos Panama Papers, realizada no passado domingo pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung, e partilhada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI), aumentou o “poder de fogo” da investigação, ao revelar a existência de pelo menos 107 empresas offshore ligadas a 57 pessoas ou empresas investigadas pela justiça brasileira e desconhecidas da Polícia Federal do país. Em comum, a participação da Mossack Fonseca, responsável pelas informações divulgadas nos documentos sobre os crimes cometidos em paraísos fiscais.
Os documentos apontam ainda o nome de políticos ou de familiares de políticos que pertencem ou pertenciam aos partidos PP e PSD (aliados do governo Dilma Rousseff), PMDB (que recentemente rompeu com a presidente), PSDB (maior partido da oposição), além do PDT, PSB e PTB.
Com este ponto de partida, o jornal Estado de S. Paulo, o site UOL e o canal de televisão Rede TV, responsáveis no Brasil pelas investigações dos Panama Papers, cruzaram as informações com os relatórios de todas as fases da Operação Lava Jato para descobrir novas pistas sobre as investigações de políticos e empresas envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras.
A verificação de nomes foi exaustiva. Incluiu a presidente do país e os seus antecessores, ministros atuais e ex-juízes do Superior Tribunal Federal, candidatos a governador e à presidência do Brasil, 513 deputados federais, 81 senadores, 1.061 deputados estaduais e 424 vereadores das 10 maiores cidades brasileiras. A investigação também procurou o nome de familiares de detentores de cargos públicos.
A investigação apurava se a empresa do Panamá teria aberto offshores para esconder a propriedade de apartamentos de luxo em Guarujá, na cidade de São Paulo, pertencentes à Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) e que, em 2009, foram assumidos pela OAS, segundo descreve o site G1.
Lula da Silva, detido para prestar depoimentos à Polícia Federal na 24.ª fase da Lava Jato, não aparece nos Panama Papers, apesar de a justiça brasileira estar a investigar alegados pagamentos recebidos de desvios da Petrobras por meio da “destinação e reforma de um apartamento triplex” — como está escrito no comunicado da Polícia federal — na cidade de Guarujá.
O Observador recuperou os resultados das investigações realizadas pelos meios de comunicação brasileiros no âmbito dos Panama Papers, divulgados até ao momento, e apresenta em nove gráficos as relações entre a maior fuga de informação massiva da história e a maior investigação a um caso de corrupção no Brasil.
É de salientar ainda que a lei brasileira permite a qualquer cidadão ter uma empresa num paraíso fiscal, desde que obedeça a duas condições, apontadas pelo site UOL: a operação tem de ser registada no IRS do proprietário e o Banco Central do país tem de ser informado sobre o envio de recursos para o estrangeiro em casos que superem um determinado valor.
Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados do Brasil
Envolvimento na Operação Lava Jato
Eduardo Cunha é réu da Operação Lava Jato, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no esquema de desvio de recursos da Petrobras. O Supremo Tribunal Federal do Brasil acolheu o processo no último mês de março.
O que revelam os Panama Papers
Ricardo Pernambuco, proprietário da construtora Carioca Engenharia, fez uma “delação premiada” à Polícia Federal do Brasil em que afirma que Eduardo Cunha cobrou luvas de 618,3 mil euros para aplicar recursos públicos para as obras do projeto Porto Maravilha, no qual participa a empresa de Pernambuco.
Segundo relata o jornal Estado de S. Paulo, o dinheiro foi depositado em parcelas, entre fevereiro e agosto de 2012, numa conta no banco suíço BSI, em nome da empresa Penbur Holdings, que pertenceria ao presidente da Câmara dos Deputados do Brasil. Os documentos da Mossack Fonseca apontam que a Penbur Holdings foi aberta em setembro de 2011, meses antes do primeiro pagamento.
No entanto, a identidade de Eduardo Cunha não aparece no documento de abertura da conta. O papel indica que os diretores da Penbur são Jose Melendez e Yenny Martinez, alegados funcionários da Mossack Fonseca, que estarão a proteger a identidade dos verdadeiros proprietários da empresa. O jornal descreve ainda que, no documento de abertura da conta, o campo indicativo de quem é o beneficiário final foi deixado em branco.
O que disse Eduardo Cunha
“O presidente Eduardo Cunha desmente, com veemência, estas informações. O presidente não conhece esta pessoa [David Muino, intermediador de negócios investigados pela Operação Lava Jato] e desafia qualquer um a provar que tem relação com companhia offshore”, afirmou a assessoria de imprensa do deputado, através de uma nota à imprensa.
O político também se manifestou na sua conta no Twitter:
Para deixar bem claro,não tenho qualquer relação,direta ou indireta com a tal offshore,não conheço e nem nunca soube quem é o tal banqueiro
— Eduardo Cunha (@DepEduardoCunha) April 3, 2016
Além do que,nunca conheci e nem sabia da existência da tal Mossak
— Eduardo Cunha (@DepEduardoCunha) April 3, 2016
https://twitter.com/DepEduardoCunha/status/716775602116816897
Edison Lobão, senador
Envolvimento na Operação Lava Jato
Edison Lobão foi ministro de Minas e Energia do Brasil de janeiro de 2008 até março de 2010 no governo Lula da Silva e permaneceu no cargo durante todo o primeiro mandato de Dilma Rousseff, de 2011 a 2014. Atualmente, é senador pelo partido PMDB.
Edison Lobão é investigado pelo Supremo Tribunal Federal por alegadas doações recebidas de empresas relacionadas na Operação Lava Jato.
O que revelam os Panama Papers
O ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró, condenado pela justiça brasileira por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no contexto da Operação Lava Jato, fez uma “delação premiada” em que afirmava ter recebido ordens para não “atrapalhar” um investimento do Petros, fundo de pensão da Petrobrás, no banco BVA.
Segundo descreve o jornal Estado de S. Paulo a partir dos Panama Papers, o BVA pertence a José Augusto Ferreira dos Santos, amigo do senador. Ferreira dos Santos abriu a offshore Stingdale Holdings Inc em sociedade com João Augusto Rezende Henriques, considerado pela justiça brasileira o lobista do PMDB na Operação Lava Jato. Uma das acusações paralelas que recai sobre Henriques diz respeito a luvas pagas a Eduardo Cunha, num campo de petróleo no Benim, com o envolvimento do empresário português Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira.
Segundo explica o jornalista Fernando Rodrigues, do site UOL, a empresa foi aberta pela Mossack Fonseca e terá sido usada para movimentar uma conta no banco suíço BSI. O intermediário da offshore é David Muino, que se apresenta nas redes sociais como vice-presidente do banco BSI, da Suíça, diz o Estado de S. Paulo. Muino também terá atuado na abertura de outras empresas offshore atribuídas a Rezende Henriques e Eduardo Cunha.
O que disse Edison Lobão
O site UOL relata que entrou em contato com António Carlos de Almeida Castro, advogado de Edison Lobão, que preferiu não comentar o assunto. Fez apenas um lembrete ao dizer que o senador não foi acusado de possuir qualquer empresa offshore ou conta no estrangeiro.
Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira, empresário português
Envolvimento na Operação Lava Jato
Idalécio está a ser investigado pela Polícia Federal brasileira no âmbito da Operação Lava Jato por lavagem de dinheiro.
O que revelam os Panama Papers
Segundo revela o Estado de S. Paulo, Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira constituiu uma empresa chamada Lusitania Petroleum Holding Limited nas Ilhas Virgens Britânicas, no dia 19 de julho de 2010. Em 2011, uma empresa subsidiária da Lusitania vendeu à Petrobras 50% dos direitos de exploração de um campo de petróleo no Benim, país localizado no oeste do continente africano.
Os Panama Papers apontam que Idalécio terá aberto ou transferido para a Mossack Fonseca 14 empresas offshores, sendo 12 delas resultado de operações conduzidas meses antes de realizar a venda à Petrobras, descreve o site UOL. Aparece como sócio destas transições Paulo Guilherme Galiere Rodrigues de Oliveira, presidente da Lusitania Geosciences S.A. A empresa, sediada no Rio de Janeiro, foi criada em julho de 2011 e será o braço direito do empresário português.
O jornal O Globo relata num artigo publicado em setembro de 2015 que Idalécio Rodrigues realizou a venda do campo de petróleo em sociedade com João Augusto Rezende Henriques, apontado como lobista do partido PMDB na Operação Lava Jato.
A justiça brasileira referiu num relatório em maio de 2011 que o empresário terá transferido 8,8 milhões de euros para uma conta na Suíça mantida por Rezende Henriques. A operação terá sido feita eletronicamente através da Acona International Investments Limited, empresa registada pela Mossack Fonseca, em 2010, nas ilhas Seychelles.
Segundo descreve o jornal Estado de S. Paulo, Rezende Henriques terá ainda transferido 1,5 milhões de dólares para outra conta bancária na Suíça, que pertenceria a Eduardo Cunha. Desta maneira, Idalécio Rodrigues passou a ser investigado pela justiça brasileira por pagar luvas ao presidente da Câmara dos Deputados do Brasil.
É de salientar que a compra do campo de petróleo pela Petrobras resultou em prejuízo: a empresa estatal brasileira terá investido cerca de 57,9 milhões de euros no negócio sem que fosse encontrado petróleo no campo marítimo.
O que dizem os envolvidos
Petros: “A Petros esclarece que nunca investiu diretamente no BVA, mas sim em fundos que eram geridos pelo banco e que, após a sua liquidação, foram transferidos para outros gestores. A Fundação já recebeu parte significativa do total investido em títulos privados estruturados pelo BVA e está na Justiça buscando o restante”, esclareceu em nota divulgada à imprensa.
Já a Petrobras confirmou pela sua assessoria de imprensa que “adquiriu 50% de participação de um bloco pertencente à Lusitania com a expectativa de encontrar óleo leve, reproduzindo descobertas realizadas em atividades exploratórias em África. Entretanto, as perfurações feitas entre 2013 e 2014 foram encerradas ‘com poço seco’, o que foi determinante para a saída da empresa do consórcio de exploração”, disse em citação do site UOL.
Por sua vez, nenhum dos meios de comunicação brasileiros envolvidos na investigação dos Panama Papers conseguiu localizar Idalécio Rodrigues para comentar o assunto.
Queiroz Galvão, construtora
Envolvimento na Operação Lava Jato
Segundo a revista Época, a Queiroz Galvão foi a construtora investigada pela Operação Lava Jato que mais recebeu dinheiro público em 2015 — 97,2 milhões de euros.
Na 7.ª etapa da Operação Lava Jato, a Queiroz Galvão passou a ser investigada por formação de cartel e desvios de recursos para corrupção provenientes da Petrobras. A 11 de dezembro de 2014, a justiça brasileira denunciou Dario de Queiroz Galvão Filho — que preside à holding Galvão Participações — e Eduardo de Queiroz Galvão — membro do conselho de administração da holding — por crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e formação de organização criminosa, ocorridos entre 2004 a 2014.
A 2 de dezembro de 2015, Dario de Queiroz Galvão foi condenado a 13 anos e 2 meses de prisão por corrupção ativa, lavagem de dinheiro, associação criminosa. Já Eduardo de Queiroz Galvão foi absolvido por falta de provas.
O que disseram os Panama Papers
Carlos de Queiroz Galvão é sócio-controlador da construtora Queiroz Galvão. Segundo os Panama Papers, terá usado a Mossack Fonseca para abrir uma conta fora do Brasil em junho de 2014, além de ter comprado duas empresas offshore.
A operação aconteceu meses após a prisão do doleiro Alberto Yousseff na primeira fase da Operação Lava Jato por corrupção passiva da Petrobras, segundo recorda o jornal Estado de S. Paulo.
Emails recuperados pela justiça brasileira em abril de 2014 relatam que o doleiro intermediava doações para políticos dos partidos PP e do PMDB através da empresa Queiroz Galvão.
Numa outra linha paralela de investigação, uma minuta encontrada na Mossack Fonseca revela que a construtora avaliou pagar uma espécie de taxa de “consultoria” equivalente a 3% de uma comissão para obter o contrato de um projeto de irrigação do Vale de Quíbor, na Venezuela. No entanto, como o papel revelado na investigação não está assinado, não é possível concluir se a transação foi efetivada ou não, lembra o site UOL.
O que disseram os envolvidos
Em nota enviada à imprensa, Carlos de Queiroz Galvão negou ser “executivo” da construtora ou desempenhar “qualquer papel na administração do Grupo Queiroz Galvão” e afirmou que as suas empresas estão “devidamente declaradas aos órgãos competentes” e que foram utilizadas para “comprar um imóvel no exterior”.
Sobre o contrato com o governo venezuelano, a construtora Queiroz Galvão negou por comunicado à imprensa ter realizado “pagamento ilícito nas obras na Venezuela”, mas não comentou a legitimidade ou não do documento, aponta o UOL.
Odebrecht, construtora
Envolvimento na Operação Lava Jato
A Odebrecht está no radar da Operação Lava Jato desde a 14.ª fase da operação, iniciada em junho de 2015. Na altura, Marcelo Odebrecht, presidente da empresa, foi detido em caráter preventivo.
Na 23.ª fase da investigação, a Odebrecht foi investigada pelo financiamento de obras do Instituto Lula.
A 8 de março de 2016, Marcelo Odebrecht foi condenado a 19 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa relacionados com a Petrobras.
A 22 de março de 2016, a Odebrecht anunciou que todos os executivos da empresa concordaram em celebrar um acordo com a justiça brasileira com vista a colaborarem nas investigações através de informações que detenham para, em contrapartida, usufruírem de uma redução de pena. “As avaliações e reflexões levadas a efeito por nossos acionistas e executivos levaram a Odebrecht a decidir por uma colaboração definitiva com as investigações da Operação ‘Lava Jato’”, adiantou a construtora.
O que revelam os Panama Papers
Segundo as investigações conduzidas pelos meios de comunicação brasileiros, o ex-diretor da construtora Odebrecht, Luiz Eduardo da Rocha Soares, era responsável pelo controlo de offshores utilizadas pela empresa. A construtora terá utilizado os serviços da Mossack Fonseca para abrir as offshores Davos Holdings Group, Crystal Research Services Pesquisa e Salmet Trade Corp. As três empresas eram desconhecidas pela Operação Lava Jato.
A Salmet Trade Corp é controlada por Olívio Rodrigues Júnior, proprietário da Graco Assessoria e Consultoria Financeira — empresa alvo da 23.ª fase da Operação Lava Jato. Esta etapa tinha como objetivo apurar alegadas luvas pagas pela Odebrecht ao publicitário João Santana, responsável pela campanha eleitoral de Dilma Rousseff. A suspeita é que João Santana tenha recebido dinheiro proveniente de desvios da Petrobras através de pagamentos realizados fora do Brasil. Um destes pagamentos terá sido feito pela Odebrecht no valor de 1,7 milhões de euros.
As três empresas abertas pela Mossack Fonseca foram usadas para abrir contas no banco PKB, na Suíça. De acordo com o jornal Estado de S. Paulo, registos da Lava Jato indicam que Luiz Eduardo foi pelo menos 23 vezes ao Panamá e que, neste momento, encontra-se em fuga.
O que disse a Odebrecht
Segundo escreve o site UOL, a Odebrecht foi contactada através da sua assessoria de imprensa, mas optou por não se pronunciar sobre as empresas offshores descobertas no âmbito dos Panama Papers.
Banco Schahin
Envolvimento na Operação Lava Jato
O Ministério Público Federal começou a investigar o Banco Schahin a partir de dezembro de 2015, quando apresentou uma denúncia contra o empresário e amigo e Lula da Silva, José Carlos Bumlai, e outras 10 pessoas por crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção ativa e passiva. Entre os réus do processo estão Salim Taufic Schahin, Milton Taufic Schahin e Fernando Schahin, diretores do Grupo Schahin.
Segundo explica o jornal Folha de S. Paulo, a denúncia diz respeito a um esquema de corrupção para escolha da Schahin Engenharia para o contrato de operação do navio-sonda “Vitória 10.000” pela Petrobras em 2009.
Na 27º fase da Operação Lava Jato, a invesigação foi aprofundada a partir de novas provas que demonstram que Jose Carlos Bumlai fez um empréstimo fraudulento junto ao Banco Schahin em outubro de 2004 no valor de 2,8 milhões de euros para pagar uma dívida do PT. A operação terá sido realizada através da contratação fraudulenta da Schahin como operadora do navio-sonda.
O que dizem os Panama Papers
Carlos Eduardo Schahin foi presidente do antigo Banco Schahin, vendido em 2011 ao banco BMG. O empresário é sobrinho de Milton Schahin, presidente do grupo Schahin. O jornal Estado de S. Paulo relata que Carlos Schahin foi condenado em 2014 em 1º instância a quatro anos de prisão por ter mantido uma offshore não declarada, chamada Hodge Hall Investments.
Os Panama Papers revelam que Carlos Schahin adquiriu ainda outra offshore, a Lardner Investments Ltd, em setembro de 1996. Entre os sócios desta offshore, encontram-se Eugênio Bergamo, Robert Van Dijk e Teruo Hyai, ex-diretores do Banco Schahin.
O que disseram os envolvidos
O site UOL afirma que procurou Carlos Eduardo Schahin através do seu escritório de advocacia, mas não obteve resposta.
Já o Banco BMG, responsável por comprar o Banco Schahin, divulgou à imprensa uma nota em que diz não querer comentar o caso. “O Banco BMG informa que a aquisição do Banco Schahin ocorreu em agosto de 2011 e os fatos narrados foram em data anterior à aquisição, não podendo, assim, se manifestar a respeito”, diz em citação do UOL.
Mendes Júnior, construtora
Envolvimento na Operação Lava Jato
Em 16 de dezembro de 2014, o juiz federal Sérgio Moro aceitou duas denúncias contra onzes suspeitos num esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, entre os quais diretores da construtora Mendes Júnior. Segundo explica o site G1, eles eram suspeitos de “formação de cartel, frustração à licitação, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, evasão fraudulenta de divisas, uso de documento falso e sonegação de tributos federais”.
A 29 de maio de 2015, a justiça brasileira determinou o bloqueio de cerca de 33 milhões de euros da construtora e de seus executivos, como Sergio Cunha Mendes, ex-vice-presidente, e Ângelo Alves Mendes, ex-vice-presidente corporativo. O objetivo era garantir o ressarcimento de dinheiro desviado da Petrobras, noticiou na altura o jornal O Globo.
O que dizem os Panama Papers
O jornal Estado de S. Paulo relata que a Mossack Fonseca abriu a empresa offshore Lanite Development em janeiro de 1997, nas Bahamas. Após um ano da sua abertura, a empresa foi adquirida por Jésus Murilo Vale Mendes, Ângelo Marcus de Lima Cota e Jefferson Eustáquio, diretor-presidente, diretor financeiro e superintendente, respectivamente, da construtora Mendes Júnior.
O que diz a Mendes Júnior
Ouvida pelo site UOL, a assessoria da Mendes Júnior afirmou que a Development Ltd foi constituída como parte do “planejamento de retomada da internacionalização da Mendes Júnior” e que está registada nos “órgãos competentes”.
“A Lanite Development Ltd foi constituída em 1997 como parte do planejamento de retomada da internacionalização da Mendes Júnior. Com o não prosseguimento do projeto de retomada das atividades da Mendes Júnior no exterior, a empresa ficou inoperante, assim permanecendo até a presente data, estando registrada nos órgãos competentes. Jésus Murillo Mendes e Ângelo Alves Mendes não são acionistas da Lanite Development Ltd, exercendo apenas o cargo de administradores”, assegura.
Renan Calheiros, presidente do Senado brasileiro (participação indireta)
Envolvimento na Operação Lava Jato
O presidente do Senado brasileiro, Renan Calheiros, teve a quebra do seu sigilo fiscal e bancário aprovada pelo Supremo Tribunal Federal em dezembro de 2015, na sequência de suspeitas sobre o seu envolvimento em fraudes na contratação, em 2010, do consórcio Estaleiro Rio Tietê pela empresa Transpetro, subsidiária da Petrobras. Segundo conta o jornal O Globo, a partir de relatórios do Ministério Público brasileiro, Renan Calheiros indicou o então presidente da Transpetro, Sérgio Machado, para o cargo e, desta maneira, exercia influência nas atividades da empresa.
Desde então, já foram abertos sete inquéritos para apurar a participação do presidente do Senado no esquema de corrupção da Petrobras. O último, datado de março deste ano, foi requerido pela Procuradoria-Geral da República, a partir da “delação premiada” de Carlos Alexandre de Souza Rocha, que teria feito um repasse “de forma oculta e disfarçada, de vantagem pecuniária indevida ao parlamentar”, noticia o G1.
O nome de Renan Calheiros também foi citado no âmbito da Operação Lava Jato durante a “delação premiada” do senador Delcídio do Amaral, em março de 2016. Ele afirmou que o presidente do Senado, entre outros políticos da alta esfera política, tinha conhecimento do esquema de corrupção que envolvia construtoras, governo e a Petrobras.
O que dizem os Panama Papers
Segundo as investigações dos meios de comunicação envolvidos nos Panama Papers, a participação de Renan Calheiros no esquema de lavagem de dinheiro via offshores foi indireta e ainda não passível de investigação.
Tudo começa a partir do empresário Milton de Oliveira Lyra Filho, investigado pela Polícia Federal do Brasil por participar em operações de lavagem de dinheiro relacionadas a Postalis, Instituto de Seguridade Social dos Correios e Telegrafos. Ele é considerado o lobista de Renan Calheiros há dez anos. Segundo descreve a revista IstoÉ, a boa relação de Lyra Filho com o PMDB aproximou-o do presidente do Senado.
O jornal Estado de S. Paulo relata que Lyra Filho é beneficiário da offshore Venilson Corp, aberta em fevereiro de 2013 no Panamá. A empresa, não declarada à justiça brasileira, foi utilizada com o objetivo de abrir uma conta numa agência do banco UBS, na Alemanha. A instituição alemã, no entanto, encerrou relações com Lyra Filho dois meses depois, na sequência de uma tentativa de movimentar “uma alta quantia pela conta sem que estivesse esclarecida a origem do dinheiro”, descreve a publicação. É de salientar que o nome de Renan Calheiros não aparece ligado à offshore na investigação realizada pelos meios de comunicação brasileiros.
Numa outra linha de investigação, o lobista de Renan Calheiros é citado num bilhete encontrado na casa de Diogo Ferreira, ex-chefe de gabinete de Delcídio de Amaral. Ele terá recebido uma luva no valor de 10,8 milhões de euros, apesar de a reportagem não especificar a origem e o destino do dinheiro.
O que dizem os envolvidos
Numa mensagem enviada por email, citada pelo UOL, Lyra Filho admite que não declarou a Venilson Corp, mas nega ter movimentado uma grande quantia de dinheiro na conta do banco USB. “A empresa Venilson foi aberta em 2013 e acabou nunca sendo utilizada. Integrava uma estrutura societária cuja empresa controladora foi declarada. A conta da Venilson foi encerrada ainda no ano de 2013”, disse. Sobre o encerramento da conta, declarou apenas: “Desconheço qualquer tentativa, ainda que eventual, de depósitos de terceiros nesta conta”.
Renan Calheiros não foi procurado pelos meios de comunicação para prestar esclarecimentos por não ter participação direta no esquema de corrupção revelado pelos Panama Papers.
Grupo Suzano
Envolvimento na Operação Lava Jato
Segundo noticiou o Estado de S. Paulo em março de 2015, os investigadores da Operação Lava Jato investigam se a Braskem, sociedade formal entre a Petrobrás e a Odebrecht, foi beneficiada na aquisição e incorporação da Suzano Petroquímica, que fazia parte do Grupo Suzano, em 2007. A empresa terá sido comprada por um valor três vezes maior que o avaliado na bolsa de valores de São Paulo, numa decisão unilateral do então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, de acordo com informações obtidas em “delações premiadas” pela Polícia Federal.
O que dizem os Panama Papers
As investigações apontam que o Grupo Suzano manteve quatro empresas abertas pela Mossack Fonseca, entre as quais se encontram a Infonet Incorporated e a Calcorp Inc. As duas empresas foram abertas na Bahamas em 2000 e eram “desconhecidas do público porque, segundo o grupo Suzano, estavam apenas declaradas ao Brasil”, explica a reportagem do site UOL.
A publicação relata ainda que a Infonet era controlada por Max Feffer, então presidente do Grupo Suzano, e pelos seus filhos Daniel, David, Jorge e Ruben. Max era o sócio majoritário da empresa.
Por outro lado, a Calcorp Inc pertence unicamente a David Ferrer, atual presidente do Grupo Suzano. O site brasileiro aponta que o capital autorizado da empresa multiplicou-se em 2009, saltando de 47,3 mil para 9,62 milhões de euros.
Conforme lembra o UOL, os integrantes da família Feffer não sofrem acusações da Operação Lava Jato. O que está em caso é compra da Suzano Petroquímica pela Petrobras, em 2007, e a relação com as offshores reveladas pelos Panama Papers.
O que dizem os envolvidos
Em comunicado divulgado à impresa, o Grupo Feffer, que controla o Grupo Suzano, afirmou que “entre 1993 e 2011, membros da família Feffer detiveram participação societária na Infonet Incorporated para investimentos no exterior. Até o ano de 2011, quando o investimento foi descontinuado, a participação foi informada nas respectivas Declarações de Ajuste Anual de Imposto de Renda e nas Declarações de Capitais Brasileiros do Banco Central do Brasil”, justificou.