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Mais uma voltinha, mais uma viagem. Mais uma noite eleitoral, a 16ª das Legislativas em democracia.
Convidei uns amigos cá para casa, cada um trouxe uma garrafa de vinho, uma caixa de salgados e uma televisão. E assim, consegui acompanhar esta maratona televisiva nos três canais generalistas portugueses.
O mais extraordinário da noite foi que nestas eleições, as tais que prometiam os resultados mais inesperados de sempre, aconteceu exatamente aquilo que toda a gente estava à espera. Nenhum partido conseguiu ultrapassar a abstenção. O PS ganhou sem a maioria absoluta que tanto queria. O PSD levou um ensaio de pancada. O Bloco ganhou com a participação na geringonça. O PCP perdeu com a participação na geringonça. O CDS voltou ao táxi, mas com outro motorista, que Cristas mandou parar e disse que ia ficar já aqui. O PAN agora enche um táxi. E temos três novos partidos no Parlamento. Dois deles, a Iniciativa Liberal e o Livre, com deputados cuja gaguez foi tema de muita conversa durante a campanha, como se não estivéssemos em 2019. O outro, o Chega, marca a entrada da extrema-direita no Parlamento português, provando assim que, afinal de contas, não se abstiveram pessoas suficientes.
Mas eu de política não percebo nada. E disso, outros se cansarão de falar.
Vamos ao que interessa: os fatos, os vestidos, os cabelos e os acessórios.
E um ou outro discurso, claro.
As televisões
SIC
O cenário:
A SIC já nos habituou a cenários gigantes em noites eleitorais. O desta vez não desiludiu. Usaram imensa realidade virtual, ou lá como se chama, com o parlamento projetado atrás, à frente e ao lado dos pivôs. Tudo muito em tons de azul. Não posso, no entanto, deixar passar que reutilizaram a mesa do Jornal da Noite.
Os pivôs:
Rodrigo Guedes de Carvalho. Para esta noite, Rodrigo escolheu um fato cinzento-escuro, uma camisa branca e uma gravata verde-petróleo. Se, por um lado, trazia os flaps dos bolsos do casaco para fora, o que não adoro, por outro lado, tinha dos melhores nós de gravata da noite.
Sem óculos.
Clara de Sousa. Clara é uma jornalista que gosta de vestir sobriamente, não é como certas e determinadas colegas. Para esta noite, escolheu um vestido preto, com uma racha abaixo do joelho, nada escandalosa. Por cima, um blazer cinzento. Os saltos dos sapatos eram mais altos que os de uma hospedeira da TAP, mas mais baixos do que os de uma mulher de má nota. O cabelo estava bastante bonito. Não trazia mais joias que uns brincos discretos, creio que três pérolas, que o cabelo tapava bastante.
Óculos, de massa pretos, nem quadrados nem redondos, mas esteve quase sempre com eles na mão.
Bento Rodrigues. Bento escolheu um fato azul mais claro que o de Rodrigo. A gravata era de um azul-elétrico que não amei, mas nota positiva para o lenço branco na lapela.
Não arriscou nos óculos, que são os habituais.
Pedro Mourinho. No que diz respeito aos homens da SIC, Pedro foi o que trouxe o toque de maior modernidade. O fato era cinzento, a camisa branca, e a gravata da cor do fato, de nó fino.
Os óculos eram de massa.
Intérpretes de linguagem gestual:
Eram duas, uma loira, de camisola preta com blazer também preto, sem óculos. E outra morena, de casaco de malha preto e de óculos.
Comentadores políticos:
Ana Gomes. A deputada europeia veio de camisa larga branca, com uma das bandas em cetim amarelo desmaiado. Os brincos eram a puxar ao antigo e os óculos de aros de metal, ovais.
Marques Mendes. Nota negativa para o fato com ar péssimo, azul-IKEA, a camisa com colarinhos grandes demais para gravata fina demais, creio que azul-celeste com bolinhas num azul mais claro. Óculos de metal.
José Miguel Júdice. Arriscou pouco, com um fato cinzento muito escuro, quase preto, gravata azul-barracas sobre camisa branca com o último botão desapertado que deixava a gravata ligeiramente descaída. Nota positiva para a barba muito bem aparada. Sem óculos.
Francisco Louçã. Louçã é um incorrigível nestas coisas. Ou só tem mesmo uma muda de roupa, ou tem um guarda-fato cheio delas iguais, o que, convenhamos, venha o diabo e escolha. O mesmo casaco azul-Carris de sempre, a mesma camisa branca com riscas azuis, o colarinho sem botões. Os óculos eram de metal.
Comentadores da casa:
Bernardo Ferrão. Bernardo apresentou-se de fato azul-escuro, camisa branca com gravata de um azul que não sei o nome, com losangos. Trazia olheiras até ao chão, mas sem óculos.
RTP
Cenário:
A RTP não gosta de grandes escandaleiras, é sempre tudo em mais desmaiado. Para esta noite, apostaram nos verdes e amarelos, um bocado maçador, mas sem grandes palhaçadas. Também com um parlamento virtual, mas dos mais discretos. No tampo da mesa onde estavam sentados os seis comentadores, eram projetadas as caras dos deputados que iam sendo eleitos, tipo velório.
Os pivôs:
José Rodrigues dos Santos. Dos Santos trazia fato cinzento-escuro de três peças, talvez um pouco fora de estação. A camisa era branca e a gravata bordeaux com bolinhas brancas. Nota negativa para a ausência de lenço na lapela. Notei também um detalhe, as calças demasiado compridas, mas parece que é moda. Pelo menos, lá na casa dele. O cabelo, trazia-o bastante penteado para um dos lados, aquilo a que os ingleses chamam um combover. Sem óculos.
Ana Lourenço. Ana Lourenço podia ter vindo de bata, rolos no cabelo e um alguidar debaixo do braço com uma galinha lá dentro que estaria sempre bem. Há pessoas que nascem com esse dom. É o caso. Para esta noite, escolheu um fato preto de calças e casaco, com um top também preto rendado. Os sapatos tinham os saltos mais altos da noite. Pelo menos, daqueles que se veem. Sabemos lá se algum comentador mais moderno vinha de salto agulha, não é? Nota positiva para o cabelo liso e solto, os brincos que raramente apareceram e para o que fez com o eyeliner. Trazia na mão um tablet a fazer pendant com a roupa. Sem óculos.
José Adelino Faria. Fato de um azul que não é nem escuro nem claro, camisa branco-sujo, e a gravata mais arrojada da noite: às riscas em degradés de azuis, cinzentos e roxos. Não se esqueceu do lenço branco na lapela, e bem. Sem óculos.
Intérpretes de linguagem gestual:
Foram três, uma senhora de camisola escura, cabelo solto pelos ombros e pequeno colar de pedras (provavelmente nada de extraordinário no que diz respeito à gemeologia), mas não dá para ver bem naquele quadradinho; depois um homem de t-shirt preta; e, por fim, outra senhora de top preto de decote redondo, cabelo apanhado em cima e grande colar, dourado, mas não de ouro. Só se ela é milionária e faz aquilo como hobby.
Comentadores políticos:
João Galamba (PS). Moderno, mas sempre a roçar o desleixado, com blazer cinzento, de quadrados muito leves, quase impercetíveis, camisa branca e sem gravata. Como joias, uma argola na orelha esquerda. Sem óculos.
Nuno Melo (CDS). Inesperadamente informal, de blazer cinzento, e camisa branca sem gravata, tudo muito dentro do género do João Galamba. Sem óculos, mas é uma coisa a repensar, que semicerrava muito os olhos.
António Filipe (PCP). Veio em comunista-chique, de fato cinzento-escuro, camisa pérola e gravata encarnado-escuro, a fazer lembrar um garrafão de tintol. Nota para a única gravata da Esquerda. Óculos de metal.
Fernando Negrão (PSD). O conjunto não era aborrecido de todo, com fato azul-acinzentado, camisa verde-água, gravata de fantasia, com o que me pareceram ser pequenos caracóis. Óculos mais ou menos modernos, meio massa, meio metal.
Marisa Matias (Bloco de Esquerda). Se estavam a contar com a única mulher do painel para verem alta-costura, desenganem-se. Trazia um vestido verde-seco, informal, com decote em V. O cabelo estava liso e pouca pintura na cara, só uma sombra verde nos olhos — ou talvez olheiras — e um leve baton. No pulso, um elástico de prender o cabelo daqueles que parecem um fio de telefone antigo. Trazia uma joia, que ficou tapada pelos gráficos com os resultados das votações, o que foi uma pena. Mas pareceu-me um colar giro, daqueles grandalhões. Sem óculos.
Francisco Guerreiro (PAN). Onde André Silva veste roupa boa a fingir que é má, Francisco Guerreiro opta pelo contrário, pareceu-me. O blazer era de ganga, a camisa amarela e bastante amassada, e um brinco preto a atirar para o grandinho na orelha esquerda. Sem óculos.
Comentadores da casa:
Pedro Norton. Norton, não desfazendo, estava ótimo, de fato azul, camisa branca e gravata preta. Sem óculos.
Pedro Adão e Silva. O fato era azul, a camisa branca e a gravata azul-celeste com pintas, mas sem grande pinta, confesso, porque não adorei o nó. Óculos sem aros.
TVI
Cenário:
À partida, parecia uma central de camionagem com obras recentes, mas depois também puxaram pela realidade virtual, com o Parlamento em cinzento, e as caras dos deputados em gigante, o que às vezes dava um efeito algo assustador. Houve também uma recriação das bancadas parlamentares, mas tão grandes que José Alberto Carvalho, lá atrás, parecia estar numa banca a vender peixe.
Os pivôs:
José Alberto Carvalho. Veio de fato de três peças azul-escuro-claro, camisa branca, gravata azul-escuro com bolinhas, e lenço igual na lapela, o que é um faux pas, como toda a gente sabe. Menos ele, pelos vistos. Óculos de massa redondos.
Pedro Pinto. Pedro, sabendo como é o colega, não quis ficar atrás e escolheu um fato azul-escuro pinstripe, double breasted, que é quando uma aba se sobrepõe à outra, como se usava aqui há umas décadas valentes, e espero que não tenha voltado. A camisa era branca, a gravata azul-cueca, e o lenço da lapela branco. Vá lá.
Sem óculos.
Intérpretes de linguagem gestual:
A primeira de vestido azul-elétrico cruzado à frente formando um oito, o cabelo comprido solto, sem óculos; a segunda de blazer azul-escuro, com camisola do mesmo tom, cabelo comprido escadeado e óculos.
Comentadores:
Pedro Santos Guerreiro. Não inventou muito, mas também não desapontou. Fato cinzento-escuro, gravata verde-seco. Óculos quadrados cinzentos de massa.
Constança Cunha e Sá. Constança apresentou-se de top de seda branco, blazer preto com bandas curtas de cetim. Cabelo pelos ombros, levemente ondulados. Pequeno fio de ouro com pedra redonda grande demais para ser boa, mas suficientemente pequena para não ser péssima. Óculos pretos redondos e aros finos
Miguel Sousa Tavares. Sousa Tavares trouxe o melhor fato da noite, cinzento-escuro, uma camisa azul-claro com gravata verde-seco com bolas minúsculas. Notei que estava mais penteado que o costume. Sem óculos.
Sérgio Figueiredo. Blazer cinzento-escuro, camisa branca, não especialmente bem engomada. O cabelo estava penteado, mas com um ar selvagem. Registo que disse «perca», sem estar a falar de um peixe. Óculos de metal, sem aros.
Fernando Medina. Os presidentes de Câmara têm uns colares ótimos que Medina escolheu – e mal – não usar. Trouxe antes um simples fato azul-escuro e gravata azul-claro. Sem óculos
Manuela Ferreira Leite. Toda a gente em casa esperava ver pelo menos um tailleur esta noite, o de Ferreira Leite. Mas trocou-nos as voltas e veio de vestido preto com casaco branco a três quartos. Uma mise escadeada e umas pérolas que devem ser boas, porque anda sempre com as mesmas. Sem óculos.
Lobo Xavier. Eterno fashion victim, Lobo trouxe fato azul-escuro, camisa azul-claro, gravata cor-de-laranja com padrões, e lenço branco na lapela. Óculos de tartaruga clara (talvez das Seychelles) redondos.
Fernando Rosas. Blazer azul quiçá de ganga, com um botão na lapela e camisa azul-claro, sem gravata, como sempre. Óculos de metal.
Os discursos
CDS, Largo do Caldas, Lisboa
Assunção Cristas foi a primeira líder de partido a falar, logo às 21h05, e teve o discurso mais curto desta noite eleitoral. Trazia fato azul sobre t-shirt branca, sem joias. Atrás de si, várias pessoas com cara de enterro, como pertence, dadas as circunstâncias.
Saudou o PS e António Costa, falou um pouco do projeto do CDS, mas, percebendo que ninguém estava nem aí, seguiu logo para assumir a derrota, na verdade, o pior resultado do partido desde o célebre partido do táxi. E, vai daí, convocou um congresso antecipado e anunciou que não se iria recandidatar. Quase chorou, pareceu-me, mas logo se pôs a rir. Não respondeu a perguntas, mas desejou «boa noite e bom descanso» aos jornalistas. Uma pessoa deixa de ser líder do CDS e fica logo mais possidónia…
Sem óculos.
CDU, Hotel Vitória, Lisboa
Para uma noite com resultados péssimos para o seu partido, Jerónimo de Sousa, o segundo líder a discursar nesta noite, escolheu um fato cinzento-escuro, com o casaco aberto, camisa azul-claro, sem gravata, que era o que faltava. Falou bastante, mas não necessariamente do pior resultado de sempre, ou da perda de metade dos deputados, mas disse que iria esperar para ver o que o PS fará a seguir. Que isto o melhor é não fechar portas, nunca se sabe o dia de amanhã. Descansou o eleitorado, afirmando que irá continuar a lutar pelos direitos dos trabalhadores. Não fosse alguém pensar que Jerónimo se iria mudar para o Mónaco e mandar os trabalhadores todos à fava.
De caminho, disse que queria o salário mínimo nos 850 euros, não percebi a propósito de quê, e também se queixou da campanha de difamação contra o PCP. Esteve quase para dizer que o resultado não foi assim tão mau, mas parou a tempo, para se entristecer depois que os interesses dos trabalhadores tenham saído das eleições mais enfraquecidos. Mas a luta continua. Para rematar, explicou que quem não votou na CDU, foi porque não percebeu que o importante era fortalecer a coligação, mas deixou o aviso de que um dia irão perceber. Respondeu depois a perguntas de jornalistas, mas deu sempre a mesma resposta.
Sem óculos, o que é extraordinário para o mais velho dos líderes partidários.
Bloco, Teatro Thalia, Lisboa
A terceira força política a discursar foi o Bloco, por Catarina Martins, que exibia uma camisa branca com decote baixo, blazer preto, e colar de três voltas de pedras de cor de salmão, já muito visto durante toda a campanha. Trazia o cabelo um pouco acachapado, mas é normal, que já se sente uma certa humidade no ar.
Disse Catarina que o Bloco se consolidou como a terceira força política nacional. Tinha à sua volta uma data de gente bem contente, e ela também não estava pouco. Falou do papel do Bloco na derrota da Direita. E depois, fazendo-se ao piso, disse que está disposta a ajudar o PS, caso os socialistas não conseguissem maioria absoluta (que já toda a gente sabia que não tinham conseguido). Respondendo aos jornalistas, disse que não pondera sequer fazer parte do governo. E, depois disto, deitou-se a falar de umas maçadas específicas sobre as medidas que o Bloco irá defender no Parlamento, tipo anular a privatização dos CTT, e coisas assim. Porém, foi das poucas que falou da emergência climática. Foi-se embora a rir.
Sem óculos.
Iniciativa Liberal, algures em Lisboa
Pela Iniciativa Liberal, estreante no Parlamento, falou o líder Carlos Guimarães Pinto, de blazer preto, camisa azul da Zara, sem gravata. O cabelo penteado, mas a barba de uma semana.
Começou por dizer que se fez História, que pela primeira vez no século XXI, um partido com menos de dois anos conseguiu eleger um deputado à primeira. E parece que não é mentira. Disse depois qualquer coisa equivalente a que vai salvar a Pátria, e que finalmente vai dar qualquer coisa de jeito no Parlamento.
Os apoiantes mostraram que sabem soletrar, e bem, o nome do partido, gritando LI-BE-RÁ-LE, LI-BE-RÁ-LE, LI-BE-RÁ-LE!
Sem óculos.
PAN – Chega – Livre
Não, o PAN não chega livre. Tive foi de juntar estas três forças políticas eleitas ao Parlamento porque António Costa, quebrando a tradição de o vencedor ser o último a falar, quis despachar logo a coisa assim que o PSD falou. Ficaram prejudicados estes três partidos, que as emissões das televisões mandaram lixar, que já não passaram os seus discursos.
Sei dizer que André Silva vinha de camisa azul-petróleo (o que acho péssimo, tendo em conta as preocupações ambientalistas do PAN), jeans e um cinto que se não era de vaca, parecia.
Sei também dizer que Joacine Katar Moreira trazia um vestido preto e um lenço mostarda, mas sobre o que disse, tal como André Silva, terei de esperar por amanhã.
E imagino que André Ventura, que não cheguei a ver, venha com o seu habitual ar de azeiteiro, mas um azeiteiro feliz, agora que a extrema-direita fica pela primeira vez representada no Parlamento.
Nenhum deles de óculos.
PSD, Hotel Sana, Lisboa
Rui Rio, de fato escuro, camisa branca, gravata azul-claro com pintas azuis, um nó pouco bonito e cabelo à Santana Lopes, veio com um ar bastante lampeiro — numa das piores noites eleitorais do partido — dizer boa tarde, depois boa noite, saudar os portugueses que votaram, e dentro desses os que votaram no PSD. Depois, cumprimentou os adversários todos sem exceção, e sobretudo o PS e António Costa, a quem já tinha telefonado. Agradeceu também a todas as pessoas que participaram na campanha. Gritou pela Jota, saudou todos os cabeças de lista, alguns deles pelo nome, para ver se adiava um pouco ter de falar da derrota, pareceu-me.
Explicou que o PSD disputou as eleições num quadro difícil, externo e interno, a saber: externo, com uma situação económica internacional favorável ao PS, o surgimento de pequenos partidos à direita do PSD, e uma data de sondagens a dizer que não passariam dos 20%, com maioria absoluta para o PS, o que, segundo ele, desmotivou os eleitores sociais-democratas. Fartou-se de cascar na SIC e no Expresso, por causa das sondagens, mas mandou beijinhos à RTP. Quanto à parte interna, queixou-se das campanhas imensas contra o líder. Tudo muito a fazer lembrar Santana Lopes e o bebé e a água do banho. Também nos explicou a todos que nem a vitória do PS foi assim tão grande, nem a derrota do PSD foi assim tão significativa. Mas lá acabou por dizer que a culpa, se é de alguém, é dele.
Óculos de metal.
PS, Hotel Altis, Lisboa
O discurso da noite, nestas coisas, é sempre dos vencedores. Desta vez, coube a António Costa, que será primeiro-ministro pela segunda vez, depois de ter ganhado as eleições pela primeira.
Trazia um fato também azul-Carris, que não é o primeiro da noite, o casaco aberto, e uma camisa branca sem gravata.
Entrou com um grande sorriso, saudou portuguesas e portugueses, os que votaram e, uma originalidade, os que não votaram. Mas não deixou de cascar na abstenção.
Depois, mandou beijinhos a todos os candidatos de todos os outros partidos, e saudou a existência de mais alternativas do que é costume. E, por fim, agradeceu a quem votou no PS. Também que seria, não é?
Celebrou a vitória, o aumento dos deputados em todos os círculos eleitorais. Celebrou a maior derrota da Direita, palavras suas. E atribuiu-a à falta de propostas e ao pouco sucesso que têm entre os portugueses as campanhas baseadas em casos e em ataques pessoais. Mas não falou do velho dos óculos de sol. Concluiu que os portugueses gostaram da Geringonça, e querem outra Geringonça, mas com um PS mais forte. Para além deste piscar de olho ao PC e ao Bloco, que também já lhe tinham piscado o olho a ele nos seus respetivos discursos, abriu a porta ao PAN e ao Livre, cujos líderes os jornalistas não quiseram ouvir porque estava ele a falar. O que tem uma certa graça. Nomeadamente, nenhuma. Depois, falou das coisas importantes para o país: o ambiente, os jovens, a modernização das empresas. E a Europa.
Estava toda a gente muito animada na sala, o que não era para menos. Era interessante saber se foram todos apanhar uma grande bebedeira ou se foram antes dormir, estafados da campanha. Mas estas coisas nunca contam eles nas televisões…
Estava de óculos.