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MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

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A serenidade de Catarina, as dúvidas de Tiago e um pedido especial aos manequins: cinco horas nos bastidores do desfile da Nopin

O Observador acompanhou os bastidores do desfile da Nopin no 2.º dia do Portugal Fashion, onde a calma de Catarina Pinto, designer da marca, contrastou com as dúvidas e os contratempos habituais.

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Catarina Pinto tem 25 anos e cresceu entre os tecidos, as máquinas e os corredores da fábrica de confeção têxtil dos pais em Gondomar. Em 2006, Paula Novais e Alfredo Pinto criaram a Nopin, uma marca de vestuário para homem e mulher, mas foi a filha que deu continuidade ao sonho antigo da família.

“Em 2019 acabei o meu curso de moda na Escola Superior de Artes e Design e decidi pegar na marca, mantive o nome, que é a junção dos apelidos dos meus pais, mas alterei a oferta e toda a imagem”, explica a jovem criadora ao Observador. Em março estreou-se na passerelle principal do Portugal Fashion, onde regressou esta quinta-feira, já depois de em outubro ter participado no showroom Tranöi, em Paris.

Levar a indústria para a passerelle, juntado o lado mais comercial à moda de autor, é a premissa da Nopin, que faz dos têxteis portugueses o seu grande trunfo. Se na estação passada se inspirou na pintora surrealista Helene Meyer, desta vez o mote recaiu no trabalho de uma ilustradora de botânica, Mary Ann Scott, que “desenhava ilustrações em aguarela em livros cosidos em linho e algodão”. “Fiz estampados em linho a partir de imagens que vi no livro, no geral as peças são versáteis e confortáveis, têm muitas camadas e uma mistura de tecidos e texturas muito diferentes.”

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A manipulação e a utilização de materiais sustentáveis e ecológicos continuam a ser fundamentais no trabalho criativo de Catarina Pinto, que nesta coleção apresenta uma coleção “praticamente 100% reciclada e orgânica”. “O tule normalmente é feito em poliéster, mas o nosso é reciclado, há plissados inspirados na flor de tulipa que desenvolvemos de raiz, algodões orgânicos feitos em tear em Portugal, poliéster feito a partir de garrafas de plástico, linhos, lyocell e sedas.”

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Num total de 21 coordenados, a Nopin apresentou pela primeira vez três opções masculinas com os mesmos tecidos em cortes diferentes. “No futuro tencionamos apostar mais no universo masculino, mas também lançar calçado e uma linha de acessórios.” Atualmente a marca tem lojas físicas no Porto e em Braga, sendo que através do mercado online chega a países como a China, Canadá, Estados Unidos da América, ou Eslovénia.

11h30: uma sala despida e algum silêncio

Catarina Pinto chega à zona de bastidores da Alfândega do Porto acompanhada pela sua mãe, Paula, mas ainda não sabe exatamente onde é o seu camarim. Quase tudo ainda está a ser montado, incluindo os charriots de metal, ouvem-se cadeiras a serem arrastadas e uma coluna com música. “Vou só lá fora levantar algumas credenciais”, avisa.

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Quando regressa, traz caixas de cartão e vários sacos com sapatos de plataforma altos, meias de rede pretas e uma pilha de catálogos da marca. “A roupa chegará mais tarde”, partilha sorridente. Minutos depois, a mãe chega com a roupa embalada em cabides, Catarina desembrulha cada peça com calma e paciência, coloca-as penduradas nos charriots já montados e distribuídos pelas paredes falsas do camarim. “Ela é muito calma, às vezes fica nervosa só por estarmos nervosos ao pé dela”, sublinha Paula Novais, mãe de Catarina.

Ao mesmo tempo, um elemento da produção coloca as fotografias dos 21 manequins selecionados para o desfile nos mesmos charriots. “Há 12 coordenados que faltam aqui porque estão no showroom do Portugal Fashion nos armazéns da Marques Soares, tenho de ligar ao meu pai para se despachar a trazê-los”, desabafa Catarina, com o telemóvel colado a si. “Gosto de fazer tudo com tempo.”

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12h00: um stylist indeciso e um pedido repetido

Enérgico, bem-disposto e sem tempo para conversas paralelas, Tiago Miguel Andrade chega à zona de bastidores pronto para trabalhar e improvisar. “O styling também é improviso, meu amor”, diz à equipa de aderecistas que lentamente se começa a aproximar.

Depois de cumprimentar toda a gente, dá as últimas indicações a Paulo Almeida, responsável pela equipa de maquilhagem, e a José Carlos Taipa, coordenador da equipa de cabelos. “Quero muito brilho nos olhos e efeito molhado nos cabelos, um ar fun, entendes?”, diz Tiago a Catarina, enquanto aponta para várias fotografias com looks que servem de inspiração.

Os manequins aproximam-se do camarim, reconhecem a sua fotografia nos charriots e tocam na roupa escolhida com alguma curiosidade. Se uns perguntam se vão ter várias trocas durante o desfile, outros permanecem de headphones nos ouvidos, aparentemente descontraídos.

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Começam as provas da roupa, stylist e designer juntam-se para o período mais agitado e importante da preparação para o desfile. “Ainda faltam alguns coordenados que o meu pai ainda vem trazer”, avisa Catarina, já impaciente e a olhar para o relógio.

“Estes ombros estão perfeitos, gosto disto”

“Prefiro assim, dá mais estrutura ao look.”

“Este vestido está largo, temos outro?”

“Gostas mais deste vermelho ou verde?”

“As calças têm que ir por dentro das botas, o comprimento não é rissol nem é croquete”

“Posso abrir mais a tua camisa ou tens problema em mostra o peito?”

“Coloca as mãos nos bolsos, por favor, só para ver se resulta.”

Entre o habitual “veste e despe”, muitas indicações e algumas certezas absolutas, a grande dúvida da tarde recaiu sobre a escolha dos sapatos. “Preciso de um 39 ou de um 40, por favor”, foram os tamanhos mais pedidos durante largos minutos. Botas de cano alto ou de plataforma, com um ar punk e pinceladas de preto, vermelho, amarelo ou verde alface foram algumas opções disponíveis. “Estas ficam bem, porque quebra o look mais romântico e bonitinho.”

“Desfila para mim, mas anda devagar, não te esqueças de andar devagar.” Eis o pedido mais repetido por Tiago aos manequins na hora de verificar, da cabeça aos pés, todos os detalhes, contando logo de seguida com a aprovação de Catarina. “Isto dá tanto trabalho para 10 minutos lá fora, as pessoas têm que ver a roupa. Andem de vagar, por favor.” Se o look fosse aprovado, Tiago sorria e batia na mão do manequim. “Podes ir, está lindo.”

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À medida que o calçado era escolhido para cada roupa e para cada manequim, aderecistas fotografavam os looks completos para os poderem reproduzir horas depois e logo a seguir tinham uma outra missão nas mãos. “Estamos a forrar as solas dos sapatos com fita cola preta para os poder devolver a seguir. Este passo é bastante importante e minucioso”, desabafam sentados em cadeiras.

“Finalmente”, diz Catarina quando vê as peças que faltavam chegarem às suas mãos. “Agora tenho de ir espreitar o ensaio de dança”, diz apressada. Na sala onde irá decorrer o desfile, duas bailarinas ensaiam alguns passos de dança contemporânea para uma performance que irá abrir o desfile da Nopin.

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14h00: brilho demorado e uma alteração de última hora nos cabelos

Verde, roxo, azul ou laranja são alguns tons que irão imperar nos olhos dos manequins, os brilhos são colados com uma pinça, um a um, num trabalho minucioso e demorado. “Pesa um bocadinho na pálpebra”, diz uma das modelos quando se vê ao espelho. “É por pouco tempo”, brinca a colega do lado.

Na outra ponta da sala de bastidores, a equipa de cabelos tem algumas dúvidas no apanhado superior e na finalização com ganchos e laca. “A poupa devia ser feita de forma mais desconstruída, resulta melhor”, sugere Tiago e Catarina concorda. Mudam-se ligeiramente os planos do penteado e o trabalho continua a bom ritmo.

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Minutos depois das últimas indicações para a caracterização, a mãe da designer chega do bar e dá-lhe um lanche para comer conseguir qualquer coisa. Catarina não se senta, não bebe água nem café, mas agradece esta “espécie de almoço”, antes de ir cumprimentar algumas influencers que vão usar roupas da Nopin no desfile.

15h00: selfies, finalizações e a chamada par a fila

Com o estômago forrado, Catarina abre a caixa com os catálogos da marca e pede à organização e aos assistentes de sala que os coloquem nos lugares da sala de desfiles. “Vou só lá fora fazer uma visita técnica”, diz, enquanto vai verificar a música, a luz e a performance de dança, mais uma vez.

De regresso aos bastidores, Catarina troca as calças e a camisa preta por um vestido rosa forte da marca, mantendo as botas Dr. Martens nos pés. A mãe penteia-a lentamente, com carinho. “Está a aproximar-se a hora”, diz baixinho procurando não pressionar a filha, que se mantém calma e serena.

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“Sasha tens que ser a primeira, és a cara da campanha”, recorda Tiago na hora de vestir os manequins. Alguns elementos dos cabelos e da maquilhagem chegam para os retoques finais, com pincéis, gel, laca e creme Nívea nas mãos e nos bolsos. “Acelera o cabelo das bailarinas, por favor, são as primeiras a entrar”, pede Catarina.

O produtor já tem a lista com o nome dos 21 manequins nas mãos e começa a chamá-los para se ordenarem na fila, todos retificam o percurso a fazer na passerelle, posam para os fotógrafos e fazem algumas selfies. Catarina está atenta a tudo, prende os cintos de tecido que no look idealizado pelo stylist servem colares, dá um final toque nas meias pretas de rede de alguns coordenados e verifica os folhos de alguns vestidos nos ombros e nas costas. “Estou calma, está tudo como idealizei.”

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16h30: de olhos postos na televisão e as mãos a suar

A música soa na sala e começa o desfile. Catarina não tira os olhos do televisor que transmite a passerelle, tem as mãos a suar, mas permanece aparentemente tranquila. “Atenção, última volta”, ouve-se nos bastidores, segundos antes dos aplausos finais.

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Catarina sorri mais descontraída, arranja o cabelo e diz “obrigada” antes de sair em direção à sala. Regressa aos bastidores por pouco tempo, afinal, é na primeira fila que estão os amigos e a família à sua espera com abraços e ramos de flores.

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