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"Cerca de um quinto das emissões de dióxido de carbono emitido hoje continuará presente na atmosfera da Terra durante os próximos 10 mil anos", escreve Bill Gates no novo livro
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"Cerca de um quinto das emissões de dióxido de carbono emitido hoje continuará presente na atmosfera da Terra durante os próximos 10 mil anos", escreve Bill Gates no novo livro

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"Cerca de um quinto das emissões de dióxido de carbono emitido hoje continuará presente na atmosfera da Terra durante os próximos 10 mil anos", escreve Bill Gates no novo livro

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A urgência do "número zero" nos gases de efeito estufa, explicada por Bill Gates

Porque razão é tão necessária a "neutralidade carbónica? Neste excerto do novo livro "Como Evitar um Desastre Climático", Bill Gates reflete sobre um dos principais agentes das alterações climáticas.

É um dos fundadores da Microsoft, a empresa de software criada em 1975 que lhe deu o título de homem mais rico de mundo em vários anos (neste momento é o segundo, superado apenas pelo “homem Amazon”, Jeff Bezos). Já não desempenha qualquer cargo executivo, concentrado a sua atividade na fundação Bill e Melinda Gates.

As causas sociais são o seu maior objetivo, com a educação e a saúde no topo das prioridades. A ciência é pedra basilar para todas as suas investigações e investimentos e o clima — ou melhor, a luta contra as alterações climáticas — é uma motivação constante. Antes da pandemia da Covid 19, Gates foi uma das vozes que mais vezes — e mais alto — alertou para a possibilidade iminente de uma crise como a que vivemos. Da mesma forma, tem procurado despertar consciências para a inevitabilidade de uma catástrofe ambiental, no caso de não serem tomadas medidas urgentes para contrariar a tendência que o planeta tem seguido.

O investimento tecnológico em novas soluções de consumo energético e de produção industrial é uma das formas que adotou para contrariar o aquecimento global. A outra é a divulgação científica. E o novo livro, “Como Evitar um Desastre Climático” — publicado esta semana em todo o mundo e com edição portuguesa disponível com o carimbo da Ideias de Ler — é o mais recente capítulo nessa tarefa que assume há vários anos.

O Observador publica um excerto deste novo livro. Nele, Bill Gates procura explicar a razão pela qual os gases de efeito estufa são tão nocivos para o planeta, quais os mais perigosos, porquê e como a neutralidade carbónica é o objetivo a atingir.

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A capa de "Como Evitar um Desastre Climático", de Bill Gates (Ideias de Ler)

Porquê o número zero?

A razão pela qual precisamos de atingir este valor [zero] de emissões é simples. Os gases com efeito de estufa aprisionam o calor na atmosfera, provocando uma subida da temperatura à superfície do planeta. Quanto maior a quantidade destes gases, maior a subida da temperatura. E uma vez soltos na atmosfera, estes gases não desaparecem durante muitos anos. Cerca de um quinto das emissões de dióxido de carbono emitido hoje continuará presente na atmosfera da Terra durante os próximos 10 mil anos.

Não existe nenhum cenário em que podemos continuar a aumentar os níveis de dióxido de carbono na atmosfera sem que o planeta aqueça, e quanto mais quente se tornar, mais difícil será para a humanidade sobreviver, quanto mais prosperar. Não sabemos exatamente a dimensão dos danos infligidos por determinada subida da temperatura terrestre, mas temos todas as razões para estarmos preocupados.

E como os gases com efeito de estufa permanecem muito tempo na atmosfera, o planeta continuará sobreaquecido muito depois de termos atingido o valor zero.

Confesso que utilizo o valor “zero” de forma imprecisa, e devo clarificar o que quero dizer com isto. Nos tempos pré-industriais – meados do século XVIII –, o círculo de carbono da Terra encontrava-se mais ou menos equilibrado. Ou seja, as plantas (entre outras coisas) absorviam praticamente a mesma quantidade de dióxido de carbono emitida.

Foi então que começámos a queimar combustíveis fósseis. Ora, estes combustíveis são, na verdade, carbono que foi armazenado no subsolo, graças a plantas que morreram há milhões de anos e foram convertidas em petróleo, carvão ou gás natural. Quando extraímos combustíveis fósseis e os queimamos, emitimos dióxido de carbono que se acumula na atmosfera.

A Terra não conserva essa energia para sempre. Se assim fosse, por esta altura o planeta estaria transformado num inferno ardente. Em vez disso, a Terra irradia alguma energia de volta para o espaço. Infelizmente, parte é devolvida no comprimento de onda certo para ser absorvida pelos gases com efeito de estufa.

Não existe nenhuma solução realista que nos conduza a um mundo sem emissões e que envolva ao mesmo tempo o abandono absoluto dos combustíveis fósseis e de todas as outras atividades responsáveis pela produção de gases com efeito de estufa, como o fabrico de cimento, a utilização de fertilizantes ou a libertação de metano nas centrais de gás natural. Ao invés, e muito provavelmente, no futuro que pretendemos mais ecológico continuaremos a produzir emissões, mas teremos a capacidade para as remover da atmosfera.

Por outras palavras, “zero emissões” não significa realmente uma ausência total de emissões. Significa neutralidade. Um equilíbrio estável entre as emissões que produzimos e as que conseguimos eliminar da atmosfera. Não se trata de um cenário de tudo ou nada, em que tudo correrá às mil maravilhas se conseguirmos uma redução de 100 por cento ou tudo será um desastre se atingirmos apenas 99 por cento do objetivo. Mas quanto maior for a redução, maior o benefício. […]

Um pouco é demasiado

O que tem um planeta a aquecer que ver com os gases com efeito de estufa? Comecemos pelos princípios fundamentais. O dióxido de carbono é o mais abundante destes gases, mas existem outros, como o óxido nitroso e o metano. Talvez já tenha experimentado os efeitos do primeiro – também conhecido como gás hilariante – no consultório do dentista, e o metano é o principal componente do gás natural que provavelmente utiliza para cozinhar ou aquecer água. Molécula a molécula, estes dois gases são mais nocivos do que o dióxido de carbono. Ao atingir a atmosfera, o metano provoca um aquecimento 120 vezes superior ao do dióxido de carbono, só para dar um exemplo, mas não subsiste tanto tempo.

"Cada novo quilo de carbono lançado na atmosfera reforça o efeito de estufa. Não há como contrariar as leis da física", alerta Bill Gates

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Para manter as coisas simples, juntámos os diferentes gases com efeito de estufa numa única unidade de medida, a que chamámos dióxido de carbono equivalente (pode ter visto o termo abreviado CO2e). Usamos esta unidade porque alguns gases absorvem mais calor do que o dióxido de carbono, mas não permanecem tanto tempo na atmosfera. Infelizmente, trata-se de um raciocínio imperfeito. No fim de contas, o ponto fundamental não é a quantidade global de emissões de gases com efeito de estufa, mas o aumento de temperatura resultante e o consequente impacto no planeta. Nesse aspeto, um gás como o metano é bastante mais prejudicial. Provoca uma subida imediata da temperatura, e num valor considerável. […]

Em todo o caso, o dióxido de carbono equivalente é o método que usamos para contabilizar as emissões de gases com efeito de estufa é aquele que é frequentemente discutido quando falamos de alterações climáticas […]. Os 51 mil milhões de toneladas que estou constantemente a mencionar é o total anual de emissões em dióxido de carbono equivalente. Ora, 37 mil milhões de toneladas é o número que poderá já ter visto, mas isso é o dióxido de carbono, sem os restantes gases – ou 10 mil milhões, quando esse número diz apenas respeito ao carbono. […]

Algumas atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, fizeram com que as emissões de gases com efeito de estufa aumentassem substancialmente a partir da segunda metade do século XIX. Como é que estes gases aquecem o planeta? A resposta é simples: absorvem o calor e aprisionam-no na atmosfera. Ou seja, funcionam como uma estufa, daí o nome.

O leitor já teve certamente a oportunidade de observar de perto o efeito de estufa sempre que estaciona o seu automóvel ao sol. Os vidros permitem a passagem dos raios solares, aprisionando ao mesmo tempo parte dessa energia, que a seguir não tem por onde escapar. É por isso que o interior do seu automóvel fica muito mais quente do que a temperatura exterior.

A Terra não conserva essa energia para sempre. Se assim fosse, por esta altura o planeta estaria transformado num inferno ardente. Em vez disso, a Terra irradia alguma energia de volta para o espaço. Infelizmente, parte é devolvida no comprimento de onda certo para ser absorvida pelos gases com efeito de estufa.

Esta explicação, porém, levanta outras questões. Como é que o calor do sol penetra através destes gases presentes na atmosfera e depois não consegue escapar? Será que o dióxido de carbono funciona como uma espécie de espelho gigante que reflete apenas num sentido? Mais, se o dióxido de carbono e o metano absorvem o calor, porque não acontece o mesmo com o oxigénio? A resposta reside em alguns princípios da física e da química.

Como é capaz de se lembrar dos tempos de escola, todas as moléculas vibram. Quanto mais depressa vibram, mais aquecem. Quando algumas moléculas são atingidas por radiações com determinados comprimentos de onda, bloqueiam essa radiação, absorvem a sua energia e vibram mais depressa. Mas nem todas as radiações se deslocam no comprimento de onda necessário para causar este efeito. A luz do sol, por exemplo, passa pela maioria dos gases com efeito de estufa sem ser absorvida. A maior parte atinge a Terra e aquece-a, tal como sempre aconteceu.

Mas eis o busílis: a Terra não conserva essa energia para sempre. Se assim fosse, por esta altura o planeta estaria transformado num inferno ardente. Em vez disso, a Terra irradia alguma energia de volta para o espaço. Infelizmente, parte é devolvida no comprimento de onda certo para ser absorvida pelos gases com efeito de estufa. Em vez de escapar de forma inofensiva para o vazio, atinge as moléculas destes gases e fá-las vibrar mais depressa, aquecendo a atmosfera.

Porque é que os gases não funcionam todos da mesma maneira? Porque as moléculas com duas cópias do mesmo átomo – como é o caso do nitrogénio e do oxigénio – permitem a passagem da radiação. Apenas as moléculas constituídas por diferentes átomos possuem a estrutura certa para absorver a radiação e começar a aquecer, o que acontece com o dióxido de carbono e o metano. Esta é, portanto, parte da resposta à pergunta “porquê o número zero?” Porque cada novo quilo de carbono lançado na atmosfera reforça o efeito de estufa. Não há como contrariar as leis da física.

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