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AFP/Getty Images

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Afeganistão é desafio para as redes sociais. Talibãs são terroristas para o Facebook, Twitter em silêncio

Trump foi banido do Twitter, mas um porta-voz talibã tem conta ativa. Porquê? Facebook apelida o movimento de terrorista segundo a lei dos EUA, mas o Twitter não responde.

A rápida ascensão ao poder dos talibãs no Afeganistão tornou-se também uma dor de cabeça para as redes sociais. Em 1996, quando os o mesmo grupo tomou o controlo da capital afegã, Cabul, não havia sequer Hi5 ou MySpace. Porém, atualmente vivemos numa era na qual os porta-vozes do movimento podem fazer contas no Twitter e do Facebook (que detém também o Instagram e o WhatsApp). Mas podem mesmo? Depende da rede social. Num ano em que o ex-presidente dos EUA, Donald Trump,  continua banido de quase todas estas plataformas, o Facebook e o Twitter lidam de forma díspar com esta questão.

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Independentemente de opiniões, esta questão não sido fácil para as redes sociais. Por um lado, como explicou um porta-voz do Facebook ao Observador, os “talibãs foram sancionados como organização terrorista pela lei dos EUA”. Por causa disso, estão banidos das redes sociais lideradas por Mark Zuckerberg. “Isso significa que removemos contas mantidas por ou em nome dos talibãs e proibimos elogios, apoio e representação deles”, diz o mesmo responsável da rede social.

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Já no Twitter, o caso muda de figura. Questionada sobre se os talibãs são um movimento terrorista, a empresa remete-se ao silêncio. Às várias perguntas do Observador, incluido a pergunta sobre se consideram os talibãs um movimento terrorista, um porta-voz do Twitter respondeu: “A situação no Afeganistão está a evoluir rapidamente”. E continuou: “Também estamos a testemunhar pessoas no país usando o Twitter para procurar ajuda e assistência”. Mesmo assim, deixa uma promessa: “A principal prioridade do Twitter é manter as pessoas seguras e permanecemos vigilantes.”

Do lado esquerdo a conta ativa de Suhail Shaheen, do direito a conta suspensa de Donald Trump

No Twitter, o caso mais flagrante de uma conta de um talibã tem sido o Suhail Shaheen, um porta-voz do movimento. Através da rede social, Shaheen tem partilhado várias declarações. Nas mais recentes publicações podem ler-se frases que dão garantias de segurança aos diplomatas em Cabul e até negações sobre casamentos forçados de menores. Apesar de a organização a que pertence, e de defender que os seus opositores apenas mostram “propaganda”, não há apelos diretos à violência. Contudo, como têm salientado alguns órgãos de comunicação social, como a Al Jazeera ou o Washington Examiner, isto acontece numa rede social na qual Donald Trump continua banido devido às publicações que fez a 6 de janeiro durante a invasão ao Capitólio.

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Mesmo o Facebook — que foi mais direto nas suas respostas e quanto às políticas que está a tomar — não deixa de ser uma plataforma de comunicação para os talibãs. Afinal, a empresa detém também o WhatsApp, onde qualquer pessoa pode enviar mensagens a quem quiser. Ou seja, nada impede que um terrorista utilize o serviço, até porque, para evitar isso, era preciso mudar aquilo que o WhatsApp promete ser: uma plataforma de mensagens privadas.

O problema do Twitter: a conta do porta-voz dos talibãs não apela diretamente à violência

Apesar de estas empresas tecnológicas serem norte-americanas e, por isso, estarem sujeitas à legislação dos EUA, isso não lhes retira a autonomia que têm. Afinal, não deixam de ser entidades privadas com termos e condições próprios. É isso que o Twitter defende também na sua resposta: “Continuaremos a aplicar proativamente as nossas regras e rever o conteúdo que possa violar as Regras do Twitter, especificamente as políticas contra a glorificação da violência, manipulação da plataforma e spam”. De acordo com o Twitter, a conta de Shaheen não apelou à violência ou quebrou algum destes termos.

Apesar desta explicação, a empresa fundada e liderada por Jack Dorsey não especifica que medidas adicionais tem implementado devido aos acontecimentos no Afeganistão. Já o Facebook tem tido uma atitude bastante diferente. Numa entrevista à Bloomberg no início desta semana, Adam Mosseri, responsável do Instagram, disse em nome da empresa de Zuckerberg: “Estamos a contar com as nossas política para derrubar proativamente tudo o que pudermos e possa ser perigoso ou que esteja relacionado aos talibãs em geral“.

Instagram and Facebook's Creator Week

Adam Mosseri, que é uma das principais pessoas no Facebook, sendo o responsável do Instagram defendeu que todos os conteúdos de talibãs devem ser retirados

Getty Images for Instagram and

Ou seja, no final de contas, cada empresa tem interpretado a presença de talibãs nas suas redes de maneira diferente. Isto apesar de serem gigantes empresas norte-americanas que dizem não permitir que as suas plataformas sejam usadas por organizações terroristas nos seus termos e condições. No caso de Trump, as duas empresas também trataram o assunto de maneira diferente, mesmo que tenham acabado por banir o antigo presidente dos EUA devido às polémicas declarações a 6 de janeiro (só temporariamente, no caso do Facebook).

A 8 de janeiro, o Twitter, que era a principal rede social utilizada por Donald Trump, foi peremptório na sua decisão: “Suspendemos permanentemente a conta devido ao risco de mais incitamento à violência”. A empresa justificou tudo neste comunicado. Já o Facebook optou por enviar o caso para um grupo interno de avaliação que criou — o Quadro de Supervisão — e, até agora, continua por decidir se Donald Trump ficará ou não suspenso permanentemente da rede social, tendo chutado a decisão final para 2023.

Donald Trump suspenso do Facebook durante dois anos. É um “insulto”, diz o antigo presidente

Como o Facebook é bastante maior do que o Twitter tanto em número de plataformas que detém como no número de utilizadores, o caso do Afeganistão acaba também por poder ser mais complicado. Por isso, a empresa afirma que também aplica mais supervisão à situação que está a decorrer. Como afirmou o mesmo porta-voz da rede social ao Observador, a empresa tem “uma equipa dedicada de especialistas sobre o Afeganistão, que são nativos em dialetos dari e pashto e têm conhecimento do contexto local, ajudando a identificar e alertar sobre questões emergentes na plataforma”. “As nossas equipas estão a monitorizar de perto a situação conforme evolui”, adianta o mesmo responsável.

Por outro lado, o Facebook também abre portas para alterar as medidas que tem aplicado. Como explica o mesmo porta-voz, “o Facebook não toma decisões sobre um governo reconhecido em nenhum país em particular, mas respeita a autoridade da comunidade internacional ao tomar essas decisões”. Por outras palavras, a empresa de Mark Zuckeberg diz que cumprirá a lei nacional e internacional. Mesmo assim, a empresa deixa um aviso: “Independentemente de quem detém o poder, tomaremos as medidas adequadas contra contas e conteúdos que violem as nossas regras“.

"Independentemente de quem detém o poder, tomaremos as medidas adequadas contra contas e conteúdos que violem as nossas regras", diz o Facebook

Quanto à fiscalização de conteúdos proibidos que a empresa faz no WhatsApp a contas pertencentes a talibãs, o Facebook não adianta informações. Apesar de tudo, uma das principais funcionalidades do serviço é a “encriptação ponta a ponta” — encriptação de dados de mensagens do telemóvel do remetente até ao do recipiente. Isto faz com que o Facebook, em teoria, não saiba o que é escrito na plataforma. Porém, há exceções.

Como explica o WhatsApp na sua página oficial, a plataforma “mantém uma tecnologia avançada de machine learning [inteligência artificial] para avaliar as informações não encriptadas em grupos, incluindo nomes, fotos de perfil e descrições de grupo para cumprir as obrigações legais”. Isto é feito para que o serviço não seja utilizado, por exemplo, por “organizações terroristas” a fim de a plataforma cumprir “as obrigações prescritas pela lei dos EUA”, como se lê nestas regras. Uma das sanções previstas no caso de incumprimento dos termos e condições pode até ser a “proibição de os administradores de tais grupos de usar o WhatsApp completamente”, lê-se também. Até agora já foram banidos vários grupos terroristas.

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Ao final da manhã desta terça-feira, o Observador também contactou a Google relativamente à questão de os talibãs serem considerados ou não um grupo terrorista. Esta quarta-feira de manhã, um porta-voz da Google e do Youtube, que pertencem à Alphabet, responderam às questões. A Google promete que vai “cessar todas as contas que presuma que sejam propriedade ou operadas pelos talibãs em conformidade com todas as sanções aplicáveis ​​e leis de conformidade comercial”. Adicionalmente, refere que “há muito” que tem “políticas que proíbem conteúdo que promovam o extremismo violento, incluindo recrutamento, promoção de atos terroristas e incitação à violência“.

À Al Jazeera, o Youtube tinha adiantado que o serviço de partilha de vídeos depende dos governos para definir “organizações terroristas estrangeiras” (FTO, Foreign Terrorist Organizations) para orientar a aplicação das regras pelo site contra grupos criminosos violentos. Porém, na lista do Departamento de Estado indicada pelo Youtube não constam os talibãs porque, de acordo com os EUA, têm uma designação diferente, como explica o mesmo órgão de comunicação social: “[grupo] terrorista global especialmente designado”.

Na resposta ao Observador, o Youtube adiantou que “todo o conteúdo do YouTube” está sujeito aos “Termos de Serviço e Regras da Comunidade“. “O YouTube cumpre todas as sanções aplicáveis ​​e leis de conformidade comercial, incluindo sanções relevantes dos EUA”, referiu o mesmo porta-voz citando esta lista e dizendo também que caso a plataforma encontre “uma conta que se acredita pertencer e ser operada pelos talibãs afegãos”, que a encerrá. Por fim, deixou a nota: “As nossas políticas proíbem conteúdo que incite à violência”, mencionou o mesmo responsável.

*Artigo atualizado às 10h24 com as respostas enviadas pelo Google e Youtube após a publicação do artigo.

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