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ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Andrew Lilley, colecionador de Banksy. "Ele é como o Pai Natal: quem é que quer estragar tudo e contar a verdade?”

Andrew Lilley coleciona o misterioso artista britânico há vários anos e é muito provável que o conheça em pessoa. Está em Lisboa para apresentar uma exposição com 70 obras e falou com o Observador.

É descrita como a primeira grande exposição em Portugal do artista britânico de que todos falam e que ninguém – ou quase ninguém – sabe quem seja. Banksy, o iconoclasta que há 20 anos fazia “arte urbana” às escondidas da polícia e que hoje tem obras de estúdio a alcançarem milhões nas principais leiloeiras, chegou a Lisboa (Cordoaria Nacional) numa mostra cujo título assume uma óbvia divisão de opiniões: “Génio ou Vândalo?”.

A mostra já esteve em Moscovo, São Petersburgo e Madrid, com mais de 600 mil visitantes, segundo os organizadores, e tem produção portuguesa da Everything is New (a mesma do festival NOS Alive, por exemplo). O promotor é Alexander Nachkebiya, da empresa IQ Art Management. E o proprietário das peças é Andrew Lilley, que também participa na curadoria. Estiveram ambos presentes numa visita guiada à imprensa, nesta sexta-feira, na nave central da Cordoaria Nacional – precisamente, o dia de abertura da exposição, que se mantém até 27 de outubro, com bilhetes individuais entre 6 e 13 euros.

As 70 obras agora expostas são essencialmente trabalhos de estúdio, ou seja, peças de séries mais ou menos limitadas (500 exemplares, em alguns casos) e a elas acrescem fotografias de obras em espaços urbanos, muitas das quais foram entretanto destruídas por alguém ou apenas pela passagem do tempo.

Andrew Lilley, de 49 anos, negociante de arte e dono da Lilley Fine Art em Lisburn, uma galeria a meia hora da capital da Irlanda do Norte, considera-se um especialista em Banksy. Estudou urbanismo e arquitetura na Queen’s University, em Belfast, e entrou no comércio de arte há quase 20 anos, mais ou menos na mesma época em que o misterioso artista britânico começou a ser notado.

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Em entrevista ao Observador, no espaço obscuro da exposição, frente a uma das suas obras preferidas (“Holocaust Lipstick”), não garantiu que conheça Banksy pessoalmente (pareceu óbvio que conhece), mas disse-se admirador dos princípios que ele defende. Segundo o colecionador, as mensagens políticas destas obras – a defesa da Palestina e do ambiente, a crítica às instituições políticas e ao hipercapitalismo, o ataque à indústria do entretenimento e a multinacionais como a petrolífera Esso ou a McDonald’s – não são hipócritas.

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Porque é que decidiu organizar esta exposição?
Porque gosto de mostrar as obras de que sou proprietário. A ideia inicial foi de Alexander Nachkebiya, ele é que me falou nesta possibilidade. Mas gostaria de dizer que a receita de bilheteira não vai para mim, não recebo nada, nem da loja de brindes que temos no fim da exposição.

É atribuído a Banksy o princípio de não cobrar entradas em exposições com obras próprias, daí que esta seja uma exposição não autorizada. É mesmo assim?
De facto, ele diz isso, mas na realidade as obras de Banksy que estão em exposições de entrada livre, portanto, autorizadas por ele, estão à venda. Normalmente, a primeira noite dessas exposições é uma noite VIP, só para convidados, e são eles que compram. Portanto, é uma outra forma de ganhar dinheiro.

Esteve pessoalmente em algumas dessas noites VIP?
Sim, claro. Atenção: Banksy não fica com o dinheiro dessas vendas, aplica-o na criação de novos projetos. Por exemplo, a criação de Dismaland [parque de diversões que Banksy abriu em 2015 perto de Bristol] custou milhões e foi paga com as receitas geradas pela venda de trabalhos anteriores. Há quem pense, por exemplo, que ele ficou com o dinheiro de “Girl With Balloon” [a famosa gravura que no ano passado se autodestruiu num leilão da Sotheby’s, depois de arrematada por mais de um milhão de euros]. A obra já não era dele, era de um colecionador privado.

“Girl With Balloon”

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Não será uma pessoa mal de finanças.
Acho que vive bem, é rico, mas poderia ser muito mais. Só não é porque, para ele, os princípios são mais importantes.

Quer dizer que as ideias políticas que Banksy defende não são “fake”?
De maneira nenhuma. Veja-se o trabalho dele na Palestina, com “The Walled Off Hotel” [bem representado nesta exposição e inspirado no luxuoso Waldorf Hotel de Nova Iorque]. Custou-lhe milhões. Claro, é um projeto a pensar no turismo, mas chama a atenção para a causa palestiniana. Apesar de eu ser da Irlanda do Norte, tinha a ideia de que os israelitas estavam certos e que os palestinianos estavam errados, até que visitei o hotel e mudei por completo de opinião. É isso que ele faz: alerta as pessoas para problemas concretos e questões humanitárias, não é o dinheiro que o faz mover. É uma pessoa bem informada, está perfeitamente a par dos temas de política internacional.

A exposição é inteiramente baseada na sua coleção?
Na minha coleção e na de amigos meus. Diria que 75% das obras são minhas. Por exemplo, essa que está aí a ver, “Holocaust Lipstick”, comprei-a diretamente a Banksy no ano passado.

Que critério usa para comprar?
Quanto mais sentir que a obra é provocadora, em termos do efeito que tem no pensamento, melhor. Este “Holocaust Lipstick” continua a deixar-me arrepiado. É uma imagem horrorosa, ao mesmo tempo, deixa-me a pensar. Temos também aqui uma escultura intitulada “Grappling Hook”, um crucifixo sob a forma de âncora de um navio. Regra geral, as pessoas pensam que os trabalhos de Banksy são cómicos ou jocosos, mas isso não é totalmente verdade. Alguns, sim, outros, não. Estes exemplos que dei agora abordam ideias muito sérias, são comentários à história e aos problemas da sociedade atual.

"Quem compra sabe que o mistério em torno de Banksy valoriza a obra em termos do mercado da arte. Por outro lado, há motivos muito prosaicos: o mistério é divertido e entusiasma as pessoas. A ideia de que ele possa ter estado aqui ou de que um dia destes talvez se revele… Toda a gente gosta disso."

Há sempre várias interpretações.
Sem dúvida e cada pessoa terá a sua. Não iria tão longe a ponto de dizer que estou certo da interpretação que o próprio artista tem, do sentido que ele próprio dá às criações, mas tenho uma ideia muito precisa sobre aquilo que ele faz.

Pegando no título da exposição, considera-o um génio ou um vândalo?
Podemos pensar que a forma como Banksy desafia a sociedade faz dele um vândalo. Durante anos, foi perseguido pela polícia inglesa, por pintar muros. Até em Nova Iorque, onde passou uma longa temporada, foi considerado pelo “mayor” um inimigo público. Nunca o apanharam, claro. Hoje, se aparece um spray numa parede, que se sabe ser dele, a parede é protegida pelas autoridades, o trabalho é encarado como uma obra de arte internacional, ele é elogiado. É daí que vem esta ideia: génio ou vândalo? Para mim, é um génio.

Conhece-o pessoalmente?
Não posso falar sobre isso.

Às vezes, parece que todos os que conhecem Banksy fazem um pacto de silêncio.
Vamos ver: quem o conhece, percebe que não deve falar sobre isso, que não deve revelar elementos que permitam a identificação do artista. Desde logo, quem compra sabe que o mistério em torno de Banksy valoriza a obra em termos do mercado da arte. Por outro lado, há motivos muito prosaicos: o mistério é divertido e entusiasma as pessoas. A ideia de que ele possa ter estado aqui ou de que um dia destes talvez se revele… Toda a gente gosta disso. Banksy é como o Pai Natal ou como os contos de fadas: quem é que quer estragar tudo e contar a verdade? Ninguém quer ficar com a responsabilidade de dizer a uma criança que, afinal, o Pai Natal não existe.

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Acha que ele irá algum dia revelar-se?
Não, porque não aparecer faz parte da própria obra, é o que completa as obras. Ele não quer ser famoso, não quer andar na rua e ser apontado: ‘Olha, vai ali o Banksy.’ Quer, sim, que as obras permaneçam e sobrevivam à sua própria existência. Todos sabemos quem é Andy Warhol, Keith Haring ou Jeff Koons, mas ele não tem esse culto. Quando morrer, teremos as obras, não teremos o público interessado na pessoa que as fez. O que vale é a obra, não a pessoa.

O anonimato foi planeado desde o início?
Não, foi uma consequência. No fim dos anos 90, início dos anos 2000, ele não podia aparecer, porque podia ser preso. Era procurado em todas as cidades por onde passava e criava obras. Se tivesse revelado quem era, teria sido julgado em tribunal.

Mas depois de passar a artista cotado percebeu que manter o anonimato o beneficiaria.
Sim, sem dúvida. A partir de certa altura, podia aparecer, mas achou que já não fazia sentido. No fundo, acho que o próprio sistema o fez seguir este caminho.

Alguma vez encomendou uma obra a Banksy?
Nunca encomendei, mas conheço várias pessoas interessadas nisso e que me contactam para que eu as consiga. Tudo o que comprei para mim, até hoje, foram peças que ele já tinha feito, reproduções comercializadas pela galeria Pictures on Walls, que já não existe e que no início vendia muitas obras dele. Neste momento, só se pode comprar obras de Banksy através da Pest Control, mas também por aí já é difícil, porque há poucas ou nenhumas obras originais neste momento.

A Pest Control é a agência que certifica as obras de Banksy?
Exatamente, controlam tudo desde 2010. Não há nenhuma peça de Banksy que não seja autorizada por eles. As obras originais, precisamente por serem cada vez mais raras, têm sido vendidas em leilões, mas o dinheiro não vai nem para a Pest Control nem para Banksy, reverte para associações de beneficência, causas humanitárias.

"O que me fascina não é o autor ser quem é, são as obras. Hoje há tantos artistas, como o Jeff Koons ou o Damien Hirst, que se limitam a reproduzir uma e outra vez aquilo que já fizeram, até Andy Warhol o fazia. Banksy está à parte disso. Há muitos que gostariam de ser como ele, mas nenhum se compara."

Quando começou a colecionar Banksy?
Em 2005. Ele tinha começado pouco antes, mas só em 2002, 2003 é que começou a ser notícia, foi quando fez “Girl With Balloon” [então vendida pela Pictures on Walls por 85 euros]. Comecei quando os preços estavam num patamar impossível de imaginar hoje. Custavam dezenas ou centenas de euros e não milhões, como hoje.

Ainda assim, já gastou muito dinheiro com ele?
Bastante.

Porquê?
Sou colecionador há muito tempo, sobretudo pintura contemporânea, e sempre o admirei. Adoro o que ele faz, adoro os valores que defende. O que me fascina não é o autor ser quem é, são as obras. Hoje há tantos artistas, como o Jeff Koons ou o Damien Hirst, que se limitam a reproduzir uma e outra vez aquilo que já fizeram, até Andy Warhol o fazia. Banksy está à parte disso. Há muitos que gostariam de ser como ele, mas nenhum se compara.

Também se interessa pelas obras que ele faz na rua?
Sim, sim, tudo.

Tem alguma parede em casa com uma obra de Banksy?
Não sei. Tenho um amigo que tem uma parede, sim.

Andrew Lilley é o proprietário das pelas que compõem a exposição que pode ser vista até 27 de outubro na Cordoaria Nacional

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Também compra para vender mais tarde?
Nunca, a ideia de investimento, neste caso, não me interessa. Se assim fosse, poderia já ter vendido muitas peças e ganhado muito dinheiro. O que me interessa é colecionar e mostrar ao mundo aquilo que tenho. Não quero vender, quero é acrescentar peças às que já tenho. Aliás, posso dizer que ainda há poucos minutos comprei outra obra dele, por telefone.

Deu uma ordem por telefone num leilão?
Não, comprei a um colecionador privado, diretamente.

Que outros artistas estão na sua coleção?
Por exemplo, Andy Warhol, Julian Opie, Takashi Murakami. Nenhum português, peço desculpa.

A seguir a Lisboa, para onde segue a exposição?
Estamos a negociar. Japão e Hong Kong são boas possibilidades.

O bilhete normal para a exposição custa 13 euros, é associado a um dia e uma hora específicas (visitas de hora a hora) e deve ser comprado em antecipação.

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