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Ângelo Rodrigues. O ator com medo de não ser amado

Deu entrada no hospital na última segunda-feira e já foi submetido a três operações. A vida de Ângelo Rodrigues entre telenovelas, um disco e uma relação complicada com o próprio corpo.

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Ângelo Rodrigues cresceu numa família de poucos afetos. É filho de um professor de Educação Física e de uma cozinheira e tem três irmãos. Certo dia, confrontou o pai, já doente, com uma pergunta há muito adiada: “Porque é que nunca disseste que me amavas?”. A revelação foi feita pelo próprio ator na entrevista ao programa “Alta Definição”, transmitido pela SIC em junho.

Ângelo Rodrigues acabaria por perder o pai em 2013, pouco tempo depois aquela conversa a dois. “Percebi a finitude daquele momento. Percebi que ia acabar e é nesses momentos que se deixa os orgulhos de lado e somos mais honestos. Ele não conseguiu responder a isso, mas eu disse: ‘Amo-te, e tu?’. E ele disse que sim. Deve ter sido a última palavra”, contou. Seis anos depois, é Ângelo quem luta contra a morte.

O ator deu entrada no Hospital Garcia de Orta, em Almada, na última segunda-feira, 26 de agosto. Com 31 anos, uma infeção grave alegadamente decorrente de injeções de testosterona, aplicadas pelo próprio, obrigou a internamento imediato. Durante os dias seguintes foi submetido a três cirurgias, fez hemodiálise, por falência dos rins, e chegou mesmo a sofrer, pelo menos, uma paragem cardíaca, revertida pela equipa médica.

© Facebook.com/angelorodrigues

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Na mesma entrevista, Ângelo Rodrigues deixou claro que, mesmo assim, sempre recebeu apoio por parte da família. Esse apoio, sobretudo do lado do pai, chegou várias vezes através de estímulos culturais. Ainda criança, era levado a visitar exposições e museus e a assistir a peças de teatro. Numa entrevista à Notícias TV, o ator explicou que o pai o obrigava a ler bastante e que, por isso, deve-lhe muito.

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O interesse pela cultura ficou e aos 19 anos teve a primeira grande oportunidade na televisão ao protagonizar a quinta série de “Morangos com Açúcar”, que começou a ser transmitida pela TVI em setembro de 2007. Quatro anos depois, encabeçava o elenco da telenovela “Rosa Fogo”, da SIC, tornando-se no mais novo protagonista de sempre da ficção nacional. Atualmente, dá vida à personagem Bruno em “Golpe de Sorte”, uma produção do mesmo canal. Em comunicado, a SIC disse estar a acompanhar “de perto” a evolução do seu estado clínico “com a preocupação e o recato que a situação exige”.

De figurante a “provinciano com sorte”: Ângelo Rodrigues na televisão

O sonho de jogar futebol veio primeiro, com um Ângelo pré-adolescente a jogar durante quatro anos nas camadas jovens do FC Porto. Chegada a adolescência, descobriu o gosto pela representação. Primeiro veio o teatro, depois a ficção televisiva. Em 2002, com apenas 15 anos, pediu permissão à diretora do Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas, em Santa Maria da Feira, para usar o auditório subaproveitado da escola e aí apresentar os primeiros espetáculos. Escreveu, encenou e protagonizou algumas peças, dando vida a textos satíricos e de tom cómico. Na biografia que consta na página oficial do ator lê-se que os trabalhos de então eram um “constante desafio à autoridade, típico da adolescência”.

"Percebi que ia acabar e é nesses momentos que se deixa os orgulhos de lado e somos mais honestos. Ele não conseguiu responder a isso, mas eu disse: 'Amo-te, e tu?'. E ele disse que sim. Deve ter sido a última palavra"
Ângelo Rodrigues, sobre o pai, ao "Alta Definição", junho de 2019

Ângelo foi mais longe do que aquele auditório e, de seguida, integrou uma companhia de teatro semi-profissional, a TORF, com a qual apresentou dois espetáculos: “A Lamentação da Mula”, em 2003, e “Desimaginação”, em 2004. A figuração fez, neste período da vida, igualmente parte de uma carreira que começava a despontar. Na biografia, o ator nota que, para trabalhar na telenovela “O Teu Olhar” (2003), da TVI, cujas gravações aconteciam na Figueira da Foz, a 120 quilómetros de casa, todo o dinheiro que ganhava era usado para pagar os transportes. Outros trabalhos de figuração incluíram os programas da RTP1 “Portugal no Coração” e “Praça da Alegria”.

Nascido a 9 de setembro de 1987, cresceu no Norte. Aos 18 anos, seguiu para Lisboa, cidade que, quando era criança, julgava ser como Hollywood. Era lá que ia brilhar. Acabou o ensino secundário com uma média de 17,2 valores. Seguiu-se o ingresso na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Mais tarde, o ator confessou ir com a tia, a atriz Estrela Novais, para as gravações, quando era pequeno. Aos 19 anos, estreou-se na representação televisiva na novela “Doce Fugitiva” e, em 2007, participou na série juvenil “P.I.C.A”, depois de ter sido escolhido por Patrícia Vasconcelos no casting. “Tenho uma recordação muito presente”, diz Patrícia Vasconcelos ao Observador. “Lembro-me que ele ainda não tinha experiência, mas que era dedicado. Era muito jovem e tinha um estilo muito giro, vestia-se muito de preto e branco, era fora do padrão comum dos outros miúdos. Conto esta história muitas vezes.” A diretora de casting não se recorda com precisão de todas as vezes que se cruzou profissionalmente com Ângelo Rodrigues, mas ao Observador garante que tem acompanhado o trabalho do ator. “Ainda ontem o vi na novela da SIC. Está a fazer um trabalho incrível. Ele tem um olhar que me toca muito, tem muita ternura naquele olhar.”

Foi com a participação na quinta série de “Morangos com Açúcar” que o ator conheceu realmente a fama. Estávamos em setembro de 2007 e do elenco da série juvenil faziam parte nomes como Vanessa Martins, Diogo Costa Reis, Sara Barros Leitão e Júlia Belard. Júlia, atualmente com 30 anos, cruzou-se pela primeira vez com Ângelo Rodrigues ainda antes de arrancarem as gravações da quinta temporada de “Morangos com Açúcar”. “Conhecemo-nos num workshop que, na altura, a Plural estava a dar para formar jovens que pudessem entrar na novela”, lembra ao Observador, recordando que chegaram a fazer dois workshops juntos. “Foi a primeira experiência que tivemos de maior contacto com o mundo da televisão. Estávamos todos entusiasmados, ambicionando alcançar o sonho. Estávamos juntos nesta aventura”, conta.

Tanto Júlia como Ângelo foram escolhidos para integrar o elenco da série e fizeram parte dos protagonistas da história. Já no formato “Férias de Verão 5”, que foi transmitido no verão de 2008, os dois atores fizeram de par romântico. “Dávamo-nos todos muito bem. O Ângelo era muito profissional e trabalhador. Muito empenhado.”

"Porque era muito magro, não gostava de me ver ao espelho. Era gozado na escola e já fui vítima de bullying [...] Depois comecei a crescer, a desenvolver a minha personalidade. Comecei a gostar mais de mim"
Ângelo Rodrigues à Notícias TV, setembro de 2011

Uma opinião partilhada por Patrícia Müller, argumentista que fez parte do grupo de criadores de “Morangos com Açúcar” desde a primeira temporada. “Ele era um doce e muito, muito trabalhador”, exclama a escritora, contactada pelo Observador. Além de Júlia Belard, o ator, ali no papel de Luís, protagonizou várias cenas com uma outra jovem atriz, Sara Barros Leitão, no papel de Jennifer. “Eles tinham muita química. Lembro-me perfeitamente: a personagem dela era completamente louca e, a certa altura, raptou-o e levou-o para o moinho. Uns tempos depois, rimo-nos imenso porque ela continuava a mandar-lhe mensagens a dizer que não o ia largar tão depressa e que o ia levar de volta para o moinho”, recorda a argumentista da série juvenil. “Ela é intensa, ele tem uma representação mais contida, ao estilo Marlon Brando”, conclui.

Em plena fase de “Morangos com Açúcar”, Júlia Belard, Raquel na série, recorda que chegou a fazer back vocals para a banda que Ângelo Rodrigues tinha à data, embora ainda longe do alter ego “Angel-O”. Depois disso, os dois atores cruzaram-se na novela da TVI “Deixa que te leve”, que passou entre 11 de maio de 2009 e 21 de março de 2010, embora aí o par romântico de Ângelo, no papel de Germano, fosse a atriz Diana Nicolau. Mais recentemente, no verão de 2015, Ângelo e Júlia voltaram a trabalhar juntos, no espetáculo “Don Giovanni ou o Imorigerado Imortal”, no Teatro Thalia, em Lisboa.

© Facebook.com/angelorodrigues

O ano de 2009 ficou marcado pelo cinema. Ângelo assinalou pequenas participações no filme “A Bela e o Paparazzo” e na curta-metragem “Algo de Bom”. Fez ainda parte do elenco do filme “O Que Há de Novo No Amor?”, que venceu o prémio TAP para melhor longa-metragem no Indie Lisboa Film Festival. No mesmo ano, segundo a página oficial do ator, concluiu o curso de Realização da ETIC, em Lisboa.

Um ano depois, dá-se a transição para a SIC. Em “Laços de Sangue”, telenovela que rende à estação (e à brasileira Globo, coprodutora do projeto) um Emmy Internacional na categoria de Melhor Telenovela, o ator, com 23 anos à data de estreia, assume um papel secundário. Mas a grande oportunidade de Ângelo Rodrigues chegaria um ano depois, com a telenovela “Rosa Fogo”. Foi escolhido para dar vida à personagem Estevão, protagonizando aquela que era a grande aposta para o horário nobre ao lado de Cláudia Vieira e José Fidalgo, ambos já com um percurso sólido no canal. A telenovela foi escrita por Patrícia Müller, desta vez a solo, e nomeada para um Emmy Internacional.

"Ia ser muito hipócrita se dissesse que não, se dissesse que apenas o meu talento é que me fez chegar onde estou hoje. Infelizmente, vivemos numa indústria em que a ditadura da imagem é cada vez maior"
Ângelo Rodrigues à Notícias TV, setembro de 2011

“A ‘Rosa Fogo’ trouxe muitas surpresas e ele foi uma delas. A forma como ele lidava com a mãe, personagem da Lídia Franco, que tinha alzheimer, a forma como ele olhava para ela. É difícil lidar com isso e ele era completamente credível, parecia conhecer muito bem a doença. A telenovela foi um sucesso, em parte por causa do desempenho dele”, esclarece a argumentista.

Ao Observador, Lídia Franco recorda que, à data de “Rosa Fogo”, Ângelo Rodrigues, apesar de estar a dar os primeiros passos na representação, era uma promessa. “Ele tinha tudo. Não precisava de mais nada.” A atriz, hoje com 75 anos, só contracenou com Ângelo naquela novela. A experiência foi positiva e o ambiente “ótimo”: “Isso notava-se. As pessoas e a equipa diziam que acreditavam que éramos uma família. Eu e ele entrosámo-nos”, continua. Lídia e Ângelo não mantiveram contacto um com o outro após os cerca de oito meses de gravação, mas a atriz foi acompanhando os passos dele à distância. Recorda ainda, em conversa com o Observador, como lhe deu um conselho no final das gravações: nunca deixar de aprender.

Com “Rosa Fogo”, Ângelo tornou-se o protagonista mais novo de sempre na televisão nacional. Ao Correio da Manhã comentou, em março de 2014, que não estava à espera de conseguir esse papel: “Na minha ingénua gestão de carreira imaginava dar um passo de cada vez. Foi uma proposta que veio antes do tempo, mas cheguei à conclusão que veio no momento certo porque me ajudou a amadurecer, a manter os pés no chão e a lidar com toda esta pressão mediática”. À Notícias TV, por sua vez, admitiu que o convite para ser protagonista desta história foi feito na passadeira vermelha dos Globos de Ouro de 2011, quando estava a ser fotografado, pelo que ficou a “remoer” a proposta durante toda a gala.

Ao Observador, Cláudia Vieira, com quem Ângelo formou um par romântico em “Rosa Fogo”, recorda um “colega muito apaixonado, dedicado e entusiasta, com ambição de crescer”. A atriz também lhe atribui boa disposição, descrevendo Ângelo Rodrigues como alguém “brincalhão”, capaz de deixar os outros colegas à vontade. “Foi extremamente fácil contracenar com ele. Sei que, na altura, ele estava num momento de agarrar a profissão. A sensação que tive foi de paixão pelo trabalho.”

© Facebook.com/angelorodrigues

O ator nunca abandonou completamente o teatro. Esteve em cartaz com a peça “Só os idiotas querem ser radicais”, encenada por John Romão, com quem Ângelo partilhou o palco. Também revisitou os clássicos — “Prometeu Agrilhoado”, com encenação de Maria João Vicente, e “A Gaivota”, de Tchekov, no âmbito do curso de Artes Cénicas da Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa, licenciatura que concluiu na Universidade do Rio de Janeiro.

Em setembro de 2013, a SIC estreia mais uma obra de ficção, “Sol de Inverno”. Depois da alavanca que foi protagonizar “Rosa Fogo”, Ângelo Rodrigues deu vida a Simão, um designer homossexual numa relação com a personagem do ator Rui Neto. Sobre este papel disse, em entrevista ao Correio da Manhã, em maio de 2014, que foi “muito especial” por lhe ter permitido descolar-se de si próprio e ultrapassar alguns limites. “Continuo a ser um ator limitado, mas com uns limites menores agora. Foi bom para desconstruir também a imagem que as pessoas tinham de mim.”

Na mesma entrevista, admitiu ter observado e consultado alguns amigos homossexuais e ficado a conhecer melhor o “circuito gay lisboeta”. “Isso permitiu-me descobrir uma sensibilidade que não sabia que tinha”, continuou. Simultaneamente, na história, o casal Simão e Nuno vive na mesma casa e tenta adotar uma rapariga, explorando a questão da coadoção e as dificuldades de uma família homoparental. A luta para adotar Camila culmina com a morte de uma das personagens, Nuno. “Sentia que era vital para a minha carreira […] A personagem veio na altura certa.”

Ângelo Rodrigues com Maria João Abreu e Isabela Valadeiro nas gravações da série "Golpe de Sorte" © Instagram.com/angelorodrigues_oficial

Depois de “Sol de Inverno”, seguiram-se outras produções da SIC — “Mar Salgado”, “Poderosas”, “Amor Maior” e “Vidas Opostas” –, todas elas inscritas no currículo do ator. Em 2015, estreou-se na televisão brasileira ao participar na série “As Canalhas”. No ano passado, Ângelo voltou ao Brasil, desta vez para entrar na nova temporada da série “(Des)encontros”, transmitida desde 2014 e produzida pela Sony Entertainment.

Atualmente, é Bruno em “Golpe de Sorte”. A série, que agora se aproxima do fim, ocupa o horário nobre da SIC e tornou-se líder de audiências logo após a estreia. Ângelo Rodrigues é o filho mais velho da personagem de Maria João Abreu, mulher que, precisamente num golpe de sorte, ganha o Euromilhões. Com a atriz de 55 anos, já tinha contracenado antes, em “Morangos com Açúcar”. Na entrevista dada este ano ao programa “Alta Definição”, Ângelo, natural do Porto, estabeleceu uma comparação com a sua personagem, Bruno — “Sou um provinciano com sorte”. As gravações da produção da SIC já terminaram e prevê-se que a segunda temporada termine em breve.

Uma relação complicada com o corpo

Em novo era tímido e na escola foi alvo de bullying. Apesar de ser um dos galãs das telenovelas da noite, Ângelo Rodrigues nem sempre teve uma relação saudável com o próprio corpo. À Notícias TV admitiu que, quando era mais novo, tinha bastantes complexos em relação à sua imagem. “Porque era muito magro, não gostava de me ver ao espelho. Era gozado na escola e já fui vítima de bullying“, revelou. Isso ajudou-o a moldar uma personalidade mais fechada, com receios e inseguranças. “Depois comecei a crescer, a desenvolver a minha personalidade. Comecei a gostar mais de mim, comecei a ir ao ginásio e a gostar mais de me ver ao espelho. E o resto veio por arrasto.”

© Facebook.com/angelorodrigues

“Foi no início da adolescência e foi algo que me marcou. Essas coisas não se explicam bem. Aconteceu, nem sempre existe uma explicação lógica para o bullying. Mas geralmente tem que ver com as minorias. São as pessoas mais magras, ou os que usam óculos, os que primam pela diferença”, disse em entrevista à Notícias TV.

Na mesma entrevista, contou também como a boa imagem lhe abriu portas na indústria da televisão e comentou como esta é escrava da “ditadura da imagem”: “Ia ser muito hipócrita se dissesse que não, se dissesse que apenas o meu talento é que me fez chegar onde estou hoje. Infelizmente, vivemos numa indústria em que a ditadura da imagem é cada vez maior. No entanto, quero acreditar que isto é uma coisa cíclica. Acho que a minha indústria já viveu mais essa ditadura, espero que esteja a mudar”.

Em fevereiro de 2015, foi capa da Men’s Health, para a qual se submeteu a uma preparação intensiva de seis semanas, com cinco treinos semanais, dividida em duas etapas. Àquela publicação, comentou que, no primeiro mês, trabalhou um grupo muscular por dia e que, no segundo, focou-se nos treinos direcionados para o peito e para a zona abdominal. Praticou ainda natação, atletismo, boot camp e jogou futebol. Na respetiva conta de Instagram — onde é seguido por 170 mil pessoas — são muitas as fotografias que atestam a boa forma física do ator.

© Ângelo Rodrigues na capa da edição de fevereiro de 2015 da revista Men's Health

Em maio de 2012, confirmou à revista Caras que fez uma cirurgia estética às orelhas, reduzindo-as. “É verdade que fiz a cirurgia. (…) Estou muito contente e satisfeito com o resultado.”

Ângelo Rodrigues foi um adolescente solitário. Em entrevista recente ao programa “Alta Definição” contou que foi “muito azarado emocionalmente” com as primeiras paixões — azares que o fizeram escrever (aos 10 anos venceu dois concursos de poesia). O amor, disse, chegou na vida adulta.

O ator teve duas relações conhecidas. Uma delas com a atriz Vanessa Martins, com quem contracenou na quinta série de “Morangos com Açúcar”, transmitida pela estação de Queluz de Baixo, em 2007. O namoro foi público e durou até 2011.

Na capa da GQ, com Iva Domingues, em dezembro de 2011

Foi com Iva Domingues que manteve uma relação de seis anos. O casal, com cerca de 11 anos de diferença, foi presença frequente em eventos e publicações. Em dezembro de 2011, surgiram juntos nas páginas da edição portuguesa da revista GQ como o “casal sensação”. O fim da relação chegaria em 2016. A apresentadora de televisão fez esta quinta-feira uma publicação no Instagram sobre o internamento de Ângelo Rodrigues. “Para hoje: viver sem fingir, escutar sem julgar, amar sem exigir e falar sem ofender”, partilhou, desencadeando reações de dezenas de outras figuras públicas.

“Angel-O”, alter ego na música

Em março de 2012, Ângelo Rodrigues decide aventurar-se na música. O disco Angel-O é editado pela europeia Parlophone e composto por dez faixas, todas elas co-assinadas pelo ator. “Só Quero Que Saibas”, o single de lançamento, contou com um videoclipe onde Ângelo surge como refém de um bando de polícias do sexo feminino. No final, as manequins retiram-se e dão lugar à atriz Sofia Ribeiro, em versão femme fatale. “[…] É através da música que consigo ser eu e expor os meus sentimentos mais profundos”, afirmou Ângelo numa entrevista à Caras, em maio desse mesmo ano, altura em que lançava “Eu”, o segundo single do disco.

Capa do álbum "Angel-O", editado em março de 2012

“Ainda na adolescência comecei a escrever as minhas primeiras músicas. No entanto, este outro meu lado só surgiu depois de eu ter mais visibilidade na representação. E o facto de essa vertente ter vindo depois… foi visto com renitência”, revelou numa entrevista ao suplemento Notícias TV, já em 2014.

Editado o disco, especulou-se se Ângelo Rodrigues estaria a iniciar uma carreira musical para abdicar do seu percurso na televisão, se viria a conjugar as duas ou se o disco de 2012 seria uma espécie de ato único. “Acho que as pessoas ainda não perceberam uma coisa: eu não fui contratado para fazer este álbum e isto não é uma coisa esporádica. É uma parte de mim que não vejo como tendo um prazo de validade, é algo que quero fazer para a vida. Tal como a representação. São duas coisas das quais não me consigo dissociar. São as minhas paixões”, referiu na mesma entrevista à revista Caras.

"Tenho medo de não ser amado e de ser esquecido. Tenho medo de na minha velhice olhar para trás e achar que foi em vão"
Ângelo Rodrigues ao "Alta Definição", junho de 2019

Na hora de produzir Angel-O, o ator foi ambicioso. O disco foi masterizado nos estúdios Sterling Sound, em Nova Iorque, por Tom Coyne, responsável pela finalização de trabalhos de Adele, Amy Winehouse, Beyoncé, Britney Spears e Jennifer Lopez. Do lado dos produtores, a lista conta com nomes portugueses e norte-americanos com ligações a artistas como Justin Bieber, Chris Borwn e Drake. Angel-O foi o primeiro e único álbum de Ângelo Rodrigues. O ator continuou a dedicar-se à representação e não editou qualquer outro álbum.

“[…] Aquele foi um projeto que marcou uma fase da minha vida, com um determinado target e uma determinada linguagem e que ficou por ali”, revelou, mais tarde, na mesma entrevista à Notícias TV. O percurso pela música tinha acabado, pelo menos com o alter ego Angel-O, mas Ângelo deixou uma porta entreaberta: “De vez em quando tenho feito outras composições. Vou a estúdio guardar algumas maquetes”. Já passaram cinco anos.

Ao “Alta Definição” revelou recentemente que este projeto musical foi “o maior tiro no pé” da sua carreira: “Tentei aproveitar uma boa fase da minha carreira para conseguir mostrar às pessoas o outro lado e isso foi mal entendido. Foi redondamente mal entendido. A esta distância consigo entender algumas coisas. (…) Mas está completamente resolvido”.

Perfecionista, exigente consigo e com os outros. Assim se descreveu o ator naquela entrevista, onde garantiu ser “um miúdo da terrinha que veio para a cidade” e aproveitou as oportunidades que teve para prosseguir uma carreira há muito desejada. Ângelo Rodrigues disse ser fruto de “uma educação honesta e humilde” e garantiu que os pais nunca o castraram, e esse é mesmo “o melhor elogio” que lhes pode fazer. Sobre a sua vida mostrou, nessa mesma entrevista, um receio: “Tenho medo de não ser amado e de ser esquecido. Tenho medo de na minha velhice olhar para trás e achar que foi em vão”.

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