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Relações públicas e comentador de moda, a popularidade de António Leal e Silva disparou com os vídeos divertidos (e de língua afiada) que partilha no Instagram
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Relações públicas e comentador de moda, a popularidade de António Leal e Silva disparou com os vídeos divertidos (e de língua afiada) que partilha no Instagram

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Relações públicas e comentador de moda, a popularidade de António Leal e Silva disparou com os vídeos divertidos (e de língua afiada) que partilha no Instagram

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

António Leal e Silva: "Não tenho ódios de estimação. Há quem se ponha mais a jeito porque veste coisas que não estão bem"

Com o smartphone apontado para o ecrã da televisão, o relações públicas tornado criador de conteúdos conquistou um lugar especial no Instagram com comentários de moda incisivos e cheios de graça.

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O que se esconde atrás dos vídeos que divertem 90 mil seguidores no Instagram? “Uma pessoa normal”, responde António Leal e Silva, 60 anos, com o gatilho sempre rápido. “Bem-disposto, alegre, de bem com a vida”, concede, antes de confessar: “Sei lá, não estou muito habituado a falar de mim próprio.” Essa mesma confissão repetir-se-ia muitas vezes ao longo de quase duas horas de conversa com o Observador, que confirmaram categoricamente, pelo menos nesta instância, o fator boa-disposição.

Nada faria prever que os vídeos que grava com o smartphone em riste, apontado para o ecrã da televisão, o fariam chegar a tanta gente. “Não estava à espera, porque o que faço, no fundo, acaba por ser uma crítica. Podia não ser bem recebido”. Sem pretensões e de língua afiada, começou a partilhar nas redes sociais comentários de moda sobre os looks dos famosos com que se deparava no televisor. “Com o tempo, cheguei à conclusão de que não vou mudar o mundo e que o melhor é levar as coisas a brincar”, explica. “As pessoas dizem-me que riem imenso comigo.” O tom suavizou, o sentido de humor ganhou protagonismo.

De Ibiza a Monte Carlo, frequentou as festas “mais fabulosas do mundo”. Foi relações públicas de “praticamente todas as discotecas de Lisboa” e arredores, do Kremlin ao Plateau, com um pezinho no T Clube, na Quinta do Lago. “Houve uma altura que não havia festa em que não estivesse presente.” Trabalhou com Ana Salazar e chegou a lançar uma coleção de moda. Foi comentador na SIC, na TVI e na CMTV. “Nunca me faltou nada e sempre fiz o que queria, fui muito mimado. Não me posso queixar e agradeço todos os dias a Deus pela vida que tive, que tenho, e que espero continuar a ter.”

António Leal e Silva fotografado no Palácio Vale-Flor (Hotel Carlton Pestana Palace)

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Como tem estado a digerir a atenção que recebeu de forma repentina?
Sempre tive uma vida muito peculiar e sempre fui uma pessoa notada. Mas, de um momento para o outro, isto chegou a um patamar a que não estava habituado. Saio à rua e há muita gente que vem falar comigo. As pessoas têm reações tão positivas, dizem coisas muito giras, que são minhas fãs, que me adoram, que riem imenso. Não estava à espera porque o que faço, no fundo, acaba por ser uma crítica, o que podia não ser bem recebido. Sobretudo sendo sobre famosos, que são habitualmente intocáveis ao comum mortal. Eu falar sobre eles podia gerar algum tipo de descontentamento ou atitude menos agradável. E menos mal, que não aconteceu.

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Vê-se como humorista?
Não sou humorista, nem tenho pretensões de ser. Os vídeos que faço são uma distração, uma brincadeira, porque não ganho nada com eles. Nem sequer sei mexer muito bem em tecnologias e quem vê os vídeos percebe isso.

Por que começou a partilhar estes vídeos?
Estava em casa e comecei a ver na televisão muita coisa que não estava bem, de acordo com os meus padrões estéticos. Levantei-me, peguei no telemóvel e comecei a falar. Com o tempo, houve uma mudança, porque os primeiros eram um bocadinho… Não é bem mais violentos, mas mais assertivos. Criticava de forma mais veemente. Sempre com um bocadinho de humor, mas mais sério. E depois, com o tempo, cheguei à conclusão de que não vou mudar o mundo e que o melhor é levar as coisas a brincar. Não gosto do termo gozar, porque acho que é um bocadinho desagradável. Mas optei por uma linguagem de brincadeira, com uma certa ironia, um certo sarcasmo. Há quem se ponha mais a jeito, porque veste coisas que não estão bem, mas não tenho ódios de estimação.

“Ficou agoniada, coitadinha. Tem que tomar um chá ou um Alka-Seltzer, que isso passa” — O humor e as polémicas

Que tipo de relação tem com o Cláudio Ramos?
Meti-me com o Cláudio Ramos algumas vezes [nos vídeos] e ele foi de uma simpatia imensa. Trocámos mensagens perfeitamente tranquilas, ele riu-se imenso, eu rio-me imenso. Não é meu amigo, mas mantemos um diálogo perfeitamente cordial. Estive no Bliss este verão como relações públicas e até tive o prazer de conhecer a filha dele. A miúda é amorosa, super querida, e ele retribuiu com uma mensagem simpatiquíssima. Mas há pessoas que realmente são um bocadinho… Não queria chamar mal educadas, mas vou chamar, pronto, têm um bocadinho menos de educação, são mais ressabiadas, reagem pior às críticas. Sinceramente, não me lembro dos nomes, porque sou antigo. Destes miúdos mais novos, não faço a minha ideia de quem são as pessoas. Ainda agora falei de uma miúda. Não me estou a lembrar do nome da rapariga…

Terá sido a Filipa Areosa?
Filipa Areosa. Ela foi amorosa, super querida, trocámos mensagens e é giríssima.

Imagine uma sujeita com uma saia muito curta, ou com um decote muito grande, ou com um botim e minissaia. Posso dizer que é um bocadinho “look Conde Redondo” e aí, para bom entendedor meia palavra basta.

Quem reagiu menos bem?
Achei muito grave a Liliana Campos, que fez uma afirmação mentirosa. Eles nunca me citam no programa [“Passadeira Vermelha”, da SIC Caras] como se eu não existisse, mas isso tudo bem, porque não tenho pretensões de ser conhecido, já tenho protagonismo que chegue na minha vida. Mas essa sujeita, essa Liliana, fez uma afirmação que é mentira, a dizer que eu tinha chamado, em vídeos meus, prostitutas a duas colegas, referindo-se diretamente à Sara Norte e à Filipa Torrinha, o que é mentira.

O que se passou?
É assim Maria, uma coisa que prezo muito é a boa educação. Gosto de brincar dentro dos padrões daquilo que considero boa educação. Posso usar uma expressão às vezes fora de contexto e que pode ser mal interpretada. Imagine uma sujeita com uma saia muito curta, ou com um decote muito grande, ou com um botim e minissaia. Posso dizer que é um bocadinho “look Conde Redondo” e aí, para bom entendedor meia palavra basta, mas não estou a chamar prostituta à pessoa. No caso delas, nem sequer utilizei essa expressão, limitei-me a fazer uma crítica de vestuário. Fiquei muito, muito triste, porque achei da parte dessa sujeita [Liliana Campos], que até trato por sujeita, porque realmente é um bocadinho tontinha, que merecia um pouco mais de respeito e de educação, porque ela não me conhece de lado nenhum e a partir do momento em que se enganou, devia ter pedido desculpa, porque o que ela disse é mentira. Sei que ela odeia que eu a critique, porque eles todos me dizem, ela fica cega porque não gosta de ser criticada, mas temos pena. Se eu não gosto, se acho que ela não está bem, se acho que a roupa não é apropriada ou que não está posta da forma mais adequada, e que a mim me dá vontade de rir, eu brinco. Mas tirando esse pormenor, não tenho mais stresses com mais ninguém. Nem tenho stress. Se por acaso for escrever isto, agradeço que escreva, que fique muito claro, que não tenho nenhum stress com ela, ok? Isto já passou. Não há aqui recalcamentos com ninguém. Passou, para mim está passado, porque essa é a minha maneira de estar na vida. Não guardo cá ressentimentos nem ódios de estimação, acho isso uma coisa péssima. Perguntou-me quem era o António, o António é assim.

Fiquei muito aborrecido, porque não tenho 15 anos, não é assim que trato as pessoas. Tinha merecido um pouco mais de consideração e de respeito. Adoro gente bem educada. É uma coisa fundamental em tudo na vida. Um “obrigado” não custava nada. São dois minutos, um telefonema.

Alguém que não cultiva de ódios de estimação?
Viver com recalcamentos, ódios e mal-estares é negativo para o ser humano. Eu odeio isso, não sou nada negativo, sou uma pessoa muito positiva, até otimista de mais. A positividade atrai positividade. As pessoas passam, as coisas acontecem, nós analisamos, falamos, tomamos as nossas atitudes e a vida continua, para a frente é que é Lisboa. Gosto que as coisas fiquem claras, para que quem as leia não fique com a ideia de que há aqui um ódio de estimação ou pense que fiquei muito sentido. Não. Caiu-me mal, é mal educada, temos pena, a vida continua. Desejo o melhor a toda a gente, porque é assim que tento estar na vida, porque é assim as coisas me puxam para cima. Se não, puxam-me para baixo e eu não gosto disso.

Há aqui um histórico com o sentido de humor do António gerar polémicas. Em 2019, altura em que estava a fazer uma rubrica “FBI”, do programa “A Tarde é Sua”, na TVI, escreveu no Instagram: “A TVI paga bem e eu sou uma pessoa de gostos caros”. Isso foi parar às revistas cor-de-rosa.
Foi uma história muito engraçada, que partilhei com o Flávio Furtado, de quem sou muito bom muito amigo, e que demonstra da minha parte alguma falta de sensibilidade em algumas áreas profissionais, neste caso as televisões (risos). Foi uma brincadeira, estava na Gucci e tinha acabado de fazer umas compras e achei graça fazer esse post a título de brincadeira, era uma private joke entre mim e o Flávio, porque eu estava na TVI a trabalhar pro bono, nunca me pagaram nada. Na altura, houve uma mudança de diretor de programas, entrou a Felipa Garnel e fiquei um bocadinho triste, porque estive lá algum tempo, sempre de forma gratuita, aquilo dava algum trabalho e nem um “obrigado” me disseram. Fiquei muito aborrecido, porque não tenho 15 anos, não é assim que trato as pessoas. Tinha merecido um pouco mais de consideração e de respeito. Adoro gente bem educada. É uma coisa fundamental em tudo na vida. Um “obrigado” não custava nada. São dois minutos, um telefonema.

Isso teve alguma coisa que ver com a saída do António da TVI, seguido da estreia do programa “O Resto é Conversa”, sobre o qual o António veio depois esclarecer que o conceito parecia ter sido surgido de algumas ideias que teve enquanto esteve no canal?
Foi uma coisa muito desagradável. Eu fui para a TVI a convite do Flávio [Furtado] para começar uma rubrica no programa da Fátima Lopes. A ideia que estava de pé, e que estava a ser tratada, era de criar-se um programa de comentário social mais a sério, uma coisa gira, bem feita. O Flávio tinha tudo muito bem estruturado, porque ele realmente é bom nisso. Estava tudo a ir para a frente e, de um momento para o outro, o diretor de programas sai e entra a Felipa Garnel. Não quero estar a gerar polémicas, porque não estou dentro do assunto, mas alegadamente, como agora se costuma dizer, ela juntou o grupo que achou que seria interessante — mas realmente demonstrou-se que não era. Eu ainda brinquei com eles. A Silvia Rizzo ficou muito azedada com as minhas brincadeiras, essa também é uma das que ficam agoniadas, coitadinha, tem que tomar um chá ou um Alka-Seltzer, qualquer coisa, que isso depois passa. O programa não tinha pés nem cabeça.

Às vezes nem tachos são, são panelinhas de pressão. Nem panelinhas de pressão são, porque o que se ganha, na maior parte das vezes, é uma miséria e andar tudo à pancadaria, como acontece, que eu vejo, por 100 euros? Se ainda fosse por 100 milhões, por um milhão, por meio milhão, ainda podia ter alguma graça, percebe? Agora andarem todos à tareia por 100 euros? Eu não participo. Para receber 100 euros por semana, prefiro não receber. Não, obrigado, mas fica para eles irem tomar um café ou para a caridade.

Mas achou que era baseado nas suas ideias?
O sujeito que estava no programa [Carlos Moura] passava a vida atrás do Flávio e de mim lá na TVI, a dar-nos os parabéns, [a dizer] “vocês são ótimos”, “são extraordinários”. Estava sempre a tirar dicas do Flávio e depois tentou transitar essas dicas para o outro programa. Mas isso são mexericos, são coisas pequeninas, mesquinhez, que na altura eram desnecessárias. A vida é assim, mudam-se as pessoas, mudam-se os interesses e sabe que, em televisão, as coisas funcionam muito assim.

Assim como?
Isto que eu vou dizer é polémico, mas estou-me a borrifar: [a televisão] nem sempre funciona pela qualidade, competência ou saber. Funciona muito pelos amigos. Não gosto de chamar tachos, porque às vezes nem tachos são, são panelinhas de pressão. Nem panelinhas de pressão são, porque o que se ganha, na maior parte das vezes, é uma miséria e andar tudo à pancadaria, como acontece, que eu vejo, por 100 euros? Se ainda fosse por 100 milhões, por um milhão, por meio milhão, ainda podia ter alguma graça, percebe? Agora andarem todos à tareia por 100 euros? Eu não participo. Para receber 100 euros, por semana, prefiro não receber. Não, obrigado, mas fica para eles irem tomar um café ou para a caridade.

Como ficou a relação do António com a TVI?
Dou-me bem com toda a gente, mas houve um pequeno mal entendido com a Cristina Ferreira por causa de um post que fiz. Tenho uma maneira de falar muito própria e, na altura, aquilo impressionou-me imenso. Há uma coisa que me faz muita impressão, que é pessoas a comerem com a boca aberta, e a comerem em televisão e a falarem ao mesmo tempo. Já reparei que é uma coisa que acontece com frequência agora em televisão. Todos os canais fazem isso, SIC, TVI, RTP, deve ser uma moda qualquer nova nos programas da manhã. Estão a fazer comida e todos comem. Pessoalmente não gosto de ver, a mim faz-me impressão. Quando era pequeno, ensinaram-me em minha casa que uma pessoa que fala com a boca cheia e que come de boca aberta é porca, pronto, foi o termo que a mim me ensinaram em criança e eu realmente utilizei esse termo para a Cristina Ferreira. Pode não ter sido o termo mais adequado, reconheço-o. Fiquei tão indignado e aquilo fez-me tanta impressão, mas é uma questão de educação, de princípios. Há coisas que nos tocam e isso toca-me. A televisão influencia muita gente que está em casa e as pessoas que estão em televisão devem dar o exemplo.

Não preciso de protagonismo, já tenho protagonismo que chegue. Vou a todo lado, toda a gente me conhece. Ou me dão um contrato simpático, viável, ou porque é que hei de ir gratuitamente? Não pertenço à misericórdia nacional.

Então o comentário fez alguma mossa.
Aquilo não caiu muito bem em alguns meios da TVI, pelo menos foi o que me foi transmitido. Mas penso que é tudo uma questão de as pessoas conversarem de forma civilizada. Porque, se formos por esse caminho, aquela sujeita que é advogada [Suzana Garcia], meti-me com ela e ela foi amorosíssima. Está lá [na TVI] como comentadora. Com a TVI por mim está tudo bem, não tenho problemas nenhuns.

Tem recebido convites dos outros canais?
Tenho recebido muitos convites e tenho sido abordado para comentar em vários canais. O problema é que não tenho aceite, porque as pessoas querem pro bono e eu de borla não vou para lá, porque não estou para estar a expor-me para aparecer em televisão. Não preciso de protagonismo, já tenho protagonismo que chegue. Vou a todo lado, toda a gente me conhece. Ou me dão um contrato simpático, viável, ou porque é que hei de ir gratuitamente? Não pertenço à misericórdia nacional.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

O protagonismo não o atrai?
Para protagonismo não tenho paciência. Sabe que a grande maioria das pessoas em televisão que faz este tipo de programas não está lá por aquilo que lhes pagam, porque é muito pouco. Onde é que vão buscar o dinheiro? Aos presentes, às borlas, aos jantares de borla, aos hotéis de borla, às viagens de borla. Há todo um estratagema em que as pessoas, alegadamente, vivem desses benefícios. Eu disso não vivo nem sei viver. É como o Instagram, podia ganhar dinheiro, mas nem sei. Neste mundo é tudo muito giro, é tudo muito amigo, mas quando alguém chega com capacidade de fazer melhor, pode ameaçar o status quo, está a ver a ideia?

E se surgisse uma boa proposta?
Estou aberto e estou completamente disponível, mas sem valores à frente, não vou. Ouço zunzuns, aparecem umas ideias, vêm umas propostas, assim sempre por alto, mas nada em concreto. Já estive na SIC, na TVI, na CMTV, sempre pro bono. Todos me queriam, dizem que sou ótimo, fantástico, belíssimo, obrigado, agradeço imenso, mas depois, quando chega a hora da verdade, ninguém diz nada. E eu só para ir lá por convite não, não estou para isso, nem que seja para a gasolina, percebe? Não apetece.

Tendo em conta a exposição que tem nas redes sociais, já é procurado pelas marcas?
Isso não está a ser explorado, porque ia precisar de apoio. Até posso fazer um post, mas nem sei mexer nas coisas. Tenho um telemóvel e uma televisão, ponto. E é um telemóvel normalíssimo, nem sequer é iPhone, com uma imagem às vezes péssima.

“Cresci como um pequeno príncipezinho. A minha referência é a minha família.” — A infância

Como foi a sua infância?
Tive uma infância super feliz. Cresci como um pequeno príncipezinho. Não gosto muito de falar sobre a minha família, porque quem se expõe sou eu. A minha família nunca se quis expor, nem nunca esteve para aí virada. Tenho uma família perfeitamente normal, comum, tradicional, conservadora, mas com alguma modernidade. Os meus pais já faleceram. Tive uns pais ótimos. O meu pai era um homem conservador, muito austero, muito rígido. Rígido no bom sentido da palavra. Era um homem com princípios muito vincados, que fazia um negócio com aperto de mão. Um homem de palavra, um senhor.

E a sua mãe?
A minha mãe era uma senhora. Não era dona de casa, porque não fazia muita coisa em casa (risos), mas era uma mulher que vivia a vida dela para a casa e para os filhos, para as festas, para os jantares. Era uma mãe extremosa, muito querida, amorosa, foi uma perda enorme para mim. Era uma mulher elegante. Não era lindíssima, mas era uma mulher interessante, bonita dentro do género. A beleza é uma coisa relativa, não é? Porque quem feio ama, bonito lhe parece. Mas não era feia, a minha mãe. Era uma mulher bonita, muito elegante e essa é a minha referência. A minha referência é a minha família.

Eram as festas dos queques e eu era o queque dos queques, porque eu era um horror de snob e era péssimo (risos).

Ia precisamente perguntar-lhe onde foi buscar as suas referências.
A minha referência é a minha família, aquilo que vi em casa, o que ia observando quando era miúdo, as pessoas que frequentavam a casa, as amigas da minha mãe, aquilo que ia ouvindo, o que me era transmitido. Estive sempre em casa, em criança. Na altura, não se metiam os filhos nos infantários. Fomos criados em casa e, com seis anos, fomos para a escola.

Cresceu no Restelo, no seio de uma família "conservadora, mas com alguma modernidade", com quem aprendeu as referências por que se pauta

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Tem irmãos?
Tenho uma irmã mais velha, com quem tenho uma relação belíssima, excelente. Neste momento, pouca gente resta da minha família. A minha mãe era a filha mais nova de sete irmãos e eu sou o mais novo da minha geração. Se eu já tenho 60 anos, os outros já estão todos para lá de Bagdad (risos).\

Onde cresceu?
Sou alfacinha de gema. Cresci no Restelo. Entrei para o 1.º ano [equivalente ao atual 5.º ano] no 25 de abril de 1974. Apanhei a escola naquele período todo da Revolução, que foi uma grande maluqueira. Andei na Francisco de Arruda, que era uma escola belíssima, e depois fui para o Dom João de Castro, que adorava também. Era uma escola super bem frequentada. Andavam lá na altura os netos do Américo Tomás. Tive uma adolescência normal no Restelo, no Careca, na parte cá de cima. Juntava-se ali uma grupeta, parávamos nas festas de garagem em casa dos amigos. Também havia algumas festas no Estoril e na Lapa. Eram as festas dos queques e eu era o queque dos queques, porque eu era um horror de snob e era péssimo (risos).

"[Em Londres] vi pela primeira vez punks na rua e gente alternativa. Eu só conhecia pessoas de calças de fazenda, sapatinhos de berloques, camisinha e pullover. 

E quando saiu finalmente da bolha?
Fui para Londres, para um campo de férias, e fiquei completamente alucinado com aquilo tudo. Fiquei doido, não estava a acreditar naquilo, era um mundo completamente novo. Vi pela primeira vez punks na rua e gente alternativa. Eu só conhecia pessoas de calças de fazenda, sapatinhos de berloques, camisinha e pullover. Quando voltei para Lisboa, a minha vida deu uma volta de 50 mil graus.

António Leal e Silva passou vários anos a viajar e a frequentar festas "fabulosas" — "Monte Carlo e Ibiza são os meus sítios preferidos em todo o mundo."

“Eu era muito à frente. Quando saía à noite, aquilo era uma escandaleira.” — Ibiza e os loucos anos 80

Foi nessa altura que deixou de estudar?
Sim. Estava no 11.º ano. Afastei-me completamente do Restelo. Não perdi os amigos, mas a minha vida seguiu outro caminho. Comecei a ir para o Bairro Alto e para a Rua Garrett, comecei a fazer amigos mais alternativos. Vestíamos-nos de uma maneira muito fora do normal. Na altura, falava-se dos futuristas. Era o tempo dos Duran Duran, dos Spandau Ballet, do Boy George. Estamos a falar da década de 1980. Era uma maluqueira, o Trumps era o máximo. Tudo que era artistas, arquitetos, malta das televisões, toda a gente parava lá. As manequins todas da época, lindíssimas, a Ana Salazar. A Rosa Maria (companheira de Fernando Ataíde) fazia umas festas fabulosas.

Entretanto, descobriu Ibiza.
Depois, fui para Ibiza. Ia para lá em fevereiro ou março, ficava o verão inteiro, parava em Madrid e voltava para Lisboa, em setembro ou outubro. Na altura, ninguém falava em Ibiza. A ilha era uma coisa muito rudimentar. Era o meu local de eleição. Voltei lá há pouco tempo e até me deu vontade de chorar, porque passei lá os melhores momentos da minha vida, conheci as pessoas mais extraordinárias e fabulosas do mundo inteiro, e agora está corriqueiro. E as coisas corriqueiras perdem a graça.

Embarquei na Ibiza profunda e convidaram-me logo para trabalhar lá. Eu era muito à frente, quando saía à noite, aquilo era uma escandaleira. Ia com 50 malas de viagem e vestia-me lindamente, modéstia à parte. Em Ibiza, as pessoas montavam-se todas. Toda a gente ia para Ibiza, porque era diferente, era livre, as pessoas podiam andar como queriam, porque ninguém dizia nada, ninguém se metia.

Fale-me sobre esses tempos áureos de Ibiza.
Fui como turista, na primeira vez, e não me quis ir embora. Liguei para a minha mãe e disse-lhe: “Não vou para Lisboa, vou ficar aqui.” Na altura as coisas eram diferentes, não havia telemóveis, nem o dinheiro se movimentava desta forma. Ainda havia pesetas e escudos. Embarquei na Ibiza profunda e convidaram-me logo para trabalhar lá. Eu era muito à frente, quando saía à noite, aquilo era uma escandaleira. Ia com 50 malas de viagem e vestia-me lindamente, modéstia à parte. Em Ibiza, as pessoas montavam-se todas. Toda a gente ia para Ibiza, porque era diferente, livre, as pessoas podiam andar como queriam, porque ninguém dizia nada, ninguém se metia.

Como apareceram os convites para trabalhar nas festas?
Comecei a ser notado, porque saía e fazia a festa. Convidaram-me para trabalhar no bar dos Coco Locos, que era de um brasileiro, o Brasílio, e numa discoteca que se chamava KU. Era a maior discoteca da Europa, levava 10 mil ou 15 mil pessoas. Fui relações públicas lá sempre que fui para Ibiza, durante dois ou três anos. Era uma discoteca fabulosa, para onde ia o conde de Barcelona, avô do Felipe [IV, Rei de Espanha], o próprio Felipe, a duquesa de Alba…

“Íamos jantar de pareo e blazer, calçados com chinelas. Aqui [em Portugal], os homens não iam para a praia com um paninho enrolado, porque ficava tudo a olhar.”

Ibiza era diferente em que aspeto?
Estamos a falar dos anos 1980. Era um bocadinho aquela onda andrógina do Boy George, dos Classix Nouveaux, dos Duran Duran. Na altura chamava-se futuristas ou avant-garde. Foi quando se começou a movimentar a La Movida, em Espanha, a era do Almodóvar, do Banderas. Também havia muito a onda hippie. Ibiza era uma ilha de hippies. Íamos jantar de pareo e blazer, calçados com chinelas. Aqui [em Portugal], os homens não iam para a praia com um paninho enrolado, porque ficava tudo a olhar.

Liguei à minha mãe a dizer que estava em Ibiza, e respondeu-me: “Ai, mas tem de vir para a tropa, que ainda é preso.”

Mas acabou por voltar, para ir para a tropa.
Foi uma maluqueira. Liguei à minha mãe a dizer que estava em Ibiza, e respondeu-me: “Ai, mas tem de vir para a tropa, que ainda é preso.” Então vim. E entretanto cansei-me de tudo, cansei-me das festas, das idas e das vindas, daquilo tudo. Fartei-me dos Bairros Altos e das modas. Enjoei, que eu também sou de enjoos.

“Fiz de tudo e ainda faço, porque não estou morto. Mas sou das poucas pessoas que não está, nem nunca esteve, queimado na praça.” — A moda e as festas do social

Voltou às origens?
Fui buscar os meus amigos antigos e voltei a estudar. Tirei o 12.º ano e entrei na Lusíada, aos 26 anos, para estudar Relações Internacionais.

Com pretensões de exercer?
Com pretensões de fazer alguma coisa nas Relações Internacionais. O problema é que realmente a pessoa já tinha 26 anos, por isso acabei o curso com 31 anos. A saída mais direta era para o corpo diplomático e eu teria de começar pelo princípio, não ia logo entrar num cargo XPTO. Na altura os meus pais tentaram arranjar uns contactos, estive para ir para Bruxelas, mas não fui, porque a minha mãe achou que não valia a pena. Sempre fui muito menino da mamã e muito protegido pelos paizinhos. Estava mais sossegadinho cá em Lisboa. Então, não fiz nada. Mas a minha vida mudou.

Em que sentido?
Voltei ao social, abandonei um bocado o alternativo. Foi a era do T Clube, das festas da Quinta do Lago, a festa do Yé Yé, do Trigo, os tempos áureos da Lili da Caneças e daquelas mulheres todas fabulosas, como a Dadinha Ribeiro da Cunha, as Prieto, a Conceição Nery, que na altura era a mulher do José Manuel Trigo. Era uma mulher espetacular, juntamente com o Trigo, um homem que tinha vindo do Brasil com um know-how imenso. Criou-se ali um ambiente com uma malta muito gira, diverti-me horrores.

Tenho imenso orgulho em dizer que tenho 60 anos, fiz as maiores maluqueiras, as maiores loucuras, fiz muita coisa, viajei, saí, brinquei. Fiz de tudo e ainda faço, porque não estou morto. Mas sou das poucas pessoas que não está, nem nunca esteve, queimado na praça.

Foi aí que começou a trabalhar como relações públicas?
Convidaram-me nessa altura, porque conhecia muita gente e era uma mais-valia. Tenho de dizer uma coisa que para mim é importante. Tenho imenso orgulho em dizer que tenho 60 anos, fiz as maiores maluqueiras, as maiores loucuras, fiz muita coisa, viajei, saí, brinquei. Fiz de tudo e ainda faço, porque não estou morto. Mas sou das poucas pessoas que não está, nem nunca esteve, queimado na praça. Sempre tive imensa atenção ao meu comportamento, sempre fui uma pessoa reta, nunca me meti em filmes, nem drogas, nem coisas condenáveis. Posso entrar em todo o lado cabeça erguida, não preciso de me esconder, não me arrependo de nada. Posso ter mudado de visual, mas nunca mudei o meu caráter, até porque tinha uma dívida de respeito para com a minha família. Era incapaz de denegrir o meu nome ou de desiludir os meus pais.

Também esteve ligado à moda e trabalhou com a Ana Salazar.
Estive com a Ana Salazar dois ou três anos, fui gerente da loja da Rua do Carmo. Sou muito amigo da Ana, adoro a Ana e o Manel [Salazar]. Em Ibiza, tinha um casal de amigos italianos estupendos, que tinham uma loja, e lembrei-me da Ana, que na altura fazia umas coisas muito chiques, para eles porem as roupas à venda nessa loja. E puseram. O Manel ficou muito entusiasmado com a ideia, por isso, quando vim a Portugal, convidou-me para colaborar com eles. Estive na loja. Saí porque me cansei, mas continuámos muito amigos. Ainda hoje continuo muito amigo da Ana, adoro a Ana Salazar. Não se pode falar de moda em Portugal sem falar da Ana Salazar.

Mais tarde criou uma marca própria?
Sim, sempre foi um sonho. Quando era criança, tínhamos uma costureira, que era a Alice, que trabalhava para a minha mãe. Naquela época, a roupa era feita em casa. Quando íamos de férias, havia toda uma preparação, os fatinhos de marinheiro. Eu adorava ver aquilo, sempre gostei muito de roupa, sempre tive essa paixão. Tive uns negócios de moda entre Lisboa e Madrid com uma amiga minha que já faleceu, que era a Zica Gaivão. Fazíamos cá roupas e levávamos para Madrid. Mais tarde, uma amiga minha, a Catarina Rito, desafiou-me para apresentar uma coleção [Moments by António Leal e Silva].

"Fui muitos anos para Monte Carlo, adoro Monte Carlo. Fui sempre para os bailes do Príncipe Alberto, acho uma coisa muito gira."

Imagem cedida ao Observador por António Leal e Silva

“Tenho amigos que formam uma família e são ambos do mesmo sexo. Não tenho o direito de o negar, porque isso já seria um conservadorismo arcaico e eu não sou uma pessoa arcaica.” — Os valores

Vê-se mais conservador ou mais moderno?
Tanto me visto para ir para o Lux, como me visto para ir para o jantar dos Conjurados. Costumo dizer que sou um conservador moderno. A minha base é tradicional e conservadora, mas sou uma pessoa com mundo. Sou muito apologista daquela trilogia salazarista que é Deus, Pátria e Família.

Que relação tem com Deus?
O meu Deus é um Deus bom, que não julga, que ajuda, que protege. A minha família não é a família do pai e da mãe, pode ser pai e mãe, pode ser pai e pai, pode ser mãe e mãe, porque vivemos em 2023, a família já não é o que era e o tempo nunca anda para trás. Quando o homem conquista, dificilmente retorna. É como comer bife de lombo, depois é muito difícil voltar para o fígado. Para mim, a família é importante, mas a minha visão de família é uma visão mais aberta, porque aceito e tenho de reconhecer a evolução dos tempos. Tenho amigos que formam uma família e são ambos do mesmo sexo. Não tenho o direito de o negar, porque isso já seria um conservadorismo arcaico e eu não sou uma pessoa arcaica. E pátria só temos uma, temos de a defender.

Sou monárquico dos sete costados, completamente monárquico, monárquico a sério (...) A Implantação da República foi uma imposição de meia dúzia de pessoas que acharam que [a República] era um regime melhor. É um regime que nos foi imposto e, ainda por cima, de forma enganosa.

Tem inclinações monárquicas?
Não tenho inclinações, sou monárquico dos sete costados, completamente monárquico, monárquico a sério. Sempre fui e sou monárquico, sem dúvida nenhuma. Obviamente, sou monárquico constitucionalista.

Os seus pais já eram monárquicos?
Sim, foi assim que cresci, foi assim que me educaram. Devemos muito à Casa de Bragança. A Implantação da República foi uma imposição de meia dúzia de pessoas que acharam que [a República] era um regime melhor. Foi imposto, porque a República nunca foi referendo, a República nunca foi a votos. É um regime que nos foi imposto e ainda por cima de uma forma enganosa, porque os republicanos vinham dizer que eram a salvação do país e que eram melhores do que a monarquia, o que é um erro. Vendeu-se a ideia de que a monarquia é uma coisa absolutista que absorve os dinheiros do país, que rouba o povo.

As monarquias funcionam melhor?
Prova disso é Espanha, Inglaterra, Holanda, Dinamarca, Bélgica. Sou defensor de uma monarquia constitucional. A diferença é que, em vez de haver um Chefe de Estado, há um Rei.

O que é que isso tem de melhor?
Em termos de gastos, uma Presidência da República gasta tanto ou mais dinheiro do que o Rei. Qual é a mais-valia? Em termos políticos, uma coisa que incomoda os republicanos e que eu acho que é muito melhor, é a sucessão, porque a pessoa que vai suceder é preparada desde que nasce para suceder. Na república não, os cidadãos votam para outro cidadão ser Presidente da República, cuja competência para desempenhar as funções nem sempre é a melhor. Nunca se inventou nenhum regime melhor do que a democracia, graças a Deus, mas o voto popular é uma coisa relativa.

Porquê?
Porque o voto popular só funciona bem em países muito desenvolvidos, em que a formação das pessoas é imensa. Em países que não são tão desenvolvidos, a parte política é relativa. As pessoas são influenciadas pelos meios de comunicação e pela política, e por vezes nem sempre o voto é o voto mais correto, nem a pessoa que vai para lá cumpre as funções em cinco anos, o tempo que demora um mandato em Portugal. Eu defendo que deve haver um rei, porque sou monárquico e porque essas são as minhas raízes. Dizem que está em vias de extinção e eu se calhar até vou ter de começar a concordar, porque realmente o mundo mudou, as monarquias já não são o que eram, os casamentos já não são o que eram, as famílias já não são o que eram, as tradições já não são o que eram. Havia aquele filme que era “O Último dos Moicanos”. Com 60 anos, a minha geração já deve ser a última daqueles tempos que não vão voltar nunca mais, porque o mundo está a mudar muito rápido.

Se votar entre a república ou a monarquia fosse a referendo, tenho muitas dúvidas sobre o resultado. Acredito que, se não ganhasse a monarquia, estaria muito perto, porque o povo português gosta de estabilidade.

O que mudou?
Já não há aquelas atenções entre as casas reais, aquele núcleo, aquela bolha fechada de uma minoria, que era uma elite. A ideia da nobreza foi sendo difundida nas escolas de forma errada. Um nobre não é uma pessoa arrogante, nem má. Uma pessoa é nobre porque nasce para servir o país e não é essa a ideia que nos é transmitida. Servir o país não é servir-se do país. Os nobres abraçam sempre causas de solidariedade.

"Sou monárquico dos sete costados, completamente monárquico, monárquico a sério. Sempre fui e sou monárquico, sem dúvida nenhuma."

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Há pouco falou sobre a República nunca ter ido a votos. Acha que os portugueses votariam numa monarquia?
Se houvesse vontade política, devia haver um referendo. Até porque um referendo daria um poder à república que a república não tem, uniria os portugueses. Se votar entre a república ou a monarquia fosse a referendo, tenho muitas dúvidas sobre o resultado. Acredito que, se não ganhasse a monarquia, estaria muito perto, porque o povo português gosta de estabilidade. Era de bom tom fazer [um referendo].

Esteve no jantar dos Conjurados?
Estive. O Dom Duarte, a Dona Isabel e a Infanta [Francisca] têm um peso considerável para muita gente. Por exemplo, o panamá [de Dom Duarte] foi vendido por 5 mil euros. Peço desculpa por estar a falar de dinheiro, que é feíssimo, mas pronto. Foi vendido por 5 mil euros que não foram para o Dom Duarte, foram diretamente para a Ajuda de Berço. Dom Duarte está sempre disposto a apoiar causas nobres e é uma pessoa que aceita com muita naturalidade a República. O Afonso Santa Maria estaria preparado para suceder ao pai no caso de vivermos em monarquia. Num país pequeno como o nosso, com uma economia muito assente no turismo, acho que, em termos sociais e internacionais, o país tinha tudo a ganhar em ter uma família real. Um baile organizado com o patrocínio de sua Alteza Real Dom Duarte de Bragança teria um peso internacional e social maior do que uma coisa organizada pelo Marcelo Rebelo de Sousa.

Acompanhou o casamento da Infanta Francisca?
Não só acompanhei como fiz imensas críticas [no Instagram] e foi um sucesso (risos).

Que opinião tem da Infanta?
É uma miúda muito do seu tempo, com um sentido muito prático das coisas, interessante, engraçada, com um sentido de humor apuradíssimo. Tem a simplicidade de uma princesa, vê-se que é uma miúda bem educada, civilizadíssima. Tem imensa vontade de ajudar o país, de ter uma atitude mais proativa. Dom Duarte é um homem que está na vida dele, não é de polémicas, nem se envolve demasiadamente. Há um problema em Portugal, porque a causa real é uma causa muito mal agarrada, podia fazer-se muito mais do que se faz, as reais associações podiam ter um papel mais ativo.

Nunca ninguém viveu à custa do Salazar, nem ele próprio viveu à custa do Estado, mas ele tinha um problema, que era ser provinciano e campónio. E isso transmitiu-se para toda uma sociedade (...) Isso nunca fomentou nos portugueses aquela vontade de se vestirem, a ideia da elegância.

“Para a portuguesa comum, um tailleur da Chanel é roupa de velha.” — A elegância

As pessoas vestem-se bem em Portugal?
As pessoas não se vestem bem em Portugal. As pessoas vestem-se muito mal em Portugal. Tem tudo que ver com uma questão social. Vivemos muitos anos debaixo de um regime salazarista e o Salazar tinha um problema gravíssimo. Era um homem muito competente, um belíssimo economista, um homem que dava tudo pelo país. Foi o único ditador que morreu sem deixar fortuna, o que é de uma de uma hombridade e de uma verticalidade sem palavras. Nunca ninguém viveu à custa do Salazar, nem ele próprio viveu à custa do Estado, mas ele tinha um problema, que era ser provinciano e campónio. E isso transmitiu-se para toda uma sociedade. Estou a falar das massas, não estou a falar de pequenas elites. Isso nunca fomentou nos portugueses aquela vontade de se vestirem, a ideia da elegância. Quando foi a festa dos Schlumberger, na Quinta do Vinagre, ou a festa da Quinta Patino, que foi maior e mais falada, veio gente do mundo inteiro, ficaram no Hotel Palácio, foi uma festa escandalosa, giríssima, e o Salazar proibiu as pessoas de irem. Lembro-me da filha do Américo Tomás estar triste porque não podia ir à festa. E não foi.

As coisas em Espanha são diferentes?
Sim, em Espanha as pessoas vestem-se, arranjam-se, há muitas festas. O Franco tinha uma visão diferente. Eu ainda sou dessa geração que cresceu com a ideia de não ostentar. A roupa passava dos mais velhos para os mais novos. Obviamente há sempre umas minorias e umas elites que funcionam de outra forma. Estou a falar no geral.

E como vê os especialistas de moda em Portugal?
Na televisão, as pessoas intitulam-se especialistas mas percebem muito pouco de moda. Há uma coisa que convinha referir, porque acho que é importante e digo isso várias vezes nos meus vídeos: há uma diferença substancial entre moda e elegância. Nos vídeos e na vida, a minha maneira de estar pauta-se pela elegância. Não é pela moda, porque em moda eu até posso pôr um regador na cabeça, o céu é o limite. Posso fazer um fato todo em alfaces, a outra [Lady Gaga] vestiu-se de bifes.

Uma mulher que sai para a rua com um vestido de lantejoulas durante o dia é maluca, para mim.

O que considera deselegante?
Por exemplo, uma mulher de minissaia com botins. Nem todas as mulheres podem usar minissaia. Hoje em dia, diz-se que toda a gente pode vestir tudo, mas eu acho que não. Gosto imenso de umas calças da Dsquared2 e não as posso usar, porque tenho um rabo enorme e as calças esteticamente não me ficam bem. A mulher portuguesa tem uma coisa péssima. Praticamente todas pensam assim, o que é um erro: quando se arranjam e estão impecáveis, acham que estão velhas. Para a portuguesa comum, um tailleur da Chanel é roupa de velha.

"As pessoas vestem-se muito mal em Portugal. Tem tudo que ver com uma questão social. Vivemos muitos anos debaixo de um regime salazarista."

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Também tem algumas reservas em relação aos brilhos.
O brilho foi inventado pelos criadores para usar à noite, não é para se usar durante o dia. Uma mulher que sai para a rua com um vestido de lantejoulas durante o dia é maluca, para mim. Quando estamos a falar de um casal num evento em que um homem está de smoking, as mulheres não podem ir de calças. Ao lado de um smoking, uma mulher tem de vestir vestido comprido, é assim que dita a tradição, a classe, a estética a elegância.

As calças são um vestuário que a mulher adotou, e muito bem, para se sentir mais cómoda, mais prática, mais à vontade, mas há mulheres que não se sabem sentar e depois sentam-se de perna aberta, que é uma coisa feíssima.

O António é especialista na etiqueta de vestuário nos casamentos.
Uma mulher que se vai casar pela igreja não pode entrar na igreja com grande decote, nem com vestidos com transparências. Tem de levar uma jaquetazinha por cima, para se compor. As convidadas não podem ir de minissaia com os braços à mostra. Mas agora toda a gente vai. São valores que se perdem. Enquanto estou vivo e puder, transmito-os a quem me quiser ouvir. Em Portugal, a única pessoa que vai de vestido comprido para um casamento é a noiva. Os convidados não podem ir de vestido comprido, é ridículo, isso é uma coisa americana, não tem nada a ver connosco. É como as damas de honor irem todas vestidas de igual ou como dizer que não se vai de preto, está errado. Pode ir-se de preto ou de branco para um casamento. Branco normalmente não se vai, porque uma mulher elegante raramente veste branco. Veste o champanhe, o bege, o cru. Porque é que se diz que as mulheres não devem ir de branco para o casamento? Porque a única pessoa que deve ir de branco e de vestido comprido é a noiva. Qual é o perigo? É que, como agora as pessoas têm a mania de vestir vestidos compridos, depois encontra-se uma convidada de vestido comprido e branco, e não se sabe quem é a noiva e quem é a convidada. Também não se deve ir de calças para uma igreja, não é de bom tom. As calças são um vestuário que a mulher adotou, e muito bem, para se sentir mais cómoda, mais prática, mais à vontade, mas há mulheres que não se sabem sentar e depois sentam-se de perna aberta, que é uma coisa feíssima. A mulher deve usar calças para situações práticas. Em tudo o que são eventos ligeiramente mais formais, deve evitar a calça. Estou a evitar a palavra etiqueta porque odeio.

Que expressão prefere usar?
São valores de convivência social. É como o fumo. Em minha casa havia uma sala de fumo. Os homens não podem estar a fumar charuto à frente das mulheres que não fumam charuto, porque é chato. Então as pessoas recolhem-se para um local onde se fuma. Isso já se fazia antes da proibição, porque é desagradável as pessoas irem para um sítio público, ou para uma festa, e começarem a fumar charuto em cima umas das outras, porque há pessoas que gostam e outras que não gostam. São esses valores que se têm perdido e que acho que não há necessidade de perder. Hoje em dia vamos a restaurantes e as pessoas têm um comportamento pouco próprio.

O que é um comportamento pouco próprio num restaurante?
Levam os miúdos, os miúdos aos gritos, a cuspirem para o chão, a partirem tudo. É chato, porque eu vou jantar e não me está a apetecer levar com crianças de 5 anos. Ok, não têm onde deixar os miúdos, tentem fazer de outra maneira. Hoje em dia já se vê pela Europa alguns restaurantes que proíbem crianças.

Vamos a referências positivas, então. Que mulheres se vestem bem em Portugal?
Há mulheres que acho fabulosas e que se vestem lindamente. A Maria Barroso, a Vicky Fernandes, a Kiki Espírito Santo, que é uma mulher de uma elegância… Ela entra na igreja do Estoril e distingue-se de toda a gente. A Luizinha Chamaplimaud, a Betty Grafstein, que é uma mulher que nunca a vi sem estar arranjada, apesar de ser outro género. Não gosto de mulheres muito maquilhadas. A Betty é mais montada, mas é uma mulher que nunca a vi deselegante, está sempre impecável. Gosto da mulher do Trump, da Melania Trump. É uma mulher elegantíssima. A Maria Callas era uma mulher elegantíssima, a Jacqueline Kennedy Onassis era uma mulher elegantíssima. Em Espanha, gosto muito da Naty Abascal, da Isabel Preysler, da Carmen Ordóñez, que já faleceu. Em Espanha há imensas, elas são fabulosas. A elegância espanhola é outro tipo de elegância.

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