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Assinou um acordo em direto e lembrou o fantasma independentista: Feijóo vence debate frente a um Sánchez nervoso

Tom do debate entre Sánchez e Feijóo foi agreste com líderes a trocarem acusações de parte a parte, principalmente sobre parceiros de coligação. Socialista ficou mais exaltado, popular foi mais calmo.

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“Deixe-me falar.” “Está muito nervoso.” “Por favor, acalme-se.” O tom do frente-a-frente entre o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, e o candidato do Partido Popular (PP), Alberto Núñez Feijóo, foi agreste. Em vez de defenderem os programa eleitorais, os dois líderes despenderam grande parte do debate a trocar múltiplas acusações sobre os seus parceiros de coligação. O socialista atacou o adversário com o VOX, uma força política que definiu como “machista”, enquanto o popular lembrou a aliança do PSOE com partidos independentistas.

Os cálculos políticos e a formação de coligações foi um dos pontos mais quentes do debate, mas Alberto Núñez Feijóo surpreendeu quando, a meio do frente-a-frente, assinou em direto um acordo em que garante abster-se na investidura do governo socialista se o PSOE vencer as eleições. O líder popular desafiou o rival a fazer o mesmo: ou seja, se o PP obtiver mais votos no próximo dia 23 de julho, que Sanchez permita que o PP governe. Visivelmente confuso, Pedro Sánchez nunca deu uma resposta concreta ao repto do adversário — e isso contribuiu para a derrota do chefe do governo espanhol neste debate, que tinha uma oportunidade para cimentar a remontada eleitoral que já se vislumbrava nas sondagens.

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A entrada com o pé esquerdo de Sánchez

A jogada do acordo do líder popular não foi o único fator que levou a uma derrota de Pedro Sánchez, que interrompia vezes sem conta adversário — em comparação, Alberto Núñez Feijóo manteve-se mais calmo, ainda que também tenha mostrado a sua irritação pontualmente. O líder do PSOE entrou com o pé esquerdo no frente-a-frente, puxando dos galões sobre as conquistas económicas que o seu governo conseguiu nos últimos cinco anos. “Criámos empregos como nunca, controlámos a inflação como ninguém e crescemos economicamente acima dos nossos parceiros europeus.”

“Criámos empregos como nunca, controlámos a inflação como ninguém e crescemos economicamente acima dos nossos parceiros europeus."
Pedro Sánchez, chefe do governo espanhol

Munido de múltiplos gráficos, Alberto Núñez Feijóo desmontou ponto por ponto a argumentação de Pedro Sánchez. Primeiro, começou por lembrar “o populismo económico do Podemos, a política económica do Partido Comunista”, com os quais o socialista esteve coligado durante os últimos cinco anos e que, a seu ver, geraram instabilidade política. Depois, o popular desmentiu a criação de emprego apresentada pelo líder do governo, assim como atacou a inflação. “O preço dos alimentos subiu 30%. A inflação subjacente está em torno dos 6%. As rendas estão mais caras”, exemplificou o líder do PP.

Perante a frieza dos dados apresentados pelo líder popular, que mantinha nesta altura uma postura serena, Pedro Sánchez emendou a questão da criação de emprego, recordando que o governo criou postos de trabalho “de qualidade” com a reforma laboral levada a cabo. “Reduzimos a temporalidade e aumentámos a qualidade. Aumentámos 47% o salário mínimo, para 1.080 euros. Queremos o pleno emprego e um desemprego estrutural de 8%. E queremos blindar o salário mínimo dos trabalhadores.”

Alberto Núñez Feijóo não desarmou — até chegou a perguntar por que é que o rival estava tão “nervoso” — e voltou a atacar os números do líder do governo, questionando, por exemplo, por que motivo é que as rendas subiram tanto e por que razão é que as autoestradas iam começar a ser pagas. Perante as acusações do adversário, o socialista recordou a guerra na Ucrânia e o aumento dos custos energéticos gerados pelo conflito. O popular não ficou satisfeito com as justificações de Pedro Sánchez, recordando que Espanha já registava uma taxa de inflação acima da média europeia em 2021, ainda antes do conflito.

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Alberto Núñez Feijóo desmontou argumentos de Sánchez

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Mais do que isso, o líder popular conseguiu que Pedro Sánchez admitisse que “endividou Espanha”, ainda que o socialista tivesse recordado que isso se deveu à pandemia de Covid-19: “Comprámos vacinas, máscaras, graças à dívida”. Em sua defesa, o chefe do governo sinalizou também que o país conseguiu recuperar da crise económica gerada pelo emprego em apenas dois anos, mas o popular manteve uma postura fria veiculando uma mensagem: “Dados não são opiniões”.

A igualdade, a recuperação de Sánchez e a distração de Feijóo

Após o bloco sobre economia, seguiu-se um sobre igualdade e direitos sociais — um tema em que Alberto Núñez Feijóo podia ficar fora de pé, devido à sua possível coligação com o VOX. Inaugurando esta parte do frente-a-frente confrontado sobre o que vai fazer face às políticas defendidas pelo partido de Santiago Abascal, o popular aproveitou por recordar a lei do ‘sim é sim’, indicando que o PSOE adotou uma posição contra a “dignidade da mulher”, “a favor dos violadores” e a favor dos “vigaristas”, exemplificando com vários casos em que criminosos foram libertados antes de tempo.

“Apenas o sim é sim.” Congresso espanhol aprova lei que acaba com distinção entre abuso e violação

Atacando o rival por não responder diretamente à questão, Pedro Sánchez foi direto ao assunto, sublinhando a possível coligação do PP com o VOX, este último descrito como um partido que não respeita a comunidade LGBT+ e é “machista”. “As coligações nos governos autonómicas com o VOX são vergonhosas”, atirou o socialista, aludindo aos acordos a que os dois de partidos chegaram em várias autarquias e várias comunidades autonómicas, na sequência das eleições regionais de maio.

No meio de várias trocas de acusações, o popular dificilmente conseguiu dar resposta ao socialista, que neste momento, esteve por cima. Por essa altura, Alberto Núñez Feijóo aproveitou para mudar o foco e enfatizar o futuro pós-eleitoral, tendo sido repreendido pelos moderadores do debate por isso. Apresentou o tal acordo ao rival e pediu-lhe que assinasse o documento — que previa que, se o PP vencesse as eleições, o PSOE facilitaria a investidura. Mas Pedro Sánchez nunca foi contundente sobre o que faria.

A partir daqui, Alberto Núñez Feijóo voltou a dominar, garantindo que — se vencer as eleições — vai dialogar com o PSOE e também com o VOX, assim como não vai assumir o governo se não ficar em primeiro lugar no dia 23 de julho. Rejeitou, porém, aliar-se ao com o “braço político da ETA” — o partido Eh Bildu, acusando o adversário (que fez um acordo governamental com aquele partido) de ceder ao independentismo e ao terrorismo apenas para se manter no poder. “Não nos podem dar nenhuma lição política”, atacou o popular, que disse ainda que as eleições podem acabar mal para Sánchez com uma maioria absoluta para o PP, como aconteceu em maio em “Madrid ou La Rioja”.

A questão da Catalunha

Enredado nesta questão, o debate entrou no terceiro bloco, que incidia precisamente sobre coligações e os pactos pós-governamentais — com as ideias já expressas anteriormente a ser repetidas por várias vezes. Pedro Sánchez reforçou que o “PP e o VOX” são o mesmo, utilizando, frisou o atual chefe do governo, as mesmas estratégias e táticas políticas, referindo-se ao uso do slogan “derrotar o sanchismo”. Por sua parte, o líder popular voltou a alertar para os perigos das ligações dos socialistas às forças independentistas.

Neste sentido, no início do quarto bloco, sobre política interna e externa, o socialista recordou que as relações entre o poder central e a Catalunha estão muito melhores do que quando chegou ao poder — e criticou a “falsa disjuntiva” de se escolher entre Sánchez ou Espanha. O atual chefe do governo espanhol apontou para a incoerência do discurso entre o que promete Alberto Núñez Feijóo — uma Espanha unida — e do slogan utilizado.

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Contudo, Alberto Núñez Feijóo não se deixou ficar e salientou que a paz social no país foi conquistada, tendo sido colocada em risco a integridade territorial de Espanha, apontado o dedo ao PSOE por se aliar a partidos que não cumprem a Constituição. “Pedro Sánchez não é credível nem fiável”, disparou o líder popular, recordando que a principal parceira de coligação, a líder do Sumar, dissera recentemente que defendia a realização de um referendo na Catalunha.

Sobre política externa, o debate debruçou-se principalmente sobre a guerra na Ucrânia, ainda que houvesse uma menção a Marrocos e ao Sahara Ocidental — ainda que nenhum dois dois líderes concluísse as suas ideias. Pedro Sánchez garantiu que Espanha se mantém ao lado de Kiev, mas o líder popular chamou à atenção para o facto de os seus aliados à esquerda serem “contra a NATO”, referindo igualmente que as trocas comerciais de gás russo aumentaram no último ano, apesar das sanções aplicadas contra Moscovo.

Para fazer face a estas críticas, Pedro Sánchez lembrou que Espanha colabora em operações humanitárias no Afeganistão e na Ucrânia. Para mais, o socialista garantiu que em Bruxelas há alguma “preocupação” sobre uma possível coligação entre o VOX e o PP. Sem embargo, o rival refutou este argumento, sublinhando que a União Europeia está preocupada com os extremos de esquerda e de direita.

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O socialista garantiu que em Bruxelas há alguma “preocupação” sobre uma possível coligação entre o VOX e o PP

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O minuto final

No sorteio realizado para definir a ordem pela qual utilizariam o seu minuto final, Pedro Sánchez ficou em primeiro e tentou contrariar o discurso do adversário, lembrando que o PP nunca poderá acabar com a ETA — a organização terrorista basca terminou em 2011. Além disso, o chefe do governo espanhol preferiu fazer um distinção entre as suas políticas de progressismo face ao conservadorismo do rival, indicando que o PSOE vai continuar a proteger a comunidade LGBT+ e a promover a igualdade de género.

Pedro Sánchez quer uma “Espanha moderna e europeia”, que está a” ser admirada” em todo o mundo, pedindo aos eleitores para não colocarem o país num “túnel de tempo tenebroso”, isto é, num cenário de coligação entre o PP e o VOX.

Por sua vez, Alberto Núñez Feijóo apelou ao “voto massivo” no dia 23 de julho, pedindo uma “maioria forte sem necessidade de contar com os extremos”, que, indicou, “não sabem governar nem gerir”. “Sou um presidente em quem podem confiar, não vou mentir, posso assegurar que vou ouvir os problemas dos espanhóis”, disse o líder popular, recordando as quatro maiorias absolutas na Galiza. “Só pretendo ser um político útil para a mudança política.”

Após os 100 minutos, várias sondagens nos órgãos de comunicação sociais espanhóis apontaram que o líder popular teve uma melhor prestação do que o socialista. Resta saber se vai ter efeito nas urnas (e nas sondagens) — e se Alberto Núñez Feijóo consegue triunfar no dia 23 de julho.

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