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Pedro Marques levou ao Barreiro, terra que o PS roubou aos comunistas em 2017, o primeiro ataque à esquerda da campanha
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Pedro Marques levou ao Barreiro, terra que o PS roubou aos comunistas em 2017, o primeiro ataque à esquerda da campanha

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Pedro Marques levou ao Barreiro, terra que o PS roubou aos comunistas em 2017, o primeiro ataque à esquerda da campanha

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Bloco de notas da reportagem no PS. Dia 10. No almoço cor-de-rosa a traçar os limites da "geringonça" europeia

Em 2017 roubou o Barreiro aos comunistas e foi lá que o PS deixou o primeiro ataque à esquerda nesta campanha. E passou o dia a explicar-se sobre porque afinal está com liberais em Bruxelas.

Toalhas de papel cor-de-rosa, guardanapos cor-de-rosa, pratos de aperitivos de plástico cor-de-rosa e até uma colher, também de plástico e também… cor-de-rosa. A sala do grupo recreativo “Os Leças”, no Barreiro, engalanou-se para receber o almoço socialista onde Pedro Marques meteu uma colherada — e esta também bem rosa — na esquerda. Em Portugal concordaram em discordar sobre a Europa, em nome das políticas nacionais. Mas na Europa o PS quer concordar com uma frente progressista mesmo que ela inclua forças discordantes nas políticas, em nome do travão aos extremismos.

Na Europa como em Portugal, mas ao contrário. Baralhado. Explicamos: Por cá, a “geringonça” fez-se para evitar a continuidade da direita no poder, com António Costa a juntar partidos até aqui inconciliáveis a nível nacional para aplicar a “política de recuperação de rendimentos” de que o PS e os seus parceiros fazem gáudio. Por lá, na Europa, o engenheiro desta solução governativa defende a aplicação da mesma fórmula: juntar uma frente para evitar que outra ganhe poder, mas aqui já sem concertação de políticas. Ambas têm o mesmo problema: tentar encaixar no mesmo pote o tanto que as separa, em nome de um objetivo que colocam como maior.

Se Bloco de Esquerda e PCP estão nos antípodas do PS em questões europeias e foi possível juntarem-se na frente nacional, também os liberais de Emmanuel Macron ou o centro-direita de Angela Merkel são aceitáveis como parceiros para a frente europeia com o objetivo concreto de travar o avanço dos fenómenos populistas, como o de Viktor Órban ou Matteo Salvini. O equilíbrio nesta linha de argumentação é delicado e o PS passou o dia a tentar fazê-lo, sobretudo depois do discurso da noite anterior da voz da esquerda do PS e eterno coordenador da “geringonça”, Pedro Nuno Santos, se posicionar “contra quem quer impor a resposta liberal” na Europa. Nesse mesmo dia, Costa tinha estado com o representante da aliança liberal Macron, voltando a defender a frente progressista contra o populismo. A tirada de Pedro Nuno acabou por trazer o assunto à campanha.

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E colocou ao PS um problema: explicar como se pode sentar à mesa europeia com forças com quem não se sentariam à mesa nacional. Sobretudo com toalhas cor-de-rosa. A solução para a resposta estará algures na explicação de que também se sentou à mesa nacional com forças com quem não se pode sentar à mesa europeia. Até porque aí corre o risco de falta de comparência dos parceiros.

Foi o próprio Pedro Marques quem lembrou a linha vermelha — caso alguém tivesse já esquecido e depois de uma noite de discursos de louvores à “geringonça”. Em Portugal, o PS “teve de concordar em discordar com a esquerda” em matérias europeias, mas em Bruxelas, os socialistas “estão coligados com a Europa”: “Somos Europa. Somos o partido de Mário Soares”, disse no almoço n’ “Os Leças” lembrando o pai fundador que combateu o PCP no pós-25 de abril e promotor da adesão de Portugal.

E se marca a diferença para o PSD que apoia Manfred Weber que pediu “sanções na força máxima” para Portugal, o candidato socialista também as traça face ao BE e PCP que defendem a saída do euro ou a sua preparação. Paulo Rangel apressou-se a chamar-lhes “dois amores” do PS. Pedro Marques garante que “não há contradição”, como Costa fez e faz com a “geringonça” nacional.

Mesmo a entrar nos últimos dias de campanha, uma novidade no discurso do candidato a refrescar o debate político. Até aqui os socialistas tinham mantido os parceiros de esquerda no Parlamento fora dos ataques de campanha, até porque é difícil de conciliar esse apoio nacional com a distância que os quatro partidos têm em matérias europeias. Sobretudo numa, que foi precisamente a que o candidato apontou: a saída do euro.

Fazer uma ação de rua na cidade natal exigiria um bocadinho mais de brilho à caravana socialista e ao candidato que a conduz. O que Pedro Marques foi fazer ao Montijo foi pouco diferente — e até menos emotivo que noutras arruadas — do que faria em qualquer outro sítio do país.

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Alfredo Gonçalves é o presidente do Grupo Dramático e Recreativo “Os Leças” e começou a tarde a partilhar o palco com o cabeça-de-lista, Pedro Marques, com Ana Catarina Mendes e Eduardo Cabrita. Terminou-a a tirar cafés e a arrumar as mesas onde foi servido o almoço e esta é a terceira vez que o faz, só nesta campanha das Europeias, depois de ter recebido iniciativas semelhantes do Bloco de Esquerda e do PSD.

Com 300 associados em atividades como a ginástica, as danças de sala, o karaté, o grupo coral ou apenas para os bailes e passeios promovidos pelo clube, “Os Leças” contam 93 anos de uma existência, “complicada, em particular na área financeira”, diz Alfredo Gonçalves, não sem antes destacar “a ajuda de todos os sócios, se não for com eles nada se faz”. A par do contributo dos associados, “Os Leças” têm conseguido resolver pequenos problemas com o contributo de programas de apoio — alguns deles comunitários. Em 2016, a assinatura de um desses contratos de apoio levou mesmo Eduardo Cabrita a visitar o grupo, enquanto Ministro Adjunto do primeiro-ministro.

Esta tarde com um serviço diferente, Alfredo Gonçalves diz ao Observador que não “custou nada” interromper a rotina habitual “porque quando falamos do que fazemos dia-a-dia a conversa flui naturalmente”. Num espaço decorado à medida do PS, Alfredo Gonçalves diz que todos os partidos têm sido bem recebidos. Quanto às suas preferências, são claras — e pouco partidárias: “Sou dos Leças que é da minha freguesia, sou do Barreirense que é do meu concelho, do Vitória de Setúbal que é do meu distrito e do Benfica que é nacional”.

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“Posso fazer uma festinha?”. Não se pode dizer que não tenha havido ali o seu quê de coragem do candidato perante uma pequena fera, de dentes afiados, que ladrava a tudo quanto passava na arruada socialista do Montijo. Baixou-se e fez festinhas ao cão que inesperadamente lhe ladrou fazendo o candidato dar um salto.

O dia de estrada foi curto, com o candidato socialista a percorrer apenas 90 quilómetros entre Montijo, Barreiro e Setúbal. Mas a noite ainda vai trazer um esticão até ao Porto, onde a caravana socialista arrancará esta quinta-feira para o penúltimo dia de campanha. Esta noite terá acumulado 6.885 km.

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