910kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Lula Continues Campaign Agenda Despite Escalate in Pre-Election Political Violence
i

Lula candidata-se para ocupar o cargo de presidente do Brasil pela segunda vez

Getty Images

Lula candidata-se para ocupar o cargo de presidente do Brasil pela segunda vez

Getty Images

Lula quer voltar a investir no Brasil e deixar escândalos para trás: "A corrupção só aparece quando se permite que seja investigada"

O ex-presidente brasileiro foi o terceiro candidato a participar na ronda de entrevistas desta semana na TV Globo e defendeu-se dos escândalos de corrupção que ainda pesam sobre ele.

Quando se sentou, na noite desta quinta-feira, nos estúdios da TV Globo para uma entrevista de 40 minutos a propósito da campanha eleitoral para as presidenciais brasileiras de 2 de outubro, Lula da Silva trazia consigo um historial longo e controverso: dois mandatos como presidente do Brasil, entre 2003 e 2011, marcados pelo crescimento económico (o seu grande trunfo eleitoral) e 580 dias na prisão devido a uma condenação por corrupção e branqueamento de capitais que, apesar de já ter sido revertida, continua a ser a sua grande fragilidade.

Por isso mesmo, o combate à corrupção e os escândalos que envolveram o seu partido e o próprio Lula nos últimos anos foram um dos tópicos centrais da entrevista no Jornal Nacional da Globo — a terceira de uma ronda de entrevistas aos candidatos mais bem colocados nas sondagens (Jair Bolsonaro e Ciro Gomes já foram entrevistados no início da semana). O tema da corrupção obrigou Lula da Silva, que vai à frente em todas as sondagens, a passar grande parte da entrevista a defender-se.

Presidenciais brasileiras. Lula da Silva, que lidera as sondagens, é entrevistado hoje na TV Globo

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas a entrevista ficou também marcada por duras críticas de Lula da Silva a Jair Bolsonaro a propósito da prática do “orçamento secreto”, pela admissão de erros na gestão económica durante o governo de Dilma Rousseff, pela defesa da polarização e por vários apelos de Lula da Silva à memória dos brasileiros em relação aos seus mandatos presidenciais de há uma década.

À defesa: o combate à corrupção

A questão da corrupção foi justamente a primeira a ser abordada pelos jornalistas. Lula da Silva, que foi libertado depois de o Supremo Tribunal Federal ter anulado as decisões do juiz Sergio Moro (e, posteriormente, a justiça brasileira viria a determinar o arquivamento do caso), continua a carregar consigo o peso de ter estado envolvido numa teia de corrupção que, em muitos casos, ficou efetivamente provada.

“Durante cinco anos eu fui massacrado e estou tendo hoje a primeira oportunidade de poder falar disso abertamente ao vivo com o povo brasileiro”, afirmou Lula da Silva, para logo de seguida se defender dizendo que foi no seu mandato que o Brasil começou a investigar de modo mais intenso o problema da corrupção. “A corrupção, ela só aparece quando você permite que ela seja investigada.”

“Foi no meu governo que a gente criou o portal da transparência”, acrescentou, lembrando que foram criadas leis contra a corrupção e contra a lavagem de dinheiro.

A pandemia, a credibilidade dos resultados eleitorais e a economia. Jair Bolsonaro jogou à defesa na primeira entrevista da campanha

“Em 2005, quando surgiu a questão do Mensalão, eu cheguei e disse o seguinte: ‘Só existe uma maneira de alguém não ser investigado nesse país: é não cometer erro’. Se cometer erro, vai ser investigado. E foi isso que nós fizemos. Se alguém comete um erro, alguém comete um delito, investiga-se, apura, julga, condena ou absolve e está resolvido o problema”, afirmou ainda Lula, referindo-se ao caso que surgiu no início do seu mandato presidencial e que envolvia a compra de votos de deputados.

Lula da Silva criticou também aquilo que considerou “o equívoco da Lava Jato”, o maior processo de corrupção da história do Brasil, que o levaria à prisão. “A Lava Jato enveredou para um caminho político delicado. A Lava Jato ultrapassou o limite da investigação e entrou no limite da política. E o objetivo era o Lula. O objetivo era tentar condenar o Lula.”

“Aqui no Brasil as pessoas são condenadas pelas manchetes de jornal”, acrescentou Lula da Silva.

Ao ataque: a interferência governativa no poder judicial e o “orçamento secreto”

Também mereceu destaque na entrevista a relação entre o poder político e o poder judicial, numa altura em que no Brasil há denúncias de interferência governativa na Polícia Federal. Lula da Silva lembrou que, quando teve de escolher um procurador-geral da República, escolheu de entre as opções apresentadas e não optou por nomear um “amigo”.

“Eu poderia ter escolhido um Procurador engavetador. Sabe aquele amigo que você escolhe e que nenhum processo vai para a frente? Eu poderia ter feito isso e não fiz”, disse Lula da Silva. “Eu poderia ter impedido que a Polícia Federal tivesse um delegado que eu pudesse controlá-lo. Não fiz. E permiti que as coisas efetivamente acontecessem do jeito que precisava acontecer.”

Lula da Silva atirou diretamente ao atual presidente, Jair Bolsonaro, que em 2020 demitiu o diretor-geral da Polícia Federal, que investigava figuras próximas do presidente. “O Bolsonaro troca qualquer diretor, basta ele não gostar. Eu nunca fiz isso, nem vou fazer”, disse Lula. O ex-presidente disse ainda que não quer procuradores leais a si, mas leais ao povo brasileiro. “Não quero amigos no Ministério Público nem na polícia.”

O antigo presidente do Brasil, Lula da Silva num seminário em Madrid

Lula da Silva quer deixar os escândalos de corrupção no passado

LUCA PIERGIOVANNI/EPA

Lula também deixou duras críticas à prática do “orçamento secreto“, expressão com que foi batizado um esquema de alocação de uma parte significativa do orçamento brasileiro à decisão direta do Congresso Nacional, que pode decidir diretamente sobre a atribuição de verbas.

Para Lula da Silva, o escândalo do “mensalão” (caso de compra de votos de deputados que veio a público no seu mandato) não é pior do que este caso do “orçamento secreto”. É, considera Lula, uma “usurpação do presidencialismo”. “Bolsonaro não manda nada, está refém do Congresso Nacional”, disse.

As promessas: repetir o que fez entre 2003 e 2011

Embora Lula da Silva não surja na corrida eleitoral no papel do incumbente que tem de defender as suas políticas e convencer os eleitores a renovar a confiança em si, a verdade é que representa o PT, partido que governou o Brasil durante quase todo o tempo das últimas duas décadas — e, durante oito anos, foi mesmo ele o presidente brasileiro.

Por isso, uma grande parte da entrevista foi aproveitada por Lula da Silva para puxar dos galões da sua presidência e para prometer aos brasileiros um regresso aos tempos do crescimento económico. Lula lembrou os indicadores económicos crescentes do seu mandato e até admitiu que durante o mandato de Dilma Rousseff, sua sucessora, foram cometidos erros na economia, mas pediu aos brasileiros que voltem a confiar no PT.

Ciro Gomes quer “reconciliar” o Brasil e transformar país “num Portugal”. Na entrevista à Globo, tentou ir buscar votos a Bolsonaro e a Lula

No minuto final que lhe foi dado para se dirigir aos eleitores brasileiros, Lula da Silva voltou a puxar dos galões da sua governação: “Nós já provámos que é possível cuidar do povo brasileiro.” Resumindo esta missão de “cuidar” com a colocação do “pobre no orçamento do país”, Lula da Silva lembrou que quando tomou posse havia 3,5 milhões de estudantes universitários no país e que, quando deixou a presidência, o número tinha subido para 8 milhões.

Lula terminou, dizendo que pretende “voltar” para continuar o investimento no povo brasileiro.

Sobre a política ambiental e a desflorestação da Amazónia — um tema quente da campanha, sobretudo tendo em conta a abordagem polémica de Bolsonaro a este assunto —, Lula da Silva acusou Bolsonaro de galvanizar o apoio dos agricultores dando-lhes armas. “Agora, o Bolsonaro está ganhando o fazendeiro porque está liberando arma, tem gente que acha que é bom ter arma em casa, que acha que é bom matar alguém. Não, o que nós queremos é pacificar esse país”, disse Lula, depois de considerar que a exploração económica dos recursos naturais não é incompatível com a preservação do ambiente e que é necessário explorar “cientificamente” a Amazónia.

A frase: “Não tem polarização no Partido Comunista Chinês”

As eleições presidenciais brasileiras deste ano estão irremediavelmente polarizadas entre Jair Bolsonaro e Lula da Silva — e o tema da polarização surgiu na entrevista, com os jornalistas a perguntarem a Lula se a sua retórica de “nós vs. eles” usada em tempos em relação ao seu atual aliado Geraldo Alckmin (PSB) não contribuiu também para a polarização que o país vive hoje.

Lula da Silva desvalorizou as críticas e disse que a polarização não é um problema numa democracia — comparando até a militância partidária com as claques de futebol. Lembrando que nunca tratou os seus oponentes políticos como inimigos, Lula disse que a polarização é “saudável” numa democracia. “Faz a militância ir para a rua”, diz, acrescentando que “é importante que não se confunda com o incentivo ao ódio”.

E lembrou onde é que não existe polarização: “Não tem polarização no Partido Comunista Chinês nem no Partido Comunista Cubano.”

Lula da Silva é a figura destas eleições brasileiras, regressando em força depois de anos a braços com a justiça e polarizando ainda mais um país já profundamente dividido, atravessado pelas dificuldades económicas, devastado pela pandemia da Covid-19 e fragmentado no que toca à avaliação da governação de direita radical de Jair Bolsonaro. De acordo com as sondagens mais recentes, Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, está perto de voltar a liderar o Brasil, reunindo 44% das intenções de voto na sondagem da revista Exame publicada esta quinta-feira, contra 36% para Jair Bolsonaro e 9% para Ciro Gomes.

Os números das sondagens mais recentes apontam todos para uma vitória de Lula da Silva (embora a distância para Bolsonaro tenha caído) na primeira e na segunda volta, mas o passado do candidato do PT, que foi presidente do Brasil de 2003 a 2011, persegue-o na campanha eleitoral, polarizada entre o atual presidente, Jair Bolsonaro, que se vê com a espinhosa missão de defender quatro anos de governação polémica (incluindo no toca à pandemia da Covid-19, amplamente desvalorizada por Bolsonaro, que matou quase 700 mil brasileiros), e Lula da Silva, cujo envolvimento em casos de justiça no passado contribuiu para a perda de credibilidade do PT na governação do país. O terceiro candidato nas sondagens, Ciro Gomes, que se assume como uma terceira via contra a polarização e oferece uma alternativa de centro-esquerda para a oposição a Bolsonaro, não tem, de resto, poupado nas críticas a Lula da Silva, classificando os escândalos de corrupção no PT como a grande causa da eleição de Bolsonaro em 2018.

As eleições presidenciais brasileiras deste ano estão agendadas para o dia 2 de outubro. À semelhança do sistema eleitoral português, no caso de nenhum dos candidatos conseguir obter mais de 50% dos votos, haverá lugar a uma segunda volta entre os dois mais votados no dia 30 de outubro. Esta sexta-feira, é a vez de a candidata Simone Tebet, do MDB, ser entrevistada no Jornal Nacional da TV Globo.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.