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O príncipe Amadeo e a princesa Claude a saírem da igreja de São Pedro de Penaferrim, depois de se casarem, a 22 de julho de 1964

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O príncipe Amadeo e a princesa Claude a saírem da igreja de São Pedro de Penaferrim, depois de se casarem, a 22 de julho de 1964

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Claude d'Orléans e Amadeo de Sabóia e Aosta, o casamento da realeza que agitou Sintra em julho de 1964

Claude, filha do conde Paris, e Amadeo, sobrinho do Rei Humberto de Itália, casaram há 60 anos em São Pedro de Sintra numa festa familiar, discreta, com a realeza europeia e um lanche para os locais.

Há 60 anos, São Pedro de Sintra preparava-se para um casamento muito especial. O conde de Paris, pretendente ao trono de França, era um residente local com toda a sua família, ou seja, a condessa e os 11 filhos e a 22 de julho de 1964 a filha Claude tornou-se a única dos irmãos a casar em Portugal. O noivo era também ele um príncipe, Amadeo de Sabóia e Aosta, sobrinho do Rei Humberto de Itália. Conheceram-se no casamento dos príncipes Juan Carlos e Sofia em Atenas e, dois anos depois, viriam a casar-se numa pequena igreja em São Pedro de Sintra com festa na casa da noiva, a Quinta do Anjinho, lanche para o povo e uma longa lista de convidados reais. “Dentro das circunstâncias e de um contexto político intenso e complicado, era uma família muito unida”, conta ao Observador o príncipe Charles-Philippe d’Orléans, sobrinho da noiva. Diz que se tratou de “uma festa de família” com um desejo de intimidade e discrição, mas não deixou de ser noticiado pela Europa como um conto de fadas.

A noiva, a princesa Claude (a comunicação social portuguesa da época chama-lhe Cláudia),  nasceu em Marrocos a 11 de dezembro de 1943. Viveu em Pamplona antes de se mudar para Sintra, estudou em Sussex, Inglaterra, durante a juventude e, como gostava de puericultura, depois tirou um curso da especialidade em Paris. Era muito viajada e terá feito amizades por onde passou. Assim como era muito querida na zona de Sintra onde vivia.

O príncipe Amadeo de Sabóia nasceu a 27 de setembro de 1943 em Florença, e era um dos pretendentes ao trono de Itália, por ser filho do príncipe Aymon de Sabóia, por sua vez irmão do Rei Humberto II. Amadeo era também filho da princesa Irene da Grécia e Dinamarca. Quando ele nasceu, o pai estava na guerra e só se vão conhecer quando o pequeno tem três anos, mas dois anos mais tarde morreu na Argentina com um ataque cardíaco e passou o título de duque de Aosta para o filho. A 2 de junho de 1946, Itália escolheu passar de monarquia a república através de um referendo e a família real foi para o exílio. Contudo, o jovem Amadeo regressaria ao país natal para ser aluno da Academia Naval de Libourne. Tinha como objetivo estudar Ciências Políticas e fazer carreira num organismo internacional.

Os noivos conheceram-se na Grécia, no casamento da princesa Sofia com o príncipe Juan Carlos de Espanha, em maio de 1962. Depois seguiu-se um namoro, ou uma corte, que fez o príncipe Amadeo viajar várias vezes a Portugal e durante as suas estadias ficava instalado na villa do tio, o Rei Humberto de Sabóia, em Cascais. Uma localização muito conveniente já que a princesa Claude vivia na Quinta do Anjinho em Sintra, a residência do conde de Paris em Portugal. Na véspera do casamento, o Rei Humberto deu um baile na Villa Itália. A noiva usou um vestido comprido de renda branca bordado a lantejoulas e houve quem dançasse até às três da manhã.

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Os noivos, a princesa Claude d'Orléans e o príncipe Amadeo de Sabóia e Aosta. A princesa usou um vestido de Pierre Balmain e uma tiara da família do noivo

Arquivo do príncipe Charles-Philippe d'Orléans

Este casamento não passou despercebido na imprensa, a RTP fez uma reportagem visual e até estiveram presentes membros de meios internacionais, como por exemplo a Point de Vue. No Diário de Lisboa, os noivos tiveram fotografia de primeira página e no interior do jornal a reportagem faz uma descrição detalhada da manhã do casamento. Eram 10h45 quando o cortejo nupcial começou a entrar na igreja de São Pedro de Penaferrim e no fim chegou a noiva pelo braço do pai, o conde de Paris. O público bateu palmas, mas mesmo assim quem estava no exterior ouvia órgãos e violinos, já que no interior da igreja havia uma orquestra de instrumentistas de câmara da Emissora Nacional.

A noiva chegou às 11h00 e entrou na igreja ao som da marcha de Mendelssohn. O vestido de noiva foi uma criação de Pierre Balmain, feito em seda de Lyon e bordado com brilhantes que criavam os desenhos de flores-de-lis e de nós de Sabóia, os símbolos das duas casas reais, e tinha uma cauda de três metros. A noiva usou o diadema das princesas de Sabóia e um véu de renda antiga. O penteado foi obra de Alexander e inspirado num retrato da rainha Santa Isabel da Hungria, terá escrito o Diário de Notícias da época, já o Diário de Lisboa diz que foi na rainha Isabel da Áustria quando era soberana da Hungria, e assim seria a famosa Sissi. O noivo usou o uniforme branco da marinha do seu país.

A missa foi celebrada pelo pároco da freguesia de São Pedro de Sintra, reverendo Alfredo Guilherme Coelho Ferreira, e estava também no altar-mor o monge beneditino D. Martin e padre Ricotti, italiano e amigo da casa de Aosta. O padre dirigiu-se aos noivos em português, mas depois o “sim” foi dado em latim: “Volo”. Na parte da troca de alianças, o noivo terá deixado cair ao chão o anel antes de o colocar no dedo da noiva. Depois de os noivos estarem casados, os violinos tocaram uma composição criada propositadamente para o casamento de Claude pelo compositor francês Henri Saugert. E ainda antes da cerimónia acabar foi lido um telegrama que dava a bênção do Papa aos noivos.

Às 12h15 os sinos repicaram anunciando que os noivos estavam casados. No adro da igreja foi montada uma tribuna onde estes receberam os cumprimentos dos convidados. “Sou uma noiva muito feliz”, disse a princesa Claude aos jornalistas. A pequena igreja de São Pedro de Penaferrim ainda existe e tem as suas origens entre os séculos XVI e XVII. Estava revestida com azulejos e, para a ocasião, o altar foi decorado com dálias, gladíolos e malmequeres. A zona do coro, os altares laterais e o púlpito também foram decorados com flores, tudo obra da artista inglesa Sonia Hodds, que era amiga dos condes de Paris, segundo o jornal.

Os noivos dentro de um carro depois do casamento
Arquivo do príncipe Charles-Philippe d'Orléans
A princesa Claude a chegar à igreja de São Pedro de Penaferrim pelo braço do pai, o conde de Paris
Arquivo do príncipe Charles-Philippe d'Orléans

“Tanto a imprensa italiana como a francesa, apesar de já não serem monarquias na altura, falou deste casamento como um conto de fadas e era mesmo uma história extraordinária, entre um casal extraordinário”, conta o príncipe Charles Philippe d’Orléans. É neto dos condes de Paris da altura, filho do príncipe Michel (um dos irmãos mais velhos da noiva) e sobrinho da noiva e é autor do livro “Reis no Exílio. Portugal Refúgio Real” (Esfera dos Livros), onde refere este casamento, mas falou também ao Observador a propósito deste episódio da história da sua família.

Terá sido o conde Paris a decidir onde se celebraria o casamento. A escolha refletiu a “ligação com a Quinta do Anjinho, que estava lá perto, e a ligação com São Pedro e Sintra” e ainda “uma vontade de discrição em Portugal”. Comparando com outros casamentos reais que tiveram lugar no país nestas décadas em que muitas famílias reais viviam por cá, o da princesa Claude contou com muitas cabeças coroadas, mas havia um desejo de intimidade e discrição.

O dia era de grande celebração, tanto a família dos duques de Paris (que tinham 11 filhos), como a família dos herdeiros do trono italiano também se reuniu em peso para assistir ao casamento. O Rei Humberto estava a recuperar de uma cirurgia e ele e a rainha Maria José de Itália viviam separados há 15 anos. “Dentro das circunstâncias e de um contexto político intenso e complicado, era uma família muito unida. E o espírito da família, no sentido cristão do termo, estava sempre presente. Por isso, sim, era uma festa de família”, conta o sobrinho da noiva. “A família italiana e a família francesa conheciam-se muito bem. Por isso, era mesmo um momento familiar, no primeiro sentido do termo, mas também no sentido amplo, entre primos e tios e tias.”

A lista de convidados reais contou ainda com Juan Carlos de Espanha e Sofia da Grécia, a rainha Helena da Roménia, a condessa Matilde de Bellegarde, Dom Duarte Nuno de Bragança com a mulher e o filho, o atual duque de Bragança, os condes de Barcelona e antiga rainha Joana da Bulgária. Esteve presente o embaixador da República Francesa e o vice-cônsul em Lisboa e vários aristocratas nacionais. As testemunhas da noiva foram dois irmãos, o mais velho e o mais novo. As do noivo são o Rei de Itália e o príncipe das Astúrias, Dom Juan Carlos. O Diário de Lisboa descreve que os convidados usavam “vestidos imponentes, fraques de corte impecável, joias cintilantes” e que havia “um murmúrio de diversos idiomas, uma certa excitação cosmopolita”.

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Os noivos durante a cerimónia, no interior da igreja de São Pedro de Penaferrim

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O copo de água reuniu 300 convidados na Quinta do Anjinho e o almoço foi servido pela pastelaria Benard. Esta era a residência do duque de Paris em Portugal. “Não era uma propriedade familiar, no sentido de ser bastante recente dentro da família, mas justamente este espírito de família transformou esta quinta, esta propriedade, numa casa familiar. Imagina, um casal com onze crianças?” Lembra que era um local onde se davam várias festas que conseguiam ser extraordinárias e discretas. Além de o momento exigir contenção, muitos dos membros de famílias reais em Portugal estavam no exílio e isso é um golpe especialmente duro para quem é educado para servir o seu país. “Era um sítio extremamente discreto e familiar, onde todos os príncipes, princesas, altezas, reis e reinas convergiam para passar uma noite num jantar, ou umas férias, uma semana, um fim de semana, e isso era bastante extraordinário, e tudo isso numa discrição absoluta.”

Para o príncipe Charles-Philippe d’Orléans Portugal é um país próximo. Foi casado com a atual duquesa de Cadaval, mas muito antes disso já passava verões em Sintra. Para o príncipe, a Quinta do Anjinho é “a casa dos avós”. “Havia uma reserva de água que era mais verde que qualquer outra coisa, mas para nós era uma piscina do paraíso, um grande parque com árvores extraordinárias, nas quais fazíamos cabanas. Na quinta, as salas com grandes chaminés, muitos jogos de mesa, sala de jantar grande, tudo de madeira, com uma mesa grande onde estávamos todos juntos”, recorda o neto dos condes de Paris. “E depois nós dormíamos no último andar, com dez primos por quarto, porque eram quartos muito grandes. Então era muito engraçado, era mesmo o espírito de casa familiar de férias. E a verdade é que toda a família ficou muito triste quando foi vendida e ainda temos muitas fotos e muitas lembranças nesta propriedade.” A família acabou por ir deixando Portugal e os condes de Paris venderam a casa. Atualmente é a Escola Nacional de Bombeiros.

A princesa Claude quis oferecer um lanche ao povo de Sintra que se acumulou no largo de Ranholas, onde se costumavam fazer mercados. A refeição foi servida à mesma hora a que decorria o copo de água na Quinta do Anjinho e terá havido “sanduíches, croquetes, rissóis, pastéis de bacalhau e outras iguarias regadas a vinho tinto e vinho do Porto”, descreve o autor no livro. “O que eu sei, e que contou a minha avó, é que mesmo todo São Pedro de Sintra estava em festa. De todos os níveis sociais. As pessoas gostavam muito dos meus avós e da minha família, e nomeadamente da minha tia, que estava muito presente. Ela era muito próxima das pessoas”, acrescentou depois o príncipe ao Observador.

O Diário de Lisboa revelava na notícia do casamento que o novo casal iria viver na villa de San Domenico em Fiesole, em Itália. Tiveram três filhos, mas o casamento viria a acabar em 1982. O duque de Aosta voltou a casar em 1987 e morreu em 2021. A princesa Claude voltou a casar duas vezes e vive atualmente em Itália. “Está mesmo muito bem”, conta o sobrinho. E até tem perfil no Instagram.

 
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