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Saída de Mayan deixou oposição interna sem rosto e Miguel Quintas entusiasma alguns descontentes
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Saída de Mayan deixou oposição interna sem rosto e Miguel Quintas entusiasma alguns descontentes

Iniciativa Liberal

Saída de Mayan deixou oposição interna sem rosto e Miguel Quintas entusiasma alguns descontentes

Iniciativa Liberal

Com oposição interna sem rosto, Miguel Quintas está disponível para candidatura à liderança da IL

Miguel Quintas, que chegou a ser candidato pela IL a Lisboa durante três dias, venceu no tribunal e prometeu regresso à vida política. Oposição interna divide-se entre entusiasmo e receio.

Quando se fecha uma porta, abre-se uma janela. O dia em que Tiago Mayan Gonçalves se demitiu da presidência de uma junta de freguesia no Porto por falsificação de assinaturas foi dramático para o Unidos pelo Liberalismo, que perdeu o principal rosto e o candidato à liderança. Duas semanas depois, uma vitória de Miguel Quintas em tribunal pode funcionar como um volte-face para a oposição interna — que mostrou interesse em perceber se aquele que foi afastado de uma candidatura à Câmara de Lisboa três dias após a apresentação pode ser uma boa possibilidade.

Ao que Observador apurou, além de ter havido pessoas do movimento a contactar Miguel Quintas para medir o pulso à disponibilidade, a resposta terá sido uma demonstração de interesse por parte do liberal.

A oportunidade começou a construir-se numa publicação de Facebook, onde Miguel Quintas, além de ter anunciado que venceu o processo de queixa-crime que moveu contra Francisco Oliveira — espoletado pelo afastamento após ser anunciado como candidato da IL à Câmara de Lisboa — deixou em aberto um regresso à política: “O processo chegou ao fim e a partir de hoje recomeçarei a minha vida política. Fá-lo-ei na medida em que eu desejar e quando eu o desejar. Pode ser já, ou pode ser dentro de semanas ou de meses.”

Questionado pelo Observador sobre a possibilidade que é alimentada nos corredores do movimento, Quintas foi perentório: “Estou sempre disponível para defender o liberalismo e o valores da transparência, da democracia, do mérito e coragem que devem nortear qualquer sociedade e em particular, a política e os partidos políticos, onde se inclui a IL. Neste sentido, jamais poderei virar a cara a essa missão pelo que se for chamado pela sociedade e para defender tais valores direi sempre: presente, obviamente.”

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A aproximação ao movimento não é de hoje. Miguel Quintas é próximo de diversas pessoas do Unidos pelo Liberalismo e, mesmo antes de anunciar a sentença judicial nas redes sociais que o catapultou novamente para as atenções partidárias, marcou presença no último jantar do movimento em Lisboa — aquele que chegou a estar marcado para a apresentação da equipa de Mayan e cuja data se manteve, mas ainda sem anúncio de candidato.

Fontes próximas do processo confirmaram ao Observador que, depois de uma luta judicial que durou vários anos, Miguel Quintas pode sentir-se encorajado para abraçar um novo projeto e regressar à política pela porta grande, mais ainda como candidato de uma oposição interna que está órfã e que precisa de um novo líder — já que até ao momento o Unidos pelo Liberalismo continua sem confirmar se avança ou não com uma candidatura, apesar de estar à procura de soluções.

Além disso, fonte próxima do processo explicou, em declarações ao Observador, que há sempre a possibilidade de um nome como Miguel Quintas avançar como candidato e de o movimento Unidos pelo Liberalismo o apoiar em vez de escolher ir a votos em nome próprio — até tendo em conta a dificuldade de escolher um substituto de Mayan.

Há quem esteja crente de que, num partido liberal, “não se ia fechar a porta” a um candidato por uma questão burocrática e facilmente solucionável — acelerar a aceitação como membro — e quem considere que a secretaria-geral poderia não facilitar o processo por preferir um "passeio no parque" sem oponente.

Um problema com solução fácil

Miguel Quintas, quando decidiu avançar com o processo na justiça, desfiliou-se da Iniciativa Liberal. E, segundo os estatutos do partido, é preciso ser-se membro para integrar os órgãos internos. Ora, na história do partido, tanto Carlos Guimarães Pinto como João Cotrim Figueiredo foram convidados para liderarem os liberais quando ainda não eram membros, mas ambos trataram do processo antes do fecho dos cadernos eleitorais.

E é exatamente aí que está uma possível chave para este processo: a convenção ainda não foi marcada e os cadernos eleitorais ainda estão abertos, pelo que Miguel Quintas poderia bem regressar à militância do partido até esse momento. Já o possível problema prende-se com a data. Com o Conselho Nacional marcado para 30 de novembro, o espaço temporal está a estreitar-se e Quintas terá de acelerar se quiser mesmo ir a votos, até porque a ficha de membro tem de passar pelo núcleo e ser aprovada pela secretaria-geral.

Em boa verdade, se Miguel Quintas anunciasse a intenção de ser candidato a data de fecho dos cadernos poderia ser atirada para a frente. Mas até aqui há diversas visões sobre o caso, sendo que há quem esteja crente de que, num partido liberal, “não se ia fechar a porta” a um candidato por uma questão burocrática e facilmente solucionável — acelerar a aceitação como membro — e quem considere que a secretaria-geral poderia não facilitar o processo por preferir um “passeio no parque” sem oponente.

Não é consensual, mas dá esperança

Dentro da oposição interna da Iniciativa Liberal há quem considere que o nome seria uma “excelente aposta” e uma lufada de ar fresco para um movimento em que muitos se sentiram frustrados e desiludidos com a situação de Tiago Mayan Gonçalves. Porém, há quem considere um risco, não só porque Miguel Quintas esteve afastado vários anos e muita gente não o conhece, mas também porque existe a possibilidade de a campanha se transformar numa “vingança dos erros do passado” ao invés de ser um arranque para “construir o futuro”.

“Apoiar o seu regresso com uma candidatura à liderança é um risco enorme”, desabafa um membro do movimento do Unidos pelo Liberalismo, que antecipa uma saída do movimento caso apoie essa decisão: “Eu não estarei nessa candidatura, gosto muito do que foi construído pelo movimento, mas não acho que isso seja bom para o partido. Não acho que o movimento deva apresentar uma candidatura a qualquer custo.”

Uma outra fonte vai no mesmo sentido, crente de que Quintas pode não ser um “elemento capaz de agregar”, porque poderá ser um “candidato da oposição, mas não da alternativa”.

Outro liberal ouvido pelo Observador está mais agradado com a ideia e considera que Miguel Quintas, depois de tudo o que viveu nos últimos anos, pode ser a peça-chave para a oposição interna combater a corrente da liderança. Aliás, o desfecho do caso de Miguel Quintas foi recebido com entusiasmo muito porque na publicação do Facebook, acusou, sem nomear, “alguns dos nomes mais ‘proeminentes’ da nossa política partidária e nacional” de terem feito “uma figura verdadeiramente penosa, que envergonharia qualquer comissão parlamentar de inquérito” ao se justificarem com expressões como: “Não me lembro”, “Não sei”, “Não vi”, “Não consigo precisar” ou “Não me recordo”.

Perante uma oposição interna que há muito alimenta críticas à direção, estas palavras foram recebidas com bom grado e há, entre vários elementos, uma sensação de que seria uma “grande surpresa” a possibilidade de Miguel Quintas alinhar numa onda da oposição interna.

Ainda assim, entre os mais céticos existe ainda quem levante a questão da visibilidade, em que Quintas não se aproxima de Mayan, e, mesmo internamente, quem sublinhe que o putativo candidato é mais conhecido em Lisboa — um problema para um movimento que tem uma forte sedimentação a norte do país, desde logo porque foi fundado por muitas pessoas daquela região.

Uma candidatura relâmpago e um processo em tribunal

O nome de Miguel Quintas chegou à praça pública através de uma candidatura individual da IL à Câmara Municipal de Lisboa depois de uma nega a Carlos Moedas para uma grande frente de direita em Lisboa. Três dias depois, o candidato caiu, o partido justificou-se com “motivos pessoais” e João Cotrim Figueiredo, na altura presidente dos liberais, admitiu mais tarde que houve “uma situação de índole pessoal” que “foi dada a conhecer já após a apresentação do candidato” e que levou ao conhecido fim.

No Facebook, Miguel Quintas veio confirmar a que proteção dos filhos tinha levado à decisão. Tratava-se da “privacidade dos filhos”, escreveu na altura. E mais não disse, apenas acrescentando que a “verticalidade e seriedade também” estão acima de qualquer política.

Meses depois soube-se que Miguel Quintas tinha apresentado uma queixa-crime contra Francisco Gomes Oliveira, imputando-lhe crimes de difamação e devassa da vida privada. Segundo os autos do processo que a Visão noticiou em julho, o suspeito confirmou à PSP que tinha enviado o texto a João Cotrim Figueiredo, Rodrigo Saraiva e Miguel Ferreira da Silva, dando “aos órgãos do partido o prazo de 48 horas para que fosse retirada a confiança política ao candidato que haviam escolhido”.

Na altura, disse que o presidente do partido lhe tinha dito que a escolha do candidato foi realizada com “amadorismo”, sendo que Francisco Gomes Oliveira enviou uma mensagem com o seguinte aviso: “Não avançarei com o texto, caso esse pulha se afaste pelo seu pé. Espero até à hora do jantar.”

Miguel Rangel, atual secretário-geral do partido, também recebeu um telefonema alertando que se a “questão não fosse resolvida internamente, iria tornar público o documento”.

E no julgamento, segundo a Visão, chegou mesmo a assumir como um dos fundadores do partido (“A Iniciativa Liberal nasceu no meu estúdio”) e mostrando-se orgulhoso de ter escrito o documento. João Cotrim Figueiredo chegou a dizer que, segundo sabe, porque lhe foi dito, Francisco Oliveira “foi um financiador inicial”, mas afastou qualquer cenário de chantagem ou ameaça consumada, referindo nunca ter sentido “coação”. “Não somos passíveis de chantagem”, referiu.

Nessa altura, o agora eurodeputado da IL justificou também que o afastamento teve como razão o “conhecimento de elementos da vida pessoal que não eram conhecidos”. E que, apesar das explicações dadas pelo empresário, o “risco de retirar a candidatura era menor” ao de mantê-la. “Há discussões na praça pública que não se conseguem ganhar”, afirmou, referindo que estava em causa um “processo de paternidade complicado relacionado com uma menor que se prestava a aproveitamento político”. “ A decisão”, concluiu, “seria tomada de qualquer maneira”, garantiu.

Agora, Miguel Quintas anunciou publicamente que venceu em tribunal e que está pronto para regressar à vida política. Resta saber se a disponibilidade tem pernas para andar e se há uma vaga de fundo suficientemente forte para que se transforme no novo rosto da oposição interna.

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