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A câmara disponibiliza apoio psicológico, as consultas são gratuitas, e promove ações de formação em saúde mental para dirigentes e trabalhadores. Irene Silva, enfermeira veterinária, assistiu a várias sessões
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A câmara disponibiliza apoio psicológico, as consultas são gratuitas, e promove ações de formação em saúde mental para dirigentes e trabalhadores. Irene Silva, enfermeira veterinária, assistiu a várias sessões

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

A câmara disponibiliza apoio psicológico, as consultas são gratuitas, e promove ações de formação em saúde mental para dirigentes e trabalhadores. Irene Silva, enfermeira veterinária, assistiu a várias sessões

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

Começou pelos chefes e agora chega a todos. O programa de saúde mental que ajuda os trabalhadores da Câmara do Porto

Consultas de psicologia, sessões focadas no bem-estar, ações para todas as áreas profissionais. Na Câmara do Porto há profissionais que escutam e ajudam quem vive depressões, burnout ou ansiedade.

Há dois meses que Ana, chamemos-lhe assim, vai às consultas de psicologia que a Câmara Municipal do Porto disponibiliza aos seus funcionários desde 2019. O serviço é gratuito e confidencial. “Cresci numa família em que saúde mental é falada de forma aberta.” O que a faz perceber quando precisa de ajuda especializada para contar o que sente, o que a mói, o que a entristece — como a relação de dez anos que terminou ou a mudança de casa pela segunda vez. O psicólogo escuta-a. “Ajuda-me a ter uma perspetiva nova das situações, a gerir as mudanças de forma a ter o menor impacto possível na minha vida e no meu trabalho.”

Ana trabalha na Câmara do Porto há dois anos e meio, tem consultas de psicologia de 15 dias em dias, presenciais ou online, como preferir, e esse tempo é sempre justificado se for durante o horário de trabalho. Ir a um psicólogo nunca foi um problema para ela, fá-lo há vários anos. “Percebo que os meus problemas são os meus problemas, são válidos, quanto mais não seja por isso mesmo, consigo normalizá-los muito mais. Acima de tudo, lido com as situações com uma leveza que só consigo ter com ferramentas dadas por um psicólogo. Tenho conseguido ter uma clareza maior das opções e caminhos a seguir.”

A Câmara do Porto não disponibiliza apenas apoio psicológico. Também promove ações de formação em saúde mental para dirigentes e trabalhadores. Irene Silva, enfermeira veterinária do Centro de Recolha Oficial de Animais do Porto, já assistiu a uma dessas sessões. Como foi? “Desvendámos alguns mitos e ideias, em grupo.” Por exemplo? “Alguém que não diz ‘bom dia’ pode não estar apenas maldisposto. Pode estar com problemas e devemos ser empáticos.” Tentar perceber o outro foi um dos pontos da sessão.

“Lido com as situações com uma leveza que só consigo ter com ferramentas dadas por um psicólogo, tenho conseguido ter uma clareza maior das opções e caminhos a seguir", refere uma funcionária

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

O trabalho de Irene não é feito sentada a uma secretária. Passa os dias a ver cães e gatos negligenciados, maltratados, a cuidar deles. “Este trabalho acaba por ter uma carga emocional muito grande, é um bocado pesado”, admite. Tem estratégias para não se deixar ir abaixo e continuar a cuidar dos animais que ficam sem dono, sem casa. “Desligar depois do trabalho é muito importante.” Também sabe que o exercício físico é fundamental para a cabeça, mexer o corpo é benéfico, ajuda as articulações e a mente. Vantagens que, acredita, não devem ser desvalorizadas.

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Maria José Corte-Real está na Câmara do Porto há 11 anos e frequenta as aulas de yoga que a câmara oferece aos funcionários. Vai às segundas-feiras logo a seguir ao trabalho e às quintas-feiras na hora de almoço. “Saio de lá muito relaxada, mais calma, mais zen, e, do ponto de vista físico, com mais agilidade e mais energia.” Maria José é psicóloga de formação e, durante ano e meio, no início da sua função na autarquia, chegou a estar no apoio psicológico aos trabalhadores. “Havia aquele estigma de ir à psicóloga, internamente havia um bocado de pudor, inibição e vergonha”, recorda. Não atendeu muitos funcionários, à volta de 60, escutou sentimentos de injustiça no trabalho, desgaste, cansaço. Agora está noutras funções como técnica superior no departamento de promoção da saúde junto da comunidade e da população mais vulnerável, idosos, crianças, cuidadores informais.

Prevenção, intervenção, combate ao estigma

Mariana Pinote Moreira é uma das psicólogas da Associação Encontrar+se, uma instituição particular de solidariedade social parceira na promoção da saúde mental dos funcionários da Câmara Municipal do Porto, que está nas ações de sensibilização e formação, realizadas na autarquia, e nas consultas de apoio psicológico, feitas nas instalações da organização por razões de confidencialidade. Desde 2020, foram apoiados perto de 300 trabalhadores, cerca de 60 estão em consulta neste momento, de todas as faixas etárias, metade são homens, metade mulheres. Os quadros mais comuns são situações depressivas, de ansiedade, desgaste, burnout, gestão de conflitos no trabalho e em casa, casos de divórcio. “Não falam apenas de questões relacionadas com o trabalho.” “E, por vezes, não há ainda um diagnóstico.”

Os funcionários chegam à consulta de várias maneiras: por iniciativa própria, por indicação de colegas e chefias, encaminhados pelo serviço de saúde e segurança no trabalho. Sempre protegendo a identidade. Há ainda a Linha Trabalhador Mais, um número interno, para expor questões de âmbito profissional ou pessoal, que garante a confidencialidade.

Os funcionários chegam à consulta por iniciativa própria, por indicação de colegas e chefias ou encaminhados pelo serviço de saúde e segurança no trabalho. Sempre protegendo a identidade. Há ainda a Linha Trabalhador Mais, um número interno, para expor questões de âmbito profissional ou pessoal, que garante a confidencialidade.

A intervenção é estruturada e contínua. “Se criamos uma linguagem comum numa organização, é mais fácil para as pessoas falarem abertamente sobre o tema e conseguirem pedir ajuda antes de o problema ter impacto na vida e no trabalho”, diz Mariana Pinote Moreira. As ações de formação abordam diversos assuntos e desmontam preconceitos. É importante, realça, saber o que é que se tem, o que se passa, reconhecer o que está a acontecer em si ou nos outros, saber o que é possível fazer.

O psicólogo é para malucos? A medicação é para toda a vida? “O primeiro passo é desconstruir para receber o resto da informação.” Combater o estigma, portanto. Abordam-se sinais de alerta. Um problema de pele, a tensão arterial mais alta, insónias atrás de insónias, dores físicas, podem significar que algo não está bem na saúde mental. Os trabalhadores podem partilhar situações, aprender estratégias promotoras de saúde mental para respirar e tentar relaxar, o que podem fazer e as ajudas existem. “As formações são muito dinâmicas e interativas, são um espaço de partilha.” Até ao momento, cerca de metade, à volta de dois mil, já frequentaram estas formações.

Maria José Corte-Real é técnica superior, psicóloga de formação, frequenta aulas de yoga duas vezes por semana, sente-se mais "leve"

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

O foco no bem-estar e saúde mental é anterior à pandemia. Em maio de 2018, os diretores municipais participaram no curso “Ouvir o que não é dito. Primeiros Socorros em Saúde Mental” para saberem mais sobre o assunto, como abordar e encaminhar os trabalhadores sob sua alçada. Em 2019, a formação estendeu-se a 90 dirigentes intermédios, depois aos restantes funcionários em grupos de 20, em seis momentos distribuídos ao longo do ano, em sessões de quatro e sete horas, com gente de vários serviços, idades e experiências. Durante a pandemia, as ações dirigiram-se a categorias específicas: bombeiros e polícias municipais, proteção civil, coveiros, trabalhadores do canil. Ao todo, participaram 633 trabalhadores.

Uma linguagem comum para desmontar preconceitos

Catarina Araújo, vereadora responsável pelos Recursos Humanos, Saúde e Qualidade de Vida, Juventude e Desporto, Serviços Jurídicos e Proteção Civil da Câmara do Porto, tinha noção de que área de saúde mental carecia de respostas a vários níveis e tornou-a uma área de intervenção prioritária. “Apercebi-me da diversidade das nossas pessoas, qualificações, funções, grupos profissionais muito diferentes, o que torna tudo mais desafiante. Temos várias gerações e muito diferentes entre si”, refere. A Câmara do Porto tem 4498 trabalhadores, 55,8% do sexo feminino, 44,2% do sexo masculino, uma média etária de 49 anos. Mais de metade das chefias, 61%, são lideradas por mulheres.

“A promoção da saúde mental e do bem-estar foi uma linha estratégica que implementámos e começámos a trabalhar e que nos pareceu muito evidente”, diz Catarina Araújo. “Começámos a desconstruir o mito, a falar das coisas, a dizer isto não é tabu. Havia muito preconceito e vergonha. O corpo não é um todo?” A vereadora destaca a intervenção que é feita de forma contínua na promoção de um espaço de trabalho saudável e feliz para os trabalhadores, a retenção de talento, a conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal que tem impacto na satisfação e bem-estar.

“Para atrairmos e retermos os melhores talentos temos de promover um espaço de trabalho saudável e feliz”, diz a vereadora Catarina Araújo, responsável pelos recursos humanos, saúde qualidade de vvida. A saúde mental é área de intervenção prioritária desde 2018. 

Não é fácil falar destes assuntos. “Trazer o tema da saúde mental para uma organização não é fácil, há um caminho a percorrer para que estas coisas se vão entranhando, que não tem mal ter um problema de saúde mental e que há respostas disponíveis”, diz a psicóloga Mariana Pinote Moreira. “O segredo é a continuidade das ações na promoção da saúde mental, isso faz a diferença para chegarmos a uma linguagem comum”, sustenta. Para quebrar resistências e preconceitos.

Para a enfermeira veterinária Irene Silva, o tema é importante. “É de extrema importância falar de saúde mental, ajuda a aproximar a equipa para estarmos vigilantes sobre a nossa saúde e a dos colegas, ainda há muito estigma e alguns mitos. Quanto mais falarmos, menos estigma existe.” “Não devemos estar só atentos à nossa saúde mental, as pessoas com problemas acabam por se fechar muito, quem trabalha em equipa deve saber que é muito importante esse apoio”, acrescenta.

Mariana Pinote Moreira é psicóloga e fala de uma intervenção estruturada e contínua. “Se criamos uma linguagem comum numa organização, é mais fácil para as pessoas falarem abertamente"

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

Os trabalhadores da autarquia dividem-se por vários espaços, espalhados por vários edifícios da cidade. “Para atrairmos e retermos os melhores talentos temos de promover um espaço de trabalho saudável e feliz”, diz a vereadora Catarina Araújo. A Câmara do Porto é um dos membros fundadores da Aliança Portuguesa para a Promoção da Saúde Mental no Local de Trabalho. E tem várias estratégias como a mobilidade interna para ajustar capacidades e motivações, a modalidade intercarreiras para progressões e salários mais altos, aulas de yoga, o Programa Ativa Tempo para uma transição mais tranquila para a reforma.

“Continuaremos a privilegiar a promoção de ações e iniciativas que contribuem para o bem-estar físico e mental de todos os trabalhadores”, garante a vereadora. Com a Encontrar+se, a câmara estica a intervenção às escolas com “Quanto mais cedo melhor” e “Levar a saúde mental onde ela não chega”, dois programas de promoção de saúde mental infantil, em contexto escolar, para criar mecanismos de intervenção precoce em escolas do primeiro ciclo, envolvendo toda a comunidade escolar.

Desde 2020, foram apoiados perto de 300 trabalhadores, cerca de 60 estão em consulta neste momento, de todas as faixas etárias, metade são homens, metade mulheres. Os quadros mais comuns são situações depressivas, de ansiedade, desgaste, burnout, gestão de conflitos no trabalho e em casa, casos de divórcio. “Não falam apenas de questões relacionadas com o trabalho.” “E, por vezes, não há ainda um diagnóstico.” Durante a pandemia, as ações dirigiram-se a bombeiros e polícias municipais, proteção civil, coveiros, trabalhadores do canil. Ao todo, foram 633 trabalhadores.

Ana conta que a saúde mental é um tema falado no seu grupo de amigos, mas nota que ainda há resistência em procurar consultas de psicologia. “É um assunto cada vez mais abordado, mas ainda há um caminho a percorrer.” Pela sua experiência, está satisfeita com as respostas que tem no seu local de trabalho. No dia 21 de junho, véspera do São João, os trabalhadores juntaram-se no encontro anual com várias atividades e sessões de team building. “Por onde passei, nunca tive o que tive aqui. Está a ser feito um caminho muito interessante, até como serviço público. é um exemplo, acho mesmo que somos pioneiros nesta área, da Função Pública.”

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

Uma parceria com:

Fundação Luso-Americana Para o Desenvolvimento Hospital da Luz

Com a colaboração de:

Ordem dos Médicos Ordem dos Psicólogos
 
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